27 dezembro 2013

FADIGA

Começa a contagem regressiva para a chegada do final de mais um ano.  Muitos afirmam não haver diferença no término de um ano, apenas mais um por e nascer de sol como outro qualquer. Entretanto, se levarmos em conta os diversos ciclos com os quais convivemos, podemos considerar o final de um ano um ciclo que se conclui e com isso, um novo ciclo que se inicia repleto de oportunidades, ou não.
Qualquer possibilidade de mudança que possa ocorrer está diretamente relacionada com nossa decisão nesse sentido, em nossa capacidade para finalizarmos ciclos e darmos início às novas empreitadas almejadas por nós. No entanto, quando da proximidade do final de um ciclo, seja ele qual for, pode-se experimentar uma derrocada de nossas forças.
A criança ao terminar o ensino fundamental pode experimentar expectativas relativas ao período de adolescência que se inicia. Assim como quando da conclusão do ensino médio pode haver, muitas vezes, o ingresso em um curso que os habilite a serem profissionais. E o ingresso na vida adulta, quando profissionais capazes da manutenção de seu próprio sustento, representa a conclusão de mais um importante ciclo de nosso existir.
Em todos esses finais as expectativas podem gerar ansiedades. Por isso, em cada remate pode ocorrer relativa fadiga. Isto é, algum cansaço aliado com o desejo de um descanso suficiente. Contudo, na maioria das ocasiões, nosso dia-a-dia não nos permite o descanso que consideramos o ideal.
Todavia, esse desconforto pode ocorrer devido ao fato de, em muitas ocasiões, não nos permitirmos conclusões aos nossos ciclos. Ou seja, carregamos conosco como que um lastro do que já foi vivido e não devidamente finalizado. Nesse caso, ao sentirmos que mais um ano se conclui, podemos nos permitir, junto a retrospectiva habitual, nos comprometermos com nossas conclusões de modo a nos permitirmos iniciar o novo ciclo sem lastros demasiados e que possam nos conduzir a “fadiga”.

Feliz Ano Novo.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

20 dezembro 2013

DIFICULDADE OU OPORTUNIDADE?

“Um monge e seu discípulo precisaram de hospedagem ao longo de sua viagem. Avistaram uma casa simples e foram atendidos em sua solicitação pelos donos dela. Durante a estadia notaram que a família vivia sob precária condição e que eles possuíam uma vaca da qual tiravam algum sustento. Ao amanhecer, antes de partir, o monge empurrou o animal em direção a um precipício levando-a a morte. O discípulo indignado solicitou uma explicação a qual o monge afirmou ser o comodismo o empecilho para o desenvolvimento daquela família. Alguns anos se passaram e o discípulo retornou ao local encontrando-o muito próspero. Ao questionar o proprietário este relatou que no dia em que eles partiram a vaca que possuíam havia sofrido um acidente que culminou em sua morte. Então, eles foram “forçados” a buscar alternativas para sobreviver, o que os levou ao progresso no qual se encontravam na atualidade.
No contato com essa história somos, geralmente, induzidos a buscar “vacas” em nossa existência. Entretanto, numa reflexão inversa pode ocorrer, nesse momento, de nos perguntarmos se não somos alguém que age como empecilho para o desenvolvimento de outrem. Isto é, somos a “vaca” na vida de alguém? Oferecendo uma situação cômoda que propicia a estagnação?
Nosso ser se constrói a partir do contato com o outro, sendo assim, nosso desenvolvimento pode ocorrer quando nos relacionamos. A referência recebida das relações às quais estabelecemos é sumamente importante para a definição de quem somos. Pois, as respostas que recebemos quando de algum comportamento nosso, indica, de certo modo, uma “direção” a seguir.
Não é incomum “impedir” a quem amamos de se desenvolver, em nome do que sentimos. Contudo, importante salientar a afirmação de Antoine Saint-Exupéryo, autor do livro “O pequeno príncipe”, que somos responsáveis por tudo o que cativamos. Isto é, as relações as quais estabelecemos, especialmente as permeadas de amor, nos torna, de algum modo, interligados às suas consequências. E, por conseguinte, corresponsáveis por elas.
Sendo assim, em algumas ocasiões, podemos experimentar a necessidade de atitudes as quais nos levem a vivenciar algum tipo de sofrimento e até mesmo dúvida. No entanto, algumas vezes necessitamos assumir uma decisão que pode culminar em relativa dor para todos os envolvidos, mas a qual se apresenta como sendo a opção mais adequada e necessária para o desenvolvimento de todos.
Se nos lembrarmos que tudo o que foi cativado por nós tornou-se, de certa forma, interligado ao nosso destino, e se desejarmos experimentar bem estar e tranquilidade, havemos de agir de modo a possibilitar um resultado com maior possibilidade de acerto. Basta, então, assumirmos as responsabilidades as quais são relacionadas a nós, ao nosso modo de agir e às consequências correspondentes.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

13 dezembro 2013

EMOÇÃO COLETIVA


A rotina do dia-a-dia vivida o ao longo do ano assume uma outra roupagem quando da proximidade das comemorações Natalinas.  Algumas emoções pertinentes a esse período tornam-se, de certo modo, coletivas. Ou seja, a grande maioria das pessoas veem-se envolvidas nas alegrias e esperanças que tangenciam esta época do ano.
Isso ocorre por várias razões, e para cada um há um motivo em especial. No entanto, podemos levar em conta alguns fatores para “especular” sobre o que ocorre com a maioria.
Heidegger, filósofo, afirma que nos apegamos à rotina para nos desvencilharmos da lembrança de sermos mortais. Isso ameniza nossa angústia sobre a certeza de um fim inevitável. No entanto, torna-se um problema quando nos envolvemos na rotina a tal ponto que nos iludimos sobre a certeza da “imortalidade” a qual é irreal.
Vivemos num momento social onde há uma grande ausência de significados. Isto é, na ânsia de nos envolvermos com a rotina que nos “acalma” em relação a nossa finitude, também nos permitimos envolver pela solicitação social do possuir.
Zygmunt Bauman, sociólogo, destaca vivermos um momento de praticamente total liquidez, especialmente das relações. O consumo de tudo, inclusive dos relacionamentos, nos leva a experimentar uma falta a qual não somos capazes de sanar.
Então, talvez a esperança e as emoções coletivas se manifestem de modo tão acentuado nessa época de festividades devido ao fato de o comprar ter um significado diferente do simples possuir. Pois, em sua maioria, representa a tentativa em agradar alguém.
O presentear, em um primeiro momento, significa que nos “pré-ocupamos” com alguém ao ponto de buscarmos algo que possa deixar esse alguém feliz. Tal comportamento nos aproxima da essência de nossa existência a qual consiste em nos relacionarmos uns com os outros de modo pleno.
Desse modo, um período em que somos levados a olharmos uns para os outros de uma maneira diferente da habitual, nos proporciona também o contato com emoções as quais passam despercebidas na rotina do dia-a-dia. E isso traz à tona esperança e emoções adormecidas que, por apresentarem-se de modo tão intenso, tornam-se quase que coletivas.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124



