19 abril 2010

Olhar


Nos dias de hoje presenciamos um aumento relacionado a problemas de ordem emocional como ansiedade, pânico, estresse entre outros. Nos perguntamos o que tem acontecido para o surgimento de tantas desordens emocionais? Se sentimos uma dor em nosso corpo e o responsável médico não consegue detectar a causa recebemos a resposta – deve ser emocional, ou você deve estar vivendo um momento de estresse, precisa diminuir o estresse em sua vida. Fácil não?! É só diminuir o estresse e pronto!
A sociedade competitiva em que vivemos exige de cada um de nós o melhor, mas em muitas ocasiões isso não é o bastante, pois deve-se ter um diferencial para atuar no mercado de trabalho e na vida de maneira auto-suficiente. Mas qual é o nosso limite? Qual o nosso melhor? Esse melhor é o suficiente para o que nos é solicitado? De qual maneira nos manter satisfeitos conosco e satisfazer o outro a nossa volta também? Como encontrar um equilíbrio entre o que podemos e o que temos que fazer?
Normalmente não valorizamos o equilíbrio emocional, considerando-o um quesito de menor importância em todo esse processo, porém muitos estudos têm comprovado que quem possui tal equilíbrio tem maiores chances em obter um desempenho melhor em todos os âmbitos de sua vida, seja ele profissional, familiar ou acadêmico. Sendo assim, a busca por alternativas que auxiliem na conquista de tal equilíbrio nem sempre possui um lugar de atenção em nosso dia-a-dia. Muitas vezes buscamos tal solução em possibilidades que prometem verdadeiros milagres. Mas será que se fosse tão simples assim todos nós já não teríamos a receita em nossos bolsos sempre a disposição para utilizarmos dela quando uma situação solicitasse?
O momento hoje requer de nós diversas “perfeições”. Não basta sermos bom no que fazemos, precisamos ser os melhores. O mundo oferece oportunidades a quem se destaca, porém não há como obtermos a garantia de que temos contato com o melhor. No entanto ainda assim buscamos incansavelmente este melhor, e com certeza somos cobrados a oferecer o melhor de nós também, ou seja, cobramos e somos cobrados.
Desde o início de nossa existência somos arremessados em um mundo exigente e cruel. No entanto será esse mundo tão cruel e tão exigente como às vezes o vemos e o sentimos? Como é o nosso olhar para esse mundo? Estudos afirmam que nosso olhar é repleto de filtros que desenvolvemos ao longo de nossa existência através das experiências que vivemos. Esse olhar, esse filtro demonstra que não há um olhar neutro, objetivo. Nossas emoções e vivências estão sempre permeando a interpretação daquilo que vemos. A cor azul ou rosa que enxergamos não tem a mesma tonalidade de cor azul ou rosa vista pelo nosso vizinho, nosso amigo, nosso filho, nosso companheiro. Enfim, as experiências que vivemos ao longo de nosso desenvolvimento, sejam elas agradáveis ou nem tanto, permeiam todos os momentos de nossa vida. Em cada contato visual que estabelecemos, lá está o acúmulo do que vivemos resultando em uma lente que permeia a forma como vemos a realidade na qual estamos inseridos e que se apresenta a nós em determinado momento.
Mas uma questão surge então – somos escravos dessa lente? Até que ponto podemos mudar a imagem que essa lente nos mostra? O filósofo Jean-Paul Sartre afirma, somos condenados à liberdade, ou seja, somos livres para escolher, mas somos condenados às conseqüências dessas escolhas. Sendo assim, penso que podemos escolher mudar nosso olhar ou a lente que o cobre, mas é sensato ter a consciência que isso não consiste em uma tarefa fácil, mas possível. E o importante é a lembrança do – possível.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga – CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br
02/04/2010