31 julho 2015

LIMITES: A Perfeição é o Objetivo

Conhecer os próprios limites pode ser libertador


Platão, com sua filosofia, nos levou a “conhecer” o mundo ideal. Isto é, um modelo perfeito de mundo o qual devemos ansiar. De acordo com o filósofo, tudo ao que nos propormos possui um modelo perfeito o qual nos serve como enquadre.
Entretanto, nessa busca da “perfeição” que o mundo ideal oferece como modelo, podemos esbarrar em algo “temido” na atualidade: nossos limites.
O apelo social no presente faz o convite a determinado comportamento ao qual nos conduz a ideia de aperfeiçoamento de nossas práticas, para, assim sendo, nos tornarmos hábeis em todas as tarefas as quais nos propomos executar.
Procedendo dessa maneira, contudo, estamos sujeitos a experimentar frustrações quando nossa empreitada não ocorre de acordo com o planejado ou “sonhado”. Nessa ocasião, em geral, somos apresentados aos “limites” que possuímos e aos quais nem sempre atentamos.
Não estamos habituados a pensar sobre nossas limitações e quiçá falar delas. Porém, quando permitimos que algo se torne clarificado pelo nosso pensar, possibilitamos a oportunidade de cuidado de algo que poderia estar alheio à nossa atenção.
Ao nos empenharmos em um conhecimento pormenorizado de nossos próprios limites, colocamos em ação um processo o qual irá nos possibilitar um trânsito menos dolorido entre nossas limitações e nossas frustrações.
Nem sempre reservamos um pouco de nosso precioso tempo para atentarmos a nós mesmos. Todavia, ao agirmos desse modo, nos distanciamos de quem somos em essência e, assim, também nos afastamos da possibilidade de nos satisfazermos.
Sem a consciência de até onde somos ou não capazes de chegar, não seremos capazes de interromper uma ação a qual pode nos proporcionar dor ou frustração.
Então, ao disponibilizarmos oportunidades de manutenção de nossos limites de modo a modificá-los de acordo com quem somos, poderemos experimentar uma liberdade inesperada.  

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

24 julho 2015

ESSÊNCIA

Ao resolver redecorar um ambiente podemos mudar a moldura de um velho quadro. De acordo com nosso desejo podemos colocar uma moldura mais chamativa para atrair a atenção para o quadro ou ainda, uma moldura mais discreta para que este não se destaque muito no ambiente. O interessante a se ter em mente é que o quadro é o mesmo, isto é, sua essência não mudou. O que mudou é o ornamento ao redor desta essência que ora o faz sobressair-se, ora o coloca numa posição de menor destaque.
De uma maneira semelhante podemos pensar em relação a nós mesmos. Dependendo da atividade que exercemos em determinado momento, nos colocamos em evidência ou nos ocultamos. Em essência, porém, somos sempre nós. É óbvio que mudanças ocorrem constantemente ao nosso redor e em nós mesmos. Mas há algo que alicerça, que nos mantém seguros e confiantes em nós mesmos, que faz parte de nossa história pessoal e o qual nos construiu ao longo de nosso existir. Sendo assim, torna-se indispensável para que continuemos a nos desenvolver.
Porém, essa confiança em nós pode se apresentar abalada e com isso teremos dúvidas sobre o que somos, ou não, capazes de realizar. E se atentarmos para nossa essência seremos capazes de nos compreender e então, sermos exigentes conosco numa proporção a qual não nos leve a duvidar de nosso potencial naquele momento.
O mais importante, entretanto, é refletir se estamos satisfeitos com essa essência, ou ainda, se a entendemos. Todos temos um modo de ser, de agir e pensar que norteiam nosso comportamento e a isso podemos chamar de essência. Mas, nem sempre nos dispomos a prestar atenção a esse fato.
Usualmente as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos. Drumond de Andrade afirma: “meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...” em muitas ocasiões nos perdemos atentos a fatores os quais não apresentam tanto significado para o nosso existir.
Contudo, se buscamos realizações é essencial nos conhecermos e, especialmente compreendermos quem realmente somos em essência para que as decisões a serem tomadas possam ser, a cada dia, mais verdadeiras e proporcionar, assim, segurança e satisfação.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


17 julho 2015

ARRISCAR

Arriscar-se para sentir-se vivo. Não há prazer sem riscos. Essas frases de vez em quando “cruzam” o nosso caminho. Não é raro nos depararmos com uma frase dessas e nos questionarmos sobre sua autenticidade ou, ainda, se deveríamos nos movimentar em prol do objetivo que elas propõem.
Para nos sentirmos vivos é preciso nos arriscar? E o prazer? Acontece somente acompanhado pelo risco? Heidegger, filósofo, afirma que estamos constantemente sob o risco da morte, isto é, todos nós estamos fadados a morrer e, deste modo, sobreviver é um risco assumido no nascimento. A cada dia pode ocorrer de nos separarmos de tudo o que amamos ou ainda, de nos afastarmos em demasia daquilo que desejamos. O risco, deste modo, está presente, seja no prazer ou na ausência dele.
Passamos muito tempo de nossa existência nos questionando sobre deveres, obrigações, felicidade ou infelicidade. São todos questionamentos muito importantes para nossa convivência em grupo, forma de vida na qual estamos inseridos. Mas uma questão nem sempre abordada por nós é: qual o nosso desejo? O que queremos profundamente? No atropelamento dos nossos afazeres, encontros e desencontros nem sempre atentamos para aquilo que desejamos fazer, ser ou ter.
Entretanto, se pensamos em buscar a satisfação de tal desejo pode ocorrer de nos amedrontarmos, diante dos riscos em potencial que a busca dessa realização pode oferecer. Não podemos nos confundir com prazeres imediatos, os quais criamos para nós ou que a mídia nos induz a acreditar serem nossos desejos. Há um desejo mais profundo e mais autêntico o qual produz uma sensação de prazer que a aquisição de uma roupa, um carro ou um sapato novo não oferecem.
Somos mais complexos que um simples consumidor. Nosso ser solicita de nós autenticidade, isto é, sermos compatíveis com o que sentimos e fazemos. Porém nem sempre nos permitimos identificar em nós o que sentimos ou ainda, o que desejamos. Deste modo, protelamos cuidados conosco que, apesar de essenciais, são revogados a um plano onde não há espaço e nem tempo para questionamentos.
Ouvimos, aqui e ali, alguém lamentando sobre sua insatisfação com algo que não sabe bem o que, ou outra pessoa desanimada sem identificar com certeza a causa. Essa insatisfação e desânimo podem ter início na desatenção para nosso íntimo. Sempre que permitimos a nós mesmos um cuidado atencioso com quem somos e ao que desejamos, corremos o risco de encontrarmos satisfação e ânimo para continuarmos um caminho que culmine na compreensão de quem somos e o que queremos e, por conseguinte, podemos ser apresentados à satisfação e ao  prazer.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

10 julho 2015

ESCOLHAS

Um jovem querendo desafiar a sabedoria de um velho sábio planeja esperá-lo em determinado ponto do caminho e lhe perguntar se um pássaro que tem nas mãos está vivo ou morto. Se o sábio afirmar que o pássaro está vivo ele o esmaga, se a resposta for que está morto ele então o apresenta vivo. Quando o tal sábio aparece no caminho, o rapaz coloca em ação seu plano. E a resposta do sábio é: o destino deste pássaro está em suas mãos.
Para o filósofo Jean Paul Sartre somos escravos de nossas escolhas, tendo em vista sermos livres para escolher, porém submetidos às suas conseqüências. E Heidegger afirma sermos também capazes de ampliar nosso rol de possibilidades aumentando o número de alternativas. Sendo assim, a nossa liberdade é poder escolher entre diversas possibilidades, porém, qualquer escolha implicará em uma conseqüência ética.
Em alguns momentos podemos parecer apenas joguete das situações e não é difícil encontrar um culpado pelo sofrimento ou dor que vivenciamos. Mas, numa reflexão mais apurada podemos encontrar mais de uma possibilidade de escolha, e ao atentarmos para a alternativa rejeitada poderemos imaginar outro caminho que poderíamos ter percorrido. Refletindo ainda mais, não será difícil entendermos que a decisão final partiu de nós. Pode-se até buscar opiniões, sugestões ou quem nos diga exatamente o que fazer, mas a decisão será sempre nossa.
Ao longo de nossa existência vivemos diversas experiências as quais fazem parte de nossa história pessoal e que permeiam nossas decisões. A lembrança dessas nos remete à possibilidade de “previsão” das consequências de escolhas futuras. Contudo, o quanto somos capazes de uma análise reflexiva quando envolvidos em certo problema, tendo em vista que nossas emoções afloram e, sentimos ser impossível decidir qual o melhor caminho? Nestes momentos é agradável encontrarmos alguém para nos dizer o que fazer. Mas será alguém, além de nós, capaz de um julgamento claro e sensato para as decisões que interferem em nossa vida?
Vivemos em grupos e nosso desenvolvimento se dá nos nossos diversos relacionamentos. Sendo assim, buscar outra opinião torna-se um caminho atraente quando estamos diante de uma escolha difícil. Mas quem melhor para conhecer nossas experiências, desejos e necessidades além de nós mesmos? Pode parecer melhor deixarmos nas mãos de outro a responsabilidade da decisão e, deste modo, ao aparecerem as conseqüências, poderemos responsabilizar quem nos “mandou” optar por “aquele” caminho.
É comum alguém dizer não saber como chegou a certa decisão. Afinal, hoje tudo é feito às pressas. Não nos permitimos sequer apreciar um entardecer suave e calmo com um brilho de sol inesquecível. O que fazer para mudar essa situação? Alguém disse ser importante buscar ao longo do dia momentos que nos refaçam, apreciando pequenos detalhes como um sorriso de alguém. 
Responsáveis ou não pelas conseqüências de nossas escolhas, podemos começar com pequenos gestos rumo ao conhecimento de nós mesmos. Quando nos permitimos apreciar os detalhes aprendemos a vê-los, e quem sabe encontraremos mais tempo para as coisas que nos dão prazer e que realmente alimentam nosso existir. Para isso é necessário nos conhecermos melhor para identificarmos de modo mais eficiente os nossos desejos.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga – CRP 06/95124

E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

03 julho 2015

LIBERDADE

Algumas vezes imagino estarmos em uma roda, a roda da vida. E esta roda gira numa velocidade que não nos permite enxergar tudo que está ao nosso redor. De repente algo acontece e nos vemos em uma situação difícil, desagradável, beirando o insuportável. Somos, assim, obrigados a parar e olhar com atenção. Neste momento costumo pensar que fomos obrigados a deixar a roda e a olhar para tudo que está ao nosso redor, desse modo vemos as opções que temos e podemos, então, decidir por qual caminho seguir.
Talvez se olhássemos os pequenos detalhes em nosso dia-a-dia não precisaríamos de situações difíceis para nos tirar da roda. Entretanto, tal prática ainda não constitui uma rotina para nós. Sendo assim, “precisamos” de situações as quais nos proporcionem a parada, às vezes, brusca para observarmos o que acontece e os pormenores envolvidos nas ocorrências ordinárias em nossa existência.
O filósofo Sartre afirma sermos condenados a liberdade, pois somos impelidos a optarmos por uma ou outra alternativa a todo o momento. Contudo, somos obrigados a lidar com as consequências de tais escolhas. Outro filósofo, Heidegger, diz que nossa liberdade consiste em aumentarmos o número de alternativas disponíveis para, então, fazermos nossa opção.
O inconveniente ocorre quando cremos na irrealidade dessa liberdade.  Nessa ocasião somos levados a nos portarmos como vítimas das situações e nos sentirmos “obrigados” a ter atitudes as quais não desejamos.  É nesse momento em que os adoecimentos diversos podem se manifestar, tanto os físicos, que são mais aparentes, como os psicológicos e emocionais, que podem aparecer disfarçados em palavras ações.
Ao permanecermos enraizados nesse pensamento podemos cristalizar comportamentos os quais nos parecem rotineiros e insignificantes. Mas que podem tornar-se escandalosamente nítidos para quem se encontra próximo de nós.
Então, o importante é não perder de vista a realidade de nossa liberdade, para que não iniciemos um processo no qual nossas ações e palavras tornem-se tão cristalinas para os outros que possam ocasionar consequências mais avassaladoras do que poderíamos considerar possível, levando-nos a perdas, muitas vezes, irreparáveis.
Por isso, a consciência de nossa liberdade em ampliarmos nossas possibilidades e a responsabilidade pelas consequências advindas dessas escolhas podem, em um primeiro momento, nos assustar. Mas, a prática rotineira de atentarmos para nossa liberdade pode nos proporcionar um desenvolvimento pessoal surpreendente.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga – CRP 06/95124

E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com