01 março 2019

PENSANDO A ROTINA


É necessário nos permitirmos alguns instantes nos quais possamos experimentar sensações diferentes das habituais.

O filósofo Heidegger afirma ser a rotina a responsável por experimentarmos a ilusória ideia de segurança em relação à nossa fragilidade. Seres vivos que somos, estamos suscetíveis às intempéries do existir. Contudo, segundo o filósofo, nos entregamos
à rotina no intuito de “garantirmos” nossa existência por tempo indeterminado.
Desse modo, planejamos e programamos situações diversas e, com isso, estabelecemos um acordo íntimo conosco, o qual nos possibilita a tranquilidade em relação à probabilidade do nosso fim. Por essa razão, somos propensos a buscar situações rotineiras e, facilmente, nos sentirmos confortáveis quando inseridos nelas. Porém, ao nos entregarmos à rotina também podemos nos expor a um risco. Pois o não permitir um modo de “despertar” da sequência de atividades as quais nos submetemos, pode nos tornar autômatos.
Justificamos tais situações com explicações variadas. Esquecimento, demasiados compromissos que comprometem nosso tempo, ocupações importantes as quais se sobrepõem a outras de menor monta, entre outras. O importante é nos sentirmos tranquilos em relação aos nossos deslizes quando a rotina nos ampara.
Entretanto, há ocasiões nas quais o nosso deslize pode assumir um valor comprometedor. Até chegar ao ponto de colocar em risco a nossa integridade física ou emocional, ou de outrem. Quando isso ocorre pode significar a necessidade de um momento para “despertar” e rever nosso modo de ser e agir relacionado ao nosso existir.
Esse momento costuma desaparecer em meio aos nossos afazeres rotineiros. Por isso, é necessário nos permitirmos alguns instantes nos quais possamos experimentar sensações diferentes das habituais. Ocasiões de lazer ou algo diferente do costumeiro. Como, por exemplo, nos permitirmos atentar para algum detalhe mesmo que ele faça parte de nossa rotina.
Esse detalhe pode consistir em assistir por alguns segundos o pôr do sol, saborear um suco com calma, apreciar o cheiro que a chuva faz emergir do chão. Ou seja, algo que nos permita “desligar o automático” em que nos colocamos quando nos aprofundamos na rotina.
Ao possibilitar momentos voltados para o nosso próprio bem estar, proporcionamos a amplitude do aprimoramento de quem somos. Permitimos nosso desenvolvimento pessoal de modo considerável. Culminando, desse modo, em uma existência com maior plenitude de sentido.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124