29 junho 2012

TROCAS E INTER-RELAÇÕES


Muitas vezes lamentamos o desenrolar de um relacionamento e nos questionamos sobre o que fazer, o que mudar. Nem sempre nos atentamos para o fato de todo relacionamento envolver trocas. Sejam elas de afeto, conhecimento, respeito ou mesmo dores.
No entanto, é comum nos esquecermos da troca e lamentarmos de forma veemente a atitude do outro em relação a nós. Nos esquecemos de que todo movimento requer um “início”. Ou seja, estamos a todo o momento em contato com quem nos cerca, e esse contato envolve nossos comportamentos e as respostas que eles ocasionam. Contudo, ao nos conscientizarmos disso poderemos ser capazes de compreender também estar em nosso “poder” a possibilidade de mudar uma troca que não nos realize como gostaríamos.
Uma mensagem eletrônica contava a situação de uma mulher casada e feliz com isso, mas que sofria com a presença da sogra em sua casa, devido ao fato de esta tratá-la com aspereza e a criticando em todos os seus movimentos. Veio ao conhecimento desta mulher, existir um comerciante de ervas na cidade que poderia ajudá-la a livrar-se do problema: a sogra. Buscou-o no intuito de adquirir algum veneno para dar fim à vida da mesma. O comerciante afirmou ser possível tal solução orientando-a a utilizar o veneno em pequenas quantidades nas refeições da sogra. Porém, alertou-a de que seria prudente tratar a sogra com carinho e respeito a partir do momento que se iniciasse o uso do produto, para que na ocasião  da morte da sogra ela não fosse alvo de suspeitas. Assim ela procedeu e após algumas semanas algo ocorreu que a fez mudar de ideia. Procurou o vendedor e explicou-lhe que a sogra havia mudado muito e que não desejava mais a sua morte, pelo contrário, esta havia se tornado alguém agradável para se conviver. Ele então lhe esclareceu sobre a erva em questão, explicou ser apenas um fortificante, e que o veneno estava em seu comportamento para com a sogra que, ao mudá-lo ela também pôde mudar para com a nora.
Da mesma forma que a mensagem acima sugere, pode estar ao nosso alcance a qualidade dos relacionamentos que estabelecemos. E, se isso constituir uma verdade, então, está em nosso poder também a capacidade para escolhermos como eles serão. Sendo assim, lembrando os filósofos Sartre e Heidegger, somos livres para escolher e para ampliar nosso rol de possibilidades também.
Então, se nos dispusermos a “cuidar” da nossa forma de agir quando em contato com alguém, poderemos alcançar a possibilidade de “controlarmos” como esses contatos serão. E, adquirirmos a capacidade de estabelecermos relações mais satisfatórias.
Por isso, importante se faz a necessidade de nos conhecermos, ao ponto de identificarmos como nos comportamos com nosso círculo de contato, para, desse modo, sermos aptos a exercitar nossas escolhas. Inclusive, assim, ampliar a gama de opções, em relação ao que queremos para nós no que concernem os relacionamentos os quais estabelecemos.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

