31 dezembro 2015

RETROSPECTIVA – PROMESSAS, ALEGRIAS E DECEPÇÕES

Dificuldades, dores e perdas sempre haverá, mas as alegrias, ganhos e facilidades também.

É comum ao chegarmos ao final de um ano iniciarmos uma pequena, ou grande, retrospectiva a respeito do que se passou durante o ano que finda. Lembrarmos algumas “promessas” feitas ao início do mesmo. Não raro, também, é nos decepcionarmos com a lembrança de alguns resultados, mas também, ficarmos contentes em rememorarmos as conquistas obtidas.
Para algumas pessoas esse rememorar pode ser mais doloroso e para outras nem tanto. Certamente o fator relativo a um maior número de sucessos tem relação direta com esse sentimento. Mas será que é possível olhar para esses fatos de modo a esse momento não ser tão penoso?
Sempre ao término de um ano, ou qualquer outro ciclo, seja um curso, ou um período da vida, como quando deixamos de ser crianças para nos tornarmos adolescentes/adultos, ou seja, ao término de um ciclo é natural experimentarmos uma sensação de alívio por concluirmos algo. Porém, essa sensação pode vir acompanhada também de tristeza. Pois, ao concluirmos algo significa que encontramos o seu fim. Nem sempre nos atentamos para isso, mas a sensação é semelhante a quando precisamos lidar com a morte.
Para um novo ano nascer o velho precisa morrer. Para o adolescente surgir a criança precisa morrer. Para uma vida nova surgir a antiga precisa morrer. E assim por diante. A questão é, que ao olharmos para nossas perdas e ganhos quando realizamos uma retrospectiva, se o fizermos com a lembrança da necessidade de algo morrer para dar lugar ao novo, poderemos experimentar uma sensação diferente no que diz respeito, especialmente, às nossas perdas. Ou mesmo às situações sem uma conclusão que nos satisfizesse plenamente.
Dificuldades, dores e perdas sempre haverá, mas as alegrias, ganhos e facilidades também. O importante é ao finalizarmos um ano conseguirmos nos envolver em esperança. Mesmo que esta não dure muito tempo, mas o suficiente para nos levar a fazer novos planos e novas promessas. Para permitir mantermos nossas possibilidades em aberto de modo que nosso existir não se torne estagnado.
Loucura pode ser definida em fazer-se algo da mesma maneira, por várias vezes, e esperar um resultado diferente. Então, que o final de 2015 seja repleto de lembranças boas e ruins. No entanto que elas possam ser a alavanca para novas decisões e levar-nos a, em 2016, arriscar outros caminhos. E, assim, podermos ter a oportunidade de experimentar outros resultados, se não melhores ao menos diferentes.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

24 dezembro 2015

ENTÃO JÁ É NATAL!!

Não raro é experimentarmos, vez ou outra, uma sensação de vazio, de carência que nem sempre somos capazes de identificar a origem. Buscamos deixa-la de lado, “escondida” em algum lugar onde, com o tempo, seremos capazes de esquecer e assim continuar a viver.

Em um tempo em que muitas informações estão disponíveis, há quem afirme que não há sentido em se comemorar o Natal ao ter em vista o aniversariante não ter nem nascido essa época. Ou seja, temos acesso a informações cada vez mais precisas. E que desmentem muitos fatos tornando-os dispensáveis ou sem sentido lógico.
Porém, vivemos também em uma época em que algo parece sempre faltar. Estudiosos atentam para fatos diferentes na tentativa de explicações e justificativas para tais sensações. Mas a questão ainda é: o que falta?
Não raro é experimentarmos, vez ou outra, uma sensação de vazio, de carência que nem sempre somos capazes de identificar a origem. Buscamos deixa-la de lado, “escondida” em algum lugar onde, com o tempo, seremos capazes de esquecer e assim continuar a viver.
Será que isso é o suficiente? Continuar vivendo carente de emoções pode tornar-nos indiferentes pelo simples hábito de buscarmos a indiferença. Nos habituarmos a não permitir sentimentos que nos remetam a pesares ou a sensações as quais nos façam “parecer humanos”, pode ter um alcance inesperado e até indesejado. Podemos nos tornar alheios às emoções desagradáveis. Mas também podemos permanecer indiferentes a tudo ao nosso redor e, assim, experimentarmos a sensação de um vazio e de uma busca sem nem sabermos o que é procurado.
Uma amiga me contou um episódio de um livro no qual um piloto sofre um acidente em uma montanha coberta de gelo. Ele sobrevive e sabe que para continuar vivo precisa permanecer em movimento. Deste modo, coloca-se a andar por mais de três dias. Quando não aguenta mais tem o impulso de parar e deixar o gelo fazer seu trabalho. Porém, ao lembrar-se de sua esposa imagina a decepção dela ao saber de sua desistência e isso o faz continuar.
Ao longo do tempo enquanto espera o salvamento, esse piloto consegue manter-se em movimento. Busca a cada momento um sentido diferente para continuar encontrando nele mesmo forças para continuar.
Então, se nesse período de Natal o impulso de sentir desânimo se fizer presente, uma alternativa é buscar sentidos para nos permitir continuar.... Nem sempre constitui tarefa fácil essa busca, porém, em uma época de tantas carências, será que não vale a pena investirmos em sentimentos adormecidos que permitam experimentar sensações que nos levem ao menos a certeza de estarmos vivos?
Que neste Natal tenha início uma busca incansável e duradoura.
Feliz Natal!!!

