Ao usarmos nosso pré-julgamento deixamos de lado muitas
opções, das quais poderíamos usufruir prazeres ignorados.
“... E quando se presta atenção espontânea e virgem de
imposições, quando se presta atenção, a cara diz quase tudo”. Clarice Lispector
destaca com essa frase o quanto é possível, se nos despirmos de nossos “pré-julgamentos”,
analisarmos as situações de uma maneira mais isenta. Possibilitando um conhecer
mais autêntico.
Contudo, tal proposta não constitui uma tarefa fácil. Nossas
imposições estão permeadas por nossos valores. Estes foram construídos ao longo
de nossa existência através das diversas experiências que vivenciamos. Mas à
medida que conseguimos exercitar um olhar menos comprometido com esses valores,
possibilitamos contatos diferenciados.
Ao usarnos nosso pré-julgamento deixamos de lado muitas
opções, das quais poderíamos usufruir prazeres ignorados. Porém, nos mantemos
ligados àquilo que consideramos seguro e não nos permitimos riscos em
empreitadas diferentes.
Ao conhecermos alguém, por exemplo, utilizamos essas
ferramentas para nos proteger de possíveis surpresas desagradáveis. Entretanto,
ao não nos surpreendermos também deixamos de experimentar possíveis prazeres.
Ou seja, nos privamos da dor, mas também do gozo.
Costumamos fugir dessas situações para minimizar as
chances de sofrimento. Com isso nos protegemos e acreditamos ser possivel
experimentar uma vida mais segura e amena. Todavia, a amenidade também pode
levar à mesmice. E, apesar de a rotina ser um modo de experimentarmos a
segurança, ela também leva à monotonia da qual tantamos nos distanciar a todo o
momento.
Lamentamos a rotina, a falta de oportunidades em
experimentarmos sensações diferentes. Contudo, o que fazemos, na realidade, é
fugir das dificuldades o máximo possível. Não obstante, fugimos também das
chances de encontrarmos significados diferentes para ocasiões talvez
semelhantes, o que nos levaria a sensações novas. E elas poderiam constituir o diferencial que
buscamos para sentirmos “a vida correr nas veias”.
Desse modo, é importante nos conscientizarmos o máximo
possível sobre nossos valores. Para entendermos o que nos leva a fazer certas
escolhas e ter determinadas decisões. E, então, experimentarmos a liberdade de
escolhermos com maior isenção dentre as possibilidades com as quais nos deparamos.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
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