27 dezembro 2016

A MAGIA DO OLHAR

"Passamos despercebidos por uma árvore recém florida, ou com suas folhas caídas ao chão formando um lindo e momentâneo tapete, momentâneo, pois, ao primeiro vento se desfaz."

Neste período do ano é muito comum uma retrospectiva dos momentos vividos durante todo o ano. Neste, em particular, tem ocorrido muitos lamentos e reflexões num sentido mais voltado para a depreciação. Busca-se a lembrança de bons momentos na tentativa de obscurecer os momentos considerados ruins para, assim, dirimir as dores que eles possam ter causado.
Há quem diga ser necessário mudarmos atitudes, conceitos, percepções, etc., no entanto, como proceder tal empreitada pode ser uma questão recorrente. Então, talvez uma reflexão a respeito da maneira como estamos conduzindo nossa existência possa ser uma forma de tentar alcançar tal objetivo.
Numa observação simples podemos notar que histórias envolvendo algum tipo de magia costuma alcançar certo sucesso desde épocas mais remotas. Basta voltarmos nossa atenção para os personagens Peter Pan e sua grande companheira a Fada Sininho, que ao adoecer gravemente é solicitado aos espectadores que manifestem um gesto, o aplauso, para comprovarem sua crença na existência da magia, de modo que ela possa se curar.
Então, podemos pensar... onde está a magia?  Como adicionar magia em nossa existência tão “real”? E a resposta para essas questões pode ser que tenha morada em nossa capacidade em acreditar. E, talvez seja necessário um gesto concreto para que a magia se apresente para nós.
Numa era onde diversas verdades, antes indubitáveis, são “destruídas” graças a pesquisas e desenvolvimentos, parece ser uma árdua tarefa a de acreditar em algo considerado “irreal”. Porém, pode ocorrer de não nos darmos conta de nossa participação diária nesse processo destrutivo.
Em meio a tantas solicitações de posturas assertivas e acertadas, podemos nos ver envolvidos em um pequeno mar de opções que podem nos atordoar e dificultar uma postura mais autêntica em relação ao nosso modo de perceber o viver.
Deixamos de lado comemorações simples como, por exemplo, a chegada das estações do ano. Passamos despercebidos por uma árvore recém florida, ou com suas folhas caídas ao chão formando um lindo e momentâneo tapete, momentâneo, pois, ao primeiro vento se desfaz. Nos presenteamos envoltos num apelo quase que estritamente comercial, ao invés de buscarmos a magia nesse processo, a qual pode necessitar de nossa capacidade de observação e aproximação junto ao outro.
Sendo assim, talvez a magia do olhar seja simplesmente a atitude de olharmos magicamente para as coisas rotineiras de nosso dia-a-dia. E percebermos que as relações que estabelecemos com elas depende, especialmente, de nós. E, ao mudarmos nossa atitude estaremos, por conseguinte, transformando, “magicamente”, nosso olhar.

QUE 2017 SEJA, ESPECIALMENTE, MÁGICO!!!

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124





18 dezembro 2016

ÀS COMPRAS!?!?!?!?!

Nos é tão óbvio o que é certo ou errado que nos parece um total disparate quando alguém não consegue alcançar uma conclusão semelhante à nossa.
 
Na época do ano em que nos encontramos algumas pessoas perguntam-se para que tanto frenesi em torno de compras, presentes, comidas, etc.  Outros questionam se há algum sentido em tal comemoração. Outros, ainda, querem saber qual a razão da reunião familiar, quando ao longo de um ano se esteve tão distante e desinteressado uns dos outros.
Não se pode perder do horizonte que sendo seres singulares, nossas razões e justificativas também o são. É comum a pergunta se algo está ou não correto. Julgamos a assertividade dos eventos por nossos parâmetros e nem sempre nos damos conta disso. Nos é tão óbvio o que é certo ou errado que nos parece um total disparate quando alguém não consegue alcançar uma conclusão semelhante à nossa.
Somos, certamente, seres históricos, isto é, existimos em um horizonte onde a história nos envolve. E do mesmo modo nós, inseridos que estamos nesse horizonte, a envolvemos também. Então, cada um de nós possuindo uma maneira singular de se relacionar com essa história, constrói, do mesmo modo, o seu próprio horizonte histórico.
Sendo assim, a resposta para tantas perguntas, questionamentos, críticas e defesas neste período, pode se assentar no fato de que há, para cada um em particular, um significado diferente, específico e individual. E, talvez, diante da necessidade de continuarmos vivendo na partilha do tempo e do espaço em que nos encontramos, possa se fazer necessário o exercício do respeito às individualidades.
Uma maneira de se colocar em prática esse exercício, pode consistir em tentarmos compreender nossas próprias razões e justificativas para nossas próprias respostas para essas perguntas. Pois ao iniciarmos uma reflexão a respeito de nós mesmos, inevitavelmente, estaremos refletindo sobre aqueles que coabitam o mesmo espaço e tempo que nós neste aqui e agora.
Desse modo, poderemos atinar o significado, para cada um em sua singularidade, do que representa essa época do ano, em que o frenesi se faz presente e, assim, algumas pessoas sentem-se mais ou menos excitadas, emotivas, animadas, desinteressadas, etc.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


12 dezembro 2016

CERTO OU ERRADO: QUEM SABE AO CERTO?

Talvez a certeza do que consiste o certo e o errado repouse no fato de buscarmos maneiras de conhecermos, o máximo possível, acerca das situações nas quais nos envolvemos.  

 Somos acostumados, desde um início bem remoto, a distinguir entre certo e errado. Vivemos como se houvesse apenas esses dois pontos extremos. No entanto, de que modo avaliar a nuance que envolve o entremeio deles? No que consiste o certo e o errado? Se levarmos em conta nossas necessidades certamente tais pontos oscilarão. Então surge a questão: o que é O certo e o que é O errado?
Convivemos enredados por situações e histórias das mais variadas. Somos seres os quais construímos nosso modo de ser embasados nas relações estabelecidas com quem compartilha nossos momentos. Então, o limiar entre o que é lícito ou não pode oscilar de acordo com o momento em que nos encontramos. Ou seja, o que hoje parece adequado, amanhã pode tornar-se totalmente inconveniente.
Ao considerarmos nossas necessidades podemos avaliar de modo mais complacente os “erros”. Isso ocorre porque somos levados a avaliar de modo menos rígido nossos “deslizes”. Pois somos abastecidos de informações pertinentes aos motivos envolvidos nas decisões tomadas. Por isso, faz-se importante o contato com as informações pertinentes ao ocorrido.
Então, ao considerar que nossa história permeia todas as nossas relações; como estabelecer um ponto fixo em relação ao que é certo ou errado? Não podemos nos esquecer de que, de acordo com o momento, determinada atitude pode oscilar entre esses extremos. Sendo assim, como nos orientar e estabelecer parâmetros “justos”?
Talvez o primordial consista em nos munirmos, o máximo possível, de informações a respeito das situações envolvidas. Ou seja, possibilitarmos a nós mesmos, o conhecimento acerca das razões e sentimentos envolvidos em determinado acontecimento. Pois, assim, poderemos nos tornar capacitados a proceder uma avaliação mais justa no que consiste nossas decisões e as dos outros.
Quando somos crianças somos orientados por nossos responsáveis.  Ao nos desenvolvermos um pouco mais, nos é permitido experimentar, para então darmos início ao conhecimento das consequências envolvidas em nossas atitudes. O ingresso na vida adulta subentende estarmos aptos a avaliar as consequências de nossas decisões de modo relativamente antecipado, para, então, sermos capazes de “prever” erros de modo a preveni-los.
Talvez a certeza do que consiste o certo e o errado repouse no fato de buscarmos maneiras de conhecermos, o máximo possível, acerca das situações nas quais nos envolvemos.  E, desse modo, possibilitarmos relativo distanciamento para a “amplitude” de nosso olhar poder ser ampliada. Permitindo, desse modo, que nosso conhecimento se torne menos restrito ocasionando a oportunidade de nos tornarmos mais flexíveis no que concernem nossas decisões e avaliações relativas a erros e acertos.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

