30 dezembro 2017

A DOR E O PRAZER EM CRESCER

“O auge de nosso desenvolvimento ocorre quando nos tornamos autossuficientes, independentes e aptos a assumirmos as ilações referentes às nossas escolhas.”


Nem sempre estamos dispostos a acatar as consequências das nossas escolhas. Torna-se muito mais confortável, quando o resultado de nossa escolha não corresponde ao vislumbrado por nós. Descartarmos a lembrança de que partiu de nossa iniciativa a opção acolhida como a mais adequada e que nos frustrou.
Num impulso somos levados a agir dessa forma desde o período inicial de nossa existência. Isto é, quando ainda somos infantes e não possuímos a habilidade da reflexão pormenorizada. Entretanto, tal atitude pode assumir um papel desconfortável, no momento em que permitimos sua ocorrência em um período em que há a necessidade de assumirmos os riscos, possibilidades e, principalmente, responsabilidade pelas escolhas que fazemos.
Contudo, tal postura envolve a conclusão de um processo, o qual culmina em nos localizarmos com maturidade suficiente para nos autodenominarmos – adultos. Isto é, o auge de nosso desenvolvimento ocorre quando nos tornamos autossuficientes, independentes e aptos a assumirmos as ilações referentes às nossas escolhas.
Os filósofos Jean-Paul Sartre e Martin Heidegger afirmam respectivamente, sermos livres para escolher, mas condenados por essa liberdade; e capazes de ampliarmos nossas opções, o que constitui nossa real liberdade, porém ainda que relacionadas às escolhas feitas anteriormente em nosso existir.
Então, talvez se localize em nossa capacidade de vislumbrar as consequências pertinentes às opções que temos, para nos permitirmos nos habilitarmos a fazer escolhas menos envolvidas em emoções, o que é comum praticar quando crianças. E, exercitarmos nossa capacidade de avaliação ao que consiste a “realidade” na qual estamos envolvidos.
Desse modo, podemos colocar em curso o processo de nosso desenvolvimento o qual tende a culminar em nossa maturidade que nos permite o exercício pleno de nossa liberdade segundo os filósofos Sartre e Heidegger.

QUE EM 2018 SEJAMOS CAPAZES DE NOS DISPOR A TRABALHARMOS EM PROL DO NOSSO CRESCIMENTO PESSOAL... PORÉM, SEM NOS ESQUECERMOS DE QUE O DIVERTIR-SE TAMBÉM FAZ PARTE DESSA TRAJETÓRIA.
FELIZ 2018 A TODOS!!!

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

22 dezembro 2017

ENTÃO... É NATAL!!!

Em um tempo em que muitas informações estão disponíveis, há quem afirme que não há sentido em se comemorar o Natal ao ter em vista o aniversariante não ter nem nascido essa época.


Alguém comentou que neste ano está estranho esse período de festas. Estávamos a seis dias do Natal e ela dizia que as pessoas estavam as mesmas, isto é, não haviam mudado seus compromissos rotineiros e nem sequer preparavam-se para grandes viagens ou comemorações.
Em um tempo em que muitas informações estão disponíveis, há quem afirme que não há sentido em se comemorar o Natal ao ter em vista o aniversariante não ter nem nascido essa época. Ou seja, temos acesso a informações cada vez mais precisas. E que desmentem muitos fatos tornando-os dispensáveis ou sem sentido lógico.
Porém, vivemos também em uma época em que algo parece sempre faltar. Estudiosos atentam para fatos diferentes na tentativa de explicações e justificativas para tais sensações. Mas a questão é: o que falta?
Não raro é experimentarmos, vez ou outra, uma sensação de vazio, de carência que nem sempre somos capazes de identificar a origem. Buscamos deixa-la de lado, “escondida” em algum lugar onde, com o tempo, seremos capazes de esquecer e assim continuar a viver.
Será que isso é o suficiente? Continuar vivendo carente de emoções pode tornar-nos indiferentes pelo simples hábito de buscarmos a indiferença. Nos habituarmos a não permitir sentimentos que nos remetam a pesares ou a sensações as quais nos façam parecer  humanos, pode ter um alcance inesperado e até indesejado. Podemos nos tornar alheios às emoções desagradáveis. Mas também podemos permanecer indiferentes a tudo ao nosso redor e, assim, experimentarmos a sensação de um vazio de uma busca sem nem sabermos o que é procurado.
Uma amiga me contou um episódio de um livro no qual um piloto sofre um acidente em uma montanha coberta de gelo. Ele sobrevive e sabe que para continuar vivo precisa permanecer em movimento. Deste modo, coloca-se a andar por mais de três dias. Quando não aguenta mais tem o impulso de parar e deixar o gelo fazer seu trabalho. Porém, ao lembrar-se de sua esposa imagina a decepção dela ao saber de sua desistência e isso o faz continuar.
Ao longo do tempo enquanto espera o salvamento, esse piloto consegue manter-se em movimento. Buscar a cada momento um sentido diferente para continuar. Estudos afirmam que um animal, por ser irracional, teria mais chances de sobrevivência por guiar-se somente por instintos. No entanto, esse episódio nos mostra exatamente o oposto. Por sermos racionais, seres sentimentais e emocionais, temos um “quesito” o qual nos permite buscarmos em nós mesmos forças para continuar.
Então, se nesse período de Natal o impulso de sentir desânimo se fizer presente, uma alternativa é buscar sentidos para nos permitir continuar... Nem sempre constitui tarefa fácil essa busca de sentido que permita a força para continuar. Porém, em uma época de tantas carências, será que não vale a pena investirmos em sentimentos adormecidos que permitam experimentar sensações que nos levem ao menos a certeza de estarmos vivos?

Que neste Natal tenha início uma busca incansável e duradoura.

Feliz Natal!

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

28 novembro 2017

A BELEZA DO TRAJETO

Atualmente, com as solicitações comerciais para o prazer imediato associado ao possuir, é comum não percebermos como chegamos a determinado “ponto”.


