Quando permitimos um existir
predominado pelo vazio, permitimos, na mesma medida, que os significados os
quais atribuímos sejam insubstanciais.
“A beleza artificial é uma
batalha contra o vazio do corpo e da alma”. É com essa frase que o filósofo Luiz
Felipe Pondé concluiu um texto. Como será esse vazio? Experimentamos dele em
nosso existir?
O vazio pode surgir de forma
passageira e rápida, ou pode prolongar-se por meses, anos e quiçá uma vida. No
entanto, ao nos depararmos com essa possibilidade, isto é, de viver-se uma vida
inteira sob uma forma de existir dominada por esse vazio. Ou, em uma busca incansável e inglória no
preenchimento de uma lacuna a qual não compreendemos ao certo. Pode parecer
cruel e demasiado exagerado.
Contudo, se voltarmos nossa
atenção para esse fato poderemos distinguir diversos momentos nos quais essa
afirmação alcança um sentido em nosso existir. Torna-se cada vez mais comum nos
depararmos com frases de lamentações ou de surpresa, diante de um acontecimento
corriqueiro que não tem sua adequada correspondência com a reação a qual
proporcionou. A única “explicação” sensata seria a ausência de um significado
mais próprio.
A todo o momento criamos
significados para as diversas relações que estabelecemos com o mundo. Sejam
elas com pessoas, animais, objetos ou mesmo situações. Ao nos relacionarmos
atribuímos significados que vão desde o de maior indiferença ao de maior
importância para nós. É importante, no entanto, nos lembrarmos de que esse
significado não é algo particular e exclusivo a algumas pessoas. Todos nós
significamos nossas relações. Cada pequeno momento de nosso existir é permeado
de algum sentido.
Quando permitimos esse existir
predominado pelo vazio de corpo ou de alma, também permitimos que os
significados os quais atribuímos sejam insubstanciais. Ou seja, não nos
proporcionam satisfação pessoal e ocasionam, inclusive, frustrações que nos
levam a reações que podem se tornar desmedidas.
Podemos nos deixar levar por
aquilo de maior importância para o outro sem ponderar nossa própria satisfação.
Permitimo-nos envolver por solicitações de uma sociedade de consumo na qual
vivemos sem nos questionarmos sobre nosso real desejo. Esse comportamento nos
conduz a experimentar um vazio, o qual nos leva a buscas intermináveis e
exaustivas.
Talvez seja necessário voltarmos
um pouco de nossa atenção para nós, para o que é importante em nosso existir e,
para os significados trazidos pelos diversos momentos de nossa existência.
Certamente que o modo de vida atual, preenchido com diversos afazeres,
dificulta esse proceder.
Pode ocorrer, então, de um bom
antídoto para o vazio de corpo e de alma consistir no preenchimento das lacunas,
em nosso existir, com significados os quais nos permitam experimentar relações
com sentidos mais intensos. Ao “repensarmos” nossos diversos contatos com o
mundo, ampliamos a possibilidade de renovarmos os diversos sentidos de nossa
existência incorrendo, por conseguinte, na possibilidade de um existir mais
“belo”.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com