04 dezembro 2016

PARA ALÉM DAS SOMBRAS


As sombras sob as quais nos dispomos, permitem a sensação de conforto e tranquilidade, mas também ofertam o comodismo e a inatividade.


O filósofo Heidegger afirma, em sua obra, necessitarmos da rotina cotidiana para a manutenção de nosso existir. Segundo ele a certeza do que irá ocorrer no dia seguinte nos permite crer em nossa imortalidade e afastar de nossas preocupações a possibilidade do fim, isto é, de morrermos.
Certamente a sensação de segurança experimentada em nosso dia-a-dia é sumamente importante para nos implicarmos em novos caminhos, confiantes na continuidade de nosso existir, e usufruir desses caminhos. Entretanto, em muitas ocasiões, nos escondemos por traz dessa “segurança” e deixamos a vida transpassar por nós.
Platão, em “O Mito da Caverna”, trata da necessidade de contatarmos a luz da verdade para nos livrarmos da prisão em que a escuridão nos mantém. Essa alegoria pode ser analisada de diversas maneiras, uma delas é a de que muitas vezes nos mantemos obscurecidos por medo e incerteza, e eles nos aprisionam em um modo de agir o qual nem sempre permite experimentarmos a plenitude de nossa existência.
As sombras sob as quais nos dispomos, permitem a sensação de conforto e tranquilidade, mas também ofertam o comodismo e a inatividade. Ou seja, ao usufruir as sensações de calmaria, possibilitamos também a oportunidade ao conformismo. E, podemos inclusive delegar a outros as justificativas e razões pelos nossos insucessos.
Uma forma de amenizarmos nossas dores é nos distanciarmos da responsabilidade por elas. Então, depositando no outro essa responsabilidade, seja esse outro alguém ou um evento, experimentamos o conforto de não estar em nós a possibilidade da mudança, ou seja, não somos nós quem podemos alterar o que culminou em nossa dor, mas esse outro.
Contudo, se nos mantivermos aconchegados a essa condição, também limitaremos nossas chances de enxergar além das sombras. E, submetidos à rotina, poderemos nos colocar em situação de perdas de oportunidades as quais não seremos capazes de ponderar.
Jostein Gaarder em O Mundo de Sofia finaliza sua estória convidando o leitor a estimular-se a despertar a curiosidade infantil um dia já experimentada. Para, assim, abrir-se às novas experiências, pois ao consentir a curiosidade, o indivíduo coloca-se em situação de explorar novas possibilidades também.
Então, seja a partir da luz da verdade sugerida por Platão, ou do despertar de uma “infantil” curiosidade como nos convida Gaarder, ao nos permitir conhecer o que permanece obscuro, também concedemos “espaço” para o novo. Tal empreitada pode iniciar-se pelo autoconhecimento, delimitando nossas sombras individuais para que possamos vê-las e, desse modo, identificarmos sua origem para nos apoderarmos da oportunidade de modificarmos o contorno delas.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

27 novembro 2016

QUERO UM PRESENTE OU UMA ENCOMENDA?

A busca pelo presente “perfeito” envolve certa observação. Isto é, por um breve espaço de tempo a pessoa que desejamos presentear torna-se alvo de nossa atenção de um modo diferente do habitual

Presentear é uma tradição e seu significado varia imensamente. Atualmente o ato de oferecer um presente tem adquirido várias conotações às quais, nem sempre, compreendemos integralmente.
O dicionário Aurélio traz a seguinte definição para a palavra presentear: dar presente ou dádiva a; mimosear com presente; brindar. E presente é: o que se oferece com o intento de agradar, retribuir ou fazer-se lembrado; brinde, dádiva, lembrança, mimo, regalo. O que ocorre no processo de presentear nos dias atuais? Conseguimos agradar aqueles a quem nos dispomos a oferecer um mimo?
A busca pelo presente “perfeito” envolve certa observação. Isto é, por um breve espaço de tempo a pessoa na qual desejamos presentear torna-se alvo de nossa atenção de um modo diferente do habitual. Suas preferências em relação à cor, objetos pessoais, hábitos, entre outros assumem destaque para nós e, por determinado período nosso pensamento é tomado, quase totalmente, por esse alguém. Finalizamos esse processo com a aquisição do objeto que, esperamos, irá alcançar o objetivo de agradar.
Sendo assim, ao receber seu mimo, o presenteado poderá experimentar a satisfação de saber que, por um momento, foi destaque no pensamento de quem lhe ofertou o agrado.
No entanto parece que esse significado do ato de presentear tem permanecido a deriva. Nas trocas de presentes atuais ocorre, inclusive, buscar-se saber o que a pessoa deseja, mas de outro modo. Criam-se listas ou caixas com papéis, ou mesmo trocas de mensagens em redes sociais, para serem descritas as possibilidades do que se quer “ganhar” como presente. Ou seja, faz-se uma “encomenda” e impede-se a possibilidade de “ocupar-se” daquele a quem se deseja presentear.
Então, ao receber a “encomenda” a expectativa da surpresa fica impedida. Apenas uma pequena dúvida: será que é o que “pedi” ou não? Desse modo, a oportunidade da surpresa fica destruída. Tudo fica previsível e “sem empolgação”. Nesse momento pode-se experimentar um sentimento de desconforto, devido à mudança de sentido que ocorre ao presentear-se dessa maneira.
Porém, se atentarmos para o significado do ato de dar e receber um presente poderemos retomar o sentido de “mimosear” alguém. E, assim, ao recebermos ou oferecermos um mimo, não estaremos interessados no que contém o embrulho, mas no que ele representa.
Tal iniciativa pode nos levar a experimentar sensações há muito esquecidas, como a surpresa ao receber um embrulho e não se fazer ideia alguma de seu conteúdo. Ou mesmo a satisfação em não se importar com o que o pacote envolve, mas seu significado, como a atenção e carinho daquele que nos presenteou.
É comum a afirmação de ser muito difícil proceder a mudanças em hábitos adquiridos e isso está correto. No entanto, difícil não significa impossível. É necessário apenas o desejo e a iniciativa. Então, que o desejo de presentear possa nos levar a iniciativa de agir diferente do habitual. E, buscarmos surpreender ao presentearmos alguém, para oferecermos a nós a possibilidade de experimentar uma sensação diferente nesse ato.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


18 novembro 2016

QUAL A RECEITA CONTRA A DEPRESSÃO E O ESTRESSE

Certamente todos nós gostaríamos de uma “receita” com alguns tópicos que garantissem a salvaguarda de nosso bem estar e equilíbrio.

