29 outubro 2016

GENUÍNA BELEZA

Quando permitimos um existir predominado pelo vazio, permitimos, na mesma medida, que os significados os quais atribuímos sejam insubstanciais.

“A beleza artificial é uma batalha contra o vazio do corpo e da alma”. É com essa frase que o filósofo Luiz Felipe Pondé concluiu um texto. Como será esse vazio? Experimentamos dele em nosso existir?
O vazio pode surgir de forma passageira e rápida, ou pode prolongar-se por meses, anos e quiçá uma vida. No entanto, ao nos depararmos com essa possibilidade, isto é, de viver-se uma vida inteira sob uma forma de existir dominada por esse vazio.  Ou, em uma busca incansável e inglória no preenchimento de uma lacuna a qual não compreendemos ao certo. Pode parecer cruel e demasiado exagerado.
Contudo, se voltarmos nossa atenção para esse fato poderemos distinguir diversos momentos nos quais essa afirmação alcança um sentido em nosso existir. Torna-se cada vez mais comum nos depararmos com frases de lamentações ou de surpresa, diante de um acontecimento corriqueiro que não tem sua adequada correspondência com a reação a qual proporcionou. A única “explicação” sensata seria a ausência de um significado mais próprio.
A todo o momento criamos significados para as diversas relações que estabelecemos com o mundo. Sejam elas com pessoas, animais, objetos ou mesmo situações. Ao nos relacionarmos atribuímos significados que vão desde o de maior indiferença ao de maior importância para nós. É importante, no entanto, nos lembrarmos de que esse significado não é algo particular e exclusivo a algumas pessoas. Todos nós significamos nossas relações. Cada pequeno momento de nosso existir é permeado de algum sentido.
Quando permitimos esse existir predominado pelo vazio de corpo ou de alma, também permitimos que os significados os quais atribuímos sejam insubstanciais. Ou seja, não nos proporcionam satisfação pessoal e ocasionam, inclusive, frustrações que nos levam a reações que podem se tornar desmedidas.
Podemos nos deixar levar por aquilo de maior importância para o outro sem ponderar nossa própria satisfação. Permitimo-nos envolver por solicitações de uma sociedade de consumo na qual vivemos sem nos questionarmos sobre nosso real desejo. Esse comportamento nos conduz a experimentar um vazio, o qual nos leva a buscas intermináveis e exaustivas.
Talvez seja necessário voltarmos um pouco de nossa atenção para nós, para o que é importante em nosso existir e, para os significados trazidos pelos diversos momentos de nossa existência. Certamente que o modo de vida atual, preenchido com diversos afazeres, dificulta esse proceder.
Pode ocorrer, então, de um bom antídoto para o vazio de corpo e de alma consistir no preenchimento das lacunas, em nosso existir, com significados os quais nos permitam experimentar relações com sentidos mais intensos. Ao “repensarmos” nossos diversos contatos com o mundo, ampliamos a possibilidade de renovarmos os diversos sentidos de nossa existência incorrendo, por conseguinte, na possibilidade de um existir mais “belo”.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

24 outubro 2016

O SUCESSO DAS RELAÇÕES

“Usualmente nosso olhar para os acontecimentos em nossas diversas relações, nos conduzem a crer que o outro seja o total responsável pelo sucesso ou não delas. ”

