26 dezembro 2014

10, 9, 8, ... 1!!!

É comum ao chegarmos ao final de um ano iniciarmos uma pequena, ou grande, retrospectiva a respeito do que se passou durante o ano que finda. Lembrarmos algumas “promessas” feitas ao início do mesmo. Não raro, também, é nos decepcionarmos com a lembrança de alguns resultados, mas também, ficarmos contentes em rememorarmos as conquistas obtidas.
Para algumas pessoas esse rememorar pode ser mais doloroso e para outras nem tanto. Certamente o fator relativo a um maior número de sucessos tem relação direta com esse sentimento. Mas será que é possível olhar para esses fatos de modo a esse momento não ser tão penoso?
Sempre ao término de um ano, ou qualquer outro ciclo, seja um curso, ou um período da vida como quando deixamos de ser crianças para nos tornarmos adolescentes/adultos, ou seja, ao término de um ciclo é natural experimentarmos uma sensação de alívio por concluirmos algo. Porém, essa sensação pode vir acompanhada também de tristeza. Pois, a conclusão de algo significa também o seu fim. Nem sempre nos atentamos para isso, mas é uma sensação semelhante de quando precisamos lidar com a morte.
Para um novo ano nascer o velho precisa morrer. Para o adolescente surgir a criança precisa morrer. Para uma vida nova surgir a antiga precisa morrer. E assim por diante. A questão é, que ao olharmos para nossas perdas e ganhos ao realizarmos uma retrospectiva, se o fizermos com a lembrança da necessidade de algo morrer para dar lugar ao novo, poderemos experimentar uma sensação diferente no que diz respeito, especialmente, às nossas perdas. Ou mesmo às situações sem uma conclusão que nos satisfizesse plenamente.
Alguém comentou não encontrar sentido nos ciclos de semanas, meses e anos que estabelecemos, pois todos os caminhos levam a um mesmo fim. Esse alguém referia-se à velhice ou mesmo à morte. Mas se nos focalizarmos somente nesse fim será que seremos capazes de apreciar ou mesmo perceber a jornada até ele?
Dificuldades, dores e perdas sempre haverá, mas as alegrias, ganhos e facilidades também. O importante é ao finalizarmos um ano conseguirmos nos envolver em esperança. Mesmo que esta não dure muito tempo, mas o suficiente para nos levar a fazer novos planos e novas promessas. Para permitir mantermos nossas possibilidades em aberto de modo que nosso existir não se torne estagnado e sem um sentido.
Uma definição que pude rever a pouco tempo afirma que é loucura fazer algo da mesma maneira, repetidamente, e esperar um resultado diferente. Então, que o final de 2014 seja repleto de lembranças boas e ruins. Porém, que elas possam ser a alavanca para novas decisões e levar-nos a, em 2015, arriscarmos outros caminhos. E, assim, podermos ter a oportunidade de experimentar outros resultados, se não melhores ao menos diferentes.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

19 dezembro 2014

NATAL

Alguém comentou que neste ano está estranho esse período de festas. Estávamos a seis dias do Natal e ela dizia que as pessoas estavam as mesmas, isto é, não haviam mudado seus compromissos rotineiros e nem sequer preparavam-se para grandes viagens ou comemorações.
Em um tempo em que muitas informações estão disponíveis, há quem afirme que não há sentido em se comemorar o Natal ao ter em vista o aniversariante não ter nem nascido essa época. Ou seja, temos acesso a informações cada vez mais precisas. E que desmentem muitos fatos tornando-os dispensáveis ou sem sentido lógico.
Porém, vivemos também em uma época em que algo parece sempre faltar. Estudiosos atentam para fatos diferentes na tentativa de explicações e justificativas para tais sensações. Mas a questão é: o que falta?
Não raro é experimentarmos, vez ou outra, uma sensação de vazio, de carência que nem sempre somos capazes de identificar a origem. Buscamos deixa-la de lado, “escondida” em algum lugar onde, com o tempo, seremos capazes de esquecer e assim continuar a viver.
Será isso o suficiente? Continuar vivendo carente de emoções pode tornar-nos indiferentes pelo simples hábito de buscarmos a indiferença. Nos habituarmos a não permitir sentimentos que nos remetam a pesares ou a sensações as quais nos façam parecer  humanos, pode ter um alcance inesperado e até indesejado. Podemos nos tornar alheios às emoções desagradáveis. Mas também podemos permanecer indiferentes a tudo ao nosso redor e, assim, experimentarmos a sensação de um vazio de uma busca sem nem sabermos o que é procurado.
Em um livro há um episódio no qual um piloto sofre um acidente em uma montanha coberta de gelo. Ele sobrevive e sabe que para continuar vivo precisa permanecer em movimento. Deste modo, coloca-se a andar por mais de três dias. Quando não aguenta mais tem o impulso de parar e deixar o gelo fazer seu trabalho. Porém, ao lembrar-se de sua esposa imagina a decepção dela ao saber de sua desistência e isso o faz continuar.
Ao longo do tempo enquanto espera o salvamento, esse piloto consegue manter-se em movimento. Buscar a cada momento um sentido diferente para continuar. Estudos afirmam que um animal, por ser irracional, teria mais chances de sobrevivência por guiar-se somente por instintos. No entanto, esse episódio nos mostra exatamente o oposto. Por sermos racionais, seres sentimentais e emocionais, temos um “quesito” o qual nos permite buscarmos em nós mesmos forças para continuar.
Então, se nesse período de Natal o impulso de sentir desânimo se fizer presente, uma alternativa é buscar sentidos para continuar... Nem sempre constitui tarefa fácil essa busca de sentido que permita a força para continuar. Porém, em uma época de tantas carências, será que não vale a pena investirmos em sentimentos adormecidos que permitam experimentar sensações que nos levem ao menos a certeza de estarmos vivos?
Que neste Natal tenha início uma busca incansável e duradoura.

