25 março 2016

COMO É O CORPO PERFEITO?

A saúde apresenta um limite, um objetivo, um ponto de chegada. Na contrapartida, a boa forma não.

Zygmunt Bauman, sociólogo, salienta que ao buscarmos a boa forma, diferente do que ocorre com a saúde, não há como dizer se ao alcançarmos um ponto determinado e encontrarmos a satisfação, poderemos, então, nos mantermos nele. A saúde apresenta um limite, um objetivo, um ponto de chegada. Na contrapartida, a boa forma não. Para esse autor a luta pela boa forma é uma compulsão que logo se transforma em vício e, como tal, nunca termina.
O tempo atual nos “bombardeia” com opções das mais variadas para alcançarmos tal objetivo: lipoaspiração, cirurgia plástica, dietas para todos os “gostos”... Enfim, um rol imenso de possibilidades e modos de se conseguir a tão almejada boa forma. Mas qual o padrão? Conseguimos estabelecer um objetivo e nos satisfazermos com ele? Ou Bauman tem fundamento e o vício se apodera de modo a não permitir um limite?
Em nossa cultura temos valores aprendidos ao longo de nossa existência os quais nos permite conviver “pacificamente” em grupo. Isso possibilita conquistas as quais jamais seriam alcançadas se vivêssemos isolados. Contudo, esses mesmos valores podem tornar-se nosso algoz se não praticarmos reflexões acerca deles.
Vivemos um momento no qual a flexibilidade é o lema, tudo deve ser maleável, devemos ter “jogo de cintura” e nos curvarmos à medida do necessário para não nos perdermos. E Bauman destaca que da mesma maneira as formas corporais também solicitam essa maleabilidade. Portanto, é esperado termos à nossa disposição uma quase infinidade de opções para tentarmos obter a “boa forma”. No entanto, essa busca que pode tornar-se frenética, parece ser insustentável quando não possui fundamento. Porque, para muitos, tem ausência de um sentido particular. 
Nós somos seres que precisam dos significados para nos sentirmos realizados com o nosso existir. Quando nos permitimos ser levados pelas solicitações gerais, corremos o risco de perdermos nossa identidade. E quando isso ocorre podemos experimentar algumas dores.
É comum alguém relatar ter dores não explicadas por nenhuma causa, ou aquelas as quais os doutores afirmam serem de ordem emocional. E, sendo assim, há de se buscarem formas “alternativas” de cura.
Talvez a “cura” para essas dores resida em nos permitirmos momentos mais amplos de reflexão a respeito dos significados que têm para nós os amigos, o trabalho, a família, o lazer, o estudo, a profissão escolhida, o nosso corpo. Enfim, tudo o que tem contato com nossa existência e que faz parte de nosso dia-a-dia. Nesse caso, cabe a nós a iniciativa em buscar modos de ampliar tais momentos reflexivos para que nossas dores sejam “curadas”.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

18 março 2016

SOLIDÃO – ESCOLHA OU CONSEQUÊNCIA?

Muitas vezes podemos ter comportamentos que nos afastam daqueles que fazem parte de nosso círculo de convivência.