Diversas situações podem propor uma gama razoável de oportunidades. Assim como uma frase, a princípio cômica, pode nos oferecer uma oportunidade para reflexões. Como por exemplo, a seguinte frase: “voltar com o ex-namorado é como comprar um carro que já foi seu. Vem com os mesmos defeitos só que mais rodado”. Será que apenas o namorado ou o carro vêm mais rodados?
Usualmente nosso olhar para os acontecimentos em nossas diversas relações, nos conduzem a crer que o outro seja o total responsável pelo sucesso ou não delas. Sejam essas relações com pessoas, objetos ou animais o importante a ter-se em mente é o fato de a relação envolver sempre dois caminhos: ida e volta, isto é, há sempre uma troca.
Sendo assim, se o ex-namorado bem como o “ex-carro” vêm com os mesmos defeitos, pode ocorrer de a causa ser, muito provavelmente, o fato de não modificarmos o modo de nos relacionarmos com eles. Mas, como realizar tal mudança?
Ao vivenciarmos nossas experiências cotidianas, costumamos buscar modos de afastar da memória aquelas que nos causaram algum tipo de desconforto. No entanto, ao fazer isso, deixamos de lado o fato de todas as nossas experiências, boas ou não, fazerem parte da constituição do nosso ser. Pois, somos “hoje” o resultado de todas as nossas vivências anteriores. Isto é, se modificássemos qualquer uma dessas vivências não seríamos quem somos atualmente, seriamos outro.
O filósofo Jean-Paul Sartre compara as influências de nossos atos com o bater de asas de uma borboleta o qual poderia ocasionar um maremoto em um local distante de nós. O físico Fritjof Capra afirma ser o todo influenciado pelas partes, isto é, cada um de nós tem influência nos eventos comuns a todos. Sejam eles de menor ou maior porte.
Desse modo, é sensato concluir sermos parte importante em qualquer relacionamento. E, por conseguinte, possuidores do “poder” de modificá-los também. Então, se um ex-namorado ou um “ex-carro” possuem os mesmos defeitos, talvez repouse em nossas mãos a possibilidade de modificar tal relação ou, simplesmente nos desfazermos dela.
Essa iniciativa pode não parecer um processo simples em um primeiro momento. No entanto, se nos dispusermos a atentar para pequenos eventos ao nosso redor, poderemos ser capazes de ampliar nossos olhar para as diversas relações estabelecidas por nós. E possibilitarmos a oportunidade de experimentar uma nova relação, mesmo com alguém de nosso passado, permeada de um cuidado diferente.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


14 outubro 2016

REMAR PARA QUAL LADO?

A cultura atual estabelece como importante sermos todos os mais iguais possível, no entanto, somos diferentes em diversas particularidades.


Em muitas oportunidades pode-se experimentar a sensação de estar remando para o lado oposto. Isto é, a impressão de o mundo ir e um sentido e nós em outro totalmente diferente. Isso pode ocorrer por ter-se um modo de ser extravagante, ou por ser diferente da maioria.
É comum ouvir alguém afirmar sentir-se incomodado ou mesmo prejudicado por agir diferente do que é usual. Devido a um comportamento ou sentimento diferente do praticado pela generalidade pode-se sofrer tal desconforto. Nessa ocasião é importante exercitar um conhecimento mais abrangente sobre si mesmo para não correr o risco de se perder dentre a maioria.
A cultura atual estabelece como importante sermos todos os mais iguais possível. Possuir, inclusive, objetos semelhantes. Ou seja, quanto mais formos parecidos uns com os outros, estaremos mais aptos a conviver melhor. No entanto, somos diferentes em diversas particularidades. Então como nos sentir bem sendo iguais, e não sendo diferentes? Contraditório...
Cada momento de nossa história de vida constrói o que somos atualmente. Toda a experiência passada constituiu o ser que somos hoje. Nesse caso, o passado foi importante nesse processo. Não é necessário, contudo, viver-se voltado para esse passado. O importante é a consciência de sua importância em nosso existir atual. 
Elizabeth Kübler-Ross em seu livro A Roda da Vida cita uma jovem judia a qual havia sobrevivido a um campo de concentração nazista. Ela relatava a importância em se deixar o passado para trás para ter-se paz no presente. Entretanto não o esquecendo, apenas sem revivê-lo repetidamente para não alimentar sentimentos de ressentimento ou pesar.
Então, ao estarmos cientes da importância do passado em nossa história e de como essas experiências nos tornam singulares, é igualmente importante compreendermos serem nossas decisões e escolhas também singulares. Deste modo, o nadar contra a maré torna-se apenas a assunção de nossas particularidades, as quais nos tornam quem somos. E não um ato de afronta que proporciona desconforto.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124



09 outubro 2016

CONHECENDO NOSSAS PRIORIDADES

Na maioria das vezes não basta compreendermos nossas limitações, precisamos desmerecer quem é capaz para, assim, não nos sentirmos desvalorizados.