As urgências diárias, sejam elas de médio ou longo prazo, nos levam a focar em um objetivo, e assim não nos atentamos para o processo envolvido na busca dele. Ou seja, enxergamos a “partida e a chegada, mas não observamos a paisagem durante o trajeto”.
Em uma palestra a psicóloga Yolanda Cintrão Forghieri contava sobre o fato de um dia um professor seu chamar-lhe a atenção para a necessidade em se observar pequenos detalhes; como o balançar de folhas de uma árvore, ou a satisfação em sanar a sede ao degustar um “saboroso” copo de água. Segundo ele, ao desviarmos nossa atenção dos detalhes existentes ao nosso redor, deixamos de apreciar pequenas nuances as quais poderiam nos surpreender por sua beleza ou, quiçá, pelo prazer que nos proporcionasse.
Atualmente, com as solicitações comerciais para o prazer imediato associado ao possuir, é comum não percebermos como chegamos a determinado “ponto”. Experimenta-se ansiedades das mais variadas, permeadas de síndromes com nomes cada dia mais sofisticados e surpreendentes. Busca-se fórmulas mágicas para tudo, desde a cura de uma doença ao desenvolvimento de um corpo perfeito. O tempo urge e precisamos correr para alcançarmos sabe-se lá o que. O importante é chegar.
Porém, se voltarmos nossa atenção ao professor da psicóloga Yolanda e refletirmos um pouco acerca de seu comentário, poderemos aventar a possibilidade de talvez estarmos deixando passar algo desapercebido. E, desse modo, perdendo a oportunidade de apreciar algum detalhe que poderia nos proporcionar alguma satisfação.
 As oportunidades de exageros atuais nos conclamam a nos envolvermos em decisões rápidas, as quais nem sempre representam o que realmente queremos. Contudo, sem atentar para os detalhes do processo, podemos não ser capazes de percebermos o que houve.
Então, se nos propusermos a buscar formas de observar a paisagem durante qualquer trajeto, podemos incorrer em um grande risco de nos surpreendermos com sua beleza. E assim, diante do prazer e satisfação, acabaremos por nos “distrair”, talvez chegando ao término da viagem sem nos darmos conta das dificuldades e desprazeres envolvidos nela.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

04 novembro 2017

DISTÂNCIA SEGURA


“É importante cuidarmos de nosso bem-estar e buscarmos formas de nos protegermos. Entretanto, precisamos nos manter atentos para não descuidarmos de nossas relações.”

Uma maneira de nos mantermos tranquilos a respeito de algo é nos distanciarmos. Enquanto criança somos levados a um aprendizado que possibilita nos protegermos daquilo que nos oferece algum tipo de perigo. Isto é, não nos expormos a alturas perigosas entre outras situações.
Não podemos nos esquecer, porém, da proteção relacionada ao nosso bem estar psíquico e emocional. Sendo assim, encontrar formas de defender a manutenção desse bem estar, está de certa forma inerentemente relacionado à continuidade de nosso existir. Pois, somos amparados o tempo todo por nosso aparelho psíquico, o qual se mobiliza nos momentos de maior dificuldade no intuito de nos manter equilibrados o máximo possível.
A psicóloga e autora Lídia Rosenberg Aratangy afirma haver um tipo de mecanismo para nos tranquilizar e ajudar a viver com alguma sensação de segurança num mundo abastado de perigos. Tal mecanismo, segundo a psicóloga, consiste em dividir a humanidade em duas partes: nós e os outros. Ou seja, ao nos colocarmos aparte de todos os outros salvaguardamos a distância e, com isso, “garantimos” nossa segurança.
Contudo, tal segurança pode tornar-se contraditória ao considerarmos o fato de nos construirmos como seres existentes na medida em que nos relacionamos com os outros. Então, estabelecer tal separação entre nós e o resto do mundo pode nos colocar numa situação, futuramente, inconveniente.
É extremamente importante cuidarmos de nosso bem estar e buscarmos formas de nos protegermos. Entretanto, precisamos nos manter atentos para não descuidarmos de nossas relações, tendo em vista residirem nelas nossas possibilidades para novas oportunidades de desenvolvimento pessoal.
Sendo assim, fixar distâncias seguras do que pode nos prejudicar é essencial. Contudo, é preciso ter cautela com esse processo, para ao final não nos encontrarmos carentes do desenvolvimento de mecanismos os quais permitam nos relacionarmos com o outro (seja esse outro algo ou alguém) de modo satisfatório. Pois, a mesma distância que nos protege pode transformar-se em obstáculo.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

17 outubro 2017

IDAS E VINDAS NOS RELACIONAMENTOS

"Gostamos de taxar as pessoas com rótulos e isso nos faz confortáveis porque nos exime de qualquer participação na construção daquele ser. No entanto, influenciamos e somos influenciados por quem nos cerca."

Nossos comportamentos provocam respostas naqueles com quem nos relacionamos. Seria ingênuo crer que ao conviver com alguém as respostas seriam aleatórias, ou seja, não estariam relacionadas aos modos de ser de cada um. O contato com alguém movimenta o outro tanto quanto nos movimenta.
Ao lamentar a atitude ou o modo de ser de alguém, não podemos nos esquecer da troca que ocorre em toda relação. É difícil afirmar em qual ponto determinado modo de relacionamento teve início, mas é possível conhecer o que ocorre para que as respostas em certo contato sejam insatisfatórias.
Gostamos de taxar as pessoas com rótulos e isso nos faz confortáveis porque nos exime de qualquer participação na construção daquele ser. No entanto, mesmo contra nosso desejo, influenciamos e somos influenciados por quem nos cerca.
Ao nosso alcance está a possibilidade de assumir o cuidado com o contato para este ser especial e/ou proveitoso. Ou seja, ao “olharmos” de um modo mais atento para os relacionamentos que estabelecemos, podemos tornar possível a manutenção da qualidade deles.
É evidente não podermos contar com essa possibilidade em todas as ocasiões, mas a cada momento que somos capazes de olhar para nós mesmos e aceitar nossas verdades, sejam elas prazerosas ou não, abrimos caminho para nosso desenvolvimento pessoal. E assim, por conseguinte, de quem convive conosco. Deste modo, modificamos a qualidade de cada relação que estabelecemos com os outros.
Então, se desejamos ter alguém próximo a nós de determinada forma, isto é, que esse alguém tenha alguns comportamentos os quais almejamos nesse outro, não podemos nos esquecer de que todo contato constitui uma via de duas mãos. Isto é, oferecemos, porém, também recebemos.
É impossível nos relacionarmos sem que haja trocas, e essas trocas permeiam a essência do nosso modo de ser e daqueles com quem estabelecemos algum tipo de contato. Sendo assim, ao nos conhecermos verdadeiramente e aceitando nossos limites, nos tornamos mais aptos a estabelecer relacionamentos que proporcionem maiores satisfações, mais duradouros e envolvidos em menos frustrações.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

25 setembro 2017

ACERTANDO E ERRANDO LIVREMENTE

De acordo com determinado ponto de vista podemos compreender que alguém vive sob restrição de sua liberdade e não apenas a consequência de suas escolhas.

                
Desde muito cedo ouvimos a respeito de certo, errado e liberdade. Usualmente, constitui o certo algo que corresponda a ausência de erro, que esteja correto e que não ofereça dúvidas. Já o errado representa algo que não se apresenta em uma direção correta ou apropriada.

Tais definições nos levam ao alcance do conceito de certo e errado popularmente conhecido por nós. Concebe-se, ainda, que liberdade corresponda ao direito de agir de acordo com nosso livre arbítrio, com a nossa própria vontade e que não prejudique qualquer outro. Pode também configurar a sensação de não se depender de ninguém, ou ainda, termos como um direito sendo cidadãos corretos. Essas concepções correspondem àquilo que tradicionalmente se disseminou como sendo certo, errado e liberdade.  

Diversos pensadores, ao longo da história, abordaram esses conceitos de maneira a refletir sobre eles. Na filosofia, por exemplo, esse ponto de vista pode ser bem diferente. Para o filósofo existencialista Sartre, liberdade representa uma condenação para o homem, tendo em vista este ser, na verdade, condenado a ela. Pois, segundo ele, escolhemos mesmo quando acreditamos não estarmos optando por uma alternativa que nos tenha sido apresentada.

Heidegger,outro filósofo existencialista, nos diz que liberdade consiste em uma possibilidade para nós. Ou seja, podemos nos fazer livres à medida que nossas escolhas se apresentem libertas de determinações. Destaca ainda, que tais determinações podem estar calcadas em orientações externas a nós, porém, tangenciadas em nosso modo de ser.

Deste modo, se levarmos em conta essas concepções, podemos compreender liberdade, erro e acerto como conceitos um pouco mais flexíveis. Isto é, talvez o que seja adequado para um indivíduo pode não ser para um outro e deste modo, o certo se constitua em errado.

De acordo com determinado ponto de vista podemos compreender que alguém vive sob restrição de sua liberdade e não apenas a consequência de suas escolhas e vice-versa. Poderíamos, então, classificar erros e acertos na existência de alguém, quando, possivelmente o que se presencia é apenas uma das possíveis formas de se escolher?

Sendo assim, não podemos deixar de conceber ser possível mudarmos a direção de nossas escolhas de acordo com as possibilidades que se apresentam.  E, quiçá, possibilitarmos, inclusive, uma nova gama de alternativas possíveis. Talvez isso represente uma nova forma de se conceber erros, acertos e liberdade.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga – CRP 06/95124
E-mail – marciabcavalieri@hotmail.com


05 setembro 2017

VORAZ!! QUEM??


Em nosso existir podemos experimentar situações nas quais nos permitimos acreditar terem sido, elas, astuciosamente planejadas para nos frustrar e nos conduzir, assim, a uma situação de revolta

Não raro ocorre de nos sentirmos prejudicados ou experimentarmos a sensação de que o mundo nos negou algo. Nesse momento, se formos capazes de atentarmos para nosso proceder e darmos curso a uma pequena análise, incorreremos na possibilidade de localizarmos em nós mesmos uma das fontes de nosso mal-estar. No entanto, nem sempre estamos aptos a essa conduta.
Em nosso existir podemos experimentar situações nas quais nos permitimos acreditar terem sido, elas, astuciosamente planejadas para nos frustrar e nos conduzir, assim, a uma situação de revolta. Nesse caso, nos identificamos como alguém sofredor submetido a injustiças.
Melanie Klein, psicanalista, em seu livro “Inveja e Gratidão” define voracidade como uma ânsia impetuosa e insaciável. Nela o indivíduo, voraz, excederia o necessário, desejando além do que quem oferta pode ou está propenso a disponibilizar para nós. Podemos, então, a partir dessa definição, compreender sermos capazes de criar significado para o limite alheio como uma recusa em satisfazer nosso desejo, mesmo que ele seja permeado do excesso para aquele a quem direcionamos nossa “voracidade”.
Então, podemos nos identificar como vítimas numa ocasião em que isso não represente, necessariamente, uma realidade e procedermos em uma compreensão distorcida do limite do outro. Desse modo, entendendo o comportamento deste outro como sendo uma lesão que nos proporciona algum prejuízo.
Em algumas ocasiões pode ocorrer de amenizarmos nossos feitos reprimíveis e abrandarmos nossos comportamentos desagradáveis bem como ampliarmos nossa posição de sofredores. Porém, ao fazer uma reflexão, é possível o contato com os fatos ocorridos de modo mais claro. Assim, torna-se possível avaliar o todo de um modo límpido, para suceder a apropriação de informações mais plausíveis concernentes ao ocorrido.
Ao nos permitirmos tal comportamento, damos lugar ao exercício pleno de nossa liberdade, como difundida pelos filósofos Martin Heidegger e Jean Paul-Sartre, a qual nos permite ampliarmos nossas possibilidades e escolhermos dentre elas a que julgamos mais satisfatória aos nossos propósitos.
No entanto, nem sempre estamos dispostos em um investimento dessa magnitude e podemos optar por permanecermos vorazes. Mas, é importante a consciência da total liberdade de escolha que possuímos e da conseguinte condenação vinculada a ela: suas consequências. As quais somos impelidos sempre que optamos por algo.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124



18 agosto 2017

PARADOXO DO NOVO

Movimento, a princípio, indica algo que todos desejamos, mas nem sempre estamos dispostos a alcançá-lo.
  
É comum nos assustarmos com o novo. Historicamente temos diversas referências, especialmente entre os filósofos como Giordano Bruno, Galileu Galilei e Sócrates. Seus discursos assustaram porque inovaram. Sugeriram pensamentos e comportamentos diferentes aos do costume da época.
Se procurarmos poderemos encontrar muitos outros nomes, mas o importante neste momento é refletirmos sobre a angústia que acompanha o que representa algo novo em nossa existência. Sempre que alguma idéia nova surge temos um primeiro impulso de repudiá-la, pois nos convida a mudanças e essas ocasionam desconforto.
Ao atentarmos para o novo nos colocamos em uma situação de fragilidade devido ao fato de o conhecido confortar, proporcionar segurança e confiança. Então, é comum presenciarmos situações de medo quando uma criança é levada pela primeira vez a uma escola onde, mesmo na companhia de outras crianças, sente-se desamparada e assustada. Além das questões emocionais envolvidas, que não é nosso objetivo no momento, a situação do novo sempre desequilibra de algum modo.
Nos desequilibramos o tempo todo se intentamos nos movimentar. Ao trocar um passo experimentamos a perda do equilíbrio momentaneamente, para retomá-lo rapidamente e assim por diante. Mesmo, se desejarmos um simples caminhar, apesar de termos a opção de permanecermos no mesmo lugar, estanques. Da mesma forma agimos em outros âmbitos. Para experimentarmos algo novo necessitamos sair do equilíbrio no qual nos encontramos e então, conhecermos o movimento que o novo convida.
Movimento, a princípio, indica algo que todos desejamos, mas nem sempre estamos dispostos a alcançá-lo. Se tomarmos como exemplo algo bem simples, como um exercício físico que protelamos ou deixamos para outra oportunidade, poderemos perceber o quanto damos preferência ao conforto no qual nos encontramos, em oposição ao movimento que afirmamos ser nosso propósito.
Porém, em alguns momentos de nossa existência precisamos tomar decisões que envolvem algo novo. E se nos prepararmos para lidar com esse novo que se apresenta, teremos maiores chances de escolhas que nos ofereçam alternativas inesperadas para situações que podemos, inclusive, estar familiarizados, mas que sob outro ponto de vista torna-se surpreendente.
Angústia diante do novo é algo que permeia o nosso existir. No entanto, buscar maneiras de suavizar esse sentimento, de modo a sermos capazes de nos arriscarmos em situações que possam nos surpreender é uma decisão que pode auxiliar em nosso movimento em prol de novas conquistas.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

Email: marciabcavalieri@hotmail.com

01 agosto 2017

VIVENDO A LIBERDADE!!

É de suma importância a satisfação consigo mesmo. Contudo, se faz ainda mais essencial a ciência de quem somos e do que tem real valor para nós.

Atualmente há uma movimentação quase generalizada em prol da aparência com demasiadas regras e padrões. O despertar de preocupações com peso, constituição de pele, cabelo, vestimentas, entre outros.  Contudo, em meio a esse rol de aspectos pode ser deixado de lado um importante fator referente a aparência: o olhar.
O olhar é permeado de significados. Ou seja, algo assume determinada qualidade, mais ou menos agradável, de acordo com sua representação para nós. Isso ocorre até mesmo com as tonalidades das cores que não constituem as mesmas para todos. Sendo assim, não se pode abandonar a ideia de que na busca de uma aparência a qual harmonize com nossas expectativas, é necessário atentarmos para a representatividade dela para nós ou para outrem.
Não é raro alguém insatisfeito com sua própria aparência buscar amparo na opinião alheia. Contudo, em muitas ocasiões, ocorre de predominar uma insatisfação pessoal um pouco além do próprio aspecto. Na busca de uma aparência “perfeita” nos esquecemos de cuidar de nossa essência e de buscarmos distinguir o que queremos.
Em muitas ocasiões somos envolvidos no “fluxo” no qual estamos imersos. E, diante de nossa rotina atribulada e de nossas necessidades pessoais, relegamos a um segundo plano o cuidado com quem somos e quem desejamos ser. Nos tornamos nossos piores algozes, avaliando, julgando e condenando a nós mesmos à parte de um critério mais “justo”. Proporcionamos, desse modo, um sofrimento, muitas vezes, dependente de nós para ser mitigado.
É de suma importância a satisfação consigo mesmo. Contudo, se faz ainda mais essencial a ciência de quem somos e do que tem real valor para nós. O que nos traz satisfação e até que ponto se faz necessário mudarmos ou não.
Toda mudança demanda iniciativa e empenho. Porém, envolve também a capacidade em suportar o abalo que ela traz consigo. No momento em que optamos por mudar algo em nós é necessário estarmos cientes de que ocorrerá um grande movimento ao nosso redor. Isto é, nosso deslocamento acarretará, no mínimo, estranhamento àqueles partícipes do nosso convívio.
Sendo assim, se faz essencial o cuidado com quem desejamos ser. Para, munidos do conhecimento de nossos desejos em relação a nós, possamos acionar os mecanismos necessários para a obtenção de nossa busca.
Por isso, se torna indispensável um olhar cuidadoso e atento para nossas particularidades e para quem somos. E, assim, nos habilitaremos a escolher a direção a qual desejamos seguir em prol do que designamos como importante para nós.
A noção de que quem somos e como somos está diretamente relacionada com quem desejamos ser e como expressamos quem somos. Dessa forma, quando nos dispomos a fazer uso de mecanismos os quais nos permitam nos conhecermos, nos tornamos, por conseguinte, um pouco mais libertos das amarras que as demandas as quais envolvem regras e padrões nos aprisionam.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124




10 julho 2017

IMPOSSÍVEL OU APENAS DIFÍCIL?

O fato de o possível não constituir algo fácil, isso pode nos afugentar e levar uma avaliação, aparentemente, mais sensata e segura, a optar pela impossibilidade ao invés da dificuldade.


É comum afirmações a respeito da impossibilidade de algumas coisas serem concretizadas. No entanto, nem sempre é levada em conta a efetividade de tal afirmação. Em muitas ocasiões ocorre de considerar-se impossível o que “apenas” é muito difícil. Porém, a dificuldade por mais extrema que seja não denota, necessariamente, impossibilidade.
O que ocorre, na maioria dos casos, é o fato de o possível não constituir algo fácil. Isso pode nos afugentar e levar uma avaliação, aparentemente, mais sensata e segura, a optar pela impossibilidade ao invés da dificuldade.
Quando decidirmos poder investir naquilo que desejamos significa, também, que precisaremos investir no esforço, dedicação e disciplina para alcançar o objetivo escolhido. E não apenas nossa decisão para consegui-lo. Seja nosso desejo algo que queremos ou a solução de um problema no qual estamos envolvidos.
As soluções fáceis são atraentes, mas nem sempre garantem tranquilidade e satisfação.  As solicitações do dia-a-dia podem nos levar a deixar de lado esforços necessários à nossa satisfação, ao considerar impossível o que exigiria de nós um investimento pessoal maior do que incialmente planejado.
Em uma sociedade de consumo como a atual há um incentivo implícito para a busca de soluções rápidas e práticas em vista de satisfações instantâneas, porém, passageiras, como destaca o sociólogo Zygmunt Bauman em seu livro Globalização. Em contrapartida, uma questão que surge é: diante de tantas alterações psíquicas e emocionais vivenciadas atualmente por um número cada vez maior de pessoas, será a forma proposta pela contemporaneidade a mais adequada em se lidar com nossos desejos?
Estabelecemos metas e sonhamos com os melhores cenários. Isso representa nosso potencial de desejo. Contudo, a nossa parcela de esforço real em prol dele precisa ser efetiva para haver, ao menos, a possibilidade de se alcançar tal meta.
Podemos ainda delegar a outrem o encargo de “providenciar” a solução de nosso problema. E encontraremos, assim, alguém a quem responsabilizar se nossa satisfação não for plena. Dessa forma poderemos agir de “má fé” como salienta o filósofo Jean-Paul Sartre e nos iludirmos em relação a nossa isenção na participação do resultado obtido.
Contudo, diante de tantas lamentações e frustrações, será que não nos cabe uma decisão mais firme em relação a avaliação sobre o que constitui impossibilidade e dificuldade? Se refinarmos nossos juízos a respeito das variadas situações as quais nos encontramos envolvidos diariamente, poderemos, quiçá, tornar nossos atos e decisões mais efetivos em prol de nós mesmos.
Isso é impossível... Ou apenas... Difícil?

 Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

09 junho 2017

DESAFIOS DA VIDA

Seja nosso problema relacionado a nós mesmos ou a outrem, não há apenas uma perspectiva envolvida nele. Ou seja, precisamos nos permitir ampliar nosso olhar para a situação em questão.


Ao nos depararmos com algum tipo de limitação relacionado a algo que era muito desejado ou costumávamos ter, podemos nos sentir no mínimo tolhidos. Tal sentimento pode conduzir, se nos permitirmos, a diversas reflexões. Todavia, é comum experimentarmos a dor ao sermos contrariados de algum modo.
Elisabeth Kübler-Ross, em seu livro “A roda da vida”, afirma ser a vida um desafio e não uma tragédia. Isto é, ao nos depararmos com alguma contrariedade temos ocasião de nos posicionarmos como estando diante de um desafio, no qual podemos nos movimentar em prol da busca de solução. Ou, podemos nos colocar como vítimas, e aguardar o surgimento de uma solução para nosso sofrimento.
Seja nosso problema relacionado a nós mesmos ou a outrem, não há apenas uma perspectiva envolvida nele. Ou seja, precisamos nos permitir ampliar nosso olhar para a situação em questão, para nos apropriarmos do maior número possível de alternativas. O filósofo Heidegger assevera sermos tão livres quanto somos capazes de vislumbrar nosso rol de possibilidades.
Portanto, ao questionarmos algo em que estamos envolvidos, seja ele perturbador ou não, ocasionaremos a possibilidade de alcançar o que não imaginávamos a princípio. E tal atitude pode culminar no movimento necessário à solução do problema em questão.
Dando início a esse processo oferecemos a nós a oportunidade do desafio ao invés de vivenciar a tragédia. Tendo em vista a tragédia possibilitar com maior facilidade o desespero, ela pode obscurecer nosso julgamento relacionado à situação vivida. Confundindo-nos, desse modo, no tangente à obtenção da solução da mesma.
No entanto, a iniciativa em ampliar esse “olhar” envolve uma decisão em favor de nós mesmos, a qual nem sempre estamos preparados. Pois, no momento em que nos deparamos com um obstáculo para a realização de algo com o qual sentimos algum tipo de prazer, também somos submetidos à sensação de perda e de dor que ele ocasiona.
Nesse caso, se pudermos contar com o amparo de alguém para essa empreitada será de salutar importância. Infelizmente nem sempre isso é possível. Então, cabe a nós a iniciativa em prol de nós mesmos e do restabelecimento do nosso bem-estar, acionando dispositivos os quais nos permitam acessar nossas reais limitações para, então, visualizarmos as possibilidades existentes.
Pode ser que a primeira atitude necessária seja o reconhecimento de nossas dores e das limitações que elas nos causam.  Para, dessa maneira, nos posicionarmos independentes ou não para a solução do que estamos vivenciando. Tal comportamento tem a possibilidade de representar nossa libertação das amarras as quais perpetuam nosso sofrimento que pode ser sanado ou, ao menos, minimizado substancialmente.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

22 maio 2017

ATÉ QUANDO PERSISTIR?

Usualmente buscamos desfechos plenos e completos que nos deixam a agradável sensação de satisfação. Entretanto, nem sempre ocorre desse modo

Em nosso dia-a-dia experimentamos situações as mais variadas. No entanto, raramente obtemos soluções satisfatórias para todas elas. Uma questão importante nesse caso é o que fazer quando algo nos perturbar a ponto de não conseguirmos nos tranquilizar.
Uma alternativa comumente sugerida é esquecer o assunto por um período de tempo. Mas até qual ponto se é capaz disso? Não é raro, também, tentarmos “adivinhar” o que está ocorrendo a respeito do problema, especialmente quando não temos acesso sobre todas as suas informações. Por isso podemos experimentar certa dose de ansiedade. Nesse caso nos caberão poucas opções. Entre elas a da resignação diante de nossos limites, ou a persistência.
É comum as afirmações a respeito da persistência - e sua nobreza - e da teimosia que pode beirar a estupidez. Como nos posicionarmos de modo a não desistirmos de algo sem nos envolvermos em uma disfarçada persistência a qual nos faz, na realidade, teimosos?
Usualmente buscamos desfechos plenos e completos que nos deixam a agradável sensação de satisfação. Entretanto, nem sempre ocorre desse modo. Em muitas ocasiões a frustração com a conclusão obtida é inevitável. Assim, podemos nos sentir descrentes da possibilidade de superação da decepção experimentada.
Então, diante do limite vivenciado por nós em relação à obtenção de informações completas, necessitamos exercitar nossa capacidade de aceitação desses limites. Entretanto, tal atitude não constitui um processo simples, pois exige de nós a perseverança na decisão de buscarmos nosso equilíbrio diante de tais limitações.
O limiar entre persistência e teimosia pode tornar-se obscurecido quando estamos envolvidos emocionalmente com determinado fato. Nesse caso, talvez a melhor forma de lidarmos com isso seja nos proporcionar uma pausa, para refletir a respeito do que ocorre e do que desejamos e, só então, munidos das alternativas existentes é que poderemos decidir qual a melhor forma de nos posicionarmos.
Em muitos casos, tal atitude pode ser colocada em prática em nosso íntimo apenas por nós mesmos. Em outros podemos também contar com o amparo de alguém que nos ajude a “olhar” para os fatos com maior clareza e de modo mais isento de emoções. Para, assim, sermos mais aptos ao discernimento entre persistência e teimosia.

 Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

03 maio 2017

NOSSOS ERROS

Vivemos em relação ao tempo e sua representação varia para cada um de nós bem como para cada momento vivido por nós.


Talvez uma tarefa das mais difíceis seja a de perdoar. Há quem experimente extrema dificuldade em desculpar, inclusive, os próprios erros. Ou ainda, quem não seja capaz de suportar uma falta cometida contra si por outrem. Importante nesses momentos pode ser uma reflexão a respeito do significado do erro, bem como o que representa desculpá-lo.
Nas muitas ocasiões em que conseguimos perdoar podemos, ainda, experimentar algum tipo de desconforto. Alimentamos a ideia de que o perdoar nos permite esquecermos de todo o ocorrido. Porém, desprezamos que além da dor há um significado para o acontecido. E se não nos dispusermos a refletir sobre ele o desconforto pode levar mais tempo do que desejamos para ser amenizado.
Nesse caso, ao nos propormos lidar com algo que consideramos “agressivo” para nosso bem-estar é necessário assumirmos o compromisso com a verdade a respeito desse fato, tanto em relação ao acontecimento em si, como no que diz respeito ao seu significado para nós e para as relações nele envolvido. Se faz importante a busca de uma ampla compreensão a respeito do ocorrido, incluindo o conhecimento acerca das nuances relevantes.
Vivemos em relação ao tempo e sua representação varia para cada um de nós bem como para cada momento vivido. Não é raro alguém relatar a velocidade do tempo quando vivenciando algo prazeroso, assim como sua lentidão quando se experimenta algo desagradável. Desse modo, podemos concluir que o tempo está relacionado ao seu significado para cada um de modo bastante particular.
Do mesmo modo nossa história adorna cada nuance de nossas experiências permitindo que a signifiquemos de modo individual e particular a cada momento vivido. Por isso, se faz de suma importância que ao nos propormos a lidar com algo que proporcione algum desconforto para nós ou para outrem, também nos permitamos um olhar acurado para o significado de cada pormenor envolvido nesse “algo”.
Assim, estaremos assumindo uma postura mais flexível em relação a qualquer sofrimento envolvido no processo de algo desconfortável. E a possibilidade de lidar com ela de maneira que a solução para o ocorrido não se transforme em um novo dilema.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


20 abril 2017

INDIVIDUALISMO X INDIVIDUALIDADE


O individualismo constitui, filosoficamente, uma doutrina ou atitude que considera o indivíduo como a realidade mais essencial ou como o valor mais elevado.

Em tudo há uma medida em que, quando ultrapassada, pode assumir uma característica nociva. É de suma importância cuidarmos de quem somos de um modo ativo. Assim, constitui algo salutar o nosso cuidado conosco de modo a preservarmos nossa individualidade. Pois, dessa forma, minimizamos o risco de nos perdermos quando envolvidos com algum sentimento que poderia reduzir a transparência de nossa personalidade.
Entretanto, é necessário atentarmos para o fato de que vivemos em grupo, e precisamos uns dos outros para que tenhamos um referencial o qual nos permita identificarmos, com clareza, quem somos.
O individualismo constitui, filosoficamente, uma doutrina ou atitude que considera o indivíduo como a realidade mais essencial ou como o valor mais elevado. Assim, cada um que faz parte de uma sociedade tem um papel relevante nela. O físico Fritjof Capra em seu livro “O ponto de mutação” afirma sermos intensamente relevantes para a sociedade pelo fato de sermos todos interconectados. De acordo com o autor, a interconexão representa o fato de sermos “tocados” a todo o momento por nossas atitudes, assim como pelas atitudes daqueles que compartilham a existência conosco e assim consecutivamente.
O sociólogo Zygmunt Bauman chama a atenção para o fato de o momento social atual tanger o que ele denomina Hiper-individualismo, que segundo o sociólogo, constitui um comportamento no qual o que não me atinge particularmente não consiste em algo da minha realidade, não necessitando, por isso, meu cuidado ou atenção. Desse modo, incorremos no risco de agirmos como se o outro não possuísse representação significante em nosso existir.
Esse modo de agir pode explicar o fato de presenciarmos comportamentos diversos os quais nos convidam a refletir sobre o egoísmo. Isto é, um modo agir como se nada mais fosse importante do que o bem estar próprio e individual.
Contudo, é bastante comum presenciarmos fatos ou afirmações as quais nos permitem observar atitudes que lesam ou ao menos melindrem, de algum modo, o outro. Então, se nos propusermos a cuidar de nós de modo a conhecer nossos potenciais e limites, poderemos nos habilitar, por conseguinte, a perceber de uma maneira mais eficiente o outro e seus sentimentos e desejos. Nos habilitando, assim, a avaliarmos de modo mais eficiente nosso comportamento.
Por isso, ao nos movimentarmos em prol de nossa melhoria, poderemos, na mesma medida, aprimorarmos os relacionamentos diversos pertinentes ao nosso dia-a-dia e, assim, proporcionarmos um movimento mais amplo no sentido de um desenvolvimento coletivo tendo em vista a interconexão definida por Capra.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga – CRP 06/95124

E-mail – marciabcavalieri@hotmail.com

11 abril 2017

QUANDO ME APAIXONO

Quando se está apaixonado por algo ou alguém experimentamos um entusiasmo muito grande, portanto a sensação de estarmos recarregados é praticamente inevitável.

Mais frequente do que gostamos escutamos alguém falar em desespero. Dele próprio ou de alguém de seu círculo de convivência. Sendo assim, estamos a todo o momento sujeito a nos depararmos com alguém, quiçá nós mesmos, em situação semelhante.
Tal sentimento pode permear um simples desânimo em relação a algo muito desejado até o perder totalmente a esperança de esse desejo ser satisfeito. Podemos experimentá-lo em diversos graus e por períodos diferentes. Ou seja, podemos nos manter em desespero por um tempo curto ou longo e isso pode ocorrer com maior ou menor frequência.
Lídia Rosenberg Aratangy, psicóloga, destaca o fato de às vezes o sofrimento ser tanto que a ideia de continuar vivendo parece intolerável. E afirma que para sair do desespero e do luto necessita-se de uma paixão. Isto é, todos estão sujeitos ao sofrimento que pode culminar em sensação de desespero, mas, segundo Lídia, a paixão pode representar uma forma de sobrepor-se a tal situação.
Quando se está apaixonado por algo ou alguém experimentamos um entusiasmo muito grande. Portanto a sensação de estarmos recarregados é praticamente inevitável. Podemos nos apaixonar por alguém que surge em nosso caminho ou porque já faz parte de nosso cotidiano. Pode-se, ainda, apaixonar-se por uma atividade, seja ela vinculada ao trabalho ou mesmo ao lazer.
O importante parece ser nos vincularmos a algo para nos ser proporcionada uma sensação de completude. Atualmente o vincular-se não assume lugar de grande importância em nosso dia-a-dia. Porém, pode ser a falta do vínculo uma das causas de sermos levados a experimentar sentimentos de desalento e angústia com maior frequência do que gostaríamos.
Então, se o apaixonar-se pode ser uma oportunidade para experimentarmos uma existência mais envolvida com sensações de satisfação e distanciada da dor, podemos iniciar um processo no qual nos disponibilizemos a nos vincularmos às atividades e às pessoas do nosso círculo. Assim, possibilitaremos o exercício de nos apaixonarmos com maior frequência. E proporcionaremos a nós mesmos a chance de nos distanciarmos das situações ocasionadoras de dor e sofrimento.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

27 março 2017

SUPERANDO DERROTAS

As frustrações fazem parte de nosso crescimento e lidar com elas nos permite um desenvolvimento que pode nos preparar para novas empreitadas.

O que fazer no momento em que perdemos algo sonhado ou planejado? Muitas vezes havíamos nos dedicado e entendemos termos oferecido o nosso melhor. Entretanto, em algumas ocasiões o nosso melhor não é o suficiente e nesse momento podemos experimentar um sabor amargo, o da dor da perda.
Nessas horas é comum ouvirmos comentários sugerindo que algo superior a nós decidiu pelo nosso bem-estar e que na verdade não perdemos, mas ganhamos com a tal derrota. Porém, será isso o suficiente para consolar e amenizar nossa dor?
E quando essa dor é acompanhada pelo sentimento de despeito por alguém que, por exemplo, em uma disputa tenha ganhado de nós o tão desejado prêmio? Como lidar com todo esse turbilhão de sentimentos que nos confundem e prejudicam ainda mais nosso julgamento?
Uma boa maneira é iniciarmos pela tentativa de acalmar os ânimos e buscar formas para nosso pensamento poder tornar-se organizado, a ponto de conseguirmos analisar todos os prós e contras do ocorrido. Obviamente essa não consiste uma tarefa fácil. Porém, ao procedermos tal análise poderemos encontrar outros caminhos bem como outras possibilidades. Talvez bem diferente do desejo inicial, mas como uma alternativa plausível.
Em alguns momentos a dor pode parecer insuportável como se nada pudesse saná-la. Contudo, as frustrações fazem parte de nosso crescimento e lidar com elas nos permite um desenvolvimento que pode nos preparar para novas empreitadas.
Elisabeth Kübler-Ross em seu livro “A roda da vida” afirma que “se protegêssemos os canyons dos vendavais, nunca veríamos a beleza de seus relevos”. Ou seja, a partir do momento em que somos capazes de atentar para uma situação e nos desenvolvermos de algum modo a partir dela, podemos adquirir algo para nos acompanhar em todas as ocasiões.
Podemos então concluir que a dor é algo que vez por outra irá nos alcançar. O importante é aprendermos a lidar com ela de modo a usufruir o máximo possível da oportunidade por ela oferecida para o nosso desenvolvimento pessoal.
Não se pode esquecer, todavia, que em alguns momentos superar tudo isso pode ficar muito mais brando quando permitimos que alguém nos acompanhe nesse processo. Assim, o refletir acerca das situações e a análise delas pode se tornar mais eficaz e menos dolorosa.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

07 março 2017

AUTOFLAGELO


“Se entendermos ser, de algum modo, a ausência de nosso esforço em prol do objetivo desejado a razão pelo fracasso dele, podemos experimentar a culpa. ”


Em algumas ocasiões podemos sentir falta de disponibilidade de toda a nossa energia para alcançar um objetivo específico. Podemos não entender o porquê de desejarmos algo e, experimentamos a sensação de não termos investido tudo na busca da realização desse desejo. Ou, podemos, em oposição, acreditar que dispensamos tudo ao nosso alcance e não ter sido o suficiente.
Então, a frustração como consequência disso é quase inevitável. Porém, é necessário tentar entender o ocorrido para alcançarmos uma compreensão do evento como um todo. Assim, poderemos conceber formas mais efetivas para a realização do desejado ou, quiçá, mudarmos nosso “desejo”.
No entanto alguns fatores podem interferir nesse processo de modo a nos “paralisar”. Se entendermos ser, de algum modo, a ausência de nosso esforço em prol do objetivo desejado a razão pelo fracasso dele, podemos experimentar a culpa.
Nesse caso, pode parecer importante perdermos algo para nos sentirmos “em equilíbrio” com o universo. Isto é, sentimos necessidade de uma “punição” do mundo, para assim experimentarmos a sensação de estarmos quites com o universo que disponibilizou para nós uma oportunidade “desperdiçada”.
Num exemplo, pode ocorrer de sabotarmos um prazer disponível como forma dessa punição ou, dispensarmos pequenos gestos dolorosos para com nós mesmos ao visar nos sentirmos “em paz”. Tais gestos podem ser de ordem física ou psíquica. O importante é nos mantermos atentos para nossas particularidades, especialmente nossas dores, para não incorrermos no risco de desencadearmos um processo de “autoflagelo”.
Elisabeth Kübler-Ross em seu livro - A Roda da Vida - afirma não podermos confiar no futuro, pois a vida é sobre o presente. Então, importante é buscarmos, no presente, maneiras de nos aproximarmos cada vez mais de nós, especialmente através do autoconhecimento. Assim estaremos mais aptos a identificarmos nossas mazelas e suas causas para, então, não necessitarmos estratégias “sutis”, como o punir-se consciente ou inconscientemente.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124



24 fevereiro 2017

TECENDO FIOS


É comum nos colocarmos em posição de vítimas das circunstâncias sem levar em consideração os fatos. Acreditamos que as pessoas nos devem algo, ou que tudo referente a nós parece estar corrompido de algum modo.

O dicionário Aurélio define a palavra voracidade como alguém muito ambicioso e quiçá destrutivo. Melanie Klein, psicanalista, definiu neste termo quem não se satisfaz com o que lhe é ofertado. Isto é, quando alguém julga o que lhe é oferecido como não correspondente à satisfação de suas necessidades. Para essa pessoa o “mundo” estaria sempre tentando causar-lhe, de algum modo, uma lesão ou uma perda.
A todo o momento podemos nos encaixar ou encontrar alguém que se encaixe nesta definição. É comum nos colocarmos em posição de vítimas das circunstâncias sem levar em consideração os fatos. Acreditamos que as pessoas nos devem algo, ou que tudo referente a nós parece estar corrompido de algum modo.
Ao nos posicionarmos desta forma diante do mundo, também nos colocamos em situação de não sermos capazes de fazer avaliações mais claras e ponderadas. Muitas vezes, imbuídos desse sentimento de perda, impedimos nosso próprio desenvolvimento, permanecemos “paralisados” em determinado fato o qual pode não corresponder à realidade. Ao sermos capazes de refletir sobre os fatos com a maior limpidez, possibilitaremos usufruir o máximo que uma situação pode oferecer.
O filósofo Sartre afirmou ser de salutar importância o que fazemos com o que o mundo nos oferta. Ou seja, qualquer fato ocorrido pode representar uma possibilidade de crescimento. No entanto, é necessário o nosso ponto de vista e nosso posicionamento em relação à situação.
O senso comum costuma afirmar ser uma oportunidade perdida impossível de ser recuperada. Nesse caso, o que ocorre é a necessidade de lidarmos com a nova oportunidade que surge em seu lugar, fazendo dela a nossa nova “ocasião favorável”.
Então, diante da possibilidade de mudança que permeia nosso existir a todo o momento, podemos assumir a responsabilidade por tudo o que envolve nosso crescimento pessoal. E, podemos iniciar nós mesmos esse processo, o qual pode contar com auxílio alheio ou não.
Entretanto, o importante é assumir estar em nós a possibilidade de usufruirmos das oportunidades que surgem. E, como afirma outro filósofo, Heidegger, ampliá-las também, para nos tornar, deste modo, senhores de nosso próprio destino, tecendo os fios que o compõem de modo a sermos nós escolhendo quais fios, cores e o que será “confeccionado”.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

E-mail: marciabcavalieri@hotmai.com

12 fevereiro 2017

O SONHO DE SER LIVRE

Liberdade. Aquela na qual consiste em colocarmos em prática nossa capacidade de escolha, como destaca Jean Paul Sartre e ampliar nosso rol de possibilidades, como distingui Martin Heidegger.


