“Perceber o outro de modo mais
eficiente, pode constituir uma boa possibilidade de estabelecer relacionamentos
para satisfazerem de modo mais eficaz nossa necessidade de completude. E, desse
modo, experimentar-se em um número bem mais reduzido de vezes a ansiedade.”
É comum perceber-se, nos dias de
hoje, alguém experimentar certo “desespero” por não estar presente em algum
lugar em determinado momento. Ou, se algo acontecer sem a sua presença, ou o
que é ainda pior, sem sua participação.
Atualmente um tema bastante em
voga é a ansiedade e suas consequências complicadoras nos relacionamentos
diversos. Porém, não se pode deixar de atentar para atitudes egoístas as quais
permeiam muitas situações relacionadas à ansiedade. Isto é, o sentimento
experimentado em não estar presente em determinado evento, pode apenas
representar a dor conectada à preocupação consigo mesmo ao “perder” algo que
outro alguém possa usufruir.
Numa sociedade individualista
como a atual e que resvala no hiperindividualismo, termo difundido pelo
sociólogo e autor Zygmunt Bauman, presenciamos atitudes detonadoras de uma
grande desatenção no que diz respeito ao outro. O autor afirma que algo somente
irá nos interessar se o evento estiver conectado diretamente a nós.
Em algumas ocasiões pode-se
perceber alguém conversar com outra pessoa, mas sem a “ouvir”. Ou seja, há um
diálogo, mas a atenção está voltada somente para si mesmo, ao ponto de quando o
assunto não diz respeito diretamente a ela própria ocorrer um “desligamento” da
atenção. E assim, nenhuma informação referente ao tema diferente do “Eu” é
assimilada.
Devido aos conclames sociais
atuais podemos ser levados a assumir um modo de ser voltado para nós mesmos. No
entanto, se não houver um cuidado a esse respeito, corre-se o risco em dar
vazão a uma atitude egoística, muitas vezes inclusive egocêntrica, que conduz a
uma forma de relacionar-se na qual o outro assume papel secundário. Ao ponto de
não nos interessar seus interesses, desejos e quiçá acontecimentos relacionados
exclusivamente a “ele” ou “ela”.
Sendo assim, um exercício no
intuito de perceber o outro de modo mais eficiente, pode constituir uma boa
possibilidade de estabelecer relacionamentos para satisfazerem de modo mais
eficaz nossa necessidade de completude. E, desse modo, experimentar-se em um
número bem mais reduzido de vezes a ansiedade, que pode estar conectada a
sensação de distanciamento nos relacionamentos que não representam ligações
seguras.
Lamentamos sensações de solidão e
incompreensão. No entanto, pode ocorrer de estar em nós e não no outro a
possibilidade de mudar a forma como nos relacionamos, de modo a proporcionar
sensações de completude mais eficientes e duradouras nos relacionamentos
diversos que estabelecemos.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com