27 novembro 2016

QUERO UM PRESENTE OU UMA ENCOMENDA?

A busca pelo presente “perfeito” envolve certa observação. Isto é, por um breve espaço de tempo a pessoa que desejamos presentear torna-se alvo de nossa atenção de um modo diferente do habitual

Presentear é uma tradição e seu significado varia imensamente. Atualmente o ato de oferecer um presente tem adquirido várias conotações às quais, nem sempre, compreendemos integralmente.
O dicionário Aurélio traz a seguinte definição para a palavra presentear: dar presente ou dádiva a; mimosear com presente; brindar. E presente é: o que se oferece com o intento de agradar, retribuir ou fazer-se lembrado; brinde, dádiva, lembrança, mimo, regalo. O que ocorre no processo de presentear nos dias atuais? Conseguimos agradar aqueles a quem nos dispomos a oferecer um mimo?
A busca pelo presente “perfeito” envolve certa observação. Isto é, por um breve espaço de tempo a pessoa na qual desejamos presentear torna-se alvo de nossa atenção de um modo diferente do habitual. Suas preferências em relação à cor, objetos pessoais, hábitos, entre outros assumem destaque para nós e, por determinado período nosso pensamento é tomado, quase totalmente, por esse alguém. Finalizamos esse processo com a aquisição do objeto que, esperamos, irá alcançar o objetivo de agradar.
Sendo assim, ao receber seu mimo, o presenteado poderá experimentar a satisfação de saber que, por um momento, foi destaque no pensamento de quem lhe ofertou o agrado.
No entanto parece que esse significado do ato de presentear tem permanecido a deriva. Nas trocas de presentes atuais ocorre, inclusive, buscar-se saber o que a pessoa deseja, mas de outro modo. Criam-se listas ou caixas com papéis, ou mesmo trocas de mensagens em redes sociais, para serem descritas as possibilidades do que se quer “ganhar” como presente. Ou seja, faz-se uma “encomenda” e impede-se a possibilidade de “ocupar-se” daquele a quem se deseja presentear.
Então, ao receber a “encomenda” a expectativa da surpresa fica impedida. Apenas uma pequena dúvida: será que é o que “pedi” ou não? Desse modo, a oportunidade da surpresa fica destruída. Tudo fica previsível e “sem empolgação”. Nesse momento pode-se experimentar um sentimento de desconforto, devido à mudança de sentido que ocorre ao presentear-se dessa maneira.
Porém, se atentarmos para o significado do ato de dar e receber um presente poderemos retomar o sentido de “mimosear” alguém. E, assim, ao recebermos ou oferecermos um mimo, não estaremos interessados no que contém o embrulho, mas no que ele representa.
Tal iniciativa pode nos levar a experimentar sensações há muito esquecidas, como a surpresa ao receber um embrulho e não se fazer ideia alguma de seu conteúdo. Ou mesmo a satisfação em não se importar com o que o pacote envolve, mas seu significado, como a atenção e carinho daquele que nos presenteou.
É comum a afirmação de ser muito difícil proceder a mudanças em hábitos adquiridos e isso está correto. No entanto, difícil não significa impossível. É necessário apenas o desejo e a iniciativa. Então, que o desejo de presentear possa nos levar a iniciativa de agir diferente do habitual. E, buscarmos surpreender ao presentearmos alguém, para oferecermos a nós a possibilidade de experimentar uma sensação diferente nesse ato.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


18 novembro 2016

QUAL A RECEITA CONTRA A DEPRESSÃO E O ESTRESSE

Certamente todos nós gostaríamos de uma “receita” com alguns tópicos que garantissem a salvaguarda de nosso bem estar e equilíbrio.

