29 abril 2016

DINÂMICA E ESTRUTURA

Para nos entregarmos a sensação de satisfação e prazer é preciso que certa organização nos permita a calma necessária para vislumbrarmos os horizontes a nossa frente.

Num primeiro olhar para essas palavras podemos ser conduzidos a pensar a respeito das leis da física ou da mecânica. No entanto, se nos deslocarmos desse padrão e permitirmos uma reflexão a respeito do “funcionamento” social atual, podemos “transitar” em um elemento diferente.
Lamentamos o mal funcionamento de diversas ordens as quais deveriam nos oferecer suporte, segurança e conforto. Não é comum estabelecermos uma conexão entre dinâmica, estrutura e desordens emocionais. Entretanto, elas se encontram demasiado relacionadas em certo âmbito.
Sempre ao nos propormos a uma empreitada, seja ela qual for, há a necessidade de uma estrutura eficaz e pertinente para que a dinâmica possa ser usufruída. Um exemplo: Nos dispomos a encontrar um profissional extremamente eficaz e muito bem recomendado para determinado serviço ao qual necessitamos. Marcamos um encontro e ansiosamente esperamos por ele na hora marcada. Porém, ao chegarmos somos alocados em uma linda sala de esperas com agradável som ambiente. Após mais de uma hora de espera somos convidados a encontrar o profissional, atrasado, que não justifica a demora e nos recebe naturalmente. Sem que seja de nosso desejo, durante muitos minutos não seremos capazes de usufruir do que o profissional tem a oferecer. Pois, nos encontramos envolvidos em pensamentos e sentimentos de revolta pelo descaso ocorrido. Nesse exemplo podemos rememorar diversas situações parecidas que já experimentamos, onde a desorganização de algo “destrói” a possibilidade da satisfação.
É comum nos dias atuais a busca intensa por satisfação, prazer, conhecimento, aprendizado, etc. Zigmund Bauman, sociólogo, descreve a atualidade com uma imagem de modo que o “chão” por onde nos deslocamos não se encontra sólido. Assim, nos movemos com velocidade para não sermos capturados por algum abalo. Mas em contrapartida, não somos capazes de apreciar ou avaliar o horizonte a nossa frente.
Nessa pressa pode ocorrer de ser deixada de lado a estrutura, isto é, a organização a qual permita tranquilidade para desfrutarmos da dinâmica, ou seja, aquilo que nos é oferecido. Para nos entregarmos a sensação de satisfação e prazer é preciso que certa organização nos permita a calma necessária para vislumbrarmos os horizontes a nossa frente.
Se nos encontramos experimentando situações onde a estrutura não oferece conforto para usufruir a dinâmica, pode ser uma consequência natural experimentarmos ansiedades, medos, ressentimentos, raiva, entre outras “emoções” as quais não seriam necessárias e nem estariam presentes se a desorganização não encontrasse espaço para se alojar. Sendo assim, um olhar mais acurado pode permitir que modifiquemos um modo de agir comum ao momento atual, mas nem por isso salutar.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


22 abril 2016

CORDIALIDADE E RESPEITO

Até qual ponto podemos estar tão voltados para nós mesmos e nossas prioridades, que deixamos de nos atentar para as necessidades daqueles que nos acompanham.