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

18 dezembro 2015

LASTROS – DISCERNIR ENTRE APRISIONAMENTO E EQUILÍBRIO

Em algumas oportunidades estarmos tão habituados a certa situação que não percebemos quando esta se torna um “peso”.

O lastro, a princípio, serve para equilibrar, balancear, ajustar. Nos navios servem para equilibrá-los e nos balões para ajustar sua altura. Entretanto, como tudo ao nosso redor, o excesso pode tornar-se um problema. A água, indispensável para nossa vida, pode tornar-se um problema se nos encontrarmos aprisionado em um tanque completo dela.
Podemos comparar os lastros aos “pesos” que acumulamos em nossa memória ao longo da vida como eventos descartáveis, sentimentos inúteis, pessoas difíceis de se lidar.  Muitas vezes não nos atentamos para o fato de algo ou alguém impedir nosso “voo”. Ocorre de em algumas oportunidades estarmos tão habituados a certa situação que não percebemos quando esta se torna um “peso”.
Todos nós temos um potencial a ser expandido a qualquer momento, desde que decidamos por isso. Contudo, justificamos nossos fracassos sem buscarmos entender o que realmente ocorreu para que não atingíssemos nosso objetivo. Ao justificarmos, nos libertamos da necessidade de maiores análises e assim podemos continuar nossa jornada.
Mas, não podemos com isso acumularmos lastros os quais em algum momento podem tornar-se pesados demais? Quiçá impedindo nosso caminhar, como a imagem de algumas animações em que um prisioneiro possui uma bola de ferro atrelada ao seu calcanhar para dificultar ou mesmo impedir sua mobilidade.
Ao longo de nosso existir deparamos constantemente com situações que nos “desafiam” e oferecem oportunidades das mais variadas. Porém, se ao nos depararmos com elas estivermos por demasiado sobrecarregados com nossos lastros, poderemos não as perceber.
Sendo assim, se permanecermos com nossa atenção voltada aos detalhes das situações diversas que ocorrem ao nosso redor; se cuidarmos para que os eventos descartáveis, sentimentos inúteis, pessoas difíceis em se lidar sejam transformadas em oportunidades de aprendizado e crescimento; poderemos fazer valer as possibilidades as quais temos contato e que em muitas ocasiões não as percebemos por estarmos ocupados em demasia cuidando dos nossos “lastros”.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


11 dezembro 2015

EGOÍSMO – QUEM GANHA E QUEM PERDE?

“Só olho para frente”, ou seja, se o caminho a minha frente está livre não me preocupo com nada ao redor.

Amor exclusivo e excessivo de si, implicado na subordinação do interesse de outrem ao seu próprio, esta é a definição encontrada no dicionário Aurélio para essa palavra. Porém, o que representa em nosso dia a dia a convivência com o egoísmo? Onde podemos observar atitudes egoístas? Será possível amenizar suas consequências? Como?
Costumo dizer que vivemos o auge de uma síndrome – “só olho para frente”, ou seja, se o caminho a minha frente está livre não me preocupo com nada ao redor. Não me importa se ao precisar parar em fila dupla, atrapalho todo o trânsito da avenida atrás de mim. Não me importo se o lixo que atiro pela janela, poderá se acumular a outros tantos objetos deixados ao léu e obstruir a passagem da água nos esgotos e causar alagamentos e transtornos diversos.
No entanto, nossos atos têm consequências das quais nem sempre nos atentamos, mas nos alcançam também. Ou ainda, quando não ajudamos podemos atrapalhar bastante sem nos darmos conta disso.
É comum lamentarmos a falta de colaboração, o desinteresse e a indiferença geral. Somos capazes de reclamar e anunciar diversas soluções que não nos envolve, é óbvio. Até porque, não pensamos fazer parte desse rol de pessoas que privilegiam seu próprio bem-estar acima de tudo e de todos.
Será que estamos tão imunes assim? Podemos mesmo afirmar, com plena segurança, que colaboramos mesmo isso significar redução do nosso ganho? Ou que nos preocupamos com as consequências dos nossos atos em um tempo não necessariamente tão imediato, mas que em longo prazo represente algo nocivo para alguém?
Outro dia, ao observar um comportamento de um funcionário com uma fisionomia irritada ao atender alguém, foi possível perceber que o cliente poderia ter feito algumas observações, ao comunicar-se com o funcionário e agilizado o seu atendimento. Porém, ao ser tratado com a indiferença e falta de atenção daquele que o atendia, absteve-se de fornecer maiores informações e, em praticamente total silêncio, ambos terminaram seu lamentável encontro.
Este exemplo propiciou-me uma reflexão. Podemos auxiliar ao máximo aquele que se relaciona conosco em qualquer âmbito. Ou não. Quando nos propomos a ser prestativos e atenciosos, corremos um grande risco de sermos tratados com simpatia, respeito e agrado. Em contrapartida, ao nos propormos ser indiferente, também corremos um grande risco, esse, porém, de sermos tratados com indiferença. E assim adicionarmos mais irritação ao nosso rol de contrariedades que o viver nos proporciona. Levando-nos a agravar nossos sentimentos de rancor e exasperação.
Por isso, ao buscarmos formas de amenizar nossos desagrados particulares compreendendo os gatilhos que nos levam a experimentar a contrariedade, investiremos em nossa melhora. Por consequência, estaremos mais aptos a lidar com o outro de modo mais ameno, permitindo a redução dos sentimentos que nos levam a acreditar que nossos direitos sobressaem-se aos dos outros.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

04 dezembro 2015

PRESENTEAR – CARINHO OU OBRIGAÇÃO?

Presentear alguém pode representar uma breve conexão nossa com quem desejamos agradar.

Vivemos numa época em que é natural ouvirmos comentários a respeito de diversos modos de ser que não era comum há tempos atrás. Hoje é comum conhecermos alguém que já apresentou ou apresenta sintomas de Depressão, Pânico, Transtornos de Personalidade como Bipolaridade ou ainda Borderline entre outros.
Tais nomes assustam e mais ainda sua frequência atual. Nunca se falou tanto em necessidades de controle de ansiedade como hoje e, definitivamente, todos querem respostas para descobrir como se iniciam tais “distúrbios” para que se possa pôr um fim ao mal.
No mês de dezembro há uma grande movimentação em torno das festas de final de ano. Amigos-secretos, presentes para familiares e amigos são a ordem do dia. Todos, de algum modo, presenteiam e são presenteados. Mas qual é o significado, atualmente, de um presente?
Há algum tempo uma de minhas filhas questionou-me sobre o valor monetário do seu presente de aniversário. Essa pergunta permitiu-me uma resposta a qual proporcionou uma pequena reflexão. Qual o significado de um presente? Por que vivemos numa época em que presenciamos tantos casos de ansiedades e transtornos? Há relação entre essas duas questões?
A respeito do significado de um presente, é comum, nos dias atuais, agraciarmos amigos e familiares com os práticos vales-presente, o qual o presenteado pode ele mesmo escolher o seu “presente”. Há modo mais fácil de presentear que proporcione maior possibilidade de acerto do que esta?  Ou, ainda, oferecermos determinada quantia em espécie. Isso seria um presente ou uma oferta de compra? Uma compra ocorre quando nos dispomos a ir a algum lugar e escolhermos, nós mesmos, o que desejamos adquirir.
Um persente envolve certo tempo nosso pensando na pessoa a quem “queremos agradar”. Ao nos dispormos a comprar um presente para alguém, podemos experimentar alguma insegurança a respeito daquilo que nosso afeto gostaria de receber.
Porém, se atentarmos para o fato de que tal presente pode significar o tempo que dispensamos pensando nessa pessoa, que, por algum tempo, prestamos uma atenção especial em suas preferências diversas, como roupas, perfumes, objetos pessoais, comentários sobre suas coisas e situações preferidas. Ou seja, dispensamos um pouco do nosso precioso tempo “conectados” na pessoa que desejamos presentear. Será que ao nos dispormos a pensar desse modo em relação a um presente, o seu significado não será outro que não seja apenas o dinheiro envolvido em sua compra?
Poderíamos, neste mês de festas e oportunidades de distribuição de mimos diversos, ao adquirir um presente, tentarmos ver nele não apenas a compra, mas a pessoa envolvida nessa relação. Pode ocorrer de utilizarmos um pouco mais de nosso tempo no processo da compra do presente. Entretanto, pode ser que o prazer envolvido nesse processo seja gratificante.
Talvez as ansiedades e transtornos diversos da atualidade possam estar relacionados há alguns significados que deixamos de valorizar. Podemos começar com o presente e, quiçá este ato seja apenas o início de um novo processo de significados diversos a envolver nossa existência futura. E, com isso, minimizarmos a incidência de transtornos indesejáveis.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
Email: marciabcavalieri@hotmail.com