22 fevereiro 2013

AMOR PRÓPRIO E EGOÍSMO


O respeito e bem querer voltado a nós mesmos pode ser interpretado como egoísmo. Ou seja, um sentimento deveras exacerbado em relação ao nosso bem estar que nos faz colocar em prática um amor excessivo para conosco e desconsiderar, assim, os interesses alheios. O convívio social reprova essa prática.
No entanto, como em todos os aspectos, faz-se importante refletir a respeito dos extremos. Isto é, se voltarmos toda a nossa atenção e cuidado ao bem estar do outro, incorremos na possibilidade de expor um modo de ser o qual pode assumir uma imagem digna de admiração por um grande número de pessoas. Porém, também corremos o risco de relegarmos o nosso cuidado a uma ocasião que pode tardar.
O amor próprio consiste em permitirmos o cuidado com o nosso bem estar de modo a nos realizarmos como seres existentes e com possibilidades. Isso representa exercitarmos cuidados básicos com nossa saúde, aparência e emoções, mas, consiste também em respeitarmos nossos limites bem como nossas capacidades.
Os conclames atuais nos conduzem a comportamentos acelerados em relação ao nosso próprio ritmo. Somos “convidados” a agir de modo totalmente competente, e nos sentirmos satisfeitos embora nossos desejos permaneçam apenas no âmbito do planejamento.
Contudo, ao nos portamos dessa maneira iniciamos um processo no qual é possível exigirmos resultados sem estarmos totalmente habilitados. Desse modo, ficamos a mercê de lesionar nosso equilíbrio físico e psíquico, em benefício de algo o qual talvez nem ao menos compreendemos.
Em nosso ritmo “adequado” ao momento social atual, podemos deixar de lado questões importantes referentes às nossas necessidades e desejos. Então, permitirmos que o cuidado para conosco inicie com um ato nosso voltado para nosso bem estar. Isso pode, em um primeiro momento, assumir o aspecto de um ato egoísta. Todavia, ao consentirmos nos amarmos de modo especial, atento e cuidadoso, também possibilitamos amenizar nossas dores e angústias. Tornarmo-nos seres com possibilidades plenas de satisfação. Desse modo, usufruir dos prazeres em estar em boa companhia pode ter início no convívio com a pessoa que somos. Isto é, exercitarmos atitudes as quais permitam nos sentirmos confortáveis em nossa própria companhia.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

15 fevereiro 2013

CONTRADIÇÕES


Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, destaca que ferramentas de relacionamento como o Facebook, Twitter, entre outros, possibilitam o “contato” com outras pessoas sem a necessidade de iniciarmos uma conversa, da qual possa apresentar o risco de tornar-se “perigosa e indesejável”. Isso, porque o “contato” pode ser desfeito a qualquer momento, para isso apenas basta que o diálogo se encaminhe numa direção indesejada.
Da mesma forma, conforme afirma Bauman, no nosso mundo “líquido” e moderno somos ansiosos por relacionamentos duradouros, mas ao mesmo tempo queremos que eles sejam leves e frouxos, fáceis e sem frustrações. Ou seja, desejamos nossos sonhos, mas não queremos suas consequências possíveis, o que se pode chamar de contradição.
Em nosso processo de ansiar por algo pode ocorrer, em um número considerável de ocasiões, de relegarmos a um plano que cause menos desconforto a realidade conectada aos riscos em nos relacionarmos. Por isso, torna-se tentador e “seguro” os relacionamentos nos quais temos “total controle”, de modo a podermos nos desconectar a qualquer momento.
No entanto, um desejo um pouco mais rudimentar nos movimenta em direção ao outro. Isto é, buscamos de todas as formas possíveis nos relacionarmos com quem se apresenta ao nosso convívio. E desejamos que tais relações assumam papel duradouro oferecendo segurança. Porém, com as facilidades da atualidade moderna, apresenta-se na mesma proporção a possibilidade de nos colocarmos nessas de relações de um modo distante e ilusoriamente seguro. Pois, com a “ilusão” do não conectar-se de modo mais intenso também alimentamos a ideia de sermos capazes de não sentir e, por conseguinte, nos privarmos do sofrimento iminente.
A todo o momento estamos sujeitos a diversos riscos. O risco de nos decepcionarmos, o de morrermos, ou seja, nossas certezas são, na verdade, repletas de “contradições”, pois podemos estar vivos ou não, nos contentarmos ou não. Mas, ainda assim, colocamos em prática nossa confiança no porvir e na certeza deste.
Martin Heidegger, filósofo, salienta vivermos sob o medo do porvir, e esse medo nos conduz a um modo de proteção o qual despreza a possibilidade do fim. Então, desse modo, nos tornamos confiantes e “tranquilos”. No entanto, é necessário nos lembrarmos de tais incertezas de tempos em tempos, para nos habilitarmos a permitir a presença dos riscos em nosso existir.
As relações não nos oferecem certezas, apenas possibilidades. Mas, somos indivíduos que necessitam delas para saciarmos nossa busca pela completude. Sendo assim, ao compreender as “contradições” envolvidas no existir, nos aproximamos da possibilidade de atingirmos realizações pessoais das quais nos permitam uma existência mais próxima da satisfação. Assim passamos a levar em conta que as contradições fazem parte do processo, de modo a nos impulsionar para a continuidade.  

