27 março 2015

UM NOVO OLHAR PARA UMA VELHA SITUAÇÃO

Em diversas ocasiões podemos nos encontrar diante de alguma situação que não desejamos ou não planejamos.  E, para completar, nem sempre há muitas opções para nos livrarmos da famigerada situação. Costumamos denominar isso de “problema”. Neste momento podemos experimentar o desespero, mas podemos também tentar oferecer um novo olhar para o que está acontecendo.
Os problemas na verdade poderiam ser considerados como “oportunidades”. O dicionário Aurélio, entre outras definições, afirma que oportunidade é uma circunstância adequada ou favorável e problema é uma proposta duvidosa, a qual pode ter numerosas soluções.
Se há a proposta de numerosas soluções significa haver escolhas a serem feitas, sendo, portanto, a oportunidade uma circunstância favorável, ou seja, algo o qual pode-se considerar como sendo bom. Então, ao compreendermos um problema como sendo uma oportunidade, na verdade, teremos algo muito positivo ao nosso alcance e que nos impele a alguma atitude ou algum movimento.
Viver confortavelmente envolve certa rotina. E esta rotina nos torna seguros, pois ficamos menos propensos às surpresas. Entretanto, também gostamos das surpresas, especialmente as agradáveis, como um presente inesperado ou uma visita de alguém que estamos saudosos.
O filósofo Heidegger afirma que o ser humano vive paradoxos, ou seja, estamos a todo o momento em contato com contradições. Queremos sensações diferentes, mas não queremos nos arriscar. Gostamos do calor, mas lamentamos quando está muito quente. Temos problemas ou oportunidades? Mais um paradoxo que se apresenta no mínimo intrigante.
Se entendermos um problema como uma oportunidade, o olhar para o mesmo, com certeza, irá adquirir outra tonalidade. No entanto, outra questão surge quando mudamos o modo de olhar para um problema, isto é, teremos que tomar algumas decisões, entre elas a de nos movimentarmos para a solução do problema ou em direção a oportunidade que surgiu devido ao referido problema.
Heidegger afirma termos o impulso de nos acomodarmos conquistando assim uma segurança que, segundo ele, é ilusória porque é precária, isto é, não é permanente. Portanto, se nos dispusermos a mudar a interpretação de um problema para o entendermos como uma oportunidade, poderemos crer que esses problemas ocorrem para nos levar a um movimento que nos proporciona crescimento. Desta forma, as situações que deveriam nos perturbar, na realidade irão nos impulsionar.
É certo que todo movimento envolve mudanças, pois, no mínimo, muda de lugar o que estava acomodado, porém será que viver intensamente não envolve um pouco de insegurança para podermos conquistar a “segurança”?

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
CRP: 06/95124

E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

20 março 2015

DEPRESSÃO: DOENÇA OU FASE?

Atualmente fala-se muito em depressão e ela sempre está associada há algo negativo, uma situação que gera preocupação em quem se encontra deprimido e àqueles os quais cercam pessoas nesse estado depressivo.
A depressão apresenta causas emocionais e físicas, não sendo possível afirmar com exatidão qual delas primeiramente se manifesta. Então o importante é, em algumas situações, ela se caracterizar como uma “doença” e, como tal, possuir sintomas identificáveis: desânimo, sensação de cansaço, e cujo quadro muitas vezes inclui, também, ansiedade, em grau maior ou menor, abatimento moral ou físico e diminuição de função fisiológica.
Em virtude disso, o indivíduo apresenta um quadro no qual não tem disposição para uma iniciativa em prol de si mesmo, e assim caracteriza uma situação preocupante para quem acompanha quem se encontra nessa condição. É importante ressaltar que há os chamados depressivos. Esses, geralmente, são indivíduos que com certa facilidade se entristecem em demasia e não conseguem encontrar ânimo para buscar soluções para seus problemas.
Para esses casos há diversos tratamentos incluindo o medicamentoso, que é de grande auxílio e oferece um excelente resultado. É importante lembrar que somente os medicamentos podem não serem suficientes, tendo em vista tratar-se de um problema de ordem emocional também e que não descarta a busca de um autoconhecimento.
Outro ponto a ser avaliado é que a depressão talvez não precise ter uma conotação tão negativa como a atual. O indivíduo quando “deprimido” torna-se alguém mais voltado para si e passa a ser atento a pequenos detalhes de seu modo de ser e sentir. Reflexivo a respeito de diversas situações pode tornar-se capaz de determinada atitude, tendo em vista sua atenção mais cuidadosa em relação aos detalhes.
Se tomarmos como exemplo uma mola, essa precisa ser contraída ao máximo para poder exercer toda sua força ao ser liberada. Podemos, desse modo, nos compararmos a uma mola contraída quando estamos depressivos. Estamos recolhidos (contraídos) a nós mesmos, observamos nossas sutilezas e nuances das situações em que nos encontramos. E sem nos darmos conta, acumulamos nossas forças para, ao tomarmos uma decisão, termos condições de colocar em prática todo nosso potencial.
É comum nos sentirmos muito decepcionados conosco quando nos encontramos em tal estado, e normalmente não queremos nos sentir triste ou frustrado. Mas é de grande importância experimentar tais sentimentos para podermos nos desenvolver como seres independentes e adquirirmos satisfação pessoal. Pois, a satisfação envolve frustrações por tratar-se de um processo com diversas fases. Ou seja, nos sentirmos satisfeitos conosco não é algo que simplesmente acontece, há um processo que possibilita nos desenvolvermos ao ponto de nos sentirmos satisfeitos com quem somos.
Portanto, se mudarmos nossa compreensão para a chamada “depressão”, poderemos ter uma oportunidade de crescimento e, mais uma vez, a chance de experimentarmos a satisfação de vencermos uma batalha.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: mariciabcavalieri@hotmail.com

