Talvez, em nosso processo de
desenvolvimento da racionalidade, deixamos de lado nossos instintos, os quais
nos possibilitam a proximidade com quem somos.
Um pequeno vídeo chamou a atenção
de muitas pessoas há algum tempo. No breve documentário a imagem de um pequeno
filhote de cachorro exercia seu processo de aprendizado em descer alguns
degraus de uma escada, no que era assistido por alguém que registrava o
acontecimento com sua câmera e ao mesmo tempo orientava outro animal, mais
velho, a ajudar o filhote demonstrando como fazer.
Porém, um fato comovente
consistiu em que ao final, quando o filhote oscilou entre um degrau e outro, o
cachorro mais velho apresentou-se cuidadoso e de prontidão para “abocanhá-lo” (como
fazem os animais para apanhar seus filhotes) caso ele não fosse capaz de manter
seu equilíbrio ao descer os degraus. Isto é, permaneceu pronto a “cuidar” do
pequeno em seu processo de aprendizado.
De modo semelhante ocorre com
todos nós nos momentos em que algo novo se apresenta como oportunidade de
aprendizado. No entanto, pode ocorrer de nos rendermos ao “medo” e inibirmos a
possibilidade de experimentar esse algo novo.
No processo de desenvolvimento de
nossa individualidade, podemos ser lavados a acreditar que a independência
consiste no isolamento. Isto é, para nos sentirmos capazes e independentes
precisamos, também, conseguirmos sozinhos realizar nossas empreitadas.
Porém, sendo seres constituídos
de relações, tal pensamento pode ser contraditório. Ou seja, se há a
necessidade do outro para nos afirmarmos como seres existentes, a ideia de
precisarmos nos isolar para nos tornarmos plenos não apresenta sentido lógico.
Nesse processo no qual atentamos
para as solicitações diárias de velocidade, agilidade, capacidade, entre
outras, podemos deixar de cuidar uns dos outros e de nós mesmos. Cuidar no
sentido instintivo e primitivo, como se apresentou no rápido vídeo no qual o
animal “irracional” se manteve pronto a cuidar do outro caso fosse necessário.
Talvez, em nosso processo de
desenvolvimento da racionalidade, deixamos de lado nossos instintos, os quais podem
nos possibilitar a proximidade com quem somos. Ou seja, somos seres racionais,
mas com instintos também. E, se não permitirmos o desenvolvimento desses
instintos de modo pleno como exercitamos nossa racionalidade, é muito provável que
sejamos capazes de caminhar em frente. Entretanto, talvez seja um caminhar de
um modo mais dificultoso e lento.
Sendo assim, pode representar um
grande passo à frente, um breve “retrocesso”, ao nos voltarmos para nossos
sentimentos mais “primitivos” como o cuidado. Para, assim, nos habilitarmos a
desenvolver de modo um pouco mais satisfatório toda a nossa plenitude como
seres capazes de compartilhar pensamentos e sentimentos. Esse cuidado pode ter
início no trato de nós mesmos, de nosso modo de sentir, pensar e agir e um
conhecimento de nós mesmos mais acurado.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotnail.com