25 setembro 2017

ACERTANDO E ERRANDO LIVREMENTE

De acordo com determinado ponto de vista podemos compreender que alguém vive sob restrição de sua liberdade e não apenas a consequência de suas escolhas.

                
Desde muito cedo ouvimos a respeito de certo, errado e liberdade. Usualmente, constitui o certo algo que corresponda a ausência de erro, que esteja correto e que não ofereça dúvidas. Já o errado representa algo que não se apresenta em uma direção correta ou apropriada.

Tais definições nos levam ao alcance do conceito de certo e errado popularmente conhecido por nós. Concebe-se, ainda, que liberdade corresponda ao direito de agir de acordo com nosso livre arbítrio, com a nossa própria vontade e que não prejudique qualquer outro. Pode também configurar a sensação de não se depender de ninguém, ou ainda, termos como um direito sendo cidadãos corretos. Essas concepções correspondem àquilo que tradicionalmente se disseminou como sendo certo, errado e liberdade.  

Diversos pensadores, ao longo da história, abordaram esses conceitos de maneira a refletir sobre eles. Na filosofia, por exemplo, esse ponto de vista pode ser bem diferente. Para o filósofo existencialista Sartre, liberdade representa uma condenação para o homem, tendo em vista este ser, na verdade, condenado a ela. Pois, segundo ele, escolhemos mesmo quando acreditamos não estarmos optando por uma alternativa que nos tenha sido apresentada.

Heidegger,outro filósofo existencialista, nos diz que liberdade consiste em uma possibilidade para nós. Ou seja, podemos nos fazer livres à medida que nossas escolhas se apresentem libertas de determinações. Destaca ainda, que tais determinações podem estar calcadas em orientações externas a nós, porém, tangenciadas em nosso modo de ser.

Deste modo, se levarmos em conta essas concepções, podemos compreender liberdade, erro e acerto como conceitos um pouco mais flexíveis. Isto é, talvez o que seja adequado para um indivíduo pode não ser para um outro e deste modo, o certo se constitua em errado.

De acordo com determinado ponto de vista podemos compreender que alguém vive sob restrição de sua liberdade e não apenas a consequência de suas escolhas e vice-versa. Poderíamos, então, classificar erros e acertos na existência de alguém, quando, possivelmente o que se presencia é apenas uma das possíveis formas de se escolher?

Sendo assim, não podemos deixar de conceber ser possível mudarmos a direção de nossas escolhas de acordo com as possibilidades que se apresentam.  E, quiçá, possibilitarmos, inclusive, uma nova gama de alternativas possíveis. Talvez isso represente uma nova forma de se conceber erros, acertos e liberdade.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga – CRP 06/95124
E-mail – marciabcavalieri@hotmail.com


05 setembro 2017

VORAZ!! QUEM??


Em nosso existir podemos experimentar situações nas quais nos permitimos acreditar terem sido, elas, astuciosamente planejadas para nos frustrar e nos conduzir, assim, a uma situação de revolta

Não raro ocorre de nos sentirmos prejudicados ou experimentarmos a sensação de que o mundo nos negou algo. Nesse momento, se formos capazes de atentarmos para nosso proceder e darmos curso a uma pequena análise, incorreremos na possibilidade de localizarmos em nós mesmos uma das fontes de nosso mal-estar. No entanto, nem sempre estamos aptos a essa conduta.
Em nosso existir podemos experimentar situações nas quais nos permitimos acreditar terem sido, elas, astuciosamente planejadas para nos frustrar e nos conduzir, assim, a uma situação de revolta. Nesse caso, nos identificamos como alguém sofredor submetido a injustiças.
Melanie Klein, psicanalista, em seu livro “Inveja e Gratidão” define voracidade como uma ânsia impetuosa e insaciável. Nela o indivíduo, voraz, excederia o necessário, desejando além do que quem oferta pode ou está propenso a disponibilizar para nós. Podemos, então, a partir dessa definição, compreender sermos capazes de criar significado para o limite alheio como uma recusa em satisfazer nosso desejo, mesmo que ele seja permeado do excesso para aquele a quem direcionamos nossa “voracidade”.
Então, podemos nos identificar como vítimas numa ocasião em que isso não represente, necessariamente, uma realidade e procedermos em uma compreensão distorcida do limite do outro. Desse modo, entendendo o comportamento deste outro como sendo uma lesão que nos proporciona algum prejuízo.
Em algumas ocasiões pode ocorrer de amenizarmos nossos feitos reprimíveis e abrandarmos nossos comportamentos desagradáveis bem como ampliarmos nossa posição de sofredores. Porém, ao fazer uma reflexão, é possível o contato com os fatos ocorridos de modo mais claro. Assim, torna-se possível avaliar o todo de um modo límpido, para suceder a apropriação de informações mais plausíveis concernentes ao ocorrido.
Ao nos permitirmos tal comportamento, damos lugar ao exercício pleno de nossa liberdade, como difundida pelos filósofos Martin Heidegger e Jean Paul-Sartre, a qual nos permite ampliarmos nossas possibilidades e escolhermos dentre elas a que julgamos mais satisfatória aos nossos propósitos.
No entanto, nem sempre estamos dispostos em um investimento dessa magnitude e podemos optar por permanecermos vorazes. Mas, é importante a consciência da total liberdade de escolha que possuímos e da conseguinte condenação vinculada a ela: suas consequências. As quais somos impelidos sempre que optamos por algo.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124