13 março 2015

RELACIONAMENTOS

Desde o momento em que nascemos iniciamos uma relação com nossos pais ou cuidadores e a partir deste ponto damos início ao nosso desenvolvimento como seres individuais, porém interligados. Ao longo de nossa história de vida diversas pessoas irão participar da construção de nosso ser. Isto é, quando nos relacionamos com toda a diversidade de seres ao nosso redor, estamos, a cada momento, adicionando uma nova experiência em nosso desenvolvimento que será um fragmento de quem seremos como indivíduos.
Podemos ouvir alguém dizer que sua vida seria diferente se tivesse seguido outro caminho. Com certeza seria diferente, mas seria melhor? Talvez sim, porém uma questão um pouco mais profunda pode emergir. Ter uma vida diferente nos tornaria outra pessoa? E quem seria esta pessoa? Será que gostaríamos dela? Talvez não seja possível responder com exatidão a essas questões, mas é interessante formulá-las para que possamos olhar de modo diferente para quem somos hoje. E termos capacidade de apreciar essa pessoa que somos ou de modificá-la se julgarmos necessário. No entanto é importante lembrar que toda mudança exige uma iniciativa que nem sempre é fácil, mas que solicita nossa mobilização.
Interessante chegar a esse ponto, porque iniciamos falando sobre nosso desenvolvimento quando em contato com nossos pais ou nossos cuidadores e isso significa que as relações diversas fazem parte de quem seremos ao longo do tempo. Sendo assim, o outro tem papel fundamental na pessoa que nos tornaremos. Entretanto, nem sempre estamos atentos às pessoas com quem nos relacionamos, nem sempre ouvimos com atenção ou dedicamos um pouco do nosso tempo em entendê-las.
É muito comum nos dias de hoje alguém afirmar não ter tempo ou que está com pressa e que o tempo não é suficiente para fazer tudo o que deseja. Então se não temos tempo para fazer o que queremos não teremos tempo para observar o outro. Com certeza vivemos um momento no qual muito nos é exigido, tendo em vista a competitividade que vivenciamos e nos desafia diariamente. Mas se nos esquecermos do quão importante é o outro em nossa existência como seremos capazes de estabelecermos relacionamentos satisfatórios?
Em nossos relacionamentos também nos conhecemos. Num exercício simples podemos observar nossa reação diante de um fato corriqueiro ou ainda, diante de uma situação que exija um pouco mais de cautela na avaliação. A partir de nossas respostas ao comportamento alheio podemos ter como “termômetro” quem somos naquele momento. Mas nem sempre estamos aptos em saber quem realmente somos. Porém se não nos conhecemos, como seremos capazes de solucionar as dificuldades que nos afligem?
Deste modo, quando buscamos maneiras de nos aproximarmos de quem somos, estamos também melhorando nossos relacionamentos e por conseguinte nos permitimos olhar e vivenciar experiências que poderão nos levar a um desenvolvimento de nós mesmos, permitindo o início de uma reforma interna que poderá culminar em uma satisfação pessoal que contagia todos ao nosso redor. E como nos construímos nos relacionamentos que estabelecemos esse pode ser um caminho muito agradável.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri

Psicóloga – CRP 06/95124                                                                                                                                  marciabcavalieri@hotmail.com

06 março 2015

SONHOS

Nem sempre nos damos conta, mas sonhamos. Fazemos planos, temos desejos, almejamos algo... Isto é, podemos não ter total consciência de que planejamos ou desejamos algo, mas o fazemos. Em algumas ocasiões parece até ser difícil responder à pergunta: Qual o seu sonho?
Quando criança é comum sonharmos com um brinquedo novo, um cinema, um passeio, etc. Para um adulto esses podem parecer sonhos bem possíveis. No entanto, não se pode perder de vista que os sonhos são proporcionais às nossas possibilidades.
Em sua maioria nossos sonhos são constituídos de possibilidades as quais podemos disponibilizar para nós mesmos ou não. Porém, para que os nossos sonhos sejam de fato proporcionais às nossas possibilidades é necessário termos conhecimento de nossas potencialidades e, principalmente, de nossos limites.
Quando desejamos algo sem levar em conta essas perspectivas corremos o risco de sonharmos com algo o qual pode estar na constituição do “impossível”. Ou, podemos não estar atentos ao que constitui maior importância para nós naquela ocasião.
Ao longo de nossa existência fazemos escolhas. Privilegiamos uma ou outra opção de acordo com o grau de importância que ela possui para nós em determinado momento de nossa vida.
Mudamos a todo o momento. De acordo com o filósofo Heráclito, não nos banhamos num mesmo rio, pois ao nos retirarmos dele a água flui, sendo assim, ao mergulharmos novamente, já não é mais a mesma água.  Cada nova experiência a qual vivenciamos nos constitui em alguém diferente do que éramos ante dela. Sendo assim, nossos sonhos bem como as possibilidades e limitações que fazem parte de nosso ser também mudam. Se considerarmos essas mudanças, um sonho frustrado pode constituir apenas um momento inadequado para algo.
Então, se cuidarmos de nosso movimento, isto é, nos mantermos atentos às nossas mudanças e experiências, podemos nos tornar capazes de discernir com mais acuidade qual o melhor momento para qual sonho. Ou ainda, nos habilitarmos a compreender quando um sonho pode ser substituído por outro, de modo a não representar maior possibilidade de frustração do que de satisfação.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga – CRP 06/95124