Chamou-me a atenção uma reportagem num jornal referente ao aumento de afastamento do trabalho por motivo de depressão e estresse.  Vários aspectos são abordados no decorrer da mesma, e um ponto importante é o fato de ser considerado como algumas das causas desse aumento o acesso a informações variadas devido à globalização, a exigência de resultados sobre-humanos por parte dos empregadores e a competitividade.
 Se procedermos a uma breve reflexão entenderemos que as causas sugeridas são coerentes e, o mais importante, preocupantes. O que fazer a esse respeito? Isto é, se o estresse e a depressão estão sendo diagnosticadas com maior frequência e suas causas parecem relacionadas ao dia-a-dia atual, como podemos nos “proteger” desses males?
Certamente todos nós gostaríamos de uma “receita” com alguns tópicos que garantissem a salvaguarda de nosso bem estar e equilíbrio. No entanto, ela não existe. O que nos resta é buscar formas para encontrar esse equilíbrio com nossos recursos disponíveis.
Se esperarmos que alguém, além de nós mesmos, tenha alguma atitude, podemos não “sobreviver” o tempo suficiente para usufruirmos dos resultados. Então, cabe a nós a iniciativa para que os cuidados conosco sejam garantidos.
Vivemos um período em que a satisfação pessoal duradoura fica em um segundo plano e no ambiente de trabalho não é diferente. Ansiamos por prazeres imediatos e não os duradouros. O momento atual assume o valor de “o mais importante” e isso nos leva a diversos comportamentos que podem nos lesionar em longo prazo.
Juntamente com a justificativa da competitividade deixamos de lado a fidelidade com nossos princípios ou mesmo com um amigo. Porém, o mais importante é que deixamos de lado, também, a atenção ao nosso bem-estar.
Esquecemo-nos que tão importante quanto o sustento do nosso corpo é preciso também alimentar a “alma”. Ou seja, ao nos violentarmos nos comprometendo com algo o qual não nos traz satisfação pessoal duradoura, impomos a nós mesmos um dia-a-dia de sofrimento contínuo.
Certamente pode-se afirmar que as compensações justificam tal sofrimento. Contudo, é importante avaliarmos se realmente são “compensatórias” ou se apenas respondem às solicitações do mundo, em contradição com o nosso real desejo.
Muitas vezes deixamos de lado nossas questões pessoais importantes para responder aos apelos sociais. Se tentarmos um movimento contrário, ou seja, se buscarmos nos conhecer ao ponto de sermos capazes de identificar o que nos fere, poderemos nos proteger com maior eficiência. Inclusive em situações de trabalho as quais podem culminar em estresse ou depressão. Isto é, situações que nos deixam exauridos de nossas forças e disposições e extremamente entristecidos com o rumo que nossa existência assumiu.
Então, ao cuidarmos de nosso bem-estar nos permitindo o “auxílio” necessário, poderemos, como consequência, aprimorar nossa eficiência. E, por conseguinte, os resultados gerais de nossos compromissos, sejam estes sociais ou profissionais, também sofrerão mudanças com esse cuidado.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

11 novembro 2016

COMO MUDAR O "STATUS QUO"

O “cair em si” pode ocorrer de modo aleatório e surpreendente. Ou podemos experimentar a busca por um olhar diferenciado para eventos rotineiros.