Chamou-me a atenção uma reportagem num jornal referente ao aumento de afastamento do trabalho por motivo de depressão e estresse.  Vários aspectos são abordados no decorrer da mesma, e um ponto importante é o fato de ser considerado como algumas das causas desse aumento o acesso a informações variadas devido à globalização, a exigência de resultados sobre-humanos por parte dos empregadores e a competitividade.
 Se procedermos a uma breve reflexão entenderemos que as causas sugeridas são coerentes e, o mais importante, preocupantes. O que fazer a esse respeito? Isto é, se o estresse e a depressão estão sendo diagnosticadas com maior frequência e suas causas parecem relacionadas ao dia-a-dia atual, como podemos nos “proteger” desses males?
Certamente todos nós gostaríamos de uma “receita” com alguns tópicos que garantissem a salvaguarda de nosso bem estar e equilíbrio. No entanto, ela não existe. O que nos resta é buscar formas para encontrar esse equilíbrio com nossos recursos disponíveis.
Se esperarmos que alguém, além de nós mesmos, tenha alguma atitude, podemos não “sobreviver” o tempo suficiente para usufruirmos dos resultados. Então, cabe a nós a iniciativa para que os cuidados conosco sejam garantidos.
Vivemos um período em que a satisfação pessoal duradoura fica em um segundo plano e no ambiente de trabalho não é diferente. Ansiamos por prazeres imediatos e não os duradouros. O momento atual assume o valor de “o mais importante” e isso nos leva a diversos comportamentos que podem nos lesionar em longo prazo.
Juntamente com a justificativa da competitividade deixamos de lado a fidelidade com nossos princípios ou mesmo com um amigo. Porém, o mais importante é que deixamos de lado, também, a atenção ao nosso bem-estar.
Esquecemo-nos que tão importante quanto o sustento do nosso corpo é preciso também alimentar a “alma”. Ou seja, ao nos violentarmos nos comprometendo com algo o qual não nos traz satisfação pessoal duradoura, impomos a nós mesmos um dia-a-dia de sofrimento contínuo.
Certamente pode-se afirmar que as compensações justificam tal sofrimento. Contudo, é importante avaliarmos se realmente são “compensatórias” ou se apenas respondem às solicitações do mundo, em contradição com o nosso real desejo.
Muitas vezes deixamos de lado nossas questões pessoais importantes para responder aos apelos sociais. Se tentarmos um movimento contrário, ou seja, se buscarmos nos conhecer ao ponto de sermos capazes de identificar o que nos fere, poderemos nos proteger com maior eficiência. Inclusive em situações de trabalho as quais podem culminar em estresse ou depressão. Isto é, situações que nos deixam exauridos de nossas forças e disposições e extremamente entristecidos com o rumo que nossa existência assumiu.
Então, ao cuidarmos de nosso bem-estar nos permitindo o “auxílio” necessário, poderemos, como consequência, aprimorar nossa eficiência. E, por conseguinte, os resultados gerais de nossos compromissos, sejam estes sociais ou profissionais, também sofrerão mudanças com esse cuidado.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

11 novembro 2016

COMO MUDAR O "STATUS QUO"

O “cair em si” pode ocorrer de modo aleatório e surpreendente. Ou podemos experimentar a busca por um olhar diferenciado para eventos rotineiros.

Muitas situações podem ser aquelas que irão proporcionar alguma mudança em nosso jeito de ser e de viver. Na bíblia temos a história do filho pródigo o qual em determinado momento “cai em si” e pondera suas decisões. Certa ocasião um conhecido contou sobre a experiência de alguém ao experimentar extremo desânimo pela vida e desejando seu término ardentemente. No entanto, quando ele se deparou com um parente em seus dias finais desejando exatamente o oposto, isto é, continuar a viver, pôde experimentar o “cair em si” e retomar sua satisfação em estar vivo.
Do mesmo modo podemos ser surpreendidos com algum “insight” proporcionado por certos eventos. Porém, ao nos lembrarmos do filósofo Heidegger e de sua afirmação de sermos livres para ampliar nosso rol de possibilidades, podemos entender ser possível a nós mesmos a busca desses eventos. Sair da condição de espera por algo que nos surpreenda e nos tire do ritmo no qual estamos seguramente envolvidos e acostumados.
Nos envolvemos em nossa rotina e nos acontecimentos habituais de nosso dia-a-dia. Heidegger afirma ser isso importante para o estabelecimento de nossa segurança e confiança no porvir. No entanto, essa rotina também faz com que se torne cada vez mais necessária a ocorrência de eventos surpreendentes, para nos fazer olhar de modo diferente para nossas experiências cotidianas.
Contudo, se nos tornamos conscientes desse fato, podemos, então, buscar formas de modificar esse “status quo”. Quando nos permitimos olhar de modo mais atento para as situações rotineiras e comuns, incorremos no risco de nos surpreendermos com elas. Sem necessitar, assim, de situações inusitadas para nos tirar de um processo contínuo no qual nos deixamos envolver.
Nesse caso, o “cair em si” pode ocorrer de modo aleatório e surpreendente. Ou podemos experimentar a busca por um olhar diferenciado para eventos rotineiros e assim conhecer “insights” diversos. E estes podem proporcionar sensações diferentes que, por conseguinte, podem nos conduzir a experiências renovadas com significados importantes.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


04 novembro 2016

INCERTA CERTEZA

A nossa história pessoal influencia nosso modo de ver e agir quando diante de uma situação dolorosa.

No dicionário Aurélio uma das definições para a palavra dor é “uma sensação desagradável ou um sofrimento moral”. Isto é, podemos experimentar uma dor com uma localização física em alguma região de nosso corpo e causadora de alguma sensação desagradável. Ou uma dor a qual não é possível definir um local preciso e nesse caso podemos chamá-la de psíquica ou emocional.
O importante é que ela ocasiona diversas sensações além do sofrimento moral. Pois, a nossa história pessoal influencia nosso modo de ver e agir quando diante de uma situação dolorosa.  Nesse caso, é preciso alguns cuidados para tentar minimizar suas sequelas.
Podemos nos afastar de situações das quais sabemos de antemão que poderão nos causar sofrimento e evitaremos o contato com elas. Assim, poderemos “garantir” não reviver uma história já familiar para nós. No entanto, tal comportamento também pode cercear ocasiões de prazer. Pois, ao nos privarmos do que pode nos fazer sofrer, também deixamos de arriscar experimentarmos satisfações possíveis de sobrepujar o sofrimento.
Muitas vezes é impossível eliminar definitivamente a causa da nossa dor por não estar em nosso poder tal possibilidade. Resta-nos, então, buscar formas de lidar com as consequências de modo a nos recuperarmos o mais rápido possível, para nos tornarmos aptos a usufruir de nossa liberdade. Isto é, nossa capacidade de ampliar nossas possibilidades, como destaca o filósofo Heidegger.
Sendo assim, se não possuímos o poder de garantir a ausência da dor, podemos, ao menos, buscar formas de nos prepararmos para lidar com ela do modo mais eficiente e profícuo possível. O nosso repertório de histórias vividas pode representar aquilo que nos amedronta ou nos fortalece. Jean Paul-Sartre acentua sermos totalmente livres para escolher, apenas somos “condenados” a lidar com as consequências dessas escolhas.
Desse modo, cabe a nós escolhermos qual das opções privilegiar: o medo ou a força. Ao optarmos pelo medo poderemos nos “proteger”, contudo, sem garantias. Mas, se nossa opção for pelo fortalecimento poderemos encontrar inúmeras possibilidades. E, assim, ampliarmos nosso rol de alternativas.
Porém, para isso ocorrer é preciso nos colocarmos a disposição de nos movimentarmos em prol de nós mesmos. Ou seja, permitirmos um olhar cuidadoso e cauteloso para conosco. Contando, ou não, com auxílio externo à nossa capacidade. Contudo, sem garantias da totalidade da ausência ou da presença da dor, mas nos permitindo a tentativa.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

29 outubro 2016

GENUÍNA BELEZA

Quando permitimos um existir predominado pelo vazio, permitimos, na mesma medida, que os significados os quais atribuímos sejam insubstanciais.

“A beleza artificial é uma batalha contra o vazio do corpo e da alma”. É com essa frase que o filósofo Luiz Felipe Pondé concluiu um texto. Como será esse vazio? Experimentamos dele em nosso existir?
O vazio pode surgir de forma passageira e rápida, ou pode prolongar-se por meses, anos e quiçá uma vida. No entanto, ao nos depararmos com essa possibilidade, isto é, de viver-se uma vida inteira sob uma forma de existir dominada por esse vazio.  Ou, em uma busca incansável e inglória no preenchimento de uma lacuna a qual não compreendemos ao certo. Pode parecer cruel e demasiado exagerado.
Contudo, se voltarmos nossa atenção para esse fato poderemos distinguir diversos momentos nos quais essa afirmação alcança um sentido em nosso existir. Torna-se cada vez mais comum nos depararmos com frases de lamentações ou de surpresa, diante de um acontecimento corriqueiro que não tem sua adequada correspondência com a reação a qual proporcionou. A única “explicação” sensata seria a ausência de um significado mais próprio.
A todo o momento criamos significados para as diversas relações que estabelecemos com o mundo. Sejam elas com pessoas, animais, objetos ou mesmo situações. Ao nos relacionarmos atribuímos significados que vão desde o de maior indiferença ao de maior importância para nós. É importante, no entanto, nos lembrarmos de que esse significado não é algo particular e exclusivo a algumas pessoas. Todos nós significamos nossas relações. Cada pequeno momento de nosso existir é permeado de algum sentido.
Quando permitimos esse existir predominado pelo vazio de corpo ou de alma, também permitimos que os significados os quais atribuímos sejam insubstanciais. Ou seja, não nos proporcionam satisfação pessoal e ocasionam, inclusive, frustrações que nos levam a reações que podem se tornar desmedidas.
Podemos nos deixar levar por aquilo de maior importância para o outro sem ponderar nossa própria satisfação. Permitimo-nos envolver por solicitações de uma sociedade de consumo na qual vivemos sem nos questionarmos sobre nosso real desejo. Esse comportamento nos conduz a experimentar um vazio, o qual nos leva a buscas intermináveis e exaustivas.
Talvez seja necessário voltarmos um pouco de nossa atenção para nós, para o que é importante em nosso existir e, para os significados trazidos pelos diversos momentos de nossa existência. Certamente que o modo de vida atual, preenchido com diversos afazeres, dificulta esse proceder.
Pode ocorrer, então, de um bom antídoto para o vazio de corpo e de alma consistir no preenchimento das lacunas, em nosso existir, com significados os quais nos permitam experimentar relações com sentidos mais intensos. Ao “repensarmos” nossos diversos contatos com o mundo, ampliamos a possibilidade de renovarmos os diversos sentidos de nossa existência incorrendo, por conseguinte, na possibilidade de um existir mais “belo”.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

24 outubro 2016

O SUCESSO DAS RELAÇÕES

“Usualmente nosso olhar para os acontecimentos em nossas diversas relações, nos conduzem a crer que o outro seja o total responsável pelo sucesso ou não delas. ”

Diversas situações podem propor uma gama razoável de oportunidades. Assim como uma frase, a princípio cômica, pode nos oferecer uma oportunidade para reflexões. Como por exemplo, a seguinte frase: “voltar com o ex-namorado é como comprar um carro que já foi seu. Vem com os mesmos defeitos só que mais rodado”. Será que apenas o namorado ou o carro vêm mais rodados?
Usualmente nosso olhar para os acontecimentos em nossas diversas relações, nos conduzem a crer que o outro seja o total responsável pelo sucesso ou não delas. Sejam essas relações com pessoas, objetos ou animais o importante a ter-se em mente é o fato de a relação envolver sempre dois caminhos: ida e volta, isto é, há sempre uma troca.
Sendo assim, se o ex-namorado bem como o “ex-carro” vêm com os mesmos defeitos, pode ocorrer de a causa ser, muito provavelmente, o fato de não modificarmos o modo de nos relacionarmos com eles. Mas, como realizar tal mudança?
Ao vivenciarmos nossas experiências cotidianas, costumamos buscar modos de afastar da memória aquelas que nos causaram algum tipo de desconforto. No entanto, ao fazer isso, deixamos de lado o fato de todas as nossas experiências, boas ou não, fazerem parte da constituição do nosso ser. Pois, somos “hoje” o resultado de todas as nossas vivências anteriores. Isto é, se modificássemos qualquer uma dessas vivências não seríamos quem somos atualmente, seriamos outro.
O filósofo Jean-Paul Sartre compara as influências de nossos atos com o bater de asas de uma borboleta o qual poderia ocasionar um maremoto em um local distante de nós. O físico Fritjof Capra afirma ser o todo influenciado pelas partes, isto é, cada um de nós tem influência nos eventos comuns a todos. Sejam eles de menor ou maior porte.
Desse modo, é sensato concluir sermos parte importante em qualquer relacionamento. E, por conseguinte, possuidores do “poder” de modificá-los também. Então, se um ex-namorado ou um “ex-carro” possuem os mesmos defeitos, talvez repouse em nossas mãos a possibilidade de modificar tal relação ou, simplesmente nos desfazermos dela.
Essa iniciativa pode não parecer um processo simples em um primeiro momento. No entanto, se nos dispusermos a atentar para pequenos eventos ao nosso redor, poderemos ser capazes de ampliar nossos olhar para as diversas relações estabelecidas por nós. E possibilitarmos a oportunidade de experimentar uma nova relação, mesmo com alguém de nosso passado, permeada de um cuidado diferente.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


14 outubro 2016

REMAR PARA QUAL LADO?

A cultura atual estabelece como importante sermos todos os mais iguais possível, no entanto, somos diferentes em diversas particularidades.


Em muitas oportunidades pode-se experimentar a sensação de estar remando para o lado oposto. Isto é, a impressão de o mundo ir e um sentido e nós em outro totalmente diferente. Isso pode ocorrer por ter-se um modo de ser extravagante, ou por ser diferente da maioria.
É comum ouvir alguém afirmar sentir-se incomodado ou mesmo prejudicado por agir diferente do que é usual. Devido a um comportamento ou sentimento diferente do praticado pela generalidade pode-se sofrer tal desconforto. Nessa ocasião é importante exercitar um conhecimento mais abrangente sobre si mesmo para não correr o risco de se perder dentre a maioria.
A cultura atual estabelece como importante sermos todos os mais iguais possível. Possuir, inclusive, objetos semelhantes. Ou seja, quanto mais formos parecidos uns com os outros, estaremos mais aptos a conviver melhor. No entanto, somos diferentes em diversas particularidades. Então como nos sentir bem sendo iguais, e não sendo diferentes? Contraditório...
Cada momento de nossa história de vida constrói o que somos atualmente. Toda a experiência passada constituiu o ser que somos hoje. Nesse caso, o passado foi importante nesse processo. Não é necessário, contudo, viver-se voltado para esse passado. O importante é a consciência de sua importância em nosso existir atual. 
Elizabeth Kübler-Ross em seu livro A Roda da Vida cita uma jovem judia a qual havia sobrevivido a um campo de concentração nazista. Ela relatava a importância em se deixar o passado para trás para ter-se paz no presente. Entretanto não o esquecendo, apenas sem revivê-lo repetidamente para não alimentar sentimentos de ressentimento ou pesar.
Então, ao estarmos cientes da importância do passado em nossa história e de como essas experiências nos tornam singulares, é igualmente importante compreendermos serem nossas decisões e escolhas também singulares. Deste modo, o nadar contra a maré torna-se apenas a assunção de nossas particularidades, as quais nos tornam quem somos. E não um ato de afronta que proporciona desconforto.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124



09 outubro 2016

CONHECENDO NOSSAS PRIORIDADES

Na maioria das vezes não basta compreendermos nossas limitações, precisamos desmerecer quem é capaz para, assim, não nos sentirmos desvalorizados.

Em uma sociedade com tantas opções fica cada vez mais difícil estabelecer, de modo distinto, nossas prioridades. Muitas vezes nos deixamos levar por opiniões alheias as quais interferem em nossas decisões, sem cogitarmos a real satisfação que essa escolha nos proporciona.
Em outras ocasiões podemos não ser capazes de decidir ou de transformar em realidade algo o qual desejamos, por não nos dispormos às dificuldades que determinada opção impõe. Nesse momento pode ser mais fácil acreditar que a escolha, na realidade, não é tangível, isto é, não é passível de ser alcançada.
É comum experimentarmos muitos exemplos disso em nosso dia-a-dia. Podemos, em muitas ocasiões, desvalorizar uma conquista obtida por alguém para não nos sentirmos incapazes. E isso nos conforta em concordância com nossas limitações às quais não desejamos admitir a existência. Menosprezamos os que alcançam suas metas julgando terem sido melhores afortunados. No entanto, nos esquecemos de voltar nosso olhar para nossos limites e, assim traçarmos objetivos coerente a eles.
Na maioria das vezes não basta compreendermos nossas limitações, precisamos desmerecer quem é capaz para, assim, não nos sentirmos desvalorizados. Mas nesse momento surge uma questão: em um mundo tão competitivo como o atual, será a melhor solução para nossas dificuldades desacreditar os que, de algum modo, conseguiram superar-se?
Podemos, certamente, nos apoiarmos nesse pensamento e acreditar que a vida, de algum modo, nos foi traiçoeira. Ou, podemos olhar para nós mesmos e tentar conhecer nossos pormenores para, então, sermos capazes de fazer escolhas mais coerentes com quem somos e com o que somos capazes de realizar.
Temos desejos, mas não queremos sofrer para conquistá-los. Julgamos os vencedores pessoas as quais desconhecem o sofrimento, sem tentarmos conhecer a verdadeira história envolvendo sua conquista. Criamos heróis completamente felizes vinte e quatro horas ao dia. Será possível estarmos construindo pedestais, onde pessoas irreais ocupam lugares os quais, na verdade, não existem e nem são passíveis de existir?
O que nos deixa feliz consiste em possuir algo cobiçado pela maioria ou algo que “nós” consideramos de maior importância? Nem sempre estamos prontos para responder a tantas questões. Porém, quanto mais buscarmos nos conhecer para respondê-las mais próximo estaremos de nossa realização pessoal que é acompanhada de satisfação e, por conseguinte, de felicidade.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

01 outubro 2016

O VALOR DA COMUNICAÇÃO

Afirma-se ser o desenvolvimento intelectual e industrial o grande vilão dos relacionamentos. Contudo, novamente esquecemos ser o homem o responsável pelo significado atribuído e como tal o ancoradouro das possibilidades.


A modernidade traz em sua bagagem uma gama, quase incalculável, de alternativas. No entanto, não se pode afirmar que todas sejam positivas devido ao fato de dependerem do uso que se faz delas. Não se pode deixar de avaliar os imensos ganhos que utensílios, como computadores cada vez menores e ágeis, trazem para o dia a dia de cada um de nós. Os mais pessimistas, porém, podem afirmar ser esses utensílios também os responsáveis pelo distanciamento e pela pobreza de comunicação presente entre os seres vivos de modo geral.
Afirma-se ser o desenvolvimento intelectual e industrial o grande vilão dos relacionamentos. Contudo, novamente esquecemos ser o homem o responsável pelo significado atribuído e como tal o ancoradouro das possibilidades.
No livro 1984, George Orwell retrata uma sociedade onde sentimentos e conhecimentos eram coibidos, no entanto, apesar do aprendizado que ocorria em tal sociedade havia um resquício de humanidade remanescente o que proporcionou grande luta entre os envolvidos. Um questionamento semelhante está presente no filme “Equilibrium” no qual uma sociedade pós-guerra é induzida a utilizar uma droga responsável por anestesiar todos os sentimentos. Mas, entre esses há os que não suportam tal atitude e se rebelam.
Em um primeiro momento o olhar para essas duas histórias poderia atentar ao empobrecimento das relações e os ganhos disso, mas em um outro ângulo pode-se observar a “luz no fim do túnel”, de modo que o homem não é totalmente subjugado em suas emoções e desejos.
Claudio Cano em seu livro “Um futuro sombrio”, salienta um fato relacionado ao conhecimento de forma que apesar de os livros serem abominados, em tal período há quem guarde em sua memória o conhecimento que os mesmos contêm, tornando-se, na visão do autor, a única esperança de salvação do homem.
Atualmente há grande preocupação com o rumo da comunicação entre os seres. Sem dúvida há um grande empenho em amenizar os impactos desse processo. No entanto, se autores como José Saramago, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meirelles, Cora Coralina, entre outros puderem ser lembrados e destacados vez por outra, poderemos ter, afinal, nossa luz no fim do túnel.
O único ponto importante a ser destacado consiste no poder que temos de optar qual rumo terão nossos contatos e o modo como nos comunicaremos com eles. Qual uso faremos das novas formas de comunicação, tendo em vista o ser humano atribuir significados a tudo com o que se relaciona. E, é este mesmo ser humano quem pode direcionar, de modo intencional, o valor que a comunicação terá.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com


25 setembro 2016

COMO SERMOS ÉTICOS?

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Somos interligados e nossos atos não constituem fatos isolados, mas relacionados aos outros seres os quais compartilham os mesmos espaços que nós.

Podemos atribuir ao menos duas possibilidades a uma mesma situação. No entanto, nem sempre temos consciência disso. Filósofos como Jean Paul-Sartre, Kierkegaard e Heidegger afirmam sermos bombardeados com diversas alternativas a todo o momento e, o mais importante, fazemos nossas escolhas, inevitavelmente, baseados em nossos desejos e experiências vividas. Somos, a cada dia, o resultado do que vivemos anteriormente.
Fritjof Capra, físico teórico, destaca em seu livro “O ponto de mutação” as consequências e a importância da interconexão a qual todos somos submetidos, mesmo não esteando atentos a ela. Ou seja, nossas decisões e atos tangenciam os atos e decisões de quem nos cerca, sem importar a distância que nos separa um do outro, influenciamos e somos influenciados pelos atos uns dos outros.
Em um texto em um jornal o autor destacava as consequências do comportamento de algumas pessoas, as quais não se sentem responsáveis pelos dejetos de seus animais em vias públicas. O próprio animal não possui capacidade para os cuidados com sua higiene, então o convívio com outras pessoas nos leva a limitar nossa liberdade de ação. Isto é, somos mesmo “autorizados” a submeter outrem ao nosso “desleixo”? Tal comportamento e o olhar do autor retratam uma das diversas formas pelas quais somos afetados pela atitude antiética alheia, como afirma Capra.
Ao levar em conta o pensamento desses quatro autores fica inviável acreditar na possibilidade de termos controle sobre nosso viver, não sendo subjugados a um destino previamente determinado. Então, poderíamos afirmar, imbuídos desse pensamento, que somos os senhores de nosso destino. Então, cabe a nós a busca da melhor forma de conduzi-lo.
Sendo interligados e nossos atos não constituírem fatos isolados, mas relacionados aos outros seres os quais compartilham os mesmos espaços que nós. E nossas opções e escolhas constituírem o ser que somos, ao atentarmos a esse fato nos vemos abastecidos de informações sobre as diversas formas pela qual podemos “moldar” nosso ser. Dando a este mesmo ser conotações e colorações embasadas em nossas escolhas e, como afirma Heidegger, permeadas de nossa disposição afetiva.
Então, um papel importante o qual nos cabe é o de nos empenharmos em aprimorar nossa habilidade de percepção do mundo que nos cerca. Atentando ao fato de não estarmos sozinhos nele e termos a companhia de outros seres os quais participam das consequências dos nossos atos, assim como somos afetados pelos atos deles. Desse modo, poderíamos nos considerar seres éticos em proximidade com o seu mais puro sentido.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


16 setembro 2016

O IDEAL PARA MIM

Ao distinguirmos nossas idealizações diante das diversas ocasiões nas quais nos relacionamos com algo ou alguém, tornamos possível nos colocarmos em uma posição de maior grau de satisfação com nossas escolhas.


É comum idealizarmos os diversos relacionamentos os quais estabelecemos. Isto é, imaginamos e planejamos como será nosso contato com nossos filhos, amigos, parceiros e etc. Idealizamos inclusive em relação a decisões tomadas e compromissos assumidos para o futuro.
Fica difícil deixar de pensar que nossas idealizações estão conectadas aos nossos sonhos e desejos. E, estando relacionados, talvez façam sentido nossas frustrações. Se nossas idealizações são baseadas em nossos desejos significa que podem ter um grau de expectativa bastante elevado. Então, a realidade pode nos surpreender negativamente e, em algumas ocasiões nem a querermos mais. Ou seja, a realidade torna-se tão diferente daquilo imaginado que refutá-la emerge como sendo a melhor alternativa.
Porém, quando nossas decisões são apenas baseadas nesses argumentos, podemos dar início a uma série de atitudes que culminarão em situações com as quais podemos não nos sentir confortáveis. Ao nos decepcionarmos com algo há a tendência ao sofrimento e a busca de distanciarmo-nos da situação em questão.
No entanto, esse distanciamento do que nos faz sofrer, ou seja, a contradição de nossos ideais, também nos afasta da possibilidade de olharmos para as alternativas possíveis. A fuga de algo aparentemente desagradável é alentador, pois permite a ilusão da proteção. Mas, se fugirmos sem tentar compreender o que realmente nos é apresentado, podemos deixar de experimentar o conhecimento.
Por conseguinte, perdemos também a oportunidade de nos surpreendermos de modo positivo. Afinal é o conhecimento o que nos permite uma posição diante dos fatos e, desse modo, também nos possibilita uma escolha mais eficaz e em acordo com nossos ideais.
Sendo assim, ao distinguirmos nossas idealizações diante das diversas ocasiões nas quais nos relacionamos com algo ou alguém, tornamos possível nos colocarmos em uma posição de maior grau de satisfação com nossas escolhas.
Lembrando o filósofo Jean Paul-Sartre que destaca sermos livres para escolher, porém condenados às consequências dessas escolhas. E, o filósofo Heidegger salienta ser nossa maior liberdade a ampliação do nosso rol de possibilidades. Algo que o conhecimento acerca de nós permite com maior eficiência.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

09 setembro 2016

QUAL A DISTÂNCIA ENTRE NÓS E OS OUTROS

É importante nos conscientizarmos que nosso comportamento influencia nossas relações, para buscarmos entender o nosso real papel nas diversas situações com as quais nos deparamos.


Lídia Rosenberg Aratangy, psicóloga, em seu livro “Doces Venenos” afirma existir um mecanismo tranquilizador para nos ajudar a viver com alguma sensação de segurança nesse mundo cheio de perigos. Esse mecanismo consiste em dividir a humanidade em duas partes: nós e os outros. Desse modo “afastamos de nós” tudo o que não gostaríamos que fizesse parte de nossas relações com o mundo.
As possibilidades de sofrer são inúmeras. Ora algo que desejamos e não conseguimos, ora alguém que não corresponde às nossas expectativas, entre tantas outras. Podemos ficar à mercê de situações nas quais não temos o controle. Nesse momento, é possível emergir um sentimento de insegurança em relação a estarmos ou não agindo adequadamente, pois nosso comportamento suscita respostas.
É importante nos conscientizarmos que nosso comportamento influencia nossas relações, para buscarmos entender o nosso real papel nas diversas situações com as quais nos deparamos. Certamente ao nos posicionarmos em um “lugar diferente” dos outros, sustentamos a ilusão de que estamos distantes o suficiente deles para estarmos a salvo.
No entanto, essa ilusão pode nos conduzir a caminhos não desejados, pelo fato de sermos induzidos a acreditar que situações semelhantes quando os outros são afligidos não irão nos alcançar. Então, se acionamos tal mecanismo, como destaca Aratangy, nos colocamos em um patamar onde experimentamos a desejada segurança, mas de um modo arriscado por se tratar de algo “irreal”, uma ilusão.
É necessário não nos esquecermos ser de suma importância para a construção dos significados que irão constituir nosso ser, os relacionamentos que estabelecemos com nossos parceiros de existência e com o mundo de um modo geral.
Nesse caso, ao “dividir” a humanidade poderemos experimentar a sensação de estarmos protegidos dos perigos. Entretanto, poderemos também experimentar a solidão por não nos identificarmos com quem experimenta sensações semelhantes às nossas e que poderia compreender-nos.
Precisamos valorizar nossa singularidade, entendendo serem nossas experiências singulares em seus significados para cada um de nós. Mas, também se faz importante compreendermos estarmos todos na mesma condição de existência. Condição essa que nos apresenta experiências as quais suscitam incertezas que nos amedrontam.
Contudo, se sentirmos que estamos acompanhados podemos aliviar os encargos por elas promovidos. Pois ao se ter alguém que nos acompanha onde quer que estejamos, experimentamos um sentimento de segurança mais distanciado da ilusão.
Por isso, pode ser um mecanismo tranquilizador a separação da humanidade, contudo se experimentarmos o “nós e os outros” ao invés de “nós à parte dos outros” poderemos dar início a uma nova experiência e a muitas possibilidades ao nos distanciarmos da ilusão.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

02 setembro 2016

MUDAR...

Mudar não é fácil, especialmente quando a mudança envolve nosso modo de estar no mundo e de nos relacionarmos com ele.

Quando adotamos um jeito de ser que nos satisfaz, pode ser que esse “jeito de ser” se contradiga a alguns desejos que temos, mas nem sempre percebemos isso. Então se faz importante nos atentarmos às nossas dores e sofrimentos para podermos estar aptos a mudar quando e se concluirmos ser necessário.
No entanto, mudar não é fácil, especialmente quando a mudança envolve nosso modo de estar no mundo e de nos relacionarmos com ele. Inclusive porque acreditamos estarmos bem como somos e o risco do incerto é, em muitas ocasiões, no mínimo assustador. Heidegger, filósofo, em suas afirmações diz ser importante ao homem ter estabilidade, ou ao menos a ilusão de que a tem. De acordo com ele, nos iludimos a respeito da segurança para suportarmos a incerteza que nos envolve em todas as ocasiões.
Essa estabilidade constitui em vivermos envolvidos em uma rotina com nossos afazeres e também com nossos desejos. Quando somos capazes de “prever” o que nos vai acontecer isso nos proporciona a segurança que, segundo Heidegger, tanto ansiamos. Então, de acordo com este pensamento podemos afirmar que não nos arriscamos a experimentar situações novas e modos de ser diferentes por nos sentirmos seguros com a posição na qual nos encontramos.
Será que é apenas segurança o que realmente nos interessa? Por que não tentar encontrar também a satisfação nesse processo? Mas se nos atentarmos ao nosso redor podemos perceber que nossos atos sempre ocasionam uma reação. Então, se nos propusermos a mudar esse jeito de ser que nos fornece segurança pode, também, ocorrer de experimentarmos situações novas e elas podem ser um pouco desagradáveis em um primeiro momento. Contudo, podemos considerar relevante questionar se ficamos melhor seguros ou realizados.
Vivenciamos frustrações e tristezas, ansiedades e medos e, em muitos momentos, parece ser impossível “detectarmos” o porquê dessas vivências. Se pode-se afirmar ser praticamente impossível detectar a fonte de nossos sentimentos indesejados, podemos, então, tentar outros modos para buscar um resultado diferente. Isto é, se sendo quem somos e do jeito que somos estamos seguros, mas não plenos, podemos, ao menos, nos arriscar a avaliar nosso modo de ser e quiçá colocar em risco um pouco dessa “segurança” em troca de plenitude.
Costuma-se dizer que tudo tem um preço. Pode ser que a plenitude, a satisfação e o prazer sejam o preço ao se arriscar essa “segurança”. Apenas nos conscientizando dos riscos, mesmo não nos expondo a eles, descobriremos que a mudança, a qual pode nos assustar, não é tão aterrorizadora quanto nos parece.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

26 agosto 2016

NOSSAS LIMITAÇÕES

Em muitas ocasiões somos levados a agir de acordo com nossas limitações. Ou seja, elas acabam por “ditar” nosso modo de agir permeando quem somos.


