26 abril 2013

INEVITÁVEL?


A todo o momento decidimos, isto é, escolhemos algo entre ao menos duas possibilidades. No entanto, a assunção do fato de escolhermos nem sempre está totalmente límpida para nossa consciência. O filósofo Jean Paul-Sartre afirma que nós escolhemos com maior frequência do que gostaríamos. Inclusive a quem questionarmos quando em dúvida a respeito de algo, pois, segundo ele, optamos por alguém o qual irá direcionar seu raciocínio em favor do que realmente desejamos.
Em muitas ocasiões torna-se confortável ou, ao menos “seguro”, relegarmos a outrem ou à circunstâncias alheias à nossa vontade, a responsabilidade por algo ter ocorrido de modo diferente do planejado por nós. Ou seja, não assumimos nosso envolvimento na decisão culminante de uma consequência não desejada por nós e, assim, nos isentamos da responsabilidade pela frustração subsequente.
Contudo, mesmo ao nos colocarmos em oposição ao fato de nosso envolvimento ser inevitável, ainda assim, em algum momento, necessitaremos lidar com as consequências. Portanto, ao nos negarmos em assumir um modo de lidar com o que “nos resta” protelamos, também, a possibilidade de vislumbrar alternativas diferentes das imaginadas por nós inicialmente. Pois, ao permitirmos um olhar direcionado aos fatos e ao seu alcance, nos posicionamos de modo a sermos capazes de entrever alternativas que poderiam ser consideradas inusitadas, mas que constituem, apenas, algo ainda não conjecturado.
Por isso, torna-se primordial nossa busca em nos conscientizarmos de nossa participação em nossas decisões. Pois, ao proceder dessa maneira, nos situamos como alguém possuidor da a possibilidade de opinar sobre si mesmo, e não alguém incapaz de ação própria e vítima das circunstâncias.
Ao adotarmos tal atitude estabelecemos nossa potencialidade em nos capacitarmos a conduzirmos nossas escolhas de modo a experimentarmos satisfação com elas. Poderemos, todavia, sofrer dores e frustrações com tal modo de proceder. Mas, também poderemos “descobrir” um limiar muito além do nosso suposto limite. E, igualmente, nos realizarmos, de modo inevitável, com tal conhecimento.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124




19 abril 2013

APARÊNCIA


Atualmente há uma movimentação quase generalizada em prol da aparência com demasiadas regras e padrões. O despertar de preocupações com peso, constituição de pele, cabelo, vestimentas, entre outros.  Contudo, em meio a esse rol de aspectos pode ser deixado de lado um importante fator referente a aparência: o olhar.
O olhar é permeado de significados. Ou seja, algo assume determinada qualidade, mais ou menos agradável, de acordo com sua representação para nós. Isso ocorre até mesmo com as tonalidades das cores que não constituem as mesmas para todos. Sendo assim, não se pode abandonar a ideia de que na busca de uma aparência a qual harmonize com nossas expectativas, é necessário atentarmos para a representatividade dela para nós ou para outrem.
Não é raro alguém insatisfeito com sua própria aparência buscar amparo na opinião alheia. Contudo, em muitas ocasiões, ocorre de predominar uma insatisfação pessoal um pouco além do próprio aspecto. Na busca de uma aparência “perfeita” nos esquecemos de cuidar de nossa essência e de buscarmos distinguir o que queremos.
Em muitas ocasiões somos envolvidos no “fluxo” no qual estamos imersos. E, diante de nossa rotina atribulada e de nossas necessidades pessoais, relegamos a um segundo plano o cuidado com quem somos e quem desejamos ser. Nos tornamos nossos piores algozes, avaliando, julgando e condenando a nós mesmos à parte de um critério mais “justo”. Proporcionamos, desse modo, um sofrimento, muitas vezes, dependente de nós para ser mitigado.
É de suma importância a satisfação consigo mesmo. Contudo, se faz ainda mais essencial a ciência de quem somos e do que tem real valor para nós. O que nos traz satisfação e até que ponto se faz necessário mudarmos ou não.
Toda mudança demanda iniciativa e empenho. Porém, envolve também a capacidade em suportar o abalo que ela traz consigo. No momento em que optamos por mudar algo em nós é necessário estarmos cientes de que ocorrerá um grande movimento ao nosso redor. Isto é, nosso deslocamento acarretará, no mínimo, estranhamento àqueles partícipes do nosso convívio.
Sendo assim, se faz essencial o cuidado com quem desejamos ser. Para, munidos do conhecimento de nossos desejos em relação a nós, possamos acionar os mecanismos necessários para a obtenção de nossa busca.
Por isso, se torna indispensável um olhar cuidadoso e atento para nossas particularidades e para quem somos. E, assim, nos habilitaremos a escolher a direção a qual desejamos seguir em prol do que designamos como importante para nós.
A noção de que quem somos e como somos está diretamente relacionada com quem desejamos ser e como expressamos quem somos. Dessa forma, quando nos dispomos a fazer uso de mecanismos os quais nos permitam nos conhecermos, nos tornamos, por conseguinte, um pouco mais libertos das amarras que as demandas as quais envolvem regras e padrões nos aprisionam.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

