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07 outubro 2011
NÓS E OS OUTROS
Lídia Rosenberg Aratangy, psicóloga, em seu livro “Doces Venenos” afirma existir um mecanismo tranquilizador para nos ajudar a viver com alguma sensação de segurança nesse mundo cheio de perigos. Esse mecanismo consiste em dividir a humanidade em duas partes: nós e os outros. Desse modo “afastamos de nós” tudo o que não gostaríamos que fizesse parte de nossas relações com o mundo.
As possibilidades de sofrer são inúmeras. Ora algo que queremos e não conseguimos, ora alguém que não corresponde como esperávamos, entre tantas outras. Podemos ficar à mercê de situações nas quais não temos o controle. Nesse momento, é possível emergir um sentimento de insegurança em relação a estarmos ou não agindo adequadamente, pois nosso comportamento suscita respostas.
É importante nos conscientizarmos que nosso comportamento influencia nossas relações. Para buscarmos entender o nosso real papel nas diversas situações com as quais nos envolvemos. Certamente, ao nos posicionarmos em um “lugar diferente” dos outros, sustentamos a ilusão de que estamos distantes o suficiente deles para estarmos seguros.
No entanto, essa ilusão pode nos conduzir a caminhos não desejados, pelo fato de sermos induzidos a acreditar que situações semelhantes quando os outros são afligidos não irão nos alcançar. Então, se acionamos tal mecanismo como destaca Aratangy, nos colocamos em um patamar onde experimentamos a desejada segurança, mas de um modo arriscado por se tratar de algo “irreal”.
É necessário não nos esquecermos ser de suma importância para a construção dos significados que irão constituir nosso ser, os relacionamentos que estabelecemos com nossos parceiros de existência e com o mundo de um modo geral.
Nesse caso, ao “dividir” a humanidade poderemos experimentar a sensação de estarmos protegidos dos perigos. Entretanto, poderemos também experimentar a solidão por não nos identificarmos com quem experimenta sensações semelhantes às nossas e que poderia compreender-nos.
Precisamos valorizar nossa singularidade, entendendo serem nossas experiências singulares em seus significados para cada um de nós. Mas, também se faz importante compreendermos estarmos todos na mesma condição de existência. Condição essa que nos apresenta experiências as quais suscitam incertezas que nos amedrontam.
Contudo, se sentirmos que estamos acompanhados podemos aliviar os encargos por elas promovidos. Pois, sempre ao se ter alguém que nos acompanha onde quer que estejamos, experimentamos um sentimento de segurança mais distante da ilusão.
Por isso, pode ser um mecanismo tranquilizador a separação da humanidade, mas se experimentarmos o “nós e os outros” ao invés de “nós à parte dos outros” poderemos dar início a uma nova experiência e a muitas possibilidades.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br
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