Em uma sociedade com tantas opções fica cada vez mais difícil estabelecer, de modo distinto, nossas prioridades. Muitas vezes nos deixamos levar por opiniões alheias as quais interferem em nossas decisões, sem cogitarmos a real satisfação que essa escolha nos proporciona.
Em outras ocasiões podemos não ser capazes de decidir ou de transformar em realidade algo o qual desejamos, por não nos dispormos às dificuldades que determinada opção impõe. Nesse momento pode ser mais fácil acreditar que a escolha, na realidade, não é tangível, isto é, não é passível de ser alcançada.
É comum experimentarmos muitos exemplos disso em nosso dia-a-dia. Podemos, em muitas ocasiões, desvalorizar uma conquista obtida por alguém para não nos sentirmos incapazes. E isso nos conforta em concordância com nossas limitações às quais não desejamos admitir a existência. Menosprezamos os que alcançam suas metas julgando terem sido melhores afortunados. No entanto, nos esquecemos de voltar nosso olhar para nossos limites e, assim traçarmos objetivos coerente a eles.
Na maioria das vezes não basta compreendermos nossas limitações, precisamos desmerecer quem é capaz para, assim, não nos sentirmos desvalorizados. Mas nesse momento surge uma questão: em um mundo tão competitivo como o atual, será a melhor solução para nossas dificuldades desacreditar os que, de algum modo, conseguiram superar-se?
Podemos, certamente, nos apoiarmos nesse pensamento e acreditar que a vida, de algum modo, nos foi traiçoeira. Ou, podemos olhar para nós mesmos e tentar conhecer nossos pormenores para, então, sermos capazes de fazer escolhas mais coerentes com quem somos e com o que somos capazes de realizar.
Temos desejos, mas não queremos sofrer para conquistá-los. Julgamos os vencedores pessoas as quais desconhecem o sofrimento, sem tentarmos conhecer a verdadeira história envolvendo sua conquista. Criamos heróis completamente felizes vinte e quatro horas ao dia. Será possível estarmos construindo pedestais, onde pessoas irreais ocupam lugares os quais, na verdade, não existem e nem são passíveis de existir?
O que nos deixa feliz consiste em possuir algo cobiçado pela maioria ou algo que “nós” consideramos de maior importância? Nem sempre estamos prontos para responder a tantas questões. Porém, quanto mais buscarmos nos conhecer para respondê-las mais próximo estaremos de nossa realização pessoal que é acompanhada de satisfação e, por conseguinte, de felicidade.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

01 outubro 2016

O VALOR DA COMUNICAÇÃO

Afirma-se ser o desenvolvimento intelectual e industrial o grande vilão dos relacionamentos. Contudo, novamente esquecemos ser o homem o responsável pelo significado atribuído e como tal o ancoradouro das possibilidades.


A modernidade traz em sua bagagem uma gama, quase incalculável, de alternativas. No entanto, não se pode afirmar que todas sejam positivas devido ao fato de dependerem do uso que se faz delas. Não se pode deixar de avaliar os imensos ganhos que utensílios, como computadores cada vez menores e ágeis, trazem para o dia a dia de cada um de nós. Os mais pessimistas, porém, podem afirmar ser esses utensílios também os responsáveis pelo distanciamento e pela pobreza de comunicação presente entre os seres vivos de modo geral.
Afirma-se ser o desenvolvimento intelectual e industrial o grande vilão dos relacionamentos. Contudo, novamente esquecemos ser o homem o responsável pelo significado atribuído e como tal o ancoradouro das possibilidades.
No livro 1984, George Orwell retrata uma sociedade onde sentimentos e conhecimentos eram coibidos, no entanto, apesar do aprendizado que ocorria em tal sociedade havia um resquício de humanidade remanescente o que proporcionou grande luta entre os envolvidos. Um questionamento semelhante está presente no filme “Equilibrium” no qual uma sociedade pós-guerra é induzida a utilizar uma droga responsável por anestesiar todos os sentimentos. Mas, entre esses há os que não suportam tal atitude e se rebelam.
Em um primeiro momento o olhar para essas duas histórias poderia atentar ao empobrecimento das relações e os ganhos disso, mas em um outro ângulo pode-se observar a “luz no fim do túnel”, de modo que o homem não é totalmente subjugado em suas emoções e desejos.
Claudio Cano em seu livro “Um futuro sombrio”, salienta um fato relacionado ao conhecimento de forma que apesar de os livros serem abominados, em tal período há quem guarde em sua memória o conhecimento que os mesmos contêm, tornando-se, na visão do autor, a única esperança de salvação do homem.
Atualmente há grande preocupação com o rumo da comunicação entre os seres. Sem dúvida há um grande empenho em amenizar os impactos desse processo. No entanto, se autores como José Saramago, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meirelles, Cora Coralina, entre outros puderem ser lembrados e destacados vez por outra, poderemos ter, afinal, nossa luz no fim do túnel.
O único ponto importante a ser destacado consiste no poder que temos de optar qual rumo terão nossos contatos e o modo como nos comunicaremos com eles. Qual uso faremos das novas formas de comunicação, tendo em vista o ser humano atribuir significados a tudo com o que se relaciona. E, é este mesmo ser humano quem pode direcionar, de modo intencional, o valor que a comunicação terá.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com