06 dezembro 2013

EMPATIA

Nos ditames da contemporaneidade um dos pontos altos consiste na individualidade. Somos responsáveis por nossas escolhas e suas consequências e isso nos possibilita certa independência. Contudo, alguns “exageros” podem ocorrer e mesmo algo salutar, quando em quantidade imoderada, pode tornar-se letal.
Zygmunt Bauman, sociólogo, afirma vivenciarmos o que ele nomeia hiperindividualismo. Isto é, segundo o autor, alcançamos um ponto tal do individualismo que se houver um incêndio próximo a nós, mas ninguém de nossas relações correr risco, não nos perturbamos.
Na contrapartida do exagero que pode ocorrer em relação ao individualismo há a empatia, ou seja, sentir como se estivéssemos na situação e circunstâncias experimentadas por outra pessoa. Contudo, esse “habilidade” tem sido deixada de lado em benefício da preocupação em demasia consigo mesmo.
Ao nos preocuparmos excessivamente com nosso próprio bem estar, incorremos no risco de desenvolvermos um modo de ser o qual pode até negligenciar a existência do outro. Ou seja, praticarmos uma forma de nos relacionar desconsiderando que aqueles que compartilham algum espaço conosco também possuem desejos e sentimentos.
Nesse caso, torna-se importante o exercício da empatia. Pois, ao possibilitar nos imaginarmos no lugar do outro e tentarmos compreender o que ele sentiria em uma situação específica, pode dar início a um contato mais autêntico.  Algo um tanto “fora de moda” nos dias atuais.
Nosso modo de ser pode permear as lamúrias em relação às lesões que, de algum modo, podemos sofrer quando nos relacionamos. No entanto, se colocarmos em prática a empatia, pode ocorrer de nos surpreendermos em relação ao número de ocasiões em que lesamos sem nos darmos conta disso.
Por isso, ao optarmos em nos comportarmos diferente do rotineiro, isto é, voltarmos nossa preocupação não somente para o que concerne ao nosso bem estar, mas daqueles que convivem conosco também, corremos o risco de aprimorarmos nossas relações diversas. E, desse modo, experimentarmos a troca que todo relacionamento proporciona, mas da qual nos privamos quando voltamos, em demasia, nossa atenção para nós mesmos.
Nesse caso, ao exercitarmos nos “aproximar” do outro ao ponto de nos capacitarmos a entender o que ele sente, especialmente através da empatia, podemos possibilitar a nós mesmos a oportunidade de relacionamentos mais satisfatórios e, que nos complementem de modo a experimentarmos uma sensação de realização mais a contento.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

29 novembro 2013

CRISES

Em alguns momentos podemos nos sentir como seguindo um “caminho” o qual não sinaliza haver uma saída, ou ao menos uma que satisfaça os desejos que temos ou tivemos. Essa sensação pode estar relacionada a algo que queremos ou a um status que almejamos alcançar.
Fala-se em crise da meia idade. Uma crise na qual pode-se experimentar desconfortos diversos sem a compreensão do porquê. O senso comum anuncia que isso ocorre com aqueles que acreditam estar envelhecendo. Tal ideia não consiste em total desengano. Porém, pode-se descrever essa crise como um momento no qual algo desperta o sentimento de que já se viveu certo tempo e que o restante pode, ou não, ser suficiente para que se complete os planos feitos.
Ou seja, esse momento não significa que se viveu metade do tempo disponível, mas que pode-se experimentar tal sensação. E a crença na realidade disso pode nos levar a sentimentos de satisfação com o que se cumpriu, ou desespero com o que não foi concluído a contento.
Experimenta-se crises desde os tempos mais remotos. Contudo, nos dias atuais elas representam algo do qual se deve fugir ou lamentar. No entanto, tais momentos também consistem em oportunidades de revisão e replanejamento.
Ao viver um período de crise é comum experimentar-se certa desaceleração em todo o nosso modo de agir. Refletimos com maior apuro e decidimos com mais cautela. Talvez permeado por medo ou insegurança. Mas, o importante é que essa redução de velocidade nos permite atitudes que utilizaram maior atenção nossa. Com isso, temos a chance de minimizar as ocasiões em que erramos.
Então, as crises podem constituir um período importante, no qual precisemos nos posicionar de modo mais receptivo no que concerne nossas escolhas e decisões. Pois, sendo mais atentos aos pormenores das situações nas quais estamos envolvidos, incorremos na possibilidade de vislumbrar um maior número de opções. E, por conseguinte, ampliarmos nossas alternativas, assumindo a condição de quem tem o “poder” de escolher com liberdade. Tendo em vista sermos livres para escolher e ampliar nosso rol de possibilidades como afirmam os filósofos Jean-Paul Sartre e Heidegger.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


22 novembro 2013

COMUNICAÇÃO

O acesso à informações de todos os tipos tornou-se demasiadamente fácil em virtude dos diversos meios de comunicação da atualidade. Velozes e extremamente eficazes, eles nos permitem o contato com notícias que, em um tempo mais remoto, poderia demorar dias, semanas ou meses para ocorrer.
Na contramão desse fato, tem-se a impressão que, apesar da velocidade e facilidade em nos comunicarmos, temos experimentado uma grande dificuldade em expressar e informar o que pensamos e sentimos.
As relações diversas, sejam elas de amizade, familiares ou que envolvam algum outro sentimento, em muitas ocasiões, estão permeadas de incertezas, inseguranças e sofrimentos.  Por isso, muitas vezes, busca-se uma forma de experimentar a paz. O que, em sua maioria, denota o distanciamento de tudo e de todos.
É comum não atentarmos para o fato de que nos comunicamos o tempo todo e de diversas formas. O falar não constitui a única maneira pela qual informamos nossos pensamentos e sentimentos. Muitas vezes, mesmo sem desejarmos, comunicamos o que estamos sentindo ou pensando com um pequeno gesto, o qual podemos ser induzidos a acreditar serem imperceptíveis para aqueles com quem temos contato.
Porém, se nossa busca constituir um maior número de momentos em que experimentamos a sensação de paz, pode ser necessário um exercício no sentido de tornarmos mais eficaz a maneira como informamos nossos pensamentos e sentimentos.
Elisabeth Kübler-Ross, autora e psicóloga, “comunica” em seu livro “A roda da vida” que, para ela, a verdade é sempre a melhor opção. Então, o vivenciar a nossa verdade pode ser um caminho para alcançarmos o que desejamos.
Sendo assim, encontrar formas de informar, de modo eficaz, nossos pensamentos e sentimentos pode consistir em uma tarefa árdua. Mas, também passível de nos proporcionar um encontro com quem somos de modo a possibilitar-nos uma maneira de nos comunicarmos a qual proporcione mais eficiência em nosso modo de agir.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124




15 novembro 2013

MUDANÇA

Diversos de nossos comportamentos, pensamentos e modos de avaliar encontram-se presentes de modo acentuado em nossa rotina. De tal modo que, em muitas ocasiões, não nos é perceptível os pormenores dessas características pessoais enraizadas em nosso modo de ser.
Comumente, podemos divisar em nós um lamento ou ressentimento que nos faz questionar sobre a necessidade, importância e, até mesmo, validade de alguma de nossas decisões. Em muitas ocasiões o hábito a algumas reações diante de determinado tipo de situação é permeado de impulsividade em nossa resposta.
Contudo, não ficamos imunes aos ressentimentos pertinentes a algumas dessas reações, especialmente aquelas imediatas e da qual não nos sentimos muito seguros. Porém, em muitos momentos torna-se muito difícil o rever o curso dos acontecimentos aos quais culminaram no resultado no qual estamos inseridos. Assim, não parece possível vislumbrar uma forma de mudá-los.
Assumir a necessidade de mudança em alguma das formas como agimos e reagimos consiste em um processo árduo e, muitas vezes, “doloroso”. Entretanto, a dor experimentada quando do arrependimento por algum de nossos atos pode ser demasiadamente mais intensa.
Quando repreendidos por alguém pode-se experimentar algum desconforto e, quiçá um sentimento de raiva direcionado à origem da reprimenda. Difícil quem se sente confortável quando na iminência de ser destacado algum erro seu. Mas, pode assumir um caráter muito mais aflitivo quando nossa própria avaliação a nosso respeito nos faz experimentar o desconforto.  A sabedoria popular acentua que podemos ser o nosso mais cruel algoz.
Por isso, o exercício de avaliarmos nossos atos do modo mais isento possível, torna-se um desafio ao menos importante. Quando somos capazes de “olharmos” para nós mesmos de forma límpida, isto é, capazes de analisarmos nossas atitudes, o que as originou e as consequências advindas, nos permitimos uma possibilidade de mudança.
Essa mudança pode ser em nosso comportamento ou em nosso julgamento a nosso respeito. O primordial é que se coloque em prática a busca em amenizar os momentos de dissabor que experimentamos em consequência de nosso modo de ser e agir.
Por isso, se faz essencial nos possibilitarmos oportunidades nas quais possamos refletir acerca de nossos sentimentos relacionados ao modo como estamos habituados a agir e reagir, para assim nos habilitarmos a uma efetiva “possibilidade” de mudança.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

08 novembro 2013

DESENCANTO

A todo o momento podemos nos submeter a algo que nos encante. Uma nova perspectiva ou um novo planejamento. Isto é, ao nos depararmos com a possibilidade de algo novo, é comum estabelecermos uma relação a qual nos possibilite variadas expectativas.
Essas expectativas são, em sua maioria, de uma ordem que nos desperta certa satisfação e, por conseguinte, assumem uma posição relevante para nós. Por isso, podemos, sob essas circunstâncias, nos submeter à dificuldades inimagináveis em prol do que entendemos ter vital importância.
No entanto, as nossas escolhas podem variar em suas conclusões. E, assim, nos surpreender um resultado que cause certo desencanto em relação às nossas expectativas. Unido ao desencanto é comum experimentar-se a desilusão a qual pode estar relacionada a algo passageiro. Contudo, ela também pode estar relacionada a alguma situação que envolva um planejamento mais elaborado e que acarreta uma maior dedicação de tempo para sua conclusão.
Quando tal sentimento se manifesta estamos sujeitos a experimentar uma sensação de falência. Ou seja, como se nada mais fosse possível para minimizar a dor sentida por nós. Porém, nesse momento se faz de grande valor assumir uma atitude da qual nos permita uma reflexão, o máximo possível, isenta de valores.
É comum buscar amparo em diversos lugares, contatos ou pessoas. Entretanto, voltar-se para si mesmo de modo a avaliar a proporção dos sentimentos experimentados, torna-se primordial no momento em que todo um “castelo” parece desmanchar-se.
Procuramos, de certa forma, quando da ocasião de algo dessa magnitude ocorrer, explicações e justificativas. Tentando, inclusive, encontrar responsáveis para os dissabores que vivenciamos. Entretanto, é preciso assumir que fizemos escolhas as quais culminaram na experiência vivida.
Sendo assim, encontrar um modo de nos sentirmos fortes o suficiente para assumirmos nossa participação nos resultados atuais, aparenta ser impossível. Mas, torna-se a opção mais eficaz nos sentido de amenizar as dores e possibilitar o vislumbre de soluções mais prazerosas, em substituição das frustrações que proporcionaram a experiência do desencanto.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


01 novembro 2013

NOSSAS ESCOLHAS ANTECEDEM NOSSOS ATOS?

Ao encararmos nossos atos como eventos inevitáveis, experimentamos o conforto da isenção de nossa participação na sequência dos fatos. Ou seja, nos permitimos acreditar que nossas escolhas influenciam em uma proporção quase insignificante situações que consideramos alheia às nossas forças.
No entanto, algumas afirmações na filosofia destacam que escolhemos a tal ponto, que o fazemos antes mesmo de optar a quem solicitamos auxílio para a resposta a uma pergunta. O filósofo Jean Paul-Sartre salientava esse aspecto de nossa habilidade em escolher. Desse modo, o que cremos constituir um ocorrência alheia à nossa vontade, pode apenas representar o resultado de escolhas feitas por nós sem nos apercebermos desse fato.
Quando somos conscientes de que algo pode ser nocivo ao nosso bem estar, seja ele de ordem física ou psíquica, esse conhecimento nos torna “cúmplices” das consequências advindas das escolhas realizadas por nós. Assim, ao compreendermos o peso de nossas decisões, podemos experimentar algum desconforto no que concerne nossa participação ativa no desenrolar de nossa história pessoal.
Isto é, somos artífices de nosso projeto de vida, mas de uma forma mais intensa do que, na maioria das vezes, nos permitimos acreditar ou, refletir. Então, ao nos negarmos vislumbrar que nossas escolhas podem anteceder nossos atos, também recusamos nossa capacidade de organizar os eventos de nossa existência de modo a nos proporcionar maiores situações de prazer do que o inverso.
A cultura atual conclama a velocidade para praticamente tudo: informações, atitudes e resultados. Contudo, ao nos envolvermos nesse processo veloz, corremos o risco de não nos darmos conta que, na contramão disso, está nosso desejo em apreciar, saborear e usufruir das oportunidades de prazer que o existir nos disponibiliza.
Por isso, talvez mereça nosso apreço o fato de que nossos desejos de satisfação e realização, constituem uma presença constante em nosso dia-a-dia. E, desse modo, pode ocorrer que ao cuidarmos de nossas escolhas, cientes de que elas participam de nossos atos bem como dos eventos subsequentes a eles, possibilitemos a nós mesmos, maiores chances de conclusões mais próximas dos nossos desejos iniciais. E, unido a isso, o sentimento de realização o qual permanece conectado à nossa participação ativa em prol de nosso próprio bem estar.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

25 outubro 2013

SIGNIFICADOS

Todas as experiências que vivenciamos estão permeadas de significado. Ou seja, tudo o que vivemos assume algum valor, envolto em um ou mais sentimentos. Esses sentimentos nos permitem a recordação de eventos diversos. Desse modo, “armazenamos” nossas memórias enredadas pelo sentimento que nos conduziu a um significado referente ao que foi vivido.
 Sendo assim, algo que nos levou a experimentar sentimentos, de tristeza ou alegria, prazer ou insatisfação entre outros, será recordado por nós, tangenciado pelo significado que adquiriu no momento em que tal experiência foi vivida.
Esse processo nos é, geralmente, despercebido. Porém, quando experimentamos a sensação de incerteza em relação às decisões feitas por nós, é comum questioná-las. Nesse momento é importante um olhar desvencilhado de conceitos. Isto é, necessário se faz exercitamos a possibilidade de compreender os eventos relacionados às nossas escolhas. De modo a discernirmos a respeito das razões que nos levaram a optar do modo como fizemos.
Em alguns momentos de nossa existência podemos experimentar decepções relacionadas às consequências advindas de nossas decisões. Contudo, é de suma importância nos posicionarmos conscientes de que escolhemos a todo o momento.
Entretanto, tal atitude não nos isenta da sensação de incerteza e dúvida sobre o rumo que nos permitimos sermos conduzidos. Então, torna-se essencial conhecer os significados das escolhas feitas e do que elas representam para nós. Para, assim, nos “apoderarmos” do conhecimento acerca de nós e de nossas decisões. Desse modo, seremos capazes de reavaliar os caminhos que escolhemos e nos posicionarmos de modo mais patente em relação aos nossos planos vindouros.
Afirmações a respeito da escassez de tempo disponível para tal empreitada ocorrem com frequência. No entanto, se desejamos alcançar a sensação de satisfação com nossas escolhas e decisões, necessitamos nos permitir o envolvimento com os sentimentos os quais culminam em significados relacionados a elas.
Por isso, a busca do entendimento relacionado aos nossos sentimentos torna-se uma opção deveras desafiadora, pois, nos coloca em posição de um conhecimento mais acurado acerca de nós mesmos. E, por conseguinte, nos habilita a nos conduzirmos de modo mais eficiente rumo aos significados que desejamos experimentar, ou não.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


17 outubro 2013

VÍTIMA

Nosso olhar possui um impulso em assumir uma interpretação demasiadamente complacente com as situações relacionadas às nossas vivências. Isto é, de maneira geral agimos de modo a amenizar a realidade que envolve nosso comportamento e nossas decisões.
Torna-se extremamente “fácil” para nós encontrarmos justificativas e explicações para praticamente tudo o que fazemos e decidimos. Nos tornarmos, assim, “isentos” do envolvimento com as escolhas as quais acreditamos não termos feito, e que culminam em algum tipo de descontentamento.
O papel de vítima em relação ao que consideramos não haver opção ocorre com mais frequência do que somos capazes de admitir. Nosso sofrimento diminui consideravelmente quando encontramos a “razão” pela qual algo aconteceu e que, em sua maioria, envolve o fato de ser inevitável. E estar à parte de nosso poder de escolha.
No entanto, somos possuidores da habilidade de escolher. Não atentamos para esse fato e, com isso, abrandamos as ocasiões em que nos responsabilizamos por nossas escolhas. Desse modo, a situação de vítima nos conforta e se torna mais frequente.
Contudo, na contramão dessa atitude está nosso desejo em crescer, conquistar, viver, etc. Nesse caso, torna-se necessário a busca de um comportamento diferente do usual, e que nos coloca em uma posição totalmente passiva diante da variedade de ocasiões que se apresentam diariamente para nós.
Culparmos o outro como responsável por aquilo que vivemos atualmente torna-se uma alternativa tentadora. Entretanto, ela também nos paralisa diante das possibilidades que podemos vislumbrar quando assumimos nossa parcela de envolvimento nas alternativas que se apresentam.
Sendo assim, se nos dispusermos a colocar em ação nossa capacidade de reflexão de modo a selecionar de maneira mais promissora nossas escolhas, é muito provável que as ocasiões em que sentimos o impulso em responsabilizar algo ou alguém por uma situação que vivenciamos, torne-se menos frequente. E, quiçá, desapareça por completo de nosso modo de agir.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

11 outubro 2013

ADVERSIDADES

A reflexão de alguém culminou na seguinte frase: “Adoro tudo que me acontece. As coisas boas, é claro, me aconchegam, então como não gostar delas?! E as coisas ruins... ah!! Essas são as que me fortalecem e me fazem crescer.”
Ao assistir ao filme “As aventuras de Pi” veio à tona essa frase. Pois, durante o naufrágio do rapaz, o qual divide um barco com um tigre, ele “precisa” sobreviver, primeiramente, ao convívio com o tigre. Em um primeiro momento o impulso de destruir o que o faz mal torna-se primordial. No entanto, após algum tempo, ele compreende que o “mal” na realidade o faz ativo e capaz de sobreviver às intempéries de sua situação. Desse modo, resiste aos 227 dias no mar.
 Semelhante à situação que o personagem vive em sua história, podemos transpor para algumas situações das quais somos submetidos em nosso dia a dia. Comumente nosso primeiro impulso é o de nos livrarmos da causa de nosso desconforto. Consideramos demasiado importante essa conduta e, em muitas ocasiões, não nos damos conta das possibilidades envolvidas no processo de lidarmos com a dificuldade em questão.
O personagem do filme possuía algo de diferente de nossa rotina: tempo. Justificamos, na maioria das vezes, falta de tempo para refletirmos com mais cuidado a respeito das situações com as quais nos deparamos. E, assim, nos sentimos confortáveis com a maneira como lidamos com elas.
Porém, se nos permitirmos refletir, por um rápido segundo, poderemos nos colocar em um processo no qual nossa compreensão a respeito do que nos aflige, pode assumir um papel sumamente importante no que concerne o nosso desenvolvimento.
Ao adotarmos tal postura, estaremos nos capacitando a ampliar nosso rol de possibilidades, ao ter em vista a transformação do que nos aflige em algo que nos impulsiona. Então, em uma mesma oportunidade nos proporcionaremos o exercício da plenitude de nossa liberdade segundo o filósofo Heidegger.
Pois, a mudança de entendimento, relacionado ao que nos é bom e ao que nos é ruim, amplia o número de oportunidades as quais podemos nos envolver de modo pleno e gratificante para nós mesmos.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


04 outubro 2013

LIBERDADE

Ao longo de nossa existência é comum sofrermos diversos tipos de frustrações.  Na realidade, elas são mais comuns do que gostaríamos. No entanto, são também responsáveis por nosso aprendizado em lidarmos com situações inusitadas das quais não desejamos, mas que em muitas ocasiões não temos como nos desvencilhar.
É natural questionamentos a respeito de como lidar com situações das quais não podemos mudar, mas que, no entanto, se apresentam de modo a nos conduzir a sentimentos indesejados de tristeza. O senso comum oferece diversas sugestões. Contudo, é notório muitas delas não satisfazerem nossa busca.
O filósofo Jean Paul-Sartre discorre a respeito de nossa condenação à liberdade. Segundo ele somos “obrigados” a escolher o tempo todo entre, ao menos, duas alternativas. Para o filósofo nossa condenação consiste em não podermos fugir das consequências de tais escolhas.
Heidegger, também filósofo, afirma sermos livres, inclusive, para ampliarmos nossas opções. Ou seja, podemos aumentar o número de alternativas envolvidas em uma decisão a qual necessitamos assumir.
Sendo assim, nossa liberdade se apresenta a todo o momento quando nos deparamos com uma escolha a ser feita. Precisamos, apenas, atentar para o grau em que suportamos lidar com a consequência que tal escolha ocasionará.
Nem sempre nos permitimos uma reflexão cuidadosa acerca do porvir de nossas decisões. Impulsionados pelo desejo, ansiedade, entre outros fatores, possibilitamos nossa decisão envolvidos por emoções das quais nem sempre percebemos. Porém, uma emoção despercebida pode nos levar a uma consequência indesejada.
Então, se exercitarmos o cuidado para com nossas emoções no momento em que somos solicitados a escolher, poderemos colocar em prática a possibilidade de nos permitirmos opções envolvidas em um processo que nos conduza a consequências menos drásticas. Ou, quiçá, resultados que se tornem “esperados”, tendo em vista possibilitarmos a nós mesmos a oportunidade de vislumbrar o que pode estar no porvir.
Desse modo, disponibilizaremos um desenvolvimento no sentido de nos tornarmos aptos a conduzir nossas decisões de modo mais eficaz. Especialmente, no sentido de nos habilitarmos a avaliar as alternativas em questão e suas possíveis deliberações. Nos tornamos, assim, um pouco mais livres.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


