Para nos entregarmos a sensação
de satisfação e prazer é preciso que certa organização nos permita a calma
necessária para vislumbrarmos os horizontes a nossa frente.
Num primeiro olhar para essas
palavras podemos ser conduzidos a pensar a respeito das leis da física ou da mecânica.
No entanto, se nos deslocarmos desse padrão e permitirmos uma reflexão a
respeito do “funcionamento” social atual, podemos “transitar” em um elemento
diferente.
Lamentamos o mal funcionamento de
diversas ordens as quais deveriam nos oferecer suporte, segurança e conforto. Não
é comum estabelecermos uma conexão entre dinâmica, estrutura e desordens
emocionais. Entretanto, elas se encontram demasiado relacionadas em certo
âmbito.
Sempre ao nos propormos a uma
empreitada, seja ela qual for, há a necessidade de uma estrutura eficaz e
pertinente para que a dinâmica possa ser usufruída. Um exemplo: Nos dispomos a
encontrar um profissional extremamente eficaz e muito bem recomendado para
determinado serviço ao qual necessitamos. Marcamos um encontro e ansiosamente
esperamos por ele na hora marcada. Porém, ao chegarmos somos alocados em uma
linda sala de esperas com agradável som ambiente. Após mais de uma hora de
espera somos convidados a encontrar o profissional, atrasado, que não justifica
a demora e nos recebe naturalmente. Sem que seja de nosso desejo, durante
muitos minutos não seremos capazes de usufruir do que o profissional tem a
oferecer. Pois, nos encontramos envolvidos em pensamentos e sentimentos de
revolta pelo descaso ocorrido. Nesse exemplo podemos rememorar diversas situações
parecidas que já experimentamos, onde a desorganização de algo “destrói” a
possibilidade da satisfação.
É comum nos dias atuais a busca intensa
por satisfação, prazer, conhecimento, aprendizado, etc. Zigmund Bauman, sociólogo,
descreve a atualidade com uma imagem de modo que o “chão” por onde nos
deslocamos não se encontra sólido. Assim, nos movemos com velocidade para não sermos
capturados por algum abalo. Mas em contrapartida, não somos capazes de apreciar
ou avaliar o horizonte a nossa frente.
Nessa pressa pode ocorrer de ser
deixada de lado a estrutura, isto é, a organização a qual permita tranquilidade
para desfrutarmos da dinâmica, ou seja, aquilo que nos é oferecido. Para nos
entregarmos a sensação de satisfação e prazer é preciso que certa organização
nos permita a calma necessária para vislumbrarmos os horizontes a nossa frente.
Se nos encontramos experimentando
situações onde a estrutura não oferece conforto para usufruir a dinâmica, pode
ser uma consequência natural experimentarmos ansiedades, medos, ressentimentos,
raiva, entre outras “emoções” as quais não seriam necessárias e nem estariam
presentes se a desorganização não encontrasse espaço para se alojar. Sendo
assim, um olhar mais acurado pode permitir que modifiquemos um modo de agir
comum ao momento atual, mas nem por isso salutar.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com