Desde a idade média buscam-se
receitas prontas com instruções a serem seguidas para nos garantir a obtenção
de determinado resultado. Seja este no âmbito pessoal ou material. Esquecemo-nos,
no entanto, que toda aquisição ou conquista demanda nosso próprio envolvimento,
bem como a disposição em investir nosso potencial na empreitada em questão.
No momento social atual, ocorre
uma grande movimentação para que os resultados sejam obtidos instantaneamente. O
cogitar a respeito da necessidade em exercitar algum tipo de comportamento para
que algo seja conquistado, representa um investimento de tempo e disposição dos
quais nem sempre estamos dispostos a conceder.
Desse modo, a busca frenética de
ferramentas indicadoras de como adquirir algo, torna-se uma atividade trivial.
No entanto, ao se pensar em atingir algum tipo de resultado ou conquistar algo
que desejamos, é necessário estarmos atentos aos pormenores envolvidos no
processo, inclusive as minúcias relacionadas à nossa própria posição diante
dele.
Porém, conhecer nossas
particularidades, isto é, permitirmos nos envolver em um processo para culminar
em um autoconhecimento amplificado que, ainda, nos possibilite anteciparmos com
maior eficiência o que desejamos e como seremos capazes de obter tal objetivo,
nem sempre constitui nossa prioridade.
Contudo, vivemos em uma época na qual se busca
tudo o mais pronto possível, sem demandar o mínimo de nosso esforço pessoal. A
simples sugestão do exercitar algum comportamento ou atitude, em um primeiro
momento, assume a posição de algo dispendioso de tempo e energia o qual pode
não proporcionar o resultado esperado.
Sendo assim, assume extrema
importância nos permitirmos algum tempo destinado a reflexões acerca de nossas
minúcias. A fim de nos habilitarmos ao processo do conhecimento de nós mesmos.
E, quiçá permitirmos, por fim, o amparo de alguém que nos possibilite o ampliar
nosso olhar para tal possibilidade.
Em um período no qual o
individualismo se faz primordial, nos esquecermos de que somos seres que se
constroem e se desenvolvem quando acompanhados torna-se algo comum. Então,
talvez a ferramenta mais útil para nosso desenvolvimento pessoal seja a
permissão das companhias que permitem o feedback
daquele que nos vê com um olhar diferenciado do nosso. Assim, haverá maior
possibilidade de nos oferecer a oportunidade de enxergarmos a nós mesmos sob
uma perspectiva diferente.
Se tal ferramenta constitui a “receita”
para algumas dificuldades experimentadas não é possível afirmar. No entanto, ao
nos permitirmos estarmos acompanhados, ou seja, dividindo nossos sentimentos,
dores e alegrias, nos aproximamos do pensamento do filósofo Heidegger, o qual
afirma ser necessário ampliarmos nosso rol de possibilidades para, então,
experimentarmos a liberdade a qual somos herdeiros.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124