19 janeiro 2018

FACILIDADE QUE DIFICULTA

Somos alguém que age como empecilho para o desenvolvimento de outrem oferecendo uma situação cômoda que propicia a estagnação?

“Um monge e seu discípulo precisaram de hospedagem ao longo de sua viagem. Avistaram uma casa simples e foram atendidos em sua solicitação pelos donos dela. Durante a estadia notaram que a família vivia sob precária condição e que eles possuíam uma vaca da qual tiravam algum sustento. Ao amanhecer, antes de partir, o monge empurrou o animal em direção a um precipício levando-a a morte. O discípulo indignado solicitou uma explicação a qual o monge afirmou ser o comodismo o empecilho para o desenvolvimento daquela família. Alguns anos se passaram e o discípulo retornou ao local encontrando-o muito próspero. Ao questionar o proprietário este relatou que no dia em que eles partiram a vaca que possuíam havia sofrido um acidente que culminou em sua morte. Então, eles foram “forçados” a buscar alternativas para sobreviver, o que os levou ao progresso no qual se encontravam na atualidade.
No contato com essa história somos, geralmente, induzidos a buscar “vacas” em nossa existência. Entretanto, numa reflexão inversa pode ocorrer, nesse momento, de nos perguntarmos se não somos alguém que age como empecilho para o desenvolvimento de outrem. Isto é, somos a “vaca” na vida de alguém? Oferecendo uma situação cômoda que propicia a estagnação?
Nosso ser se constrói a partir do contato com o outro, sendo assim, nosso desenvolvimento ocorre quando nos relacionamos. A referência recebida das relações às quais estabelecemos é sumamente importante para a definição de quem somos. Pois, as respostas que recebemos quando de algum comportamento nosso, indica, de certo modo, uma “direção” a seguir.
Não é incomum “impedir” a quem amamos de se desenvolver, em nome do que sentimos. Contudo, importante salientar a afirmação de Antoine Saint-Exupéryo, autor do livro “O pequeno príncipe”, que somos responsáveis por tudo o que cativamos. Isto é, as relações que estabelecemos, especialmente as permeadas de amor, nos torna, de algum modo, interligados às suas consequências. E, por conseguinte, corresponsáveis por elas.
Sendo assim, em algumas ocasiões, podemos experimentar a necessidade de atitudes que nos levem a vivenciar algum tipo de sofrimento e até mesmo dúvida. No entanto, às vezes optamos por algo que pode culminar em relativa dor para todos os envolvidos, mas que se apresenta como sendo a alternativa mais adequada e necessária para o desenvolvimento de todos.
Se nos lembrarmos que tudo o que foi cativado por nós tornou-se, de certa forma, interligado ao nosso destino, e se desejarmos experimentar bem estar e tranquilidade, havemos de agir de modo a possibilitar um resultado com maior possibilidade de êxito. Basta, então, assumirmos as responsabilidades que são relacionadas a nós, ao nosso modo de agir e às consequências correspondentes.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

08 janeiro 2018

QUEM SOU X QUEM QUERO SER

Lamentamos dores e perdas ocorridas ao longo dos caminhos percorridos. Porém, muitas vezes nos mantemos focalizados em nossa dor ao ponto de nos esquecermos de utilizá-la como oportunidade de crescimento
 
Podemos desperdiçar uma grande quantidade de tempo ao buscar identificar sentimentos, situações e quiçá “caminhos a seguir”. No entanto, pode ocorrer de nos esquecermos de “abrir nossos olhos”. Isto é, nos posicionarmos diante dos fatos como alguém desconectado deles. Assim, incorremos na possibilidade de passarmos desapercebidos por ocasiões as quais poderiam ser de grande importância para nós.
É comum focalizarmos nosso olhar em direção a algo que acreditamos desejarmos imensamente. Contudo, também é comum atermos esse foco em uma direção que não consista naquela realmente desejada. Ou seja, acreditamos estar em busca daquilo que queremos, no entanto, estamos, apenas, desperdiçando energia e tempo em prol de algo obscurecido por nossa incapacidade de identificar, com clareza, nossos desejos.
Lamentamos dores e perdas ocorridas ao longo dos caminhos percorridos. Porém, muitas vezes nos mantemos focalizados em nossa dor ao ponto de nos esquecermos de utilizá-la como oportunidade de crescimento. Pois, ao procedermos em uma atitude a qual incorre em algum sofrimento, significa que, em certo momento, atentamos para uma direção não constituída da mais adequada para nós naquela ocasião.
O processo de nos conhecermos não representa uma tarefa simples e nem tampouco corriqueira. Nos habituamos a manter nossa atenção voltada para aquisições diversas. Sejam elas de ordem mais ou menos subjetiva. Contudo, se tais aquisições não forem significativas para nós de modo a nos possibilitarem a sensação de satisfação, nos manteremos em um ciclo no qual a dor e a perda tornam-se praticamente inevitáveis.
Abrir os olhos pode representar uma maneira de nos “vermos” de modo mais sincero. Quando identificamos os nossos pormenores, somos capazes de diferenciar e selecionar o que gostamos ou não em nós mesmos. E, desse modo, procedermos na escolha do que condiz com o que queremos ou não. Assim, poderemos minimizar o número de ocasiões nas quais nos sentimos impelidos à dor, e ampliarmos nossa habilidade em vislumbrar horizontes que nos proporcionem formas possíveis de conquistarmos o que planejamos.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124