Alguém afirmou que
após experimentar a paternidade passou a ter muito mais medo de sua morte.
Sentindo-se responsável pelo filho recém nascido assustava-o a idéia de não
estar presente quando esse filho pudesse precisar de ajuda ou orientação.
Muitos pais compartilham este
sentimento, entretanto, quão seguro nos sentimos sendo ou não pais? O filósofo Heidegger
argumenta sobre nosso destino à morte. Contudo, se nos sentirmos amedrontados
por essa possibilidade poderemos conhecer o que é comum ser chamado de “morte
em vida”, descrevendo assim alguém com medo da vida por saber que pode morrer.
Isso ocorre quando deixamos de nos
arriscar. Para continuar vivo o ser precisa colocar-se em situação de risco. Para
morrermos precisamos de um único e simples requisito – estarmos vivos. Ora, se
eu estou escrevendo e você lendo, significa que temos esse único e simples
requisito.
Algumas perguntas podem emergir
então: como nos sentirmos vivos? Como nos arriscarmos? É realmente seguro
continuarmos com os comportamentos que nos permitem continuar as mesmas
experiências, já conhecidas por nós e as quais não oferece mais risco e nem
insegurança?
Muitas vezes lemos um livro,
vemos um filme ou ouvimos uma história de alguém que se arriscou, se aventurou e fracassou. Porém, nessas histórias
as pessoas que arriscaram persistem e em algum momento obtêm êxito e, por
conseguinte, se comprazem diante da satisfação. Essas pessoas afirmam que os
sentimentos experimentados quando isso acontece não inúmeros e impossíveis de serem
descritos em sua exatidão.
Sendo assim, talvez fosse o
momento de iniciarmos uma busca pelo novo, para assim conhecermos o risco e
sentirmos o “sangue circular em nossas veias”. Quem já não experimentou um
calor pelo corpo inteiro, uma vermelhidão no rosto, mãos suadas e frias, o
famoso friozinho na barriga quando diante de uma situação nova. Neste momento
será que a sensação não era a de sentir-se vivo?
Em uma apresentação quando um
palestrante falava sobre seu tema, este fez um comentário referindo-se a um
antigo locutor esportivo, Osmar Santos, o qual afirmava que se algum dia
deixasse de sentir o friozinho na barriga enquanto praticava seu trabalho, ele
deixaria a profissão e buscaria outra a qual lhe proporcionasse tal sensação. Porque,
para ele, o friozinho na barriga significava que sua atividade ainda lhe
proporcionava a sensação de estar vivo e era isso o mais importante.
Quantas vezes nos sentimos
desanimados, ou depressivos como é tão comum afirmarmos atualmente. Mas não
caberá a nós mesmos buscarmos meios para mudarmos essa sensação? Seja numa
empreitada profissional nova, ou mesmo em uma breve caminhada por um parque. O
importante é: seja qual for a direção de nossa opção, que ela nos proporcione o
sentir. Pois, quando sentimos nos colocamos numa situação de contato com o
mundo e com quem está próximo de nós, e ela pode no mínimo nos surpreender. O
importante é oferecermos a nós mesmos essa possibilidade de sensações, seja no
trabalho, na família, no círculo de amizades ou mesmo em um tratamento novo
para solução de um mal estar antigo. Mas seja qual for a opção que ela nos possa
nos fazer... Sentir.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
CRP: 06/95124
E-mail:
marciabcavalieri@hotmail.com
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