27 dezembro 2013

FADIGA

Começa a contagem regressiva para a chegada do final de mais um ano.  Muitos afirmam não haver diferença no término de um ano, apenas mais um por e nascer de sol como outro qualquer. Entretanto, se levarmos em conta os diversos ciclos com os quais convivemos, podemos considerar o final de um ano um ciclo que se conclui e com isso, um novo ciclo que se inicia repleto de oportunidades, ou não.
Qualquer possibilidade de mudança que possa ocorrer está diretamente relacionada com nossa decisão nesse sentido, em nossa capacidade para finalizarmos ciclos e darmos início às novas empreitadas almejadas por nós. No entanto, quando da proximidade do final de um ciclo, seja ele qual for, pode-se experimentar uma derrocada de nossas forças.
A criança ao terminar o ensino fundamental pode experimentar expectativas relativas ao período de adolescência que se inicia. Assim como quando da conclusão do ensino médio pode haver, muitas vezes, o ingresso em um curso que os habilite a serem profissionais. E o ingresso na vida adulta, quando profissionais capazes da manutenção de seu próprio sustento, representa a conclusão de mais um importante ciclo de nosso existir.
Em todos esses finais as expectativas podem gerar ansiedades. Por isso, em cada remate pode ocorrer relativa fadiga. Isto é, algum cansaço aliado com o desejo de um descanso suficiente. Contudo, na maioria das ocasiões, nosso dia-a-dia não nos permite o descanso que consideramos o ideal.
Todavia, esse desconforto pode ocorrer devido ao fato de, em muitas ocasiões, não nos permitirmos conclusões aos nossos ciclos. Ou seja, carregamos conosco como que um lastro do que já foi vivido e não devidamente finalizado. Nesse caso, ao sentirmos que mais um ano se conclui, podemos nos permitir, junto a retrospectiva habitual, nos comprometermos com nossas conclusões de modo a nos permitirmos iniciar o novo ciclo sem lastros demasiados e que possam nos conduzir a “fadiga”.

Feliz Ano Novo.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

20 dezembro 2013

DIFICULDADE OU OPORTUNIDADE?

“Um monge e seu discípulo precisaram de hospedagem ao longo de sua viagem. Avistaram uma casa simples e foram atendidos em sua solicitação pelos donos dela. Durante a estadia notaram que a família vivia sob precária condição e que eles possuíam uma vaca da qual tiravam algum sustento. Ao amanhecer, antes de partir, o monge empurrou o animal em direção a um precipício levando-a a morte. O discípulo indignado solicitou uma explicação a qual o monge afirmou ser o comodismo o empecilho para o desenvolvimento daquela família. Alguns anos se passaram e o discípulo retornou ao local encontrando-o muito próspero. Ao questionar o proprietário este relatou que no dia em que eles partiram a vaca que possuíam havia sofrido um acidente que culminou em sua morte. Então, eles foram “forçados” a buscar alternativas para sobreviver, o que os levou ao progresso no qual se encontravam na atualidade.
No contato com essa história somos, geralmente, induzidos a buscar “vacas” em nossa existência. Entretanto, numa reflexão inversa pode ocorrer, nesse momento, de nos perguntarmos se não somos alguém que age como empecilho para o desenvolvimento de outrem. Isto é, somos a “vaca” na vida de alguém? Oferecendo uma situação cômoda que propicia a estagnação?
Nosso ser se constrói a partir do contato com o outro, sendo assim, nosso desenvolvimento pode ocorrer quando nos relacionamos. A referência recebida das relações às quais estabelecemos é sumamente importante para a definição de quem somos. Pois, as respostas que recebemos quando de algum comportamento nosso, indica, de certo modo, uma “direção” a seguir.
Não é incomum “impedir” a quem amamos de se desenvolver, em nome do que sentimos. Contudo, importante salientar a afirmação de Antoine Saint-Exupéryo, autor do livro “O pequeno príncipe”, que somos responsáveis por tudo o que cativamos. Isto é, as relações as quais estabelecemos, especialmente as permeadas de amor, nos torna, de algum modo, interligados às suas consequências. E, por conseguinte, corresponsáveis por elas.
Sendo assim, em algumas ocasiões, podemos experimentar a necessidade de atitudes as quais nos levem a vivenciar algum tipo de sofrimento e até mesmo dúvida. No entanto, algumas vezes necessitamos assumir uma decisão que pode culminar em relativa dor para todos os envolvidos, mas a qual se apresenta como sendo a opção mais adequada e necessária para o desenvolvimento de todos.
Se nos lembrarmos que tudo o que foi cativado por nós tornou-se, de certa forma, interligado ao nosso destino, e se desejarmos experimentar bem estar e tranquilidade, havemos de agir de modo a possibilitar um resultado com maior possibilidade de acerto. Basta, então, assumirmos as responsabilidades as quais são relacionadas a nós, ao nosso modo de agir e às consequências correspondentes.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

