Os chineses, como descreve
Fritjof Capra em seu livro “O ponto de mutação”, nomearam tao (caminho), o contínuo processo cósmico no qual o universo está compelido,
e que consiste em um movimento e atividade incessantes. Ou seja, vivemos em um
movimento constante. O filósofo Heráclito afirmou não ser possível alguém
banhar-se duas vezes em um mesmo rio, pois o rio não seria mais o mesmo devido
ao fato de a água corrente ter-se ido. Sendo assim, segundo esse filósofo,
vivemos em um constante devir por causa do movimento ao qual estamos sujeitos
ou, um permanente “vir-a-ser” como nomeia o filósofo Heidegger.
Outro termo da filosofia taoista
citado por Capra – wu-wei significa:
“não-ação”; representa a privação de uma certa espécie de atividade, que, no
entanto, estaria em harmonia com o processo cósmico em curso e seu constante
movimento e atividade. Ou seja, não constitui a ausência de atividade.
A não-ação significa permitir a
ocorrência do curso natural dos eventos.
Diferente da permanência em inércia. Ou seja, respeitar a “essência” das coisas,
permanecendo, desse modo, em harmonia com o movimento ao qual todos estamos
sujeitos. Pois, a interconexão descrita por Capra em seu livro define estarmos
todos interligados em nossos comportamentos e “destinos”. Então, nenhuma
atitude praticada por um é isenta de influenciar a todos os outros.
Sendo assim, pode-se afirmar que
alguém tem sorte. No entanto, fica uma questão: tal indivíduo tem sorte ou é
alguém capaz de compreender um curso natural relacionado à essência de tudo o que
está envolvido no movimento universal cósmico, e coloca em prática a não-ação?
Ao considerar a reflexão do
físico Fritjof Capra podemos cogitar ser a sorte uma consequência relacionada a
um modo de agir em relação ao “mundo” ao qual estamos “interligados”. Isto é,
um respeito ao movimento e a interconexão existentes.
Desse modo, podemos nos manter
inertes diante dessa reflexão, ou podemos assumir uma atitude de não-ação e
exercitarmos compreender qual a essência de tudo, e de todos, com quem nos
relacionamos. Para assim, darmos início a um processo o qual pode culminar em
uma “mudança de caminho”.
Essa mudança talvez não ofereça
um vislumbre concreto. Porém, representa um ampliar de possibilidades o qual
pode significar um exercício de liberdade ainda não nos permitido experimentar.
Mas passível de apontar para uma direção desconhecida para nós capaz de
oferecer oportunidades ainda não cogitadas.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
Os ocidentais, Márcia, não aprenderam a exercitar o "ócio" que se dedica à meditação, infelizmente. Por isso, tornaram-se emocionalmente mais frágeis que os orientais. Nós estamos em frenético movimento, e, assim, não conseguimos enxergar, com nitidez, o movimento constante do universo, nem do nosso mundo interior. Triste, não!
ResponderExcluirO artigo dessa semana, Márcia, é um dos seus melhores textos.
Parabéns!
Muito obrigada por seu retorno Sandro!!
ExcluirFico muito contente que tenha gostado do texto e concordo com sua reflexão.
Nossa correria não nos permite o pensar e ver o que acontece próximo a nós.
Abraço.
Márcia.