É comum, nos dias atuais,
entendermos ser a angústia e a depressão um inimigo a ser combatido com todas
as “armas” disponíveis. Esse “arsenal”
conta com o apoio de muitos estudos e discussões, assim como medicamentos
diversos.
Lígia Rosemberg Aratangy,
psicóloga, em seu livro “Doces Venenos”, afirma ser impossível acabar com a
angústia e com a depressão. Segundo ela, esses sentimentos fazem parte da
bagagem humana. São passagens obrigatórias no percurso de um desenvolvimento normal,
não são desvios da rota, fazem parte da condição de estar vivo.
Há muito tempo fala-se em doenças
e as necessárias curas para elas. Atualmente, angústia e depressão ocupam um
status de doença, muitas vezes não importando sua dimensão. Contudo, se fazem
parte de nossa bagagem e do percurso de nosso desenvolvimento, quais poderiam
ser as consequências em buscar-se alternativas que nos permitam fugir delas?
Um aumento considerável de
sentimentos como insegurança, medo, ansiedade, indecisões, parecem estar presentes
na atualidade. Isto é, como um organismo que nunca experimentou um resfriado
não tem resistência para pequenas doenças, comparando nosso desenvolvimento
psicológico, pode ser que ele precise experimentar “pequenas dores” para
desenvolver-se a contento e ser habilitado a lidar com as “dores maiores”.
Ou seja, quando suportamos alguma
angústia e depressão, nos dispomos, ao mesmo tempo, a uma condição na qual
permitimos que nosso desenvolvimento psíquico se torne ampliado. Desse modo, tornando-se
mais livre em relação ao aprisionamento que sentimentos interpretados como
limitantes possam nos submeter.
Então, é usual desejarmos, com
todas as nossas forças, nos livrarmos das sensações desagradáveis
experimentadas quando nos encontramos em uma condição depressiva ou
angustiante. Contudo, é de suma importância encontrarmos formas de averiguar,
com o máximo de exatidão possível, se essa condição representa um momento no
qual podemos nos desenvolver, ou uma condição tangenciando um estado doentio e,
assim, necessário de uma assistência mais intensiva.
Pode constituir uma difícil busca
esse discernimento. Por isso, se faz necessário atentarmos para a necessidade,
ou não, de ajuda nesse aspecto, para que nos seja possibilitado momentos
preciosos de crescimento, os quais podem fazer parte considerável de nosso
desenvolvimento como seres humanos os quais participam da condição de estar
vivo.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124