24 fevereiro 2017

TECENDO FIOS


É comum nos colocarmos em posição de vítimas das circunstâncias sem levar em consideração os fatos. Acreditamos que as pessoas nos devem algo, ou que tudo referente a nós parece estar corrompido de algum modo.

O dicionário Aurélio define a palavra voracidade como alguém muito ambicioso e quiçá destrutivo. Melanie Klein, psicanalista, definiu neste termo quem não se satisfaz com o que lhe é ofertado. Isto é, quando alguém julga o que lhe é oferecido como não correspondente à satisfação de suas necessidades. Para essa pessoa o “mundo” estaria sempre tentando causar-lhe, de algum modo, uma lesão ou uma perda.
A todo o momento podemos nos encaixar ou encontrar alguém que se encaixe nesta definição. É comum nos colocarmos em posição de vítimas das circunstâncias sem levar em consideração os fatos. Acreditamos que as pessoas nos devem algo, ou que tudo referente a nós parece estar corrompido de algum modo.
Ao nos posicionarmos desta forma diante do mundo, também nos colocamos em situação de não sermos capazes de fazer avaliações mais claras e ponderadas. Muitas vezes, imbuídos desse sentimento de perda, impedimos nosso próprio desenvolvimento, permanecemos “paralisados” em determinado fato o qual pode não corresponder à realidade. Ao sermos capazes de refletir sobre os fatos com a maior limpidez, possibilitaremos usufruir o máximo que uma situação pode oferecer.
O filósofo Sartre afirmou ser de salutar importância o que fazemos com o que o mundo nos oferta. Ou seja, qualquer fato ocorrido pode representar uma possibilidade de crescimento. No entanto, é necessário o nosso ponto de vista e nosso posicionamento em relação à situação.
O senso comum costuma afirmar ser uma oportunidade perdida impossível de ser recuperada. Nesse caso, o que ocorre é a necessidade de lidarmos com a nova oportunidade que surge em seu lugar, fazendo dela a nossa nova “ocasião favorável”.
Então, diante da possibilidade de mudança que permeia nosso existir a todo o momento, podemos assumir a responsabilidade por tudo o que envolve nosso crescimento pessoal. E, podemos iniciar nós mesmos esse processo, o qual pode contar com auxílio alheio ou não.
Entretanto, o importante é assumir estar em nós a possibilidade de usufruirmos das oportunidades que surgem. E, como afirma outro filósofo, Heidegger, ampliá-las também, para nos tornar, deste modo, senhores de nosso próprio destino, tecendo os fios que o compõem de modo a sermos nós escolhendo quais fios, cores e o que será “confeccionado”.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

E-mail: marciabcavalieri@hotmai.com

12 fevereiro 2017

O SONHO DE SER LIVRE

Liberdade. Aquela na qual consiste em colocarmos em prática nossa capacidade de escolha, como destaca Jean Paul Sartre e ampliar nosso rol de possibilidades, como distingui Martin Heidegger.


Uma das maiores expectativas em relação ao nosso desenvolvimento é adquirir a liberdade. Com ela imaginamos poder fazer tudo o que desejamos e gostamos. Imbuídos dessa ideia, em muitas ocasiões, nos expomos a situações, no mínimo, decepcionantes. No entanto, nem sempre conseguimos compreender o real motivo disso ocorrer.
A psicóloga Lídia Rosenberg Aratangy, em seu livro Doces Venenos, assinala que liberdade consiste em algo bem diferente de “só fazer o que se gosta”. Em sua análise, quem só faz o que gosta é louco e não livre. Pois para exercitarmos uma escolha livre, em primeiro lugar, necessitamos nos conhecermos a ponto de identificarmos com clareza o nosso desejo ou necessidade. Para então, só depois, saber quais opções possíveis e entender as consequências de cada uma das possibilidades de ação.
Assim, munidos desse repertório poderemos exercitar, com um pouco mais de chances de acerto, nossas escolhas.  A isso se pode chamar liberdade. Aquela na qual consiste em colocarmos em prática nossa capacidade de escolha, como destaca Jean Paul Sartre, e inclusive ampliar nosso rol de possibilidades como distingui Martin Heidegger.
No entanto, para exercemos de maneira plena tal liberdade, necessitamos também nos habituarmos a reflexões, para nos permitir um conhecimento mais amplo acerca de nossas condições reais e de nossos desejos mais sinceros.
Porém, nem sempre exercitamos colocar em prática nossa capacidade em gerir nossas próprias ações. Muitas vezes depositamos no mundo a razão pelo nosso fracasso ou desilusão quando, na verdade, fomos os únicos artífices autores de nossas conquistas, perdas, dores ou alegrias.
Contudo, assumir tal responsabilidade consiste em aceitarmos nossa condição de liberdade vinculada às consequências de nossas ações. Mas, nem sempre estamos dispostos a aceitar tal condição, pois ela representa sermos os condutores de nosso destino.
Desse modo, a melhor forma de buscarmos alcançar o sonho de sermos livres é aprimorarmos as formas de conhecimento a respeito de nossas particularidades, para não nos tornarmos estranhos a nós mesmos. E assim, nos sentirmos confortáveis em nossa própria “casa”, isto é, experimentarmos a sensação de familiaridade conosco e com nossos pormenores.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com.