22 junho 2012

RELACIONAMENTOS: VIA DE DUAS MÃOS


Nossos comportamentos provocam respostas naqueles com quem nos relacionamos. E seria ingênuo crer que ao conviver com alguém as respostas seriam aleatórias, ou seja, não estariam relacionadas aos modos de ser de cada um. O contato movimenta o outro tanto quanto nos movimenta.
Ao lamentar a atitude ou o modo de ser de alguém, não podemos nos esquecer da troca que ocorre em toda relação. É difícil afirmar em qual ponto determinado modo de relacionamento teve início, mas é possível detectar o que ocorre para que as respostas em certo contato sejam insatisfatórias.
Gostamos de taxar as pessoas com rótulos e isso nos faz confortáveis porque nos exime de qualquer participação na construção daquele ser. No entanto, mesmo contra nosso desejo, influenciamos e somos influenciados por quem nos cerca.
Ao nosso alcance está a possibilidade de assumir o cuidado do contato para este ser especial e/ou proveitoso. Ou seja, ao “olharmos” de um modo mais atento para os relacionamentos que estabelecemos, podemos tornar possível a manutenção da qualidade deles.
É evidente não podermos contar com essa possibilidade em todas as ocasiões, mas a cada momento que somos capazes de olhar para nós mesmos e aceitar nossas verdades, sejam elas prazerosas ou não, abrimos caminho para nosso desenvolvimento pessoal. E assim, por conseguinte, de quem convive conosco. Assim, modificamos a qualidade de cada relação estabelecida com os outros.
Então, se desejamos ter alguém próximo a nós de determinada forma, isto é, que esse alguém tenha alguns comportamentos os quais almejamos nesse outro, não podemos nos esquecer de que todo contato constitui uma via de duas mãos. Isto é, oferecemos, porém, também recebemos.
É impossível nos relacionarmos sem que haja trocas, e essas trocas permeiam a essência do nosso modo de ser e daqueles com quem estabelecemos algum tipo de contato. Sendo assim, ao nos conhecermos verdadeiramente e aceitando nossos limites, nos tornamos mais aptos a estabelecer relacionamentos que proporcionem maiores satisfações, mais duradouros e envolvidos em menos frustrações.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

15 junho 2012

METADE DA LARANJA?


Nesta época do ano ocorre de muitas pessoas questionarem-se a respeito de sua “metade da laranja”. Algumas histórias nos conduziram a acreditar em combinações perfeitas e finais felizes eternos. Porém, será a felicidade ininterrupta nosso maior desejo? Qual será a real busca que empreendemos? O que se pode considerar uma felicidade duradoura?
Uma data comemorativa instituída pelo comércio pode nos conduzir a sentimentos indesejados quando nos deixamos levar pelo clamor comercial.  Não é raro encontrarmos, nos dias de hoje, quem busque, inclusive, assumir uma postura reversa ao se negar a participar das solicitações comerciais deste período. No entanto, muitos são os que se sucumbem movidos por diversas razões nem sempre claras para si mesmo.
Quando se fala em felicidade corremos o risco de ser levados a imaginar um relacionamento no qual as pessoas “sempre” se entendem com rapidez, sem mágoas ou qualquer tipo de ressentimento. Entretanto, será possível um relacionamento satisfatório se não houver ao menos um contraponto? Isto é, ao viver em constante contato com paradoxos, será possível não experimentá-lo nos relacionamentos? O contato com quem nos ofereça constante aceitação às nossas opiniões e desejos pode incorrer numa rotina, a qual, inclusive, conduza a um desgaste tanto quanto um constante desencontro poderia originar.
Então, como encontrar um equilíbrio o qual proporcione a possibilidade de se estabelecer um relacionamento que perdure, e que ofereça certo grau de satisfação aos envolvidos? Para o desejo de permanecer unido ser mais forte do que as adversidades?
Às vezes nos esquecemos de que esse equilíbrio também permeia a satisfação individual de cada um. Ou seja, todos nós buscamos nos sentir realizados quando nos permitimos a proximidade com alguém. Mas ignorar esse fato pode nos levar a enganos e ilusões dos quais podem impedir um olhar mais acurado para as sutilezas envolvidas em um relacionamento envolve.
Sendo assim, se mantivermos na lembrança a necessidade de satisfação pessoal unida à satisfação dos envolvidos na relação, ficamos sujeitos a uma maior chance de sucesso na empreitada da “felicidade duradoura”. E ter em vista permear não somente a felicidade dos envolvidos como um todo, mas também as satisfações individuais.
Desse modo, ao conhecer e compreender nossas necessidades, desejos e satisfações, podemos nos permitir ser mais eficientes no contato com as nossas possíveis “metades da laranja”. Se é que essa consiste nossa real busca...
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