27 setembro 2013

REFERÊNCIA

Em muitas ocasiões somo levados a experimentar sentimentos os quais não desejávamos. Raiva, decepção, tristeza, frustração... nesses momentos é comum lidarmos com dificuldades diversas para nos “livrarmos” dos dissabores que esses sentimentos nos causam.
Alguém questionou a respeito em como lidar com a realidade que se apresenta de modo inevitável. Nesse caso, podemos colocar em prática nossa liberdade e escolhermos qual o “ângulo”, ou qual “lente”, usaremos para vislumbrar o que está acontecendo.
Nossas experiências de vida nos levam a um aprendizado acerca de nós mesmos. Esse aprendizado constitui um arsenal de referências das quais fazemos uso a todo o momento em que temos contato com algo “novo”. Isto é, utilizamos como ferramenta de contato o que temos como conhecimento prévio, nosso referencial.
Nossa referência a respeito de tudo é permeada por experiências que vivenciamos. Alguém contava a respeito de um indivíduo o qual apresentava daltonismo e que descobriu o fato em torno de seus dezessete anos de vida. Em uma avaliação constatou-se que essa pessoa era capaz de diferenciar as cores das quais quem sofre da doença não pode. Ele aprendeu, com suas experiências vividas, as nuances das cores que via e nomeá-las de acordo com o que lhe era ensinado.
Do mesmo modo, podemos nos proporcionar aprendizados acerca de situações causadoras de alguma perturbação. E, assim, a angústia experimentada pode ser transformada em um sentimento que cause menos tribulação.
Nossas referências são envolvidas em significados. Ao possibilitarmos o cuidado com elas, proporcionamos uma ocasião favorável para uma compreensão diferente acerca do que está sendo vivido. Por conseguinte, uma realidade inevitável pode ser transformada em uma realidade muito prazerosa. Dependendo, apenas, de qual “ângulo” ou “lente” faremos a opção de usar para proporcionar tal transformação.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

20 setembro 2013

JUSTIÇA

Em muitas ocasiões somos levados a entender sermos aquele que foi lesado e, sendo assim, fazer valer a justiça torna-se imprescindível à continuidade de nosso bem estar. Entretanto, o que pode nos parecer justo a partir de nosso ponto de vista, pode ser sobremaneira injusto sob outra perspectiva. Pois, de acordo com o referencial, uma afirmação coerente pode tornar-se totalmente inválida.
Não é raro experimentarmos a dor de uma ingratidão que acreditamos termos sido vítima. Entretanto, se nos mantivermos estagnados a espera de uma compensação, poderemos nos manter paralisados e deixarmos de usufruir diversas outras oportunidades.
Heidegger, filósofo, afirma estar o adoecer relacionado ao tempo. Ou seja, se nos mantivermos atentos de modo demasiado a um ponto, esteja ele localizado no passado, presente ou futuro, deixaremos de nos desenvolver e, por conseguinte, de viver de modo pleno. Assim, permanecemos “presos” a um ponto, negligenciando todo o restante existente e conectado a ele.
Em um primeiro momento é natural compreendermos estar em poder de “quem nos lesou” a possibilidade de restabelecer o equilíbrio. Mas, se nos posicionarmos dessa maneira diante de algo que consideramos injusto, incorremos no risco de paralisarmos em um ponto e, desse modo, adoecermos.
Nesse caso, se desejamos ser justos para conosco, talvez seja necessário darmos início a um movimento nosso em prol de nosso bem estar. Ao decidirmos dessa forma assumimos uma posição ativa no que concerne nosso sentimento em relação ao que nos ocorre ser ou não justo. Ao sairmos da posição estagnada de sofrimento, nos colocamos em movimento e, assim, com a possibilidade de cura das lesões que nos impossibilitam o desenvolvimento.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

13 setembro 2013

DEPENDÊNCIA

É comum nos depararmos com frases as quais fazem referência a nossa “dependência” em relação ao comportamento do outro. Por exemplo: “minha educação depende da sua”. Ao pensarmos desse modo, em um primeiro momento, parece extremamente justo. Isto é, se o outro comportar-se de modo satisfatório significa que minha resposta também será satisfatória. Contudo, uma questão surge: quem dará início a esse processo? Ou seja, quem será o primeiro a comportar-se “bem”?
Em uma pequena historieta da qual um palestrante fazia referência, ocorria de alguém receber uma reprimenda de seu superior. Impossibilitado de responder-lhe a ofensa, por estar em uma posição hierárquica desprivilegiada, esse alguém precisou conter seu descontentamento. No entanto, depositou sua frustração, em modo de agressão verbal, em um colega com o qual se deparou minutos depois. O colega, também impossibilitado de responder como gostaria devido às circunstâncias de um local público, “transferiu” sua raiva em outro alguém. E assim por diante até que um filho, ao chegar em sua casa, é agressivo com sua mãe que o esperava para o auxiliar em suas necessidades após o dia de trabalho. Essa mãe, compreendendo que o filho teria se deparado com algum tipo de situação da qual não pôde dar vazão ao seu descontentamento, conteve uma resposta menos delicada. Pondo fim à corrente que havia sido iniciada com a reprimenda do superior ao seu subordinado.
Ao permanecermos a espera de algo acontecer para então nos posicionarmos, corremos o risco de nos colocarmos em uma posição de estagnação indefinida. Pois, na “dependência” de alguém fazer algo para podermos reagir, depositamos de modo totalitário no outro nossa possibilidade de agir.
Sendo assim, se almejarmos, em algum momento de nossa existência, nosso crescimento pessoal e desenvolvimento como seres independentes, é necessário termos em mente que podemos nos tornar independentes. Porém, é de suma importância nos lembrarmos do físico Fritjof Capra o qual afirma, em seu livro “O ponto de mutação”, sermos todos interligados pelo o que ele denomina interconexão. Ou seja, todo comportamento é influenciado pelo modo de agir do outro em todas as suas particularidades e consequências.
Assim, nosso progresso encontra-se correlacionado ao progresso daqueles que compartilham o seu existir conosco. Então, certamente nos encontramos em uma relação de dependência. Todavia, essa relação não diz respeito ao nosso posicionamento em situação de espera do outro ter uma iniciativa para que algo nos aconteça. Mas, significa estarmos atentos ao nosso próprio modo de agir, para podermos delimitar como será o comportamento de quem se encontra em relação conosco e não o inverso.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