Muitas situações podem ser aquelas que irão proporcionar alguma mudança em nosso jeito de ser e de viver. Na bíblia temos a história do filho pródigo o qual em determinado momento “cai em si” e pondera suas decisões. Certa ocasião um conhecido contou sobre a experiência de alguém ao experimentar extremo desânimo pela vida e desejando seu término ardentemente. No entanto, quando ele se deparou com um parente em seus dias finais desejando exatamente o oposto, isto é, continuar a viver, pôde experimentar o “cair em si” e retomar sua satisfação em estar vivo.
Do mesmo modo podemos ser surpreendidos com algum “insight” proporcionado por certos eventos. Porém, ao nos lembrarmos do filósofo Heidegger e de sua afirmação de sermos livres para ampliar nosso rol de possibilidades, podemos entender ser possível a nós mesmos a busca desses eventos. Sair da condição de espera por algo que nos surpreenda e nos tire do ritmo no qual estamos seguramente envolvidos e acostumados.
Nos envolvemos em nossa rotina e nos acontecimentos habituais de nosso dia-a-dia. Heidegger afirma ser isso importante para o estabelecimento de nossa segurança e confiança no porvir. No entanto, essa rotina também faz com que se torne cada vez mais necessária a ocorrência de eventos surpreendentes, para nos fazer olhar de modo diferente para nossas experiências cotidianas.
Contudo, se nos tornamos conscientes desse fato, podemos, então, buscar formas de modificar esse “status quo”. Quando nos permitimos olhar de modo mais atento para as situações rotineiras e comuns, incorremos no risco de nos surpreendermos com elas. Sem necessitar, assim, de situações inusitadas para nos tirar de um processo contínuo no qual nos deixamos envolver.
Nesse caso, o “cair em si” pode ocorrer de modo aleatório e surpreendente. Ou podemos experimentar a busca por um olhar diferenciado para eventos rotineiros e assim conhecer “insights” diversos. E estes podem proporcionar sensações diferentes que, por conseguinte, podem nos conduzir a experiências renovadas com significados importantes.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


04 novembro 2016

INCERTA CERTEZA

A nossa história pessoal influencia nosso modo de ver e agir quando diante de uma situação dolorosa.

No dicionário Aurélio uma das definições para a palavra dor é “uma sensação desagradável ou um sofrimento moral”. Isto é, podemos experimentar uma dor com uma localização física em alguma região de nosso corpo e causadora de alguma sensação desagradável. Ou uma dor a qual não é possível definir um local preciso e nesse caso podemos chamá-la de psíquica ou emocional.
O importante é que ela ocasiona diversas sensações além do sofrimento moral. Pois, a nossa história pessoal influencia nosso modo de ver e agir quando diante de uma situação dolorosa.  Nesse caso, é preciso alguns cuidados para tentar minimizar suas sequelas.
Podemos nos afastar de situações das quais sabemos de antemão que poderão nos causar sofrimento e evitaremos o contato com elas. Assim, poderemos “garantir” não reviver uma história já familiar para nós. No entanto, tal comportamento também pode cercear ocasiões de prazer. Pois, ao nos privarmos do que pode nos fazer sofrer, também deixamos de arriscar experimentarmos satisfações possíveis de sobrepujar o sofrimento.
Muitas vezes é impossível eliminar definitivamente a causa da nossa dor por não estar em nosso poder tal possibilidade. Resta-nos, então, buscar formas de lidar com as consequências de modo a nos recuperarmos o mais rápido possível, para nos tornarmos aptos a usufruir de nossa liberdade. Isto é, nossa capacidade de ampliar nossas possibilidades, como destaca o filósofo Heidegger.
Sendo assim, se não possuímos o poder de garantir a ausência da dor, podemos, ao menos, buscar formas de nos prepararmos para lidar com ela do modo mais eficiente e profícuo possível. O nosso repertório de histórias vividas pode representar aquilo que nos amedronta ou nos fortalece. Jean Paul-Sartre acentua sermos totalmente livres para escolher, apenas somos “condenados” a lidar com as consequências dessas escolhas.
Desse modo, cabe a nós escolhermos qual das opções privilegiar: o medo ou a força. Ao optarmos pelo medo poderemos nos “proteger”, contudo, sem garantias. Mas, se nossa opção for pelo fortalecimento poderemos encontrar inúmeras possibilidades. E, assim, ampliarmos nosso rol de alternativas.
Porém, para isso ocorrer é preciso nos colocarmos a disposição de nos movimentarmos em prol de nós mesmos. Ou seja, permitirmos um olhar cuidadoso e cauteloso para conosco. Contando, ou não, com auxílio externo à nossa capacidade. Contudo, sem garantias da totalidade da ausência ou da presença da dor, mas nos permitindo a tentativa.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com