É muito provável conseguirmos
perdoar, mas nosso olhar não será o mesmo. A lente que os cobria não poderá ser
a mesma, pois nós mudamos a cada nova experiência.
Ao perdoar nosso olhar volta ao
que era antes? Isto é, quando perdoamos conseguimos apagar da lembrança o que
ocorreu e nos sentirmos exatamente da mesma maneira que antes? Ao nos
relacionarmos, com algo ou alguém, temos nossa interpretação dessa relação e
desse algo ou desse alguém. Normalmente não nos atentamos para esse fato, porém
ele ocorre. Nossa história e nossas relações sempre permeiam os nossos
contatos.
A questão então é se conseguimos
retomar a visão anterior depois de algo nos atingir. Ou seja, quando nos
sentimos ofendidos ou feridos pode ocorrer de sermos capazes de perdoar,
relevar o que aconteceu e reaver o relacionamento anterior. Contudo, será
possível o retorno exatamente como era antes?
Se tudo nos toca de alguma
maneira, como não mudar depois de vivermos uma decepção ou uma dor? Nossa
história envolve todos os nossos contatos e deste modo somos o resultado deste
conviver. Portanto, torna-se inevitável alguma mudança ocorrer especialmente
quando experimentamos a decepção ou a dor. Então, a mudança na relação anterior
também se torna algo difícil de não ocorrer.
Jean-yves Leloup, filósofo e
escritor, destaca em um de seus livros que o perdão não apaga a realidade do
carrasco. Mas uma vez perdoado não estamos mais sob a dependência dele através
do ódio e da sede de vingança inspirados por ele. Ou seja, podemos mudar os
sentimentos, entretanto a realidade do fato não desaparece. A dor e a decepção
continuam a existir, mesmo ao tornar-se apenas em uma lembrança. E isso faz
parte de nossa história.
Então, é muito provável conseguirmos
perdoar, mas nosso olhar não será o mesmo. A lente que os cobria não poderá ser
a mesma, pois nós mudamos. Sendo assim, não podemos nos esquecer de que buscar
retomar uma relação exatamente como ela foi um dia, é, ao menos, uma busca
impossível. As mudanças acontecem, na maioria das vezes, independentes de nossa
vontade.
É preciso nos lembrarmos disso
para não experimentarmos decepções conosco por não sermos capazes de sentirmos
exatamente como foi no passado, antes de um fato ser conhecido e provocar
alterações nas relações antigas. Não é raro nos iludirmos com a ideia de
conseguirmos voltar como éramos. Mas é uma ilusão.
O importante é atentarmos para
esse fato e, então, conhecermos nossas reais capacidades para, desse modo,
ampliarmos nossas possibilidades no que tange os relacionamentos. Pois, ao
permanecermos na ilusão, as relações tornam-se alicerçadas em algo frágil o
qual não será capaz de resistir aos abalos a que estão sujeitas. Sejam eles de
menor ou maior proporção.
A nossa realidade nos fortalece
para o contato.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com
Como sempre, essa mestre nos ensinando o senso de criticidade, e a visão do futuro.
ResponderExcluirObrigado amiga.
Abraço
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