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

07 fevereiro 2013

IMEDIATISMO


Os conclames sociais atuais nos convidam a atitudes que apresentem resultados imediatos. Ou seja, qualquer “movimento” nosso só é constituído de valor efetivo se proporcionar rapidamente uma consequência. No entanto, é comum não nos darmos conta de que resultados e consequências compõem um mesmo referencial.
Na rotina do dia-a-dia deixamos de lado a reflexão. Seja ela embasada em temas profundos ou superficiais, o refletir toma um tempo do qual nem sempre estamos propensos a disponibilizar. Permitimo-nos envolver em um ritmo no qual o tempo tornou-se escasso para realizações passíveis de representar uma lacuna em nossa existência. Isto é, não nos atentamos para o fato de que ao desdenharmos alguns traços integrantes de nosso modo de ser também influenciamos o modo como vamos ser e sentir.
Clarissa Pinkila Estés, em seu livro “Mulheres que correm com os lobos” afirma termos deixado de lado nossa porção selvagem, isto é, um lado “animal” do qual todos nós compartilhamos. E, segundo a autora, ao dispormos de tal atitude comprometemos nossa capacidade para vivenciar de modo pleno as oportunidades de convívio e desenvolvimento pertinentes ao nosso existir.
Ao nos afastarmos de sensações peculiares e rotineiras também nos afastamos da possibilidade de reflexão. Quando nos envolvemos nos afazeres diários sem possibilitarmos a nós mesmos um momento de “prazer”, seja uma sensação, uma companhia agradável ou ainda, um repouso rápido; também nos privamos da oportunidade de estabelecermos um ritmo à nossa existência o qual possibilite experimentarmos, de modo pleno, as ocasiões em que somos convidados a nos relacionarmos das formas mais variadas.
Somos seres constituídos e que se desenvolve a partir do relacionar-se. Quando assumimos a decisão de nos permitirmos conviver sem atentar para as particularidades das relações deixamos de lado a chance de desenvolvermos o que temos de primário e essencial – as sensações. E, com tal comportamento podemos por em risco nossa integridade pessoal, intelectual e emocional.
Portanto, talvez constitua de importância relevante usufruirmos das oportunidades de refletir acerca do momento vivenciado, para nos possibilitarmos um número mais amplo de alternativas relacionadas às nossas escolhas. Para, desse modo, nos tornarmos habilitados a optar entre resultados imediatos ou consequências às quais temos capacidade para lidar de modo mais duradouro.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

01 fevereiro 2013

SENTIR


A cada novo dia é possível afirmar estarmos adiante no que concerne o desenvolvimento intelectual de modo geral. Novas descobertas, novas formas de analisar, medir e “provar” diversos fatos e situações tornaram-se algo trivial em nosso dia-a-dia. Compartilhamos a satisfação com o progresso de nosso desenvolvimento como um todo. No entanto, em alguns momentos, podemos experimentar certa consternação em relação aos sentimentos.
Não é incomum presenciarmos, de modo mais próximo ao nosso convívio, ou não, alguém em pleno exercício do que parece ser uma batalha contra sensações e sintomas dos mais variados tipos. Com um olhar um pouco mais atento, podemos ser capazes de detectar, quase que em sua generalidade, algum traço de ansiedade, depressão ou medo subentendido nessas sensações e sintomas. Isto é, características facilmente localizadas nas diversas síndromes e transtornos muito comuns na atualidade.
Em uma breve reflexão podemos concluir viver num momento em que essas situações tornaram-se rotina e, sermos, desse modo, induzidos a crer que tal rotina representa algo o qual precisamos aprender a conviver, por tratar-se de um fato inevitável. Contudo, essa conclusão pode não significar a totalidade do processo. Se nos permitirmos um olhar um pouco mais cuidadoso, talvez possamos detectar uma carência no quesito sentimento.
No transcorrer do crescimento e desenvolvimento pessoal, nem sempre nos atentamos para o fato de que o sentir é parte importante de todo o processo envolvido em nosso progresso. Cuidamos de modo peculiar do aprimoramento de nossa intelectualidade, praticidade e racionalidade. E, em muitas ocasiões, relegamos a um plano demasiadamente secundário nossos sentimentos.
Porém, tal atitude não se manifesta de modo isento. Isto é, a escolha em não “cuidar” de nossos sentimentos apresenta consequências as quais podemos não levar em conta no momento em que não assumirmos os riscos envolvidos nessas decisões.
Então, é de suma relevância nos manter conscientes de nossas escolhas, porque elas constituem um processo de liberdade. Mas, não podemos nos permitir descartar de modo “definitivo” que as consequências são inevitáveis. Mesmo quando optamos por não olhar para o que se apresenta a nós como algo gerador de algum desconforto de qualquer tipo.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124