A saúde apresenta um limite, um
objetivo, um ponto de chegada. Na contrapartida, a boa forma não.
Zygmunt Bauman, sociólogo, salienta
que ao buscarmos a boa forma, diferente do que ocorre com a saúde, não há como
dizer se ao alcançarmos um ponto determinado e encontrarmos a satisfação, poderemos,
então, nos mantermos nele. A saúde apresenta um limite, um objetivo, um ponto
de chegada. Na contrapartida, a boa forma não. Para esse autor a luta pela boa
forma é uma compulsão que logo se transforma em vício e, como tal, nunca
termina.
O tempo atual nos “bombardeia”
com opções das mais variadas para alcançarmos tal objetivo: lipoaspiração,
cirurgia plástica, dietas para todos os “gostos”... Enfim, um rol imenso de
possibilidades e modos de se conseguir a tão almejada boa forma. Mas qual o padrão?
Conseguimos estabelecer um objetivo e nos satisfazermos com ele? Ou Bauman tem fundamento
e o vício se apodera de modo a não permitir um limite?
Em nossa cultura temos valores aprendidos
ao longo de nossa existência os quais nos permite conviver “pacificamente” em
grupo. Isso possibilita conquistas as quais jamais seriam alcançadas se
vivêssemos isolados. Contudo, esses mesmos valores podem tornar-se nosso algoz
se não praticarmos reflexões acerca deles.
Vivemos um momento no qual a
flexibilidade é o lema, tudo deve ser maleável, devemos ter “jogo de cintura” e
nos curvarmos à medida do necessário para não nos perdermos. E Bauman destaca
que da mesma maneira as formas corporais também solicitam essa maleabilidade. Portanto,
é esperado termos à nossa disposição uma quase infinidade de opções para
tentarmos obter a “boa forma”. No entanto, essa busca que pode tornar-se
frenética, parece ser insustentável quando não possui fundamento. Porque, para
muitos, tem ausência de um sentido particular.
Nós somos seres que precisam dos
significados para nos sentirmos realizados com o nosso existir. Quando nos
permitimos ser levados pelas solicitações gerais, corremos o risco de perdermos
nossa identidade. E quando isso ocorre podemos experimentar algumas dores.
É comum alguém relatar ter dores
não explicadas por nenhuma causa, ou aquelas as quais os doutores afirmam serem
de ordem emocional. E, sendo assim, há de se buscarem formas “alternativas” de
cura.
Talvez a “cura” para essas dores
resida em nos permitirmos momentos mais amplos de reflexão a respeito dos
significados que têm para nós os amigos, o trabalho, a família, o lazer, o
estudo, a profissão escolhida, o nosso corpo. Enfim, tudo o que tem contato com
nossa existência e que faz parte de nosso dia-a-dia. Nesse caso, cabe a nós a
iniciativa em buscar modos de ampliar tais momentos reflexivos para que nossas
dores sejam “curadas”.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124