06 setembro 2013

ESTORVO

Atualmente a vida é vivida com velocidade máxima e se não nos submetermos a essa velocidade corremos o risco de “perdermos” algo. Por essa razão, o outro constitui, quase sempre, um estorvo ou uma ameaça. Isto é, se é preciso chegar antes para não perder o que se deseja, qualquer um que possua a possibilidade de nos alcançar representa uma preocupação a mais.
As solicitações da contemporaneidade nos conduzem a uma postura a qual nossos referenciais apresentam-se obnubilados por necessidades que julgamos serem nossas. Mas, na realidade em sua maioria, consiste, apenas, em um conclame social ao qual nos rendemos e nem sempre percebemos.
Vivendo em grupo a opinião do outro assume grande importância. Contudo, delimitar o grau dessa importância para nós torna-se essencial se desejamos experimentar liberdade e satisfação. O outro representa um referencial no qual nos permite vislumbrar o que desejamos, ou não.
Na relação com o outro temos a oportunidade de, através do contato, averiguar nossas atitudes e o que elas desencadeiam. Porém, se estivermos envolvidos pela necessidade específica de “derrotar” esse referencial, podemos descartar uma oportunidade essencial de aprendizado.
Heidegger afirma ser a rotina nosso porto seguro contra a certeza de nossa finitude. Assim, ao nos comportarmos de modo semelhante ao outro podemos experimentar uma ilusão de segurança. Ao nos iludirmos incorremos na possibilidade de, do mesmo modo, nos enganarmos a respeito do outro e da ameaça que ele representa.
Portanto, ao recordar a afirmação do filósofo poderemos oferecer a nós mesmos a oportunidade de significarmos o outro de modo diferente do habitual. Isto é, o que anteriormente representava uma ameaça pode assumir um significado contrário, ou seja, de apoio.
Lamentamos destruições e comportamentos incoerentes uns dos outros. Mas nos esquecemos de estar atentos para o modo como nos relacionamos com quem partilha conosco experiências das quais podem culminar em resultados, no mínimo, desastrosos.
Ao mudarmos nosso referencial da competição extrema para a partilha, nos colocamos de um modo diferente do “proposto” e, desse modo, assumimos uma maneira de agir que pode surpreender, inclusive a nós mesmos.
Jostein Gaardier, autor do livro “O mundo de Sofia”, afirma ser importante ao adulto lembrar-se da curiosidade que possuía quando criança. Assim, a rotina e a semelhança não o farão uniforme. Ou seja, ao preservarmos nossa singularidade poderemos nos relacionar com o outro sem experimentar um sentimento de incômodo que a necessidade de vitória abarca.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

30 agosto 2013

CONCESSÕES

Pode constituir uma tarefa não muito fácil a de identificar quando fazemos uma concessão ou quando abrimos mão de algo importante para nós. Em diversas situações distinguir, entre algo que nos satisfaz e algo que nos frustra torna-se quase impossível.
Podemos dispender anos de nosso tempo a fazer concessões das quais não fazem sentido quando nos aprofundamos nas razões que culminaram em tal atitude. Ou podemos experimentar sensações de tristeza das quais não sabemos a origem.
Contudo, se ao experimentar o sentimento de tristeza buscarmos ajuda para a compreensão desse sentimento, pode-se “abrir uma porta” a qual nos conduza a possibilidades não atinadas anteriormente.
É muito comum nos habituarmos a algo aparentemente satisfatório, mas ao ser ponderado atenciosamente começamos a entender que tal hábito consiste, na realidade, em uma rotina estabelecida e permitida por nós. Essa rotina pode nos aprisionar em algum estado, paralisando-nos, o que, segundo o filósofo Heidegger, constitui uma das principais razões do adoecer.  Desse modo, podemos experimentar a ausência do prazer em viver e darmos início a um processo que pode alcançar níveis de insatisfação não aventados por nós.
Por isso, o processo que inclui o olhar e a reflexão acerca de nossos sentimentos e suas razões, pode constituir uma possibilidade de modificarmos algumas rotinas as quais tangenciam concessões e que nos colocam em posição de sofrimento. De modo a impossibilitar-nos ser capazes de oferecer aos relacionamentos que estabelecemos o melhor de nós.
Sendo assim, ao nos propormos ao cuidado para com nossas concessões, também nos propomos a melhorar as relações que estabelecemos. Por conseguinte, reduzimos as frustrações e estabelecemos contatos embasados em satisfação e não em dores.
O viver plenamente envolve nos sentirmos livres. Tal liberdade consiste em nos responsabilizarmos por nossas escolhas. Ao cuidarmos de nossos atos e decisões estamos, portanto, cuidando de nossas escolhas e, assim, ampliamos a possibilidade de nos fazermos mais conscientes delas.
Então, se ao invés de apenas fizermos concessões impensadas dermos início a um movimento em prol de analisarmos as nossas escolhas, poderemos, com tal atitude, ampliarmos nosso rol de possibilidades acerca das opções que temos e que nem sempre nos damos conta.  

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

23 agosto 2013

VERDADE

O senso comum afirma ser a pior mentira aquela dita a nós por nós mesmos. No entanto, o que se pode considerar a verdade a nosso respeito? Como podemos agir de modo a nos sentirmos verdadeiros para conosco?
Em muitas ocasiões a verdade sobre si mesmo pode assustar, mas ignorá-la pode levar a decisões incoerentes conosco. Assim, experimentamos dissabores dos quais nem sempre relacionamos a uma razão mais íntima daquela imaginada por nós. Ou seja, nossas dores e frustrações podem estar relacionadas ao modo como agimos conosco em relação ao “verdadeiramente” desejado e como somos.
Contudo, é preciso coragem para afirmar nossas verdades, ainda que não toda. Isto é, em muitas ocasiões nos encontramos incapazes de suportar um olhar totalmente nítido a nosso respeito. Nesse momento se faz de suma importância respeitarmos nossa capacidade para tal e administrarmos o quanto suportamos, de modo a preservar nosso ser como um todo.
Algumas vezes é necessário conduzirmos cuidadosamente o modo como “olhamos” para o nosso íntimo em prol de nos conhecermos melhor. Mas, da mesma maneira é importante não nos surpreendermos de modo assustador com quem somos.
O conhecimento acerca de si mesmo consiste em uma poderosa ferramenta a favor de nosso desenvolvimento pessoal. No entanto, se a utilizarmos de modo impensado, esta pode se tornar algo amedrontador e nos levar a inibição de atitudes as quais poderiam consistir em algo indispensáveis ao sucesso de nossas empreitadas.
Por isso, a verdade a nosso respeito é essencial para a conquista de nossos “sonhos”. Porém, a prudência no modo como a acessamos se faz fundamental se desejamos nosso progresso pessoal.
Sendo assim, o cuidado no sentido de permitirmos toda a assessoria possível quando nos propomos ao conhecimento “verdadeiro” de nós mesmos, pode consistir num caminho um pouco mais trabalhoso. Entretanto, esse caminho pode se apresentar menos atemorizante. E, assim, compreendermos nossas verdades de uma maneira mais amena, de modo a não inibir nossa iniciativa no sentido de nosso conhecimento sobre nós mesmos.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

