Perdoar nem sempre consiste em
esquecer o ocorrido ou mesmo o ofensor. Mas em entendermos o que realmente nos
causa dor.
O filósofo Jean-Yves Leloup
questiona se a exigência de “que a justiça seja feita, que a justiça seja
aplicada” não nos mantém na dependência de quem nos “deve”? E se ela também não
nos mantém no sofrimento?
Quando fazemos uma conexão com
sentimentos de ressentimento e rancor em relação àquele que nos causou algum
tipo de dor, também nos conectamos ao prolongamento do nosso sofrimento em
relação à ofensa que nos atingiu; e a todo o movimento que nosso algoz faça. Então,
ficamos dependentes desse para nos movimentarmos também.
Nem sempre somos capazes de uma
análise racional do ocorrido. Ao menos em um primeiro momento. Porém, ao
conseguirmos abrandar a explosão de emoções, poderemos ter um olhar mais
objetivo para a situação. E, assim, alcançarmos maior clareza sobre o fato e
nosso ofensor.
Jean-Yves Leloup cita
Montherlant, romancista francês que questiona: Porque os cadáveres são tão
pesados? E ele mesmo responde - Eles são
pesados devido a todas as palavras que não foram ditas, a todos os males que
não foram perdoados...
Perdoar nem sempre consiste em
esquecer o ocorrido ou mesmo o ofensor. Mas em entendermos o que realmente nos
causa dor. Muitas vezes é apenas o mal-estar de não poder dizer tudo que se
deseja. Defender-se em voz alta. De a justiça ser feita.
Mas que justiça é essa? Aquela
que nos torna “bons” aos olhos alheios? Quais são os olhos que verdadeiramente
importam e o que é ser “bom”? Se formos capazes de responder a essas questões
definitivamente seremos capazes de amenizar tais dores e então nos libertarmos
do sofrimento.
Ao nos atentarmos para nós,
nossas dores e, especialmente, para o que nos é importante, conseguimos a
clareza do que precisamos para decidirmos o que queremos e a quem nos importa
satisfazer.
Portanto, podemos tentar dizer
mais palavras e perdoar mais males para nos tornarmos pessoas mais leves tendo
em vista ainda estarmos vivos.
Que a busca pelo conhecimento de
nós mesmos seja uma atitude diária para podermos alcançar a serenidade almejada.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
Email: marciabcavalieri@hotmail.com
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