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03 fevereiro 2012
SOMBRAS
O filósofo Heidegger afirma, em sua obra, necessitarmos da rotina para a manutenção de nosso bem estar. Segundo ele a certeza do que irá ocorrer no dia seguinte nos permite crer em nossa imortalidade e afastar de nossas preocupações a possibilidade do fim, isto é, de morrermos.
Certamente a sensação de segurança experimentada em nosso dia-a-dia é sumamente importante para nos implicarmos em novos caminhos, confiantes na continuidade de nosso existir, e usufruir desses caminhos. Entretanto, em muitas ocasiões, nos escondemos por traz dessa “segurança” e deixamos a vida transpassar por nós.
Platão, em “O Mito da Caverna”, trata da necessidade de contatarmos a luz da verdade para nos livrarmos da prisão em que a escuridão nos mantém. Essa alegoria pode ser analisada de diversas maneiras, uma delas é a de que muitas vezes nos mantemos obscurecidos por medo e incerteza, e eles nos aprisionam em um modo de agir o qual nem sempre permite alcançarmos nosso pleno potencial.
As sombras sob as quais nos dispomos, permitem a sensação de conforto e tranquilidade, mas também ofertam o comodismo e a inatividade. Ou seja, ao nos permitirmos usufruir as sensações de calmaria, possibilitamos também a oportunidade ao conformismo. E, podemos, inclusive, delegar a outros as justificativas e razões pelos nossos insucessos.
Uma forma de amenizarmos nossas dores é nos distanciarmos da responsabilidade por elas. Então, depositando no outro essa responsabilidade, seja esse outro alguém ou um evento, experimentamos o conforto de não estar em nós a possibilidade da mudança, ou seja, não somos nós quem podemos alterar o que culminou em nossa dor, mas esse outro.
Contudo, se nos mantivermos aconchegados a essa condição, também limitaremos nossas chances de enxergar além das sombras. E, submetidos à rotina, poderemos nos colocar em situação de perdas de oportunidades as quais não seremos capazes de ponderar.
Jostein Gaarder em O Mundo de Sofia finaliza sua estória convidando o leitor a estimular-se a despertar a curiosidade infantil um dia já experimentada. Para, assim, abrir-se às novas experiências, pois ao consentir a curiosidade, o indivíduo coloca-se em situação de explorar novas possibilidades também.
Então, seja a partir da luz da verdade sugerida por Platão, ou do despertar de uma “infantil” curiosidade, nos permitindo conhecer o que permanece obscuro, também concedemos “espaço” para o novo. Tal empreitada pode iniciar-se pelo autoconhecimento, delimitando nossas sombras individuais para que possamos vê-las e, desse modo, identificarmos sua origem para nos apoderarmos da oportunidade de modificarmos o contorno delas.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br
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Olá Márcia.
ResponderExcluirAntes de experimentar a paternidade eu não tinha rotina ou necessidade dela. Mudei de cidade aproximadamente 10 vezes sempre em busca de novas oportunidades. Rotina não fazia falta.
Resumindo, creio que a consciência de que a sua existência passa a ser importante não só para você mesmo faz com que busquemos então a rotina. Ou pode ser que eu esteja apenas delegando a culpa dela. Abraço.
, quando imaginamos não ter rotina, geralmente pensamos em coisas grandes.
ResponderExcluirNem sempre atentamos para as pequenas rotinas diárias e, elas também fazem parte desse processo de segurança do qual fala Heidegger e que eu cito.
O fato de mudar de cidade buscando significa que você estava realmente em busca de algo que completasse seu sentido de existência.
O buscar a rotina está em parte relacionado ao grau de comprometimento que temos com a existência de outro ser, como no seu caso sua filha.
Isso faz sentido até porque quando nos sentimos responsáveis por alguém somos levados a assumir maiores responsabilidades.
A paternidade responsável representa muitos compromissos e, especialmente, abrir-se mão de muitas coisas em prol de alguém o qual amamos como não imaginamos ser possível amar.
Estar conectado a uma rotina não significa que estamos “errados” e que devemos encontrar uma desculpa para ela.
Não podemos perder de vista que somos humanos e vivemos sob esta condição a todo o momento.
O que considero importante é termos consciência dela e em alguns momentos nos permitirmos escapar um pouco, nos arriscando em empreitadas novas.
Um filho eu considero a maior dessas empreitadas, porque envolve um grau de comprometimento e responsabilidade para o resto de nosso existir.
É obvio que há muitas pessoas que têm seus filhos e simplesmente os deixam crescer sem nenhum acompanhamento e nem tão pouco cuidado em auxilia-los a aprender a viver.
Convivendo inclusive com as frustrações que fazem parte do maior aprendizado que se pode ter.
Mas, o fato de estarmos atentos para o cuidado para com nossos filhos a todo o momento faz com que não estejamos vinculados totalmente a uma rotina.
Abraço.
Márcia.
Amei o texto, concordo plenamente! Na minha opinião a rotina é um "mal" necessário visto que nos assegura um "certo" equilíbrio das coisas que tememos conhecer. Por isso, o despertar de uma criança é tão importante para o nosso crescimento interior. As vezes chego a pensar que imitamos o nosso corpo mortal, nos limitamos a aceitar que a nossa alma é imortal. Até porque as palavras que ficam são a exata expressão de quem foi. Foi pra onde, se as suas palavras continuam entre nós. Bjos no seu coração! Amei de verdade este texto. Feliz Páscoa pra você e toda a sua família linda.
ResponderExcluirObrigada mais uma vez André!!!
ExcluirFico muito feliz por você apreciar os textos e mais contente ainda por eles permitirem tanta reflexão...
Desculpe a demora em responder esse ok...
Feliz Páscoa... atrasado, mas o desejo de renascimento a você e toda a família é sempre atual.
Obrigado! Foi um ganho enorme te conhecer.
ExcluirMárcia, gostei do seu texto SOMBRAS. Aliás, gosto de todos. Mas, a gente, lá na escola, trabalha muito com o tema da CAVERNA DE PLATão. E as leituras possíveis são várias, inclusive esta que você faz com primor. As aulas começam semana que vem e vou indicar teu site pros alunos. Beijos, viu? Xau!
ResponderExcluirPuntel
Comentário de Puntel enviado por e-mail!
Grande honra!!!
Abraço Puntel.