09 agosto 2013

COMODISMO

Uma mensagem recebida pela internet me chamou a atenção. Ela se tratava sobre um monge e seu discípulo, os quais precisaram de hospedagem ao longo de uma viagem. Avistaram uma casa simples e foram atendidos em sua solicitação pelos donos dela. Durante a estadia notaram que a família vivia em condição quase precária e que possuíam uma vaca da qual tiravam seu sustento. Ao amanhecer, antes de partir, o monge empurrou o animal em direção a um precipício levando-a a morte. O discípulo indignado solicitou uma explicação e o monge afirmou ser o comodismo a razão da estagnação do desenvolvimento daquela família. Alguns anos se passaram e o discípulo retornou ao local encontrando-o muito próspero. Ao questionar o proprietário, este relatou que no dia em que eles partiram sua vaca havia sofrido um acidente que causou sua morte. Então, eles foram “forçados” a buscar alternativas para sobreviver, levados, assim, ao progresso no qual se encontravam.
O contato com essa história pode nos induzir a buscar “vacas” em nossa vida. Ou seja, o que nos apoia e, em muitas ocasiões pode nos levar ao comodismo. No entanto uma reflexão em sentido contrário, poderia ocorrer nesse momento, e nos perguntarmos se não somos alguém que age de modo a ser um empecilho para o desenvolvimento de outrem, ou de nós mesmos. Isto é, somos a “vaquinha” na vida de alguém?
Todo relacionamento proporciona algum desenvolvimento, por isso podemos afirmar que nosso ser se constrói a partir do contato com o outro. Isto é, a referência recebida por meio das relações por nós estabelecidas é de suma importância para o desenvolvimento de quem somos. Pois o movimento de ir e vir possibilitado pelas relações nos permite o exercício da flexibilidade necessária para nosso crescimento pessoal.
Porém, em muitas ocasiões, agimos de modo a tolher quem amamos em nome desse sentimento. Contudo, não podemos nos esquecer que o crescimento pode estar envolto em algum tipo de “dor”. E a busca da eliminação dela pode ocorrer instintivamente.
Entretanto, se nos dispusermos a agir de modo mais atento em relação a nós e às nossas relações, poderemos ser capazes de vislumbrar se conduzimos alguém ao comodismo. Especialmente nós mesmos. Então, ao detectarmos tal atitude, poderemos assumir um papel ativo no sentido de “empurrar” para o abismo os entraves presentes em nosso “caminho”. E, assim, nos habilitarmos a prosperar no sentido de nosso desenvolvimento.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


01 agosto 2013

PREOCUPAÇÃO X CUIDADO

Pode ocorrer, em algum momento de nosso existir, ser notada certa preocupação com algo ou alguém. Preocupar-se significa termos um pensamento dominante que se sobrepõe a qualquer outro. E que pode, inclusive, proporcionar algum sofrimento, ao se ter em vista que quando nos preocuparmos com algo não significará estarmos habilitados a resolver o problema em questão.
Diferente da preocupação, o cuidado envolve responsabilidade com o objeto de nossa atenção. Isto é, a decisão em cuidar de algo ou alguém significa disponibilizarmos algo de nosso esforço e atenção em prol da manutenção do bem estar daquele que tornou-se alvo de nosso reparo.
Quando nos “pré-ocupamos”, ao mesmo tempo nos ocupamos de modo antecipado a respeito de algo que, muito provavelmente, não se apresenta disponível para ser resolvido. Estamos apenas nos antecipando. Ou seja, investimos nossa energia no ato de pensarmos a respeito de algo que não seremos capazes de resolver por não se apresentar livre para tanto.
Certamente é bem adequado pensar a respeito de algo antecipadamente para que haja um planejamento das melhores estratégias no modo de lidar com o que nos perturba. No entanto, é importante nos manter atentos para o fato de que ao deslocarmos nossa atenção do tempo presente incorremos no risco de experimentarmos aflições relacionadas a impossibilidade de ação. Heidegger, filósofo, relaciona o sofrimento humano ao ato de focalizar a atenção em um tempo do qual não se tem acesso, passado ou futuro. Desse modo, nos envolvemos com situações impossíveis de se apresentarem acessíveis aos nossos atos no momento presente.
Contudo, o cuidado, o qual nos solicita nos responsabilizarmos com algo ou alguém, caracteriza-se por um compromisso nosso com a situação em questão. No entanto, ao não atentarmos para a sutil diferença entre cuidado e preocupação, podemos nos envolver em uma atitude a qual nos faça permanecer estagnados e sofredores.
Por isso, se desejamos exercer o cuidado necessitamos exercitar identificar nosso comportamento para nos tornarmos capazes de compreender qual atitude estamos aderindo. Assim, nos habilitarmos a cuidarmos de nós e do que desejamos ao invés de apenas nos preocuparmos e ocasionarmos sofrimentos, no mínimo, inúteis.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


26 julho 2013

MOTIVAÇÃO

Atualmente a necessidade de motivação parece estar em pauta em praticamente todos os âmbitos de nossas relações, sejam elas relativas ao trabalho ou de ordem pessoal. É comum lamentações relacionadas ao desânimo e a falta de motivação para investimentos pessoais no que concerne nosso próprio desenvolvimento e na busca de algum objetivo.
Na ânsia da tão almejada motivação, muitas vezes, nos sujeitamos a experiências as quais nem sempre fazem sentido para nós. No entanto, nesse processo, incorremos no risco de buscarmos motivação de um modo no qual nossos reais desejos permanecem obscuros, inclusive para nós mesmos e, desse modo, a empreitada torna-se especialmente difícil.
 O modo de nos relacionarmos nos dias atuais nos conduz a competividade de uma maneira que resvalamos na busca do “impossível”. Nos submetemos a comportamentos que, em sua maioria, não condiz com nosso modo de ser. Isto é, desrespeitamos o limite de nossa capacidade.
Ao reconhecermos nosso potencial também nos apoderamos da consciência de nossos limites e, desse modo, nos tornamos aptos a respeitá-los. Assim, quando nos permitirmos comparações relativas à competitividade solicitada pela ordem social, poderemos proceder de um modo um pouco menos injusto para conosco.
Contudo, permanece uma questão: como nos motivar diante de tais solicitações? E, especialmente de alguns “impedimentos”, particularmente os relativos aos nossos limites pessoais?
Lamentavelmente ainda agimos de modo a satisfazer, primeiramente, as solicitações alheias relativas a questões nem sempre concernentes ao nosso desejo, e que desrespeitam nosso real potencial. Então, nesse proceder, buscamos agir de acordo com o esperado e não de acordo com nossa capacidade. Nesse percurso, é comum buscarmos motivações no outro e não em nós.
Quando optarmos por agir dessa ou daquela maneira, fazendo escolhas embasados no que desejamos para nós independente do que o outro conquistou, haverá um risco bem menor de nos sentirmos frustrados. Assim, a empreitada não se tornará demasiado difícil e é bem provável que iniciemos conquistas pessoais que nos motivem a buscar cada vez mais tal sensação.
Sendo assim, ao cuidarmos de nos motivarmos por nós e não pelo que o outro é capaz de realizar, ou seja, almejarmos alcançar nosso próprio pódio e não aquele que o outro alcançou, nos possibilitaremos a oportunidade de experimentar realizações singulares e referentes ao nosso potencial. E, desse modo, a busca do objetivo torna-se algo pessoal e passível de nos motivar de um modo mais intenso e duradouro.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