12 abril 2013

EVOLUIR


Heidegger, filósofo, afirma ser inapropriado o envolver-se em demasia com o tempo. Segundo o filósofo, o futuro, o passado e mesmo o presente são importantes na constituição de nosso modo de ser. O tempo presente assume função primordial em nosso existir. Entretanto, é de suma importância a condição de ser capaz de “movimentar-se” no tempo sem grandes perturbações.
Encontramos na sabedoria popular diversas afirmações que corroboram esse pensamento, e as quais salientam o quão importante é o cuidado com o tempo atual. Porém, sem desmerecer a importância das experiências passadas e, nem tampouco, negligenciar as possibilidades do por vir.
Contudo, um limiar, o qual pode permanecer despercebido por nós, envolve o que poderia ser nomeado de a “proporção adequada”. Isto é, quanto de nosso tempo é o ideal para nossas preocupações com o que se foi e o que está por vir tenha a função de contribuir para o nosso desenvolvimento e não interrompê-lo.
Valorizar nossas experiências passadas nos permite a possibilidade de um conhecimento que foi exercitado e, por isso, possui importante representação em nosso progresso pessoal. Isto é, o que já foi vivenciado torna possível um contato mais próximo com as suas consequências e, por conseguinte, possibilita uma “previsão” do que pode ocorrer ao proceder determinada escolha.
Já o envolvimento com nossos desejos futuros nos permite o planejar. Ou seja, a partir do conhecimento adquirido buscamos formas de nos capacitarmos para realizar tais planos.  Assim, se estivermos munidos da “capacidade de prever” consequências, que o conhecimento prévio pode tornar possível, os planos podem adquirir um delineamento mais adequado em prol de sua concretização.
No entanto, como “medir” o quanto de nossa energia é dispendida nesse processo? De qual forma podemos avaliar se nossas preocupações com passado e com o futuro estão em um patamar adequado para nossa evolução pessoal no presente?
Nem sempre consiste em uma tarefa amena o conhecimento acerca de limiares. O processo em adquirir conhecimento relativo a qualquer tema necessita nosso envolvimento de modo a nos apropriarmos das informações possíveis e disponíveis sobre ele. Então, torna-se indispensável as experiências para o planejar.
Talvez, uma maneira de avaliarmos o quanto de nossa “dedicação” é empregada em determinada ação, consista em avaliar como nos sentimos a respeito da mesma. É comum menosprezarmos nossas sensações, mas elas consistem em forte influência quando se trata de nosso desenvolvimento.
Então, ao considerar relevante o raciocínio de Martin Heidegger, a compreensão do que ocorre conosco relacionado ao nosso tempo, seja ele futuro, passado ou presente, assume extrema relevância para a compreensão em como estamos “localizados” em nossa existência: paralisados ou em evolução.
Pois, para este filósofo, quando focalizamos atenção demasiada em determinado “tempo”, nos colocamos na situação de “congelamento” no mesmo. Ou seja, deixamos de nos desenvolver rumo a um progresso pessoal, visto que direcionamos de forma exclusivista nossa energia e concentração.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

05 abril 2013

PRISÕES


Há várias formas pelas quais podemos estar aprisionados. Nossa prisão pode constituir em um lugar onde estamos “confinados”, ou pode ocorrer de este “lugar” representar apenas uma condição emocional na qual nos encontramos.
Esta condição pode estar pautada em algum tipo de relacionamento estabelecido com alguém ou conosco. O importante é nos permitirmos voltar nossa atenção para tal fato e, deste modo, instituirmos maneiras pelas quais nos habilitamos a mudar tal situação.
No entanto, uma mudança solicita de nós a conscientização de como estamos atualmente. Isto é, para sermos capazes de um movimento em uma direção diferente da habitual, precisamos nos posicionar de um modo a nos permitirmos o conhecimento acerca do que se apresenta com a possibilidade ou necessidade de mudar.
É comum inibirmos tal processo com justificativas variadas. E que, em sua maioria, constituem apenas em justificativas, as quais dissimulam nossas inseguranças e receios em relação à iniciativa necessária para encetarmos a trajetória rumo a um desenvolvimento, o qual nem sempre estamos propensos.
Contudo, ao nos rendermos às inseguranças experimentadas quando nos deparamos com a possibilidade do novo, procedemos como nossos próprios algozes e nos aprisionamos em situações as quais podem cercear nosso potencial.
Uma existência plena de realizações e satisfações não encontra contradições, quando lhe é disponibilizada situações que vislumbram uma condição a qual a realize. Ou seja, ao permitirmos que nossos “sonhos” sejam planificados, estes assumem contornos de realidade à medida em que direcionamos nossa energia para tal intento. Desse modo, iniciamos um processo no qual as amarras que nos aprisionam começam a se desfazer.
Entretanto, para alcançarmos tal estado é necessário delimitarmos os limites com os quais nos deparamos e, cientes deles, exercitarmos a sua flexibilização. Para, assim, assumirmos o domínio sobre as adversidades com as quais somos levados a lidar diariamente e que nos conduzem a um modo de agir que pode nos “aprisionar”.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124