Não raro é alguém sentir-se solitário vez ou outra. Uma questão é qual tipo de solidão é essa? Sentimo-nos só porque estamos sem companhia? Ou temos companhia, porém, nos sentimos incompreendidos e essa incompreensão nos torna solitários?
Quando identificamos como é nossa solidão podemos, a partir de então, buscar meios de compreendê-la e, talvez, amenizá-la. Mas, o mais importante é termos a liberdade para decidirmos o que fazer com ela.
Quando nos sentimos sós, sem companhia, isso pode significar uma escolha ou uma consequência. Porque muitas vezes podemos ter comportamentos que nos afastam daqueles que fazem parte de nosso círculo de convivência. E então, experimentamos a falta de companhia. Isto é, nos sentimos solitários.
Em muitas ocasiões é comum encontrarmos alguma explicação para isso em ocorrências às quais não nos envolvem. Porém, será possível sofrermos consequências quando não tivemos participação?
O outro tipo de solidão ocorre quando nos vemos cercados de pessoas. Contudo não nos sentimos compreendidos e, em consequência dessa incompreensão podemos experimentar a sensação de solidão.
Nesse caso uma alternativa a se buscar, quando conseguimos identificar esse tipo de solidão, é entender o que em nós é incompreendido por quem faz parte de nossa vida. Ao identificarmos esse “o que” em nós, iniciamos um processo o qual pode culminar numa reflexão acerca da realidade presente nesse fato e, assim, sermos capazes de buscar alternativas para a solução ou não dessa solidão.
Buscar ou não a solução. Porque ao termos contato com o real motivo para algo que vivenciamos, somos capazes de entender o que ocorre. Desse modo, exercitamos a liberdade que nos acompanha o tempo todo e da qual Jean-Paul Sartre, filósofo, diz sermos condenados devido ao fato de sermos obrigados a lidar com suas consequências. Liberdade essa a de escolher o que é de nossa preferência.
Portanto, talvez não seja realmente possível sofrermos consequências de eventos quando não tivemos envolvimento. Ou seja, se experimentamos algo, pode significar que, de algum modo, nos envolvermos e participarmos dele. Sendo assim, somos então capazes de conduzir os eventos ao nosso redor de modo a alcançarmos o que desejamos. Inclusive o desejo de não sentir-se só.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124




11 março 2016

RECEITA PARA O SUCESSO

Precisarmos ter muito cuidado ao ouvir uma palestra, ver um filme ou ler um texto quando um deles nos leve a acreditar que todo o seu conteúdo é a expressão da mais pura verdade.


Uma amiga comentou sobre um livro o qual havia iniciado a leitura e que a deixou um pouco preocupada pois não conseguia largá-lo. O tema dele tratava de alguns comportamentos que ela, supostamente, deveria adotar para conseguir plenitude em sua vida, isto é, oferecia a tão desejada “receita do sucesso”.
Essa conversa me fez lembrar de um antigo professor. Ele afirmava precisarmos ter muito cuidado ao ouvir uma palestra, ver um filme ou ler um texto quando um deles nos leve a acreditar que todo o seu conteúdo é a expressão da mais pura verdade. Segundo esse professor precisamos “despertar do transe”. Se conseguirmos isso seremos capazes de avaliar com mais acuidade o texto, o livro ou a palestra.
Todos buscamos e queremos um modo fácil de encontrarmos a satisfação plena. Porém, costumamos nos esquecer de que essa satisfação é resultado de um processo, o qual envolve diversas etapas e, entre elas, o investimento de muita energia e trabalho.
É comum entre todos aqueles que têm uma atividade remunerada sonhar com o dia em que não será mais necessário exercê-la. Iniciamos uma carreira profissional ambicionando o dia de abandoná-la, para usufruirmos o merecido descanso. O sociólogo Zygmunt Bauman chama a atenção para esse fato, ao afirmar que não nos atentamos para a atividade que exercemos, mas apenas, à época em que poderemos pará-la.
Sob esse aspecto é importante olharmos com atenção para o fato de, normalmente, optarmos por uma carreira baseada nos ganhos monetários que esta irá fornecer. Entretanto, ao ponderarmos apenas esse ganho, corremos o risco de apenas executarmos tarefas e não desenvolvermos uma atividade.
A diferença entre ambos é o fato de quando desenvolvemos uma atividade e a apreciamos, podemos num espaço não muito longo de tempo, aprimorar os modos de executá-la de modo a sermos gratificados. Mas, não apenas quanto à satisfação pessoal, o que, apesar de não muito discutido é essencial para nós, mas também sermos gratificados monetariamente.
Ou seja, quando realizamos algo e conseguimos envolver nossa satisfação no processo, temos grandes chances de experimentarmos o sucesso tão almejado. Contudo, precisamos nos conhecer para definirmos com exatidão o que almejamos de fato. Para, assim, não corrermos o risco de nos envolver em uma empreitada enganosa e que a longo prazo não irá nos satisfazer.
Sendo assim, quando exercitamos o despertar do transe que um texto, um livro ou mesmo um filme nos conduz, exercitaremos também o despertar de nossa atenção para aquilo que ouvimos. E, por conseguinte, exercitaremos também o refletir sobre temas usualmente apenas ouvidos, vistos ou sentidos.
Refletindo sobre tais questões, então, poderemos encontrar modos diferentes de conduