17 setembro 2018

A VELOCIDADE DO IMEDIATISMO


Na rotina do dia-a-dia deixamos de lado a reflexão. Seja ela embasada em temas profundos ou superficiais, o refletir toma um tempo do qual nem sempre estamos propensos a disponibilizar.

 
Os conclames sociais atuais nos convidam a atitudes que apresentem resultados imediatos. Ou seja, qualquer “movimento” nosso só é constituído de valor efetivo se proporcionar rapidamente uma consequência e que ela seja satisfatória. No entanto, é comum não nos darmos conta de que resultados e consequências compõem um mesmo referencial.
Na rotina do dia-a-dia deixamos de lado a reflexão. Seja ela embasada em temas profundos ou superficiais, o refletir toma um tempo do qual nem sempre estamos propensos a disponibilizar. Permitimo-nos envolver em um ritmo no qual o tempo tornou-se escasso para realizações passíveis de representar uma lacuna em nossa existência. Isto é, não nos atentamos para o fato de que ao desdenharmos alguns traços integrantes de nosso modo de ser também influenciamos o modo como vamos ser e sentir de maneira geral e específica.
Clarissa Pinkila Estés, em seu livro “Mulheres que correm com os lobos” afirma termos deixado de lado nossa porção selvagem, isto é, um lado “animal” o qual todos nós compartilhamos. E, segundo a autora, ao dispormos de tal atitude comprometemos nossa capacidade para vivenciar de modo pleno as oportunidades de convívio e desenvolvimento pertinentes ao nosso existir.
Ao nos afastarmos de sensações peculiares e rotineiras também nos afastamos da possibilidade de reflexão. Quando nos envolvemos nos afazeres diários sem possibilitarmos a nós mesmos um momento de “prazer”, seja uma sensação, uma companhia agradável ou ainda, um repouso rápido; também nos privamos da oportunidade de estabelecermos um ritmo à nossa existência que possibilite experimentarmos, de modo pleno, as ocasiões em que somos convidados a nos relacionarmos das formas mais variadas.
Somos seres constituídos e que se desenvolve a partir dos nossos relacionamentos. Quando assumimos a decisão de nos permitirmos conviver sem atentar para as particularidades das relações, deixamos de lado a chance de desenvolvermos o que temos de primário e essencial – as sensações. E com tal comportamento podemos por em risco nossa integridade pessoal, intelectual e emocional.
Portanto, talvez constitua de relevante importância usufruirmos das oportunidades de refletir acerca do momento vivenciado, para nos possibilitarmos um número mais amplo de alternativas relacionadas às nossas escolhas. Para, desse modo, nos tornarmos habilitados a optar entre resultados imediatos ou consequências às quais temos capacidade para lidar de modo mais duradouro.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124