“Um monge e seu discípulo
precisaram de hospedagem ao longo de sua viagem. Avistaram uma casa simples e
foram atendidos em sua solicitação pelos donos dela. Durante a estadia notaram
que a família vivia sob precária condição e que eles possuíam uma vaca da qual
tiravam algum sustento. Ao amanhecer, antes de partir, o monge empurrou o
animal em direção a um precipício levando-a a morte. O discípulo indignado solicitou
uma explicação a qual o monge afirmou ser o comodismo o empecilho para o
desenvolvimento daquela família. Alguns anos se passaram e o discípulo retornou
ao local encontrando-o muito próspero. Ao questionar o proprietário este relatou
que no dia em que eles partiram a vaca que possuíam havia sofrido um acidente que
culminou em sua morte. Então, eles foram “forçados” a buscar alternativas para
sobreviver, o que os levou ao progresso no qual se encontravam na atualidade.
No contato com essa história
somos, geralmente, induzidos a buscar “vacas” em nossa existência. Entretanto, numa
reflexão inversa pode ocorrer, nesse momento, de nos perguntarmos se não somos
alguém que age como empecilho para o desenvolvimento de outrem. Isto é, somos a
“vaca” na vida de alguém? Oferecendo uma situação cômoda que propicia a estagnação?
Nosso ser se constrói a partir do
contato com o outro, sendo assim, nosso desenvolvimento pode ocorrer quando nos
relacionamos. A referência recebida das relações às quais estabelecemos é
sumamente importante para a definição de quem somos. Pois, as respostas que
recebemos quando de algum comportamento nosso, indica, de certo modo, uma “direção”
a seguir.
Não é incomum “impedir” a quem
amamos de se desenvolver, em nome do que sentimos. Contudo, importante
salientar a afirmação de Antoine Saint-Exupéryo, autor do livro “O pequeno
príncipe”, que somos responsáveis por tudo o que cativamos. Isto é, as relações
as quais estabelecemos, especialmente as permeadas de amor, nos torna, de algum
modo, interligados às suas consequências. E, por conseguinte, corresponsáveis por
elas.
Sendo assim, em algumas ocasiões,
podemos experimentar a necessidade de atitudes as quais nos levem a vivenciar
algum tipo de sofrimento e até mesmo dúvida. No entanto, algumas vezes
necessitamos assumir uma decisão que pode culminar em relativa dor para todos
os envolvidos, mas a qual se apresenta como sendo a opção mais adequada e
necessária para o desenvolvimento de todos.
Se nos lembrarmos que tudo o que
foi cativado por nós tornou-se, de certa forma, interligado ao nosso destino, e
se desejarmos experimentar bem estar e tranquilidade, havemos de agir de modo a
possibilitar um resultado com maior possibilidade de acerto. Basta, então,
assumirmos as responsabilidades as quais são relacionadas a nós, ao nosso modo
de agir e às consequências correspondentes.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
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