27 julho 2012

SORTE


Habitualmente denominamos sorte o que ocorre alheio a nós. Isto é, aquilo que ocorre “independente” de nossos esforços, desejos ou, até mesmo, inércia. O dicionário Aurélio traz a seguinte definição: “força que determina ou regula tudo quanto ocorre, e cuja causa se atribui ao acaso das circunstâncias ou a uma suposta predestinação”.
No entanto, ao refletir acerca desse conceito possibilitamos a oportunidade de mudar nosso ponto de vista relacionado à sorte. Colocar em prática a afirmativa do filósofo Heidegger o na qual se destaca que ao ampliarmos nosso rol de possibilidades exercemos nossa maior oportunidade de liberdade.
Não podemos, porém, nos esquecer de nosso potencial para justificar o que não conseguimos alcançar. Seja para nos confortar devido à frustração experimentada. Ou para apaziguar nossos ânimos em relação a uma grande satisfação. Justificar nossa perda ou ganho de modo a não estarem totalmente em nossas “mãos” as possibilidades para tal, nos torna mais próximos da “normalidade”.
Porém, com tal atitude deixamos de lado também a constatação de nossa capacidade, e de nosso esforço no que tange o empenho, ou não, em prol do que almejamos. Ao atentarmos para nossa história pessoal não é difícil justificarmos nossos ganhos com explicações às quais não abarcam nosso empenho e dedicação para com os eventos que culminaram em algum ganho no presente.
É comum deixarmos nossa história passada no esquecimento, como se o presente não tivesse conexão alguma com ela. Nos esquecemos dos momentos em que deixamos de lado alguma frustração ou decepção, para que fosse possível a manutenção de alguma relação familiar ou não. Contudo, se considerarmos sermos o resultado de nossas experiências passadas. Todas elas assumem papel sumamente importante em quem somos atualmente.
Então, torna-se de grande importância nossa busca em prol do conhecimento pessoal pormenorizado, para sermos capazes de compreender nossas atitudes. Para assim nos tornarmos aptos a valorizar e exercer a manutenção delas, para que nos permitam satisfações e ganhos. Bem como, um olhar crítico àqueles comportamentos os quais nos conduzam a sofrimentos físicos ou emocionais, para que tal conhecimento possa nos capacitar à revisão deles e quiçá seu abrandamento.
Importante salientar, contudo, que tal reflexão não demanda tarefa fácil ou amena. Entretanto, ao assumirmos a posição de artífices de nossa história, ao buscar formas de compreensão para quem somos, incorremos na possibilidade de amenizarmos sofrimentos pessoais, estes talvez classificados como desnecessários. E, desse modo, experimentarmos prazeres antes deixados de lado em prol de um bem estar, até então, ilusório.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

20 julho 2012

AMOR PRÓPRIO


Somos todos dotados da capacidade de amar. No entanto, diversas referências costumam afirmar o amor e o ódio serem parceiros. Isto é, segundo elas o amor e o ódio seriam dois sentimentos tão unidos que, em muitas ocasiões, um substituiria o outro sem ao menos nos darmos conta.
Fala-se a respeito da importância em se ter amor próprio. Ele nos permite cuidar de nós em diversos âmbitos. Físico, emocional, psíquico, entre outros. Porém, não nos atentamos para o fato de que, em muitas ocasiões, podemos experimentar o parceiro desse amor, o “ódio próprio”.
Quantas são as ocasiões nas quais nos culpamos por algo. Uma atitude impensada, um ato súbito movido pelo impulso, uma resposta mais áspera devido a um dissabor que, muitas vezes, não tem correlação alguma com quem foi alvo de nossa aspereza. Mas, o importante é que em muitas dessas ocasiões, além de experimentarmos o sentimento de culpa exercitamos também a inércia.
Tal exercício pode nos levar a um acúmulo de sentimentos nocivos a nós mesmos. Não nos damos conta disso porque ao avaliarmos nossa conduta e nos decepcionarmos com ela, entendemos também ser justo nos “condenarmos” e nos “punirmos”. Afinal quem melhor para ser nosso algoz do que nós mesmos?
Nem sempre nos damos conta disso, contudo, podemos nos tornar o mais duro carrasco contra nós mesmos. E, quando isso ocorre, as consequências podem ser as mais penosas possíveis.
Por isso, é importante nos mantermos atentos aos nossos pormenores relacionados aos nossos sentimentos e comportamentos. Para, assim, nos tornarmos aptos a julgamentos mais “justos”.
Ou seja, para quando detectarmos um ato nosso que desaprovamos ou, ao menos, não ficarmos muito satisfeitos, possamos ser capazes de colocar em prática nosso bom senso. E não nos punirmos de modo tão severo, a ponto de prejudicarmos nosso bem estar e equilíbrio, bem como nossa possibilidade de desenvolvimento pessoal.
Sendo assim, nos cabe buscar os meios disponíveis para nos tornarmos habilitados a avaliações mais adequadas em relação ao nosso modo de ser. Pois, ao colocarmos em prática tal atitude, permitimos uma conquista pessoal que pode nos proporcionar diversas ocasiões nas quais experimentamos a sensação da plena realização.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

12 julho 2012

LIMITES: ONDE ESTÁ?


Vivemos em sociedade, isto é, em grupos. Nos tornamos seres humanos com uma existência plena de possibilidades a partir do contato com o outro. No entanto, esse contato tem sido alvo de diversos questionamentos, especialmente na atualidade. Zygmunt Bauman, sociólogo e autor de diversos livros, destaca temas referentes à liquidez das relações bem como a busca do desprendimento que se tem experimentado nos dias de hoje.
Cada vez mais questionamos a respeito da qualidade dos laços os quais estabelecemos com quem compartilha nossa existência. Não é incomum alguém salientar a necessidade em aprimorarmos tais laços, bem como encontrarem-se formas de ampliar nossos contatos de qualidade.
No entanto, nos esquecemos de que todos nós possuímos limites. Ou seja, é comum percebermos o que conseguimos suportar e, inclusive, nos lamentarmos a respeito da incompreensão dos outros em relação ao limiar de nossa paciência. Mas, nem sempre exercitamos o oposto, ou seja, compreender qual o limiar da paciência alheia. E, assim, corremos o risco de induzir quem nos cerca a um ponto em que o conter-se diante de algo que o constrange torna-se praticamente impossível.
Em uma conversa alguém chamava a atenção para um fato em que certa pessoa teria se descontrolado publicamente, ocasionando escândalo e o julgamento de todos os presentes. Porém, nos esquecemos de que todos nós estamos em uma condição semelhante, pois a todo o momento podemos ocupar a posição de réus nos julgamentos.
Costumamos avaliar e definir causas para fatos os quais não possuímos todas as informações. Assim, certamente nossa conclusão será permeada de incorreções e injustiças. Lamentavelmente, são raros os momentos em que nos dispomos a conhecer os pormenores de determinada situação. Incorremos nessa conduta inclusive conosco quando relegamos a um segundo plano a busca de entendimento para nosso modo de ser.
Desse modo, angariamos, para nós mesmos, dissabores dos mais simples aos mais complexos. E, justificamos ao afirmar não ser possível uma mudança para abreviarmos esses mal-estares. Então, embasados na crença da impossibilidade, justificamos para nós mesmos nossa inércia no sentido de aprimorarmos esse jeito de agir e reagir para, assim, amenizarmos as “punições” das quais ficamos a mercê.
Sendo assim, algumas questões podem tornar-se pertinentes: onde se encontra nosso limite? Como compreender e estabelecer modos de agir e reagir de forma a não nos agredirmos e também “controlarmos” a agressão do outro para conosco?
Talvez esteja no conhecimento amplo a respeito de nossa história pessoal, a possibilidade de nos apropriar de nossa liberdade de ação em relação ao que nos fere. Para, assim, nos tornar soberanos em nossa própria existência.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

06 julho 2012

DESFECHOS


Ao longo de nossa existência nos acostumamos aos “sinais” que observamos ao nosso redor. Sejam eles reais ou imaginários podem estar presentes e interferir em nossas decisões, em nosso estado de humor, bem como em nosso olhar para as diversas situações as quais vivenciamos.
A frequência com que alguns tipos de conclusões ocorrem, podem nos fazer estabelecer uma relação de prevenção referente àquele tipo de situação. Isto é, podemos desenvolver uma espécie de “defesa” contra algo quando acreditamos ser passível de nos ferir de algum modo. Pois, mesmo contra nossa decisão nossa mente busca a proteção de nosso bem estar geral, físico e psíquico.
No dicionário Aurélio encontra-se a definição de conclusão, epílogo, remate para o termo desfecho. No entanto, para essa reflexão podemos defini-lo como algo que nos conduz a uma crença em um modo de as coisas serem definidas. Quer dizer, a forma como alguns fatos são concluídos levam a uma familiaridade com ela, induzem à convicção de que sempre, ao nos defrontarmos com aquele tipo de ocorrência, o desfecho será semelhante.
Na busca de nosso bem estar nos apegamos às rotinas variadas. Isso nos torna seguros do porvir, ou seja, nos conduz a uma “certeza” do que irá acontecer em nosso futuro. Porém, essa “certeza” constitui uma ilusão, devido ao fato de muitos fatores estarem envolvidos na continuidade, inclusive, do nosso existir.
Então, ao partir da ideia de que as nossas vivências influenciam bem mais nosso modo de ser do que poderíamos desejar, ao se buscar formas de identificar quais situações nos propiciam sensações agradáveis ou não, podemos, diante disso, possibilitarmos a repetição de desfechos os quais nos permitam experimentar satisfações.
Nos habituamos a sentimentos diversos e somos levados a acreditar que eles são definitivos. No entanto, se nos lembrarmos de Fritjof Capra em seu livro “O Ponto de Mutação”, ele destaca o constante movimento em que nos encontramos envolvidos e da influência que proporcionamos uns aos outros. Podemos, dessa forma, entender serem possíveis mudanças inesperadas, inclusive nos desfechos aos quais estamos habituados.
Para isso, basta atentarmos para nossos pormenores e as sensações que eles causam. Dessa forma, iremos nos conhecer de modo mais “íntimo”. E, assim, nos aproximarmos da possibilidade de conduzirmos os desfechos que permeiam nosso existir.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124