No dicionário Aurélio encontra-se a seguinte definição para quem é cordial: relativo ou pertencente ao coração; afetuoso, afável; sincero e franco. Tal qualidade sempre é muito apreciada. Isto é, desejamos encontrar pessoas cordiais em nosso caminho.
Até que ponto, porém, estamos dispostos a usarmos nossa cordialidade com aqueles que transpassam nosso caminho? É comum desejarmos e, até esperarmos das pessoas, de modo geral, elas serem afetuosas, gentis, cuidadosas e sinceras conosco. Entretanto, nem sempre nos dispomos a tal comportamento para com os outros.
Certamente temos infinitas razões para isso. Podemos estar com pressa devido a algum compromisso. Ou estarmos aborrecidos devido a algum inconveniente ao qual fomos submetidos. Ou simplesmente não termos despertado pela manhã com disposição para tal empreendimento. Então, temos nossas razões, e jamais poderão ser contestadas, salvo se aquele que a contesta estiver preparado para uma batalha.
Ao observar um grupo, todos estavam a esperar o último membro desse para embarcar em uma viagem. Quando este se aproximou os outros destacaram que o esperavam há algum tempo e, em resposta, ele afirmou não ter pressa.
Interessante esse fato para ilustrar até qual ponto podemos estar tão voltados para nós mesmos e nossas prioridades. A fim de deixarmos de nos atentar para as necessidades daqueles que nos acompanham. No referido caso um dos integrantes do grupo não tinha necessidade de apressar-se, contudo os outros três sim. Mas, isso não constituía um problema para quem não tinha compromisso com horários naquele momento.
Podemos, então, aliarmos outro comportamento à cordialidade, o respeito. Quando nos colocamos em situação de respeitar quem compartilha conosco alguma situação, exercitamos a cordialidade sem nenhum esforço. Isso porque, com essa atitude, demonstramos ao outro que não só o vemos, mas também somos capazes de perceber nuanças sutis com tal proximidade.
Nesse caso, ao exercitarmos atenção à cordialidade e ao respeito dispensados a quem participa do nosso convívio, podemos em consequência disso experimentar a satisfação de recebermos em resposta respeito e cordialidade. Os quais poderão nos envolver em sentimentos de satisfação e nos propiciar disposição para novas investidas em nosso desenvolvimento pessoal.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

15 abril 2016

ELOGIAR O QUÊ?

Se nos dispusermos a prestar mais atenção àquilo que funciona de modo satisfatório, corremos um grande risco de nos surpreendermos.

Alguém comentou sentir falta de elogios em sua vida. Num primeiro momento pode-se pensar que esse alguém talvez não seja cercado por pessoas que o admiram ou não seja realmente merecedor de elogios.
Contudo, ao refletirmos um pouco poderemos nos lembrar de que o ser humano oferece melhores condições de sucesso quando é reconhecido em suas atitudes. Sejam elas de maior ou menor importância. Mas, nem sempre nos preocupamos em reconhecer os valores de quem relaciona conosco em nosso dia-a-dia.
O elogiar alguém envolve de nós a inciativa de atentarmos para coisas que mereçam elogios. Isto é, deixarmos de dispensar tanta atenção ao que não nos satisfaz ou decepciona e voltarmos essa atenção para coisas que mereçam nosso reconhecimento. Porém, essa não parece ser uma tarefa fácil. O que nos impede de olharmos para o que é bom em lugar de voltarmos nossa atenção ao que necessita de cuidados?
Se algo precisa de nosso cuidado é compreensível nos voltarmos para esse algo. Entretanto, ao nos habituarmos a nos ocuparmos apenas com o que solicita nossa atenção, poderemos nos “viciar” em ignorar os pequenos esforços de quem compartilha conosco as tarefas diárias.  E que ao serem incentivados por nosso reconhecimento poderiam ampliar seu rol de iniciativas.
Se nos dispusermos a prestar mais atenção àquilo que funciona de modo satisfatório, corremos um grande risco de nos surpreendermos. Pois, é bem possível o número dessas oportunidades serem em maior quantidade do que supomos.
Torna-se mais difícil nos darmos conta de algo quando estamos envolvidos em situações rotineiras, as quais nos “prendem” num ciclo do qual não é fácil sair. Todavia, se não empreendermos algum esforço para mudar, poderemos perder muitas oportunidades de nos relacionarmos com situações mais favoráveis. E permitir àqueles os quais fazem parte de nossa rotina experimentar satisfação em nosso contato.
Sempre ao buscarmos modos diferentes de agir abrimos espaço para o novo. E, deste modo, as possibilidades podem tornar-se oportunidades de desenvolvimento e satisfação. E, assim, ampliarmos nossa perspectiva em relação ao que pode destacar-se de maneira positiva em nosso dia-a-dia.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


08 abril 2016

MORTE – FIM OU INÍCIO?

Temos contato com a morte em diversos momentos em nosso dia-a-dia. Precisamos, então, exercitar maneiras mais amenas para nesse processo, quando os sentimentos se apresentarem, serem aceitos.