Uma das maiores expectativas em relação ao nosso desenvolvimento é adquirir a liberdade. Com ela imaginamos poder fazer tudo o que desejamos e gostamos. Imbuídos dessa ideia, em muitas ocasiões, nos expomos a situações, no mínimo, decepcionantes. No entanto, nem sempre conseguimos compreender o real motivo disso ocorrer.
A psicóloga Lídia Rosenberg Aratangy, em seu livro Doces Venenos, assinala que liberdade consiste em algo bem diferente de “só fazer o que se gosta”. Em sua análise, quem só faz o que gosta é louco e não livre. Pois para exercitarmos uma escolha livre, em primeiro lugar, necessitamos nos conhecermos a ponto de identificarmos com clareza o nosso desejo ou necessidade. Para então, só depois, saber quais opções possíveis e entender as consequências de cada uma das possibilidades de ação.
Assim, munidos desse repertório poderemos exercitar, com um pouco mais de chances de acerto, nossas escolhas.  A isso se pode chamar liberdade. Aquela na qual consiste em colocarmos em prática nossa capacidade de escolha, como destaca Jean Paul Sartre, e inclusive ampliar nosso rol de possibilidades como distingui Martin Heidegger.
No entanto, para exercemos de maneira plena tal liberdade, necessitamos também nos habituarmos a reflexões, para nos permitir um conhecimento mais amplo acerca de nossas condições reais e de nossos desejos mais sinceros.
Porém, nem sempre exercitamos colocar em prática nossa capacidade em gerir nossas próprias ações. Muitas vezes depositamos no mundo a razão pelo nosso fracasso ou desilusão quando, na verdade, fomos os únicos artífices autores de nossas conquistas, perdas, dores ou alegrias.
Contudo, assumir tal responsabilidade consiste em aceitarmos nossa condição de liberdade vinculada às consequências de nossas ações. Mas, nem sempre estamos dispostos a aceitar tal condição, pois ela representa sermos os condutores de nosso destino.
Desse modo, a melhor forma de buscarmos alcançar o sonho de sermos livres é aprimorarmos as formas de conhecimento a respeito de nossas particularidades, para não nos tornarmos estranhos a nós mesmos. E assim, nos sentirmos confortáveis em nossa própria “casa”, isto é, experimentarmos a sensação de familiaridade conosco e com nossos pormenores.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com.


31 janeiro 2017

ANSIEDADE EM ACERTAR

Precisamos sonhar e desejar, mas também precisamos estar atentos às nossas reais possibilidades, bem como às nossas limitações. Para que os sonhos e desejos tornem-se realizações em lugar de frustrações.

Sempre ao nos arriscarmos em algo novo podemos contar com a certeza de que há a possibilidade de alcançarmos, ou não, nosso objetivo. É comum nos envolvermos em uma nova empreitada e não atentarmos para todas as suas possibilidades, especialmente para a chance de não conseguirmos o que queríamos.
Muitas vezes, envolvidos em nossos desejos, experimentamos certa dose de ansiedade. E esta pode ser em maior ou menor proporção. O importante é que ela, às vezes, permite termos um olhar mais “generoso” do que é real para a situação em questão. Esse comportamento pode nos conduzir ao risco a que estamos sujeitos quando nos colocamos diante de uma incerteza.
Talvez, se fossemos capazes de avaliar “todas” as possibilidades de uma situação não nos arriscaríamos e, então, poderíamos deixar de experimentar certa emoção. Contudo, também se faz necessário exercitarmos nossa atenção à possibilidade da perda. Isto é, de não conseguirmos o que desejávamos.
É preciso levar em conta que em tudo há ao menos duas conclusões e uma delas pode não ser a que nos deixa mais satisfeitos. No entanto, estar atento à realidade é imprescindível. Precisamos sonhar e desejar, mas também precisamos estar atentos às nossas reais possibilidades, bem como às nossas limitações, para que os sonhos e desejos tenham a oportunidade de se tornarem realidades concretizadas e não apenas frustrações.
Todavia, é preciso lembrar que as frustrações fazem parte do aprendizado de nossos limites e, o conhecimento deles nos permite a chance de extrapolá-los. Desconhecendo o limiar não se faz possível a transposição do mesmo. Em muitas ocasiões somente alcançamos determinado objetivo após experimentarmos o conhecimento acerca do limite ao qual estávamos submetidos.
Desse modo, ao utilizarmos o aprendizado com as experiências vividas tornamos possível uma maior amplitude de nossos limites. E estes podem nos levar a empreitadas cada vez mais audaciosas. Assim, as chances de sucesso com elas podem se tornar mais elevadas à medida em que conhecemos nosso potencial e nos tornamos “condutores” dele.

 Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

23 janeiro 2017

PODEROSO LIMITE


Como será possível estabelecermos algum critério para assumirmos, nós mesmos, os cuidados com nosso próprio bem-estar e sem dependermos de outrem para tal?


Como delimitar até onde podemos ou devemos ir e como identificar o momento em que se deve finalizar algo? Tal decisão torna-se ainda mais difícil quando algum tipo de prazer está envolvido. Seja uma boa companhia, um saboroso alimento, uma bebida agradável ou mesmo o simples estar em algum lugar aprazível.
O vício é um desregramento habitual, um costume prejudicial, isto é, consiste em algo o qual nos habituamos a fazer e do qual temos dificuldades em nos privar. Em um primeiro momento ao falar-se em vício podemos nos remeter a substâncias ilícitas. No entanto, há diversas outras formas de vínculos viciosos. Pode ocorrer de nos acostumarmos a tal ponto a determinado modo de agir e nos tornarmos, por isso, “impossibilitados” de perceber os malefícios para a nossa existência.
Como será possível estabelecermos algum critério para assumirmos, nós mesmos, os cuidados com nosso próprio bem-estar e sem dependermos de outrem para tal? Ou seja, o que fazer para nos tornarmos capazes de cuidarmos dos nossos limites e excessos?
Jean Piaget, considerado um dos mais importantes pensadores do século XX, afirmou que um indivíduo pode ser considerado maduro a partir do momento em que tem internalizado as regras as quais é submetido durante seu desenvolvimento, isto é, quando o indivíduo não mais necessita de alguém para lhe sinalizar o que lhe será inconveniente ou não. Ele possui, assim, seu próprio repertório do que lhe convém ou não. Desse modo torna-se capaz de avaliar as consequências de seus atos e freá-los antes de um inevitável mal estar consequente a si mesmo.
Atualmente as pessoas constatam com certa frequência o quão difícil é conter-se diante dos prazeres imediatos.  Em nome da satisfação sacrifica-se o bem estar sem analisar as perdas envolvidas em tal comportamento.
Uma maneira de iniciarmos um processo culminante em um maior cuidado conosco consiste em analisar quais são as reais perdas e ganhos de determinada ação. Desse modo, seremos capazes de decidir e escolher com maior segurança o que é ou não importante para nós, embasados em nosso repertório interno de “regras”, isto é, nosso repertório acerca do que nos faz bem ou não.
O modo de agir atual fundamentado em estereótipos inatingíveis de perfeição, também nos apresenta o prazer incondicional e a satisfação plena como metas a serem atingidas. No entanto, a construção do nosso ser esbarra nas frustrações. E, são elas que nos ajudam a delinear nossos limites para que possamos cuidar de nosso bem estar de modo mais preciso e eficaz.
Então, quando nos permitimos excessos, sejam eles de ordem física, psíquica ou emocional, que nos conduzem a lamentar tal atitude no dia subsequente, pode ser uma advertência de que necessitamos exercitar um olhar mais crítico para nossos atos e comportamentos em relação a nosso bem estar.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124