As sombras sob as quais nos
dispomos, permitem a sensação de conforto e tranquilidade, mas também ofertam o
comodismo e a inatividade.
O filósofo Heidegger afirma, em
sua obra, necessitarmos da rotina cotidiana para a manutenção de nosso existir.
Segundo ele a certeza do que irá ocorrer no dia seguinte nos permite crer em
nossa imortalidade e afastar de nossas preocupações a possibilidade do fim,
isto é, de morrermos.
Certamente a sensação de
segurança experimentada em nosso dia-a-dia é sumamente importante para nos
implicarmos em novos caminhos, confiantes na continuidade de nosso existir, e
usufruir desses caminhos. Entretanto, em muitas ocasiões, nos escondemos por
traz dessa “segurança” e deixamos a vida transpassar por nós.
Platão, em “O Mito da Caverna”,
trata da necessidade de contatarmos a luz da verdade para nos livrarmos da
prisão em que a escuridão nos mantém. Essa alegoria pode ser analisada de
diversas maneiras, uma delas é a de que muitas vezes nos mantemos obscurecidos
por medo e incerteza, e eles nos aprisionam em um modo de agir o qual nem
sempre permite experimentarmos a plenitude de nossa existência.
As sombras sob as quais nos
dispomos, permitem a sensação de conforto e tranquilidade, mas também ofertam o
comodismo e a inatividade. Ou seja, ao usufruir as sensações de calmaria,
possibilitamos também a oportunidade ao conformismo. E, podemos inclusive
delegar a outros as justificativas e razões pelos nossos insucessos.
Uma forma de amenizarmos nossas
dores é nos distanciarmos da responsabilidade por elas. Então, depositando no
outro essa responsabilidade, seja esse outro alguém ou um evento, experimentamos
o conforto de não estar em nós a possibilidade da mudança, ou seja, não somos
nós quem podemos alterar o que culminou em nossa dor, mas esse outro.
Contudo, se nos mantivermos
aconchegados a essa condição, também limitaremos nossas chances de enxergar
além das sombras. E, submetidos à rotina, poderemos nos colocar em situação de
perdas de oportunidades as quais não seremos capazes de ponderar.
Jostein Gaarder em O Mundo de
Sofia finaliza sua estória convidando o leitor a estimular-se a despertar a
curiosidade infantil um dia já experimentada. Para, assim, abrir-se às novas
experiências, pois ao consentir a curiosidade, o indivíduo coloca-se em
situação de explorar novas possibilidades também.
Então, seja a partir da luz da
verdade sugerida por Platão, ou do despertar de uma “infantil” curiosidade como
nos convida Gaarder, ao nos permitir conhecer o que permanece obscuro, também
concedemos “espaço” para o novo. Tal empreitada pode iniciar-se pelo
autoconhecimento, delimitando nossas sombras individuais para que possamos
vê-las e, desse modo, identificarmos sua origem para nos apoderarmos da oportunidade
de modificarmos o contorno delas.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com
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