Um jovem querendo desafiar a
sabedoria de um velho sábio planeja esperá-lo em determinado ponto do caminho e
lhe perguntar se um pássaro que tem nas mãos está vivo ou morto. Se o sábio
afirmar que o pássaro está vivo ele o esmaga, se a resposta for que está morto
ele então o apresenta vivo. Quando o tal sábio aparece no caminho, o rapaz
coloca em ação seu plano. E a resposta do sábio é: o destino deste pássaro está em suas mãos.
Para o filósofo Jean Paul Sartre
somos escravos de nossas escolhas, tendo em vista sermos livres para escolher,
porém submetidos às suas conseqüências. E Heidegger afirma sermos também capazes
de ampliar nosso rol de possibilidades aumentando o número de alternativas. Sendo
assim, a nossa liberdade é poder escolher entre diversas possibilidades, porém,
qualquer escolha implicará em uma conseqüência ética.
Em alguns momentos podemos
parecer apenas joguete das situações e não é difícil encontrar um culpado pelo
sofrimento ou dor que vivenciamos. Mas, numa reflexão mais apurada podemos
encontrar mais de uma possibilidade de escolha, e ao atentarmos para a
alternativa rejeitada poderemos imaginar outro caminho que poderíamos ter
percorrido. Refletindo ainda mais, não será difícil entendermos que a decisão
final partiu de nós. Pode-se até buscar opiniões, sugestões ou quem nos diga
exatamente o que fazer, mas a decisão será sempre nossa.
Ao longo de nossa existência
vivemos diversas experiências as quais fazem parte de nossa história pessoal e
que permeiam nossas decisões. A lembrança dessas nos remete à possibilidade de “previsão”
das consequências de escolhas futuras. Contudo, o quanto somos capazes de uma
análise reflexiva quando envolvidos em certo problema, tendo em vista que
nossas emoções afloram e, sentimos ser impossível decidir qual o melhor
caminho? Nestes momentos é agradável encontrarmos alguém para nos dizer o que
fazer. Mas será alguém, além de nós, capaz de um julgamento claro e sensato
para as decisões que interferem em nossa vida?
Vivemos em grupos e nosso
desenvolvimento se dá nos nossos diversos relacionamentos. Sendo assim, buscar
outra opinião torna-se um caminho atraente quando estamos diante de uma escolha
difícil. Mas quem melhor para conhecer nossas experiências, desejos e
necessidades além de nós mesmos? Pode parecer melhor deixarmos nas mãos de
outro a responsabilidade da decisão e, deste modo, ao aparecerem as
conseqüências, poderemos responsabilizar quem nos “mandou” optar por “aquele”
caminho.
É comum alguém dizer não saber
como chegou a certa decisão. Afinal, hoje tudo é feito às pressas. Não nos
permitimos sequer apreciar um entardecer suave e calmo com um brilho de sol
inesquecível. O que fazer para mudar essa situação? Alguém disse ser importante
buscar ao longo do dia momentos que nos refaçam, apreciando pequenos detalhes
como um sorriso de alguém.
Responsáveis ou não pelas
conseqüências de nossas escolhas, podemos começar com pequenos gestos rumo ao
conhecimento de nós mesmos. Quando nos permitimos apreciar os detalhes
aprendemos a vê-los, e quem sabe encontraremos mais tempo para as coisas que
nos dão prazer e que realmente alimentam nosso existir. Para isso é necessário
nos conhecermos melhor para identificarmos de modo mais eficiente os nossos
desejos.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga – CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com
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