Há quem afirme que o passado deve
ser deixado de lado. Devido ao fato de que se ele foi ruim não revivemos suas
dores e assim elas podem permanecer esquecidas. Se ele foi bom para não
sofrermos com a impossibilidade de reviver tais momentos, agora, inacessíveis.
Ou seja, para nos privarmos de
sofrer, “enterramos” nosso passado e, desse modo, nos protegemos de dores atualizadas.
Então, bastaria deixarmos de lado nossa história e, assim, teríamos alguma
garantia em relação a possíveis sofrimentos.
Porém, ao se pensar dessa forma incorremos
no risco de julgarmos nosso passado como dispensável. No entanto, não podemos
desconsiderar sua importância no ser atual que somos. Visto que, ao acreditar
sermos o resultado do acúmulo de nossas experiências, cada evento vivido assume
importância de grande significado para nós. E, o cogitar algum tipo de mudança
incorre em mudar quem somos hoje.
Contudo, nem sempre é possível
significar com valor representativo o que se viveu. Há sempre um evento o qual
gostaríamos que não tivesse ocorrido. Algo o qual desejamos ser “apagado” de
nossa lembrança, para, dessa maneira, permitir vivermos sem tal mácula. Mas, é
preciso compreendermos a dimensão que tais eventos possuem em nossa existência
para podermos localizá-los de modo assertivo em nossa história pessoal.
É mais comum do que admitimos
nossa “fuga” das lembranças. Ela pode ocorrer de modo totalmente lúcido e
consciente ou de forma mais sutil. No entanto, ao permitirmos que tais eventos
sejam “esquecidos” constrangemos nossa capacidade para nos desenvolvermos.
Pois, quando oferecemos a nós mesmos a chance de lidar com nossas “sombras”
permitimos um clarear para com elas o qual pode nos surpreender. E, em muitos
casos ainda, nos possibilitar um conhecimento acerca de nós mesmos o qual
estávamos, de modo equivocado, valorizando de forma negativa.
Então, quando nos permitimos
experimentar possibilidades de conhecimento acerca de nós e de nossa história,
estamos, ao mesmo tempo, ampliando nossas alternativas acerca dos nossos
desejos para o futuro.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124