Somos todos portadores de um grande número de limitações. Estas podem ser de ordem física ou psicológica. Quando são de ordem física buscamos modos de amenizá-las para que se possa dar continuidade ao dia-a-dia sem maiores complicações. No entanto, quando elas são de ordem psicológica ou emocional é comum buscar-se maneiras de ocultá-las, disfarçá-las ou mesmo tentar agir como se elas não fizessem parte de nosso ser. Porém, como tudo o que não é cuidado, tal atitude pode proporcionar situações inesperadas e muito inadequadas causando desconfortos que poderiam ser evitados ou, ao menos controlados para que as consequências não se tornem deveras inconvenientes.
Em muitas ocasiões somos levados a agir de acordo com nossas limitações. Ou seja, elas acabam por “ditar” nosso modo de agir permeando quem somos. No entanto, se não voltarmos nossa atenção para o que ocorre, podemos ser induzidos por tais limitações a comportamentos os quais não aprovamos e, por conseguinte, experimentarmos sentimentos de frustração bem como de revolta diante de atitudes nossas as quais não nos satisfaz.
É comum, também, vivenciarmos decepções com a atitude de outrem. Mas, se não averiguarmos os fatos envolvidos no caso podemos adotar decisões que nos levam ao distanciamento de pessoas queridas, por não compreendermos quais os motivos que levaram ao comportamento causador do desconforto inicial.
Nos envolvemos em sentimentos dolorosos, decepções e tristeza, e assim, deixamos de ponderar todo o tempo de convívio. Ocorre de nos atentarmos somente para o momento presente nos esquecendo da história que construiu o relacionamento com a(s) pessoa(s) em questão.
Como seres que propensos ao erro somos levados a tentar amenizá-los para conseguirmos lidar com nossas próprias limitações. Contudo, se nos dispusermos a conhecer esses limites ao invés de omiti-los ou ignorá-los, nos prontificarmos a compreender que eles constituem nosso modo de ser, poderemos avaliar com maior acuidade nossos pensamentos e sentimentos. Então nos tornaremos capazes de ampliar esses limites. Nos tornando mais livres para decidirmos, atentos, de modo mais claro, ao que desejamos e ao que nos faz sentir plenos.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


19 agosto 2016

O SIGNIFICADO DO BELO

A todo o momento criamos significados para as diversas relações que estabelecemos com o mundo. Sejam elas com pessoas, animais, objetos ou mesmo situações.

“A beleza artificial é uma batalha contra o vazio do corpo e da alma”. É com essa frase que o filósofo Luiz Felipe Pondé concluiu um de seus textos. Como será esse vazio? Experimentamos dele em nosso existir?
Esse vazio pode surgir de forma passageira e rápida, ou pode prolongar-se por meses, anos e quiçá uma vida. No entanto, ao nos depararmos com essa possibilidade, isto é, de viver-se uma vida inteira sob uma forma de existir dominada por esse vazio.  Ou, em uma busca incansável e inglória no preenchimento de uma lacuna a qual não compreendemos ao certo. Pode parecer cruel e demasiado exagerado.
Contudo, se voltarmos nossa atenção para esse fato, poderemos distinguir diversos momentos nos quais essa afirmação tem algum sentido para nós. Torna-se cada vez mais comum nos depararmos com frases de lamentações ou de surpresa, diante de um acontecimento corriqueiro que não tem sua adequada correspondência com a reação que proporcionou. A única “explicação” sensata seria a ausência de um significado mais próprio.
A todo o momento criamos significados para as diversas relações que estabelecemos com o mundo. Sejam elas com pessoas, animais, objetos ou mesmo situações. Ao nos relacionarmos atribuímos significados que vão desde a maior indiferença como ao maior grau importância para nós. É importante, no entanto, nos lembrarmos de que esse significado não é algo particular e exclusivo a algumas pessoas. Todos nós significamos todas as nossas relações. Cada pequeno momento de nosso existir é permeado de algum sentido.
Quando permitimos esse existir predominado pelo vazio de corpo ou de alma, também permitimos que os significados os quais atribuímos sejam insubstanciais. Ou seja, não nos proporcionam satisfação pessoal e ocasionam, inclusive, frustrações que nos levam a reações, muitas vezes, desmedidas.
Podemos nos deixar levar por aquilo de maior importância para o outro sem ponderar nossa satisfação. Permitimo-nos envolver por solicitações de uma sociedade de consumo na qual vivemos, sem nos questionarmos sobre nosso real desejo. Esse comportamento nos conduz a experimentar um vazio, o qual nos leva a buscas intermináveis e exaustivas.
Talvez seja necessário voltarmos um pouco de nossa atenção para nós, para o que é importante em nosso existir e, para os significados trazidos pelos diversos momentos de nossa existência. Certamente que o modo de vida atual, preenchido com diversos afazeres, dificulta esse proceder, no entanto, não impossibilita.
Pode ocorrer, então, de um bom antídoto para o vazio de corpo e de alma consistir no preenchimento das lacunas em nosso existir, com significados os quais nos permitam experimentar relações com sentidos mais intensos. Ao “repensarmos” nossos diversos contatos com o mundo, ampliamos a possibilidade de renovarmos os diversos sentidos de nossa existência incorrendo, por conseguinte, na possibilidade de um existir mais “belo”.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

12 agosto 2016

QUÃO LIVRE EU SOU

Todos nós possuímos tendências de comportamento capazes de se tornarem problemas quando limitam, de algum modo, nosso viver.

O mundo da TV nos oferece alternativas “infinitas” para nos identificarmos. Personagens heroicos ou sofredores ou, até mesmo, algumas referências psiquiátricas ou psicológicas em relação a comportamentos e/ou “manias”.
Se acessarmos um guia médico com as características das muitas doenças psiquiátricas ficaremos aterrorizados com a gama de itens nos quais nos enquadramos. No entanto, a prudência nos pede cuidado devido ao fato de algumas dessas características consistirem apenas em traços de nossa personalidade, ou seja, um jeito particular e individual de estar e se relacionar com o mundo.
Todos nós possuímos tendências de comportamento capazes de se tornarem problemas quando limitam, de algum modo, nosso viver.  Então, alguém que gosta de tudo muito organizado pode ter um problema quando sua vida passa a girar em torno dessa organização e seus compromissos passam a ficar comprometidos por isso.
Ou ainda outro alguém, porque experimenta um traço depressivo com uma tendência a tristeza, que em determinado ponto se vê impedida de compreender situações mais corriqueiras. Portanto, limita sua rotina e seu contato com as pessoas de modo a se isolar. Há também personalidades histéricas, entre tantas outras. Porém, o importante é atentarmos para o fato de esses constituírem nosso modo de ser e, não definirem quem somos.
Apesar disso o importante é nos atermos ao fato do quão limitante esses traços podem se tornar. Em muitos momentos de nosso existir podemos experimentar um acentuar deles, o que não representa necessariamente um adoecer, mas apenas um momento que solicita maior atenção nossa.
Sendo assim, é importante nos conhecermos para sermos capazes de identificar quando ocorre alguma alteração desse teor, ou ainda, como ela ocorre. Sempre, ao nos munirmos do conhecimento, seja ele em maior ou menor grau, assumimos a possibilidade de cuidarmos com maior desvelo de nós. O que permite ampliarmos o número de possibilidades as quais podemos escolher. Culminando na afirmação de Heidegger de ser a amplitude de nossas possibilidades o modo de mensurar nosso grau de liberdade.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124