13 dezembro 2013

EMOÇÃO COLETIVA


A rotina do dia-a-dia vivida o ao longo do ano assume uma outra roupagem quando da proximidade das comemorações Natalinas.  Algumas emoções pertinentes a esse período tornam-se, de certo modo, coletivas. Ou seja, a grande maioria das pessoas veem-se envolvidas nas alegrias e esperanças que tangenciam esta época do ano.
Isso ocorre por várias razões, e para cada um há um motivo em especial. No entanto, podemos levar em conta alguns fatores para “especular” sobre o que ocorre com a maioria.
Heidegger, filósofo, afirma que nos apegamos à rotina para nos desvencilharmos da lembrança de sermos mortais. Isso ameniza nossa angústia sobre a certeza de um fim inevitável. No entanto, torna-se um problema quando nos envolvemos na rotina a tal ponto que nos iludimos sobre a certeza da “imortalidade” a qual é irreal.
Vivemos num momento social onde há uma grande ausência de significados. Isto é, na ânsia de nos envolvermos com a rotina que nos “acalma” em relação a nossa finitude, também nos permitimos envolver pela solicitação social do possuir.
Zygmunt Bauman, sociólogo, destaca vivermos um momento de praticamente total liquidez, especialmente das relações. O consumo de tudo, inclusive dos relacionamentos, nos leva a experimentar uma falta a qual não somos capazes de sanar.
Então, talvez a esperança e as emoções coletivas se manifestem de modo tão acentuado nessa época de festividades devido ao fato de o comprar ter um significado diferente do simples possuir. Pois, em sua maioria, representa a tentativa em agradar alguém.
O presentear, em um primeiro momento, significa que nos “pré-ocupamos” com alguém ao ponto de buscarmos algo que possa deixar esse alguém feliz. Tal comportamento nos aproxima da essência de nossa existência a qual consiste em nos relacionarmos uns com os outros de modo pleno.
Desse modo, um período em que somos levados a olharmos uns para os outros de uma maneira diferente da habitual, nos proporciona também o contato com emoções as quais passam despercebidas na rotina do dia-a-dia. E isso traz à tona esperança e emoções adormecidas que, por apresentarem-se de modo tão intenso, tornam-se quase que coletivas.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124



06 dezembro 2013

EMPATIA

Nos ditames da contemporaneidade um dos pontos altos consiste na individualidade. Somos responsáveis por nossas escolhas e suas consequências e isso nos possibilita certa independência. Contudo, alguns “exageros” podem ocorrer e mesmo algo salutar, quando em quantidade imoderada, pode tornar-se letal.
Zygmunt Bauman, sociólogo, afirma vivenciarmos o que ele nomeia hiperindividualismo. Isto é, segundo o autor, alcançamos um ponto tal do individualismo que se houver um incêndio próximo a nós, mas ninguém de nossas relações correr risco, não nos perturbamos.
Na contrapartida do exagero que pode ocorrer em relação ao individualismo há a empatia, ou seja, sentir como se estivéssemos na situação e circunstâncias experimentadas por outra pessoa. Contudo, esse “habilidade” tem sido deixada de lado em benefício da preocupação em demasia consigo mesmo.
Ao nos preocuparmos excessivamente com nosso próprio bem estar, incorremos no risco de desenvolvermos um modo de ser o qual pode até negligenciar a existência do outro. Ou seja, praticarmos uma forma de nos relacionar desconsiderando que aqueles que compartilham algum espaço conosco também possuem desejos e sentimentos.
Nesse caso, torna-se importante o exercício da empatia. Pois, ao possibilitar nos imaginarmos no lugar do outro e tentarmos compreender o que ele sentiria em uma situação específica, pode dar início a um contato mais autêntico.  Algo um tanto “fora de moda” nos dias atuais.
Nosso modo de ser pode permear as lamúrias em relação às lesões que, de algum modo, podemos sofrer quando nos relacionamos. No entanto, se colocarmos em prática a empatia, pode ocorrer de nos surpreendermos em relação ao número de ocasiões em que lesamos sem nos darmos conta disso.
Por isso, ao optarmos em nos comportarmos diferente do rotineiro, isto é, voltarmos nossa preocupação não somente para o que concerne ao nosso bem estar, mas daqueles que convivem conosco também, corremos o risco de aprimorarmos nossas relações diversas. E, desse modo, experimentarmos a troca que todo relacionamento proporciona, mas da qual nos privamos quando voltamos, em demasia, nossa atenção para nós mesmos.
Nesse caso, ao exercitarmos nos “aproximar” do outro ao ponto de nos capacitarmos a entender o que ele sente, especialmente através da empatia, podemos possibilitar a nós mesmos a oportunidade de relacionamentos mais satisfatórios e, que nos complementem de modo a experimentarmos uma sensação de realização mais a contento.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124