Feliz Natal!

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

Email: marciabcavalieri@hotmail.com

12 dezembro 2014

PREOCUPAÇÃO

Há algum tempo alguém contou uma pequena história sobre o preocupar-se. Dizia ele que em nossa vida temos apenas duas coisas para nos preocuparmos: seremos bem ou mal sucedidos?
Sendo bem sucedidos não nos resta nada com o que nos preocuparmos, mas se formos mal sucedidos teremos de nos preocupar com apenas duas coisas: teremos saúde ou ficaremos doentes?
Se tivermos saúde, novamente, não teremos motivos para preocupações, mas se ficarmos doentes nos restam apenas duas preocupações: alcançaremos a cura ou morreremos? Se nos curarmos não temos nada com o que nos preocuparmos, mas se morrermos, novamente nos resta duas preocupações: iremos para o céu ou para o inferno?
Então, segundo esse alguém, se formos para o céu não nos resta mais preocupações. Porém, se formos para o inferno estaremos tão ocupados cumprimentando os muitos amigos que encontraremos por lá que não nos restará tempo para futuros aborrecimentos.
Partindo desse ponto de vista, ou seja, o de preocupações significarem um gasto de energia que talvez não nos leve a nenhum progresso, interessante seria avaliarmos quais as nossas reais preocupações. Isto é, com o que nos pré-ocupamos em lugar de nos movimentarmos rumo ao nosso desenvolvimento.
Muitas vezes nos “prendemos” a situações que não permitem uma solução no momento presente. Podemos, também, nos ocuparmos de situações passadas impossíveis de serem modificadas por estarem finalizadas, o que nos resta, então, é lidar com as consequências que emergiram. Ou ainda, nos ocuparmos com situações possíveis e hipotéticas e das quais não temos como ter uma prévia absoluta de como irá ocorrer.
Sempre ao nos mantermos atentos, em demasia, nas situações que não se encontram no presente, corremos o risco de interrompermos nosso desenvolvimento, não percebendo as possibilidades que surgem. O único momento em que podemos, de fato, agir é no presente e ao nos conscientizarmos disso ampliamos nossas chances de focalizarmos nosso olhar para situações as quais podemos, certamente, interferir.
Acreditar que podemos mudar o passado, ou mesmo, controlar o futuro, representa uma ilusão que nos impede o movimento rumo ao crescimento e às conquistas pessoais. Então, nos desconectarmos das ilusões pode significar a possibilidade de encontrarmos alternativas variadas para as situações que realmente solicitem nossa atenção no “presente”.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124




05 dezembro 2014

INDIVIDUALIDADE X INDIVIDUALISMO

Em tudo há uma medida em que, quando ultrapassada, pode assumir uma característica nociva. É de suma importância cuidarmos de quem somos de um modo ativo. Assim, constitui algo salutar o nosso cuidado conosco de modo a preservarmos nossa individualidade. Pois, dessa forma, minimizamos o risco de nos perdermos quando envolvidos com algum sentimento que poderia reduzir a transparência de nossa personalidade.
Entretanto, é necessário atentarmos para o fato de que vivemos em grupo, e precisamos uns dos outros para que tenhamos um referencial o qual nos permita identificarmos, com clareza, quem somos.
O individualismo constitui, filosoficamente, uma doutrina ou atitude que considera o indivíduo como a realidade mais essencial ou como o valor mais elevado. Assim, cada um que faz parte de uma sociedade tem um papel relevante nela.
O sociólogo Zigmunt Bauman chama a atenção para o fato de o momento social atual tanger o que ele denomina Hiper-individualismo, que segundo o sociólogo, constitui um comportamento no qual o que não me atinge particularmente não consiste em algo da minha realidade,  não necessitando, por isso, do meu cuidado e atenção. Desse modo, incorremos no risco de agirmos como se o outro não possuísse representação significante em nosso existir.
Esse modo de agir pode explicar o fato de presenciarmos comportamentos diversos os quais nos convidam a refletir sobre o egoísmo e o egocentrismo. Isto é, um modo agir como se nada mais fosse importante do que o bem estar próprio e individual.
Contudo, é bastante comum presenciarmos fatos ou afirmações as quais nos permitem observar atitudes as quais lesam ou ao menos melindrem, de algum modo, o outro. Tal comportamento pode induzir a um pensamento pessimista em relação à nossa sociedade atual. Porém, se nos propusermos a cuidar de nós de modo a conhecer nossos potenciais e limites, poderemos nos habilitar, por conseguinte, a perceber de uma maneira mais eficiente o outro e seus sentimentos e desejos.
Por isso, ao nos movimentarmos em prol de nossa melhoria, poderemos, na mesma medida, aprimorarmos os relacionamentos diversos pertinentes ao nosso dia-a-dia e, assim, proporcionarmos um movimento mais amplo no sentido de um desenvolvimento coletivo.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga – CRP 06/95124

E-mail – marciabcavalieri@hotmail.com