08 junho 2012

MEDIDA


Muitas vezes podemos ser acometidos por uma questão a respeito do que é certo ou errado. Como podemos ponderar de modo “correto” sobre isso? Qual a medida que estabelece o limiar entre o que pode ser adequado ou não a algo ou alguém?
Pode-se viver um bom tempo em busca de medidas certas a respeito de diversas questões. Porém, essa busca pode estar num âmbito o qual não abarque a amplitude das possibilidades existentes.
Um primeiro ponto a se observar é a singularidade de cada um de nós. A história perpassou um período em que a uniformização era algo muito almejado. No entanto, pôde-se constatar ser a singularidade nossa principal característica. Desse modo, ao nos tornarmos uniformes corremos o risco de perdermos nossa especificidade.
É óbvio possuirmos diversos pontos similares, entretanto, cada um representa de modo singular as experiências vividas. Alguém pode experimentar a perda de algo ou alguém, contudo, o significado da perda para cada um será diferente, bem como o modo como lidar com ela.
Sendo assim, como estabelecer medidas para o que é melhor ou pior, certo ou errado? Onde encontramos os valores adequados para um viver tranquilo, sem grandes saltos? Pode ocorrer de tais valores serem diferentes para cada um como são as representações, que ocorrem de modo diferente também.
Então, podemos dispender um bocado de nosso tempo na busca de valores para nos proporcionar alguma referência a respeito do que queremos ou não. Mas, podemos, ao invés disso, utilizar nossa disponibilidade para tentar compreender nossos limites e os significados deles para nosso existir.
Uma forma de empreender tal tarefa consiste em prestarmos maior atenção às nossas nuanças por menores que sejam, para, assim, sermos capazes de detectar com maior eficácia o que nos faz “bem” ou não.
Isto é, na medida em que conhecemos nossos pormenores, nos tornamos cada vez mais capazes de estabelecer, para nós mesmos, as variações de graduação relativas ao que consiste nossa medida. E, por conseguinte, nos tornamos autônomos para estabelecermos, para nós mesmos, o que representa nosso limite.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

01 junho 2012

ILUSÃO


No dicionário Aurélio encontra-se como uma das definições da palavra ilusão: engano dos sentidos ou da mente, que faz que se tome uma coisa por outra, que se interprete erroneamente um fato ou uma sensação.
Outro fator é que ao nos iludirmos incorremos em uma grande possibilidade de nos frustrarmos. Ao ter em vista ser habitual investirmos muito de nossa energia na busca do que consideramos ideal, ao constatar ser isso uma ilusão somos conduzidos, quase inevitavelmente, à frustração.

A psicóloga Lídia Rosenberg Aratangy afirma em seu livro “Doces Venenos” ser a frustração não um desvio da rota, mas parte do caminho do desenvolvimento. Segundo ela todos nós precisamos aprender a tolerar o fato de não ser possível termos tudo, nem ganharmos todas as batalhas. Sendo assim, essa capacidade, como afirma a autora, tem tudo a ver com a possibilidade de fazer escolhas, que tem tudo a ver com o poder dizer “não” a um prazer imediato.

Mas, como identificar quando estamos sendo levados por um engano de nossos sentidos ou da nossa mente? Na ânsia por satisfazer nossos desejos podemos ser induzidos a crer na possibilidade de algo o qual pode não acontecer. No entanto, como identificarmos tais situações e, ao fazer isso, como proceder para que a dor da frustração seja menos intensa?

A possibilidade de fazer escolhas é também, como afirma o filósofo Jean Paul-Sartre, uma condenação devido ao fato de o fazermos a todo o instante e, sermos obrigados a lidar com suas consequências. Então, ao escolhermos nos colocamos a mercê de uma possível frustração se estivermos envolvidos em algum tipo de ilusão.

Identificar quando estamos enganados a respeito de algo não constitui tarefa simples. Nossa ânsia pela satisfação e prazer imediato pode fazer com que nos tornemos afoitos na busca deles. E, diante dessa ansiedade nossa capacidade de avaliar as situações pode ficar obnubilada. E, desse modo nos tornamos presa fácil para a dor da frustração.

Se contarmos com nossa capacidade de reflexão e conseguirmos conter nossa ansiedade, poderemos exercer com maior discernimento a possibilidade de clarificarmos nossa análise dos fatos e, então nos protegermos da chance de tomarmos uma coisa por outra.

Em muitas ocasiões o poder contar com alguém o qual nos auxilie a “abrir os olhos” pode ser uma grande oportunidade para nos mantermos no caminho de nosso desenvolvimento. Assim priva-nos o máximo possível das ilusões, ou, ao menos, diminui sua frequência ou, ainda, o tempo no qual nos mantemos iludidos.


Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124