26 outubro 2012

FERRAMENTAS ÚTEIS


Desde a idade média buscam-se receitas prontas com instruções a serem seguidas para nos garantir a obtenção de determinado resultado. Seja este no âmbito pessoal ou material. Esquecemo-nos, no entanto, que toda aquisição ou conquista demanda nosso próprio envolvimento, bem como a disposição em investir nosso potencial na empreitada em questão.
No momento social atual, ocorre uma grande movimentação para que os resultados sejam obtidos instantaneamente. O cogitar a respeito da necessidade em exercitar algum tipo de comportamento para que algo seja conquistado, representa um investimento de tempo e disposição dos quais nem sempre estamos dispostos a conceder.
Desse modo, a busca frenética de ferramentas indicadoras de como adquirir algo, torna-se uma atividade trivial. No entanto, ao se pensar em atingir algum tipo de resultado ou conquistar algo que desejamos, é necessário estarmos atentos aos pormenores envolvidos no processo, inclusive as minúcias relacionadas à nossa própria posição diante dele.
Porém, conhecer nossas particularidades, isto é, permitirmos nos envolver em um processo para culminar em um autoconhecimento amplificado que, ainda, nos possibilite anteciparmos com maior eficiência o que desejamos e como seremos capazes de obter tal objetivo, nem sempre constitui nossa prioridade.
 Contudo, vivemos em uma época na qual se busca tudo o mais pronto possível, sem demandar o mínimo de nosso esforço pessoal. A simples sugestão do exercitar algum comportamento ou atitude, em um primeiro momento, assume a posição de algo dispendioso de tempo e energia o qual pode não proporcionar o resultado esperado.
Sendo assim, assume extrema importância nos permitirmos algum tempo destinado a reflexões acerca de nossas minúcias. A fim de nos habilitarmos ao processo do conhecimento de nós mesmos. E, quiçá permitirmos, por fim, o amparo de alguém que nos possibilite o ampliar nosso olhar para tal possibilidade.
Em um período no qual o individualismo se faz primordial, nos esquecermos de que somos seres que se constroem e se desenvolvem quando acompanhados torna-se algo comum. Então, talvez a ferramenta mais útil para nosso desenvolvimento pessoal seja a permissão das companhias que permitem o feedback daquele que nos vê com um olhar diferenciado do nosso. Assim, haverá maior possibilidade de nos oferecer a oportunidade de enxergarmos a nós mesmos sob uma perspectiva diferente.
Se tal ferramenta constitui a “receita” para algumas dificuldades experimentadas não é possível afirmar. No entanto, ao nos permitirmos estarmos acompanhados, ou seja, dividindo nossos sentimentos, dores e alegrias, nos aproximamos do pensamento do filósofo Heidegger, o qual afirma ser necessário ampliarmos nosso rol de possibilidades para, então, experimentarmos a liberdade a qual somos herdeiros.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

19 outubro 2012

PADRÕES


As condições de vida atual nos permite contato com as mais variadas informações. Bem como o acesso a itens de consumo inimagináveis há alguns anos. Toda essa evolução nos permite progressos e conquistas nem sequer sonhadas em um período anterior a essa acessibilidade.
Juntamente com o acesso a bens de consumo e informações, há também a proximidade junto ao conhecimento acerca de diversos assuntos e temas nos seus mais complexos detalhes. Necessário é apenas estarmos interessados. 
Atrelado a toda essa facilidade o contato com padrões estabelecidos também se torna uma constante. Estereótipos e expectativas sociais quase nos aprisionam em um modo de ser e de conviver “padronizado”, sem oferecer espaço para surpresas.
Por conviver com tudo isso nos tornamos, em não raras ocasiões, confusos quanto a quem somos e ao que realmente queremos. Isto é, não nos sentimos totalmente seguros acerca de nossa busca constituir o que de fato nos completa.
Pode ser identificado um ritmo semelhante em todo processo de desenvolvimento pessoal, o qual culmina em uma direção análoga. E, quando alguém decide ter um comportamento ou uma decisão diferente do “comum”, experimenta certo desconforto em relação aos seus companheiros. Esse fato pode se tornar crítico, fazer com que, em algumas vezes, o retorno ao ponto comum, para não sofrer a “discriminação”, torne-se uma alternativa muito atrativa.
Ao se deparar com desejos e anseios os quais nos levam a experimentar alguma aflição, talvez, seja o momento de refletir acerca deles. Para depois averiguar se nos “pertencem” ou se constituem apenas solicitações sociais com as quais nos deparamos, mas nem sempre nos apresentamos aptos a discernir.
Sendo assim, toda ferramenta útil no sentido de nos possibilitar um autoconhecimento mais específico e acurado, torna-se indispensável nos dias atuais quando a velocidade tornou-se a característica mais presente.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