19 julho 2013

GANHAR E PERDER

Nos acostumamos a contabilizar ganhos e perdas como sendo algo totalmente desconexo um do outro. No entanto, se considerarmos que ganhar e perder constitui dois lados de uma mesma situação, poderemos nos colocar em uma posição na qual nos permita reflexões a respeito delas e, deste modo, a oportunidade de transformações. Isto é, modificarmos nossa compreensão acerca de nossos ganhos e nossas perdas.
Quando nos dispomos a uma análise mais distanciada de nossas vivências, ampliamos nossa capacidade de interpretação dos fatos. Pois, ao nos colocarmos como expectadores de nossos próprios dissabores, dilatamos o horizonte no qual estamos inseridos e, assim, aumentamos os referenciais disponíveis às nossas considerações.
No entanto, ao limitarmos nossa compreensão a um único ponto de referência, desconsideramos alternativas que podem converter-se em circunstâncias não percebidas anteriormente. Isso deve-se ao fato de restringirmos nosso campo de “visão” e, igualmente, nosso potencial de análise.
É comum justificarmos a impossibilidade de distanciamento com explicações relativas à questões emocionais alheias ao nosso desejo. No entanto, ao exercitarmos o disponibilizar um “fôlego” para nós mesmos nos momentos mais delicados de nosso dia-a-dia, estaremos investindo em nosso potencial de liberdade. Isto é, quando admitimos estar em nossas mãos as possibilidades de mudanças relacionadas aos ganhos e perdas que experimentamos, nos libertamos das amarras das limitações incutidas em nossos comportamentos “viciados” e que ocasionam respostas já conhecidas.
Ou seja, lamentamos não dispormos de total liberdade para colocarmos em prática o que desejamos. Contudo, muitas vezes nos escondemos em justificativas variadas e já conhecidas. Com isso, nos esquecemos de utilizar nossa criatividade em prol da amplitude de nosso rol de possibilidades em oposição à ampliação de nosso rol de explicações para justificarmos nossos dissabores. Portanto, distanciamos de nós a responsabilidade por nossos ganhos e perdas.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

12 julho 2013

PASSADO, PRESENTE E FUTURO

O filósofo Heidegger afirma estar, a angústia humana, no deslocar a atenção do presente. Ou seja, focalizamo-nos de modo exacerbado em situações passadas ou futuras. Isto é, segundo o filósofo, ao nos preocuparmos em demasia com o que já ocorreu ou com o que está por vir, experimentamos, portanto, a perda da liberdade de nossa existência. Especialmente ao ter em vista que, para ele, nossa liberdade consiste em ampliarmos nossas possibilidades diante das diversas situações vivenciadas por nós.
No processo de nos sentirmos estáveis acreditamos possuirmos total controle de nosso existir e negligenciamos o fato de sermos falíveis. Então, nos comportamos de modo a ignorar este fato e, por conseguinte, experimentamos uma ilusão de segurança não condizente com a realidade.
Como seres vivos que somos e dotados de um fim, faz-se essencial não nos mantermos concentrados no fim quando possuímos possibilidades de experimentar as possibilidades do existir. Contudo, no processo de nos mantermos estáveis e livres da angústia de tal possibilidade, em muitas ocasiões, colocamos em prática uma ocupação com situações as quais sua manutenção não estão ao nosso alcance. Especialmente as passadas ou futuras.
Tudo o que já ocorreu não é passível de mudança. Cabe-nos, apenas, a atenção ao que foi vivido para, assim, aprimorarmos nossas atitudes presentes baseados nas experiências passadas. Quanto ao que está por acontecer, podemos, a partir das experiências anteriores tentar a antecipação de suas consequências. E, então, antever os resultados de nossas ações, e nos possibilitarmos a oportunidade de aumentarmos o número de alternativas resultantes delas. Porém, nem assim, teremos total garantia desses resultados.
Então, quando nos tornamos demasiadamente ocupados com o passado ou com o futuro, experimentamos a angústia descrita por Heidegger, por não estar ao nosso alcance a possibilidade de amplitude de opções em torno delas. Desse modo, sofremos.
Por isso, se desejarmos amenizar nossas dores perante situações das quais não temos pleno controle, necessitamos exercitar a compreensão acerca delas para, então, mantermos nossa atenção voltada para as situações mais atuais e que possuam a alternativa de mudança. Assim, minimizamos a sensação de angústia e permitimos uma possibilidade de reflexão de modo mais ameno.
Com isso reduzimos as ocasiões em que experimentamos sensações desagradáveis e mal estares da atualidade como as síndromes emocionais diversas. E ainda exercemos, como destaca o filósofo Heidegger, todo o nosso potencial de liberdade ao ampliar nosso rol de possibilidades.


Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

05 julho 2013

DE OLHOS BEM... FECHADOS

A todo o momento nos envolvemos em situações diversas. E sempre temos um modo peculiar de compreender cada uma delas. Esse modo de compreensão consiste em um mecanismo particular do qual somos capacitados e que desenvolvemos ao longo de nosso existir, e o aprimoramos com o convívio nas diversas relações estabelecidas ao longo desse trajeto.
Contudo, não é incomum estabelecermos um entendimento distorcido da “realidade” presente em cada momento vivenciado por nós. Essa distorção pode ocorrer devido a várias circunstâncias. No entanto a que parece ser a mais negligenciada, é o olhar disponibilizado para elas.
Na evolução de nosso desenvolvimento como seres habilitados a relacionar-se, participamos de um processo, geralmente imperceptível, culminante em nossa capacidade de percepção de nós mesmos bem como do outro, que partilha os prazeres e dissabores dessa marcha.
Há muito se fala em inteligência e desinteligência. Muitas afirmações sobre as causas de uma ou outra apresentar-se de modo mais acentuado em uma ou outra pessoa também é muito discutido. No entanto, ao refletir-se a respeito de nossa capacidade de percepção do que se apresenta ao nosso “redor”, pode-se sugerir que a incapacidade em distinguir claramente as singularidades das situações diversas possibilita uma compreensão, no mínimo, errônea do que se apresenta para nós em determinado momento.  E, esse procedimento pode ser interpretado como uma limitação da capacidade de entendimento.
Ou seja, o olhar para os pormenores envolvidos nos processos aos quais estamos conectados, direciona nossa compreensão. Sendo assim, esse entendimento constitui-se em algo particular e privado. Porém, não isento de nos conduzir ao engano, que pode comprometer nossa razão e, assim, nossas decisões e atitudes.
Por isso, sempre que nos permitirmos a “abertura” de nosso olhar de modo a ampliar as perspectivas presentes em dado acontecimento, estaremos promovendo nosso desenvolvimento rumo ao próprio bem estar e crescimento pessoal. Então, cada ato nosso em prol de possibilitarmos a amplitude desse olhar, representa nosso empenho em função de nosso aprimoramento pessoal. E, esse proceder vai ao encontro da definição de liberdade oferecida pelo filósofo Heidegger, o qual afirma estar na amplitude do rol de nossas possibilidades a nossa condição de liberdade essencial.
Nesse caso, ao oferecermos a nós mesmos condições de auxílio no sentido de nos mantermos de olhos bem... abertos, tornamos possível, por conseguinte, o exercício da liberdade almejada por todos nós.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124