"A todo o momento estamos
sujeitos a diversos riscos. O risco de nos decepcionarmos, o de morrermos, ou
seja, nossas certezas são, na verdade, repletas de “incertezas”."
Zygmunt Bauman, sociólogo
polonês, destaca que ferramentas de relacionamento como o Facebook, Twitter,
entre outros, possibilitam o “contato” com outras pessoas sem a necessidade de
iniciarmos uma conversa, da qual possa apresentar o risco de tornar-se “perigosa
e indesejável”. Isso, porque o “contato” pode ser desfeito a qualquer momento, para
isso apenas basta que o diálogo se encaminhe numa direção indesejada.
Da mesma forma, conforme afirma
Bauman, no nosso mundo “líquido” e moderno somos ansiosos por relacionamentos
duradouros, mas ao mesmo tempo queremos que eles sejam leves e frouxos, fáceis
e sem frustrações. Ou seja, desejamos nossos sonhos, mas não queremos suas
consequências possíveis, o que se pode chamar de contradição.
Em nosso processo de ansiar por
algo pode ocorrer, em um número considerável de ocasiões, de relegarmos a um
plano que cause menos desconforto a realidade conectada aos riscos em nos
relacionarmos. Por isso, torna-se tentador e “seguro” os relacionamentos nos
quais temos “total controle”, de modo a podermos nos desconectar a qualquer momento.
No entanto, um desejo um pouco mais
rudimentar nos movimenta em direção ao outro. Isto é, buscamos de todas as
formas possíveis nos relacionarmos com quem se apresenta ao nosso convívio. E
desejamos que tais relações assumam papel duradouro oferecendo segurança.
Porém, com as facilidades da atualidade moderna, apresenta-se na mesma
proporção a possibilidade de nos colocarmos nessas relações de um modo distante
e ilusoriamente seguro. Pois, com a “ilusão” do não se conectar de modo mais
intenso também alimentamos a ideia de sermos capazes de não sentir e, por
conseguinte, nos privarmos de qualquer sofrimento iminente.
A todo o momento estamos sujeitos
a diversos riscos. O risco de nos decepcionarmos, o de morrermos, ou seja,
nossas certezas são, na verdade, repletas de “incertezas”, pois podemos estar
vivos ou não, nos contentarmos ou não. Mas, ainda assim, colocamos em prática
nossa confiança no porvir e na “certeza” deste.
Martin Heidegger, filósofo,
salienta vivermos sob o medo do porvir, e esse medo nos conduz a um modo de
proteção o qual despreza a possibilidade do fim. Então, desse modo, nos
tornamos confiantes e “tranquilos”. No entanto, é necessário nos lembrarmos de
tais incertezas de tempos em tempos, para nos habilitarmos a permitir a
presença dos riscos em nosso existir.
As relações não nos oferecem
certezas, apenas possibilidades. Mas, somos indivíduos que necessitam delas
para saciarmos nossa busca pela completude. Sendo assim, ao compreender as
“contradições” envolvidas no existir, nos aproximamos da possibilidade de
atingirmos realizações pessoais das quais nos permitam uma existência mais
próxima da satisfação. Assim passamos a levar em conta que as contradições
fazem parte do processo, de modo a nos impulsionar para a continuidade.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com