12 outubro 2012

VERDADE


Há algum tempo, em um desenho dirigido a crianças, um pai tentava ensinar à filha pequena a necessidade de sempre se dizer a verdade. No entanto, com essa afirmação a criança deu início a um verdadeiro bombardeio sobre as verdades observadas, atingido a todos que se aproximassem dela. O pai viu-se, portanto, com a necessidade de orientar sua filha em como “usar” a verdade.
Fica então uma questão: há como “administrar” a verdade? Elisabeth Kübler-Ross, em seu livro “Morte e Morrer”, afirma ser a verdade sempre a melhor opção. Então, constituindo a melhor opção como inseri-la em nosso dia-a-dia de modo a não ferir quem nos cerca?
Não são poucos os momentos em que nos deparamos com algo a ser dito, no entanto, não sabemos ao certo como proceder à abordagem. Há afirmações no sentido de ser necessário aguardar o momento adequado, para que o objetivo seja atingido e para que a verdade não seja uma arma empunhada. Ou seja, atentar para a oportunidade em que o que será dito não seja interpretado de um modo diferente daquele desejado por nós.
No entanto, como proceder quando a verdade a ser exposta diz respeito a nós mesmos. Isto é, quando o que precisa ser “dito” tem a necessidade de ser revelado a nós e por nós? Essa não é uma tarefa simples. Nem sempre estamos capacitados a conhecer nossa própria verdade.
Não atentando para o que realmente ocorre conosco nos envolvemos na ilusão. E permanecemos imbuídos da ilusão, distorcemos nossa percepção a nosso respeito cerceando, assim, nossas possibilidades de desenvolvimento pessoal, o qual permitiria o estabelecimento de relações mais satisfatórias.
Ao se falar em relações satisfatórias somos levados a pensar em relações com outras pessoas. Contudo, não podemos nos esquecer de que estabelecemos relações com tudo o que nos cerca, sejam seres vivos ou não.
O relacionar-se com tudo e com todos nos é permitida a conquista da sensação de satisfação ou de frustração. Então, ao conhecer nossas verdades, sejam elas agradáveis ou não, nos permitimos uma chance de experimentarmos tal satisfação, a qual pode culminar na experiência de tranquilidade tão almejada nos dias atuais.
Por isso, assume grande importância a busca de maneiras para possibilitarem nosso conhecimento acerca de quem somos. Porque pode oferecer algum sentido ao pensamento da autora citada anteriormente quando afirma ser a verdade sempre a melhor opção.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

05 outubro 2012

NÓS CONOSCO


Daria Knoch, professora na universidade da Basiléia na suíça, e Gastian Schiller, doutorando na mesma universidade, argumentam em um artigo sobre a possibilidade de um bom amigo ter traído sua confiança. Eles destacam que em caso afirmativo se esse acontecimento pode ter conduzido você a ter exposto a ele claramente sua opinião ou talvez tenha até terminado a amizade. Questionam, ainda, se ocorreu de nos irritarmos ultimamente com uma multa por ter dirigido rápido demais na estrada.
Knoch e Schiller evidenciam que quando desrespeitamos regras podemos ser punidos pelas pessoas à nossa volta ou por instituições públicas. Por esse motivo quase sempre respeitamos as normas e controlamos impulsos egoístas para evitar sanções. Isto é, nos protegemos de possíveis punições que nossos atos possam provocar.
No entanto, como procedemos quando essas regras são especificamente nossas? Ou seja, quando nossas “regras internas” é que estão sendo violadas? Todos nós temos um “jeito” de agir diante de cada situação, das mais simples às mais complexas. Seja uma questão entre escolher a cor de uma blusa nova, ou entre uma profissão ou outra; ou mesmo se decidimos por algo o qual pode ferir ou decepcionar alguém.
Todos nós possuímos nossas “próprias regras” às quais nem sempre prestamos muita atenção. Somos “conduzidos” por elas sem atentarmos para como isso ocorre. Contudo, sobrevém que em alguns momentos nos deparamos com determinada situação na qual nos prejudicamos ou sofremos em consequência de nossos atos. Se nesse momento entendermos que violamos alguma regra particular nossa, podemos exercer um papel punitivo contra nós mesmos. Essa punição pode ser um lamento, ou algo mais forte e sutil, o qual podemos não nos dar conta de imediato.
Contudo, nem sempre esse processo se sucede de um modo límpido para nós. É comum nos “ferirmos” de uma forma tão hábil a ponto de não percebermos tal atitude. A espera de uma sanção, quando violamos uma regra geral, também ocorre quando essa transgressão ocorre em âmbito mais privado. Isto é, nosso modo de conduta nos faz, de algum modo, compreender nosso erro e, assim, nos coloca na expectativa das consequências.
Se a regra violada é de fórum particular, pode ocorrer de sermos nós os únicos a ter conhecimento da “infração”. Entretanto, isso pode não ser o suficiente para nos confortar ou para amenizar nosso “próprio” julgamento a nosso respeito. Nesse momento pode entrar em ação um processo o qual culmine em algum tipo de constrangimento para nosso bem estar geral, seja esse físico ou emocional.
Então, se nos permitirmos um cuidado pormenorizado de nós para conosco, envolvendo uma maneira de nos conhecermos de modo mais acurado, podemos nos aproximar da compreensão de nossas “regras” pessoais. E, assim, sermos capazes de lidar com nossas “infrações” de modo, ao menos, mais “justo”, ou menos intransigente. E assim proporcionar uma relação saudável entre nós e nosso modo de ser.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124