Há quem afirme que o passado deve
ser deixado de lado. Devido ao fato de que se ele foi ruim não revivemos suas
dores e assim elas podem permanecer esquecidas. Se ele foi bom para não
sofrermos com a impossibilidade de reviver tais momentos, agora, inacessíveis.
Ou seja, para nos privarmos de
sofrer, “enterramos” nosso passado e, desse modo, nos protegemos de dores atualizadas.
Então, bastaria deixarmos de lado nossa história e, assim, teríamos alguma
garantia em relação a possíveis sofrimentos.
Porém, ao se pensar dessa forma incorremos
no risco de julgarmos nosso passado como dispensável. No entanto, não podemos
desconsiderar sua importância no ser atual que somos. Visto que, ao acreditar
sermos o resultado do acúmulo de nossas experiências, cada evento vivido assume
importância de grande significado para nós. E, o cogitar algum tipo de mudança
incorre em mudar quem somos hoje.
Contudo, nem sempre é possível
significar com valor representativo o que se viveu. Há sempre um evento o qual
gostaríamos que não tivesse ocorrido. Algo o qual desejamos ser “apagado” de
nossa lembrança, para, dessa maneira, permitir vivermos sem tal mácula. Mas, é
preciso compreendermos a dimensão que tais eventos possuem em nossa existência
para podermos localizá-los de modo assertivo em nossa história pessoal.
É mais comum do que admitimos
nossa “fuga” das lembranças. Ela pode ocorrer de modo totalmente lúcido e
consciente ou de forma mais sutil. No entanto, ao permitirmos que tais eventos
sejam “esquecidos” constrangemos nossa capacidade para nos desenvolvermos.
Pois, quando oferecemos a nós mesmos a chance de lidar com nossas “sombras”
permitimos um clarear para com elas o qual pode nos surpreender. E, em muitos
casos ainda, nos possibilitar um conhecimento acerca de nós mesmos o qual
estávamos, de modo equivocado, valorizando de forma negativa.
Então, quando nos permitimos
experimentar possibilidades de conhecimento acerca de nós e de nossa história,
estamos, ao mesmo tempo, ampliando nossas alternativas acerca dos nossos
desejos para o futuro.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
Texto perfeito!!! Realmente muitas vezes, é graças ao nosso passado que conseguimos ser melhores no presente pelo acúmulo de todas experiências vividas. Afinal, tenham sido boas ou ruins, todas contribuem ao nosso amadurecimento e mudanças fundamentais!!
ResponderExcluirOlá Cris... que bom que você gostou!!!
ExcluirObrigada por seu retorno.
Fico muito contente com os comentários e, especialmente, pelo fato de o texto ter proporcionado alguma reflexão.
Beijos.
Márcia.
Olá!
ResponderExcluirQue benefício trará para a clínica rememorar certos conceitos que remetem a experiência desagradáveis?
Qual a finalidade de reconstruir certas memórias que se aparentam como verdadeiras 'favelas existenciais'?
E ao invés disso, que tal localizarmos em nossas histórias certos "óasis existenciais" e construirmos assim belas paisagens?
Olá!!
ExcluirFico muito contente com o contato. Procurei responder às suas questões, mas se preferir meu e-mail está a disposição.
Que benefício trará para a clínica rememorar certos conceitos que remetem a experiência desagradáveis?
Eu não falaria da necessidade em rememorar conceitos, mas rememorar experiências. Temos a inclinação em “apagar” experiências passadas, devido a sentimentos ou sensações desagradáveis relacionadas a elas. Porém, essas experiências fazem parte da história que nos construiu como somos. Então, despreza-las pode representar uma relação na qual negamos essa realidade.
Qual a finalidade de reconstruir certas memórias que se aparentam como verdadeiras 'favelas existenciais'?
Se a memória emerge é porque ela não é passada, ou seja, ao vir a toma certa lembrança, significa que ela está presente na contínua construção de nós mesmos. Então, não reconstruí-las, mas dar-lhes um novo significado pode ser libertador. Um paciente narrava um acontecimento em sua vida o qual o deixava muito desgostoso e arrependido. Ao “re-significar” tal experiência foi possível usufruir do aprendizado que ela ofereceu e “fazer as pazes” com a lembrança, a qual assumiu, inclusive, uma posição agradável em sua memória.
E ao invés disso, que tal localizarmos em nossas histórias certos "oásis existenciais" e construirmos assim belas paisagens?
Localizar oásis é o que todos desejamos e é de suma importância. No entanto, nossa existência não é permeada somente deles. Então, ter a oportunidade, e a ousadia, em nos permitir o contato com os oásis, mas com as favelas também, possibilita remetermos para nós a capacidade de cuidar deles e, desse modo, poder transformá-las em belas paisagens. Heidegger afirma ser libertador ampliar nosso rol de possibilidades. Talvez uma das formas de se praticar isso é lidando com nossa história de modo a possibilitar o re-significar, pois, assim, ampliamos esse rol.
Mais uma vez obrigada pelo contato.
Abraço.
Márcia.