Sempre ao ouvir-se a palavra morte experimentamos algumas sensações. Afinal, é difícil ser indiferente a ela. Podemos sentir medo, tristeza, desespero, satisfação ou, até mesmo, alívio. Mas quais tipos de morte existe? O que é a morte? Morre-se somente quando uma vida finda ou há outros tipos de morte a se pensar?
Ao concluirmos algo que havíamos nos comprometido e compararmos esse concluir com a morte, poderemos amenizar os efeitos que tal palavra tem sobre nós. Teremos, assim, a oportunidade de um olhar diferente para tudo o que iniciamos e terminamos. Isto é, compreendermos de um modo diferente os diversos ciclos com os quais nos envolvemos.
No processo de se lidar com a perda de algo querido experimentamos muitos sentimentos. Porém, se exercitarmos a compreensão dessa perda como parte de um ciclo no qual estamos imersos, poderemos ser capazes de avaliar mais claramente o que está realmente ocorrendo.
Temos fases “definidas” em nosso processo de crescimento: infância, puberdade, juventude, vida adulta e velhice. Ao início de cada nova fase a antiga precisa ser “enterrada”. A criança precisa deixar de existir de maneira plena para o adolescente tomar forma. O adolescente precisa ocultar-se para o jovem assumir seu papel e fazer suas escolhas. O jovem tem necessidade de abandonar o palco para o adulto assumir suas responsabilidades e organizar sua vida de modo a ser capaz de desfrutar suas conquistas.
Da mesma forma nosso crescimento tem fases. Se procurarmos fazer uma analogia encontraremos em tudo o que fazemos um processo semelhante. Ao engendrarmos uma nova empreitada temos um momento no qual iniciamos contato com informações novas. Depois amadurecemos tais informações para então elas tomarem forma e poderem assumir seu papel diante daquilo que decidimos. Entretanto, ao deliberar por algo sempre deixamos para traz outra opção que então “morre”. Pois, ao fazermos uma escolha algo precisou ser renunciado.
Temos contato com a morte em diversos momentos em nosso dia-a-dia. Precisamos, então, exercitar maneiras mais amenas para nesse processo, quando os sentimentos se apresentarem, serem aceitos. Desse modo, poderem ser compreendidos e utilizados em prol de nossa aprendizagem para lidar com temas, a princípio, causadores de algum desconforto.
Com tal exercício podemos reunir um verdadeiro arsenal para nos envolvermos com as mais diversas situações e nos sentirmos aptos a enfrentar os mais variados tipos de desafios.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

01 abril 2016

MEDO QUE PARALISA

O importante é privilegiarmos nossa sobrevivência de modo a nos sentirmos realizados, conscientes de que a não ação é uma opção entre tantas outras.


É comum nos amedrontarmos diante de algo assustador, ou mesmo diante de uma situação nova com a qual nos deparamos e que nos solicita uma ação para que ela se resolva. No entanto, não é incomum assumirmos uma posição mais confortável, mas que não representa aquela que irá nos oferecer o melhor resultado.
Quando optamos por não agir, isto é, em nos ausentarmos de alguma ação efetiva, nos colocamos a mercê do resultado por vir. Sartre, filósofo, discorre em suas obras sobre a liberdade a qual somos “submetidos”, pois necessitamos lidar com as consequências de nossas escolhas. Para Heidegger, filósofo, somos livres para adicionarmos, ou não, opções às nossas escolhas.
Então, quando escolhemos a não ação diante de uma nova situação, estamos optando em colocar em prática a liberdade descrita por Sartre. Ou seja, nos colocamos no aguardo dos resultados como consequência de nossa escolha em não agir.
Entretanto, se escolhermos praticar a liberdade descrita por Heidegger e ampliarmos nosso rol de possibilidades, teremos que agir. Desse modo, a não ação fica descartada. Assim, um movimento nos é necessário no sentido de executarmos a ação em benefício da solução da situação apresentada.
No momento e que decidimos agir, impedimos a nossa paralização diante do medo que pode se pronunciar quando necessitamos nos movimentar. Porém, o risco está sempre presente e para lidarmos com a insegurança que ele proporciona é necessário o exercício da ação.
Podemos não estar habituados a essa atitude ativa, contudo, se aspiramos um resultado satisfatório para o nosso desejo, será necessário mudarmos nosso padrão de comportamento quando diante de situações novas.
Tal atitude pode tornar-se aterrorizante. Nesse momento, podemos necessitar de algum suporte para nos “apoiarmos”. Esse suporte pode ser um amigo, um conhecido, um parente, ou mesmo um profissional habilitado para tanto.
O importante é privilegiarmos nossa sobrevivência de modo a nos sentirmos realizados, conscientes de que a não ação é uma opção entre tantas outras. Porém, ela nos coloca passivos diante de algo que poderia nos surpreender se nos tornássemos ativos.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124