27 fevereiro 2015

USUFRUIR

Atualmente todos somos solicitados de diversas maneiras. Seja em relação aos estudos ou ao trabalho, ou ainda em relação aos amigos ou à família. Isto é, temos responsabilidades das quais nem sempre podemos nos isentar e, deste modo, podemos experimentar a sensação de estarmos acuados diante de algo o qual não somos capazes de nos desvencilhar.
Porém, necessitamos dos compromissos que nos permitem os relacionamentos variados, sejam eles com algo ou alguém. Esses compromissos possibilitam-nos a oportunidade de praticarmos nossas habilidades em relação ao nosso modo de ser e, especialmente, nos permite a ocasião de nos desenvolvermos em vários aspectos.
Quando nos sentimos pressionados de qualquer maneira, pode haver um impulso de nos libertarmos do que nos oprime. No entanto, há compromissos dos quais não podemos abrir mão sem experimentarmos consequências, às quais não temos certeza de sermos capazes de suportar.
Então, nos resta encontrarmos um modo de minimizar as sensações desagradáveis que algumas situações podem despertar. Um professor, certa ocasião, sugeriu a um aluno já adulto, que ele deveria observar mais a vida para que fosse capaz de usufrui-la com mais apuro.
Dizia ele que ao nos permitirmos pequenas pausas em nosso dia-a-dia para simplesmente saborearmos uma água refrescante, ou ouvirmos o canto de um pássaro, ou mesmo observarmos o balançar de folhas de uma árvore, estaríamos proporcionando ocasiões de momentos nos quais a correria diária poderia assumir um segundo plano em nossa existência.
Desse modo, podemos compreender que se formos capazes de nos “divertirmos” com nossos compromissos, seremos também capazes de transformar o peso de nossas responsabilidades. E, assim, proporcionamos a oportunidade de nos tornarmos menos “ranzinzas” com as situações que, em muitas ocasiões, não são passíveis de mudança. E, assim, usufruirmos com maior satisfação as oportunidades de que experimentamos.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga – CRP 06/95124


20 fevereiro 2015

CONFIANÇA

Zygmunt Bauman, sociólogo e autor, em seu livro Amor Líquido discorre sobre a liquidez das relações na atualidade. As circunstâncias nos direcionam ao consumo de tudo ao nosso redor e, segundo ele, os relacionamentos não poderiam ficar fora desse rol. Ou seja, o modo de nos relacionarmos “toca” nessa necessidade de consumo que temos de incansavelmente buscarmos a satisfação de nossos desejos. Mas que na realidade é mais um gatilho para o despertar de um novo desejo.
Diante disso nos vemos, além de tudo, com um verdadeiro arsenal o qual permite uma amplitude de acesso a informações que ao atentarmos pode até assustar. No acesso de um simples “click” pode-se encontrar uma gama de informações que, talvez, nem ao menos teremos disponibilidade para averiguar tudo. E essa informação pode ser sobre algo ou alguém.
Vive-se, ao mesmo tempo, uma necessidade de exposição. Quanto mais pessoas souberem de suas conquistas, mais satisfeitos poderão se sentir, visto que a ideia de sucesso na atualidade parece estar diretamente relacionada ao número de pessoas que sabem quem você é e o que você faz.
Tangente a esses fatores tem-se que lidar também com a desconfiança. Como, em quem e, no que confiar? Até mesmo as imagens vistas em uma tela não são confiáveis depois do surgimento do Photoshop. Diante da insegurança buscam-se informações em todos os lugares disponíveis nas quais não se tem a certeza da fidedignidade dessas.
Então, o que resta é desconfiar e estabelecer relacionamentos que não ofereçam maiores riscos. “Protege-se” de sofrimentos futuros ao estabelecer relacionamentos que não saciam a sede de sentimentos e emoções que se tem. E dessa forma, ao mesmo tempo em que se garante a ilusória segurança, priva-se de um viver intensamente, ao imaginar que a possibilidade de usufruir a vida estará sempre à disposição.
O viver intensamente que permite o contato com emoções diversas exige investimento pessoal e riscos. Não é possível garantias de satisfação e felicidade plena às quais buscamos. Porém, o privar-se de sofrimentos futuros pode impedir também a possibilidade de viver sensações desconhecidas que podem surpreender por serem agradáveis.
Então, não há uma receita pronta a se seguir, mas uma gama de possibilidades para se buscar conhecer. E que pode iniciar-se com um olhar para si próprio e a busca de sentimentos que podem estar apenas esperando um pequeno espaço para se manifestarem.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

13 fevereiro 2015

ESTABILIDADE

Em muitas oportunidades nos sentimos tranqüilos diante da estabilidade de nossas vidas. Seja com um emprego, um relacionamento duradouro, o amor dos filhos, a companhia de um amigo, uma casa confortável, a rotina diária, ou outras situações as quais nos proporcionam o conforto da confiança de termos alguma previsão do que virá a seguir.
No entanto, podemos saber realmente o que virá a seguir? Por exemplo, quem nos dá a garantia de conseguirmos levantar da cama pela manhã, e andar? O que nos dá a certeza de podermos contar com tudo o que cerca nossa rotina diária? Se pensarmos com profundidade não há como possuir essa garantia, nós apenas confiamos que será assim. Estamos, a todo o momento, sujeitos a diversas intempéries e essas, definitivamente, não estão sob nosso controle. Mas até que ponto isso pode ser interpretado como um problema?
Em todas as situações há ao menos duas possibilidades: dar certo ou dar errado. É óbvio que pode haver variações ou nuanças nessas duas alternativas, mas geralmente é assim: Ou uma ou outra. Se há ao menos duas opções, como seria se tentássemos ver essa “instabilidade” como algo positivo? Alguém me disse que a rotina cansa porque não surpreende. Se pensarmos um pouco não teremos dificuldades em localizar momentos muito agradáveis em nossas vidas e associarmos esse evento agradável a uma surpresa, isto é, algo que não constava de nossa rotina.
Então, lembrando o filósofo Heidegger, a rotina é necessária, pois nos permite nos sentirmos confiantes de estarmos vivos no dia seguinte. No entanto, ao mesmo tempo, a incerteza nos dá opções que não temos quando tudo está previsto. E isso não significa precisarmos abandonar todos os nossos compromissos, mas que há necessidade de olharmos para eles como uma parte de nossa existência e não sua completude.
Em muitas ocasiões permitimos nos tornar aquilo que fazemos e que temos. Experimentamos o sentimento de segurança e isso é algo muito bom. Mas, se entendermos que essa estabilidade da continuidade pode ser alterada, estaremos “preparados” para as surpresas, sejam elas agradáveis ou não, pois essa “preparação” nos permitirá uma análise um pouco mais nítida da situação.
Deste modo, buscar maneiras de nos tornarmos mais atentos à nossa realidade é algo de fundamental importância para a manutenção de nossa “estabilidade”.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

06 fevereiro 2015

MUDAR


Podemos almejar mudanças em vários aspectos. Mudar um móvel de lugar e nos sentirmos em um novo ambiente. Ou, mudar um estilo de roupa e olharmos para uma nova pessoa diante do espelho. Entretanto, há diversos âmbitos de nossa existência que podem beneficiar-se, de algum modo, com alguma mudança.
É comum, nos dias de hoje, ouvir falar em reforma íntima.  Mas o que seria essa tal reforma íntima?  Uma mudança interna. Certo, e como poderia acontecer tal mudança? Normalmente falaríamos em remodelar pensamentos. E novamente, como isso pode ocorrer? Como remodelar nossos pensamentos, nosso modo de ver as situações cotidianas e as mais específicas?
Tudo começa por uma decisão: Querer mudar. Quando nos deparamos com uma sugestão de mudança em algo simples em nossa rotina podemos nos sentir inseguros, em dúvida. Alguns autores, entre eles Heidegger, argumentam sobre a necessidade de buscarmos uma estabilidade para nos sentirmos seguros, isto é, buscamos tudo que permaneça estável, para continuar o mesmo, a rotina, para nos sentirmos em “terreno firme” e, desta forma, sentirmos segurança. A mudança gera desconforto, o novo nos assusta, em um primeiro momento; e nem sempre estamos dispostos a investir nesse desconforto.
Se imaginarmos um pouco a respeito podemos pensar numa situação em que não movimentamos nossos pés. Ficaríamos sempre no mesmo lugar e em algum momento poderíamos nos sentir cansados da mesma paisagem o tempo todo, tendo em vista sermos seres que se compraz com o novo. A rotina nos dá segurança, mas também nos cansa. Podemos pensar em algo semelhante acontecendo com nosso modo de ser. Poderíamos nos cansar de reagirmos sempre da mesma maneira nas diversas situações, especialmente naquelas em que não nos sentimos satisfeitos com o resultado.
Estamos acostumados com nosso modo de ser e reagir e isso nos proporciona certo conforto. Porém pode gerar estagnação e em alguns momentos descontentamento. Quantas vezes nos encontramos em determinada situação e gostaríamos de ter reagido de modo diferente, ou mesmo nos deparamos em uma circunstância com o desejo de ter a capacidade para ponderar antes de ter uma reação automática. No entanto nem sempre somos capazes disso, e podemos então experimentar a decepção conosco e com nosso modo de agir.
A angústia diante do novo e o medo de mudar podem assustar, mas arriscar-se, colocar-se em uma situação diferente pode proporcionar uma sensação de vivacidade, de liberdade. Como se tomássemos as rédeas das situações e nos tornássemos escritores de nossa própria história.
Algumas pessoas afirmam que estas mudanças são mais fáceis quando ainda se é jovem. Talvez sim, mas talvez não. A única maneira de descobrir é experimentar e uma mudança como essa pode nos surpreender, seja em que tempo for. Ou seja, a sorte está lançada, estamos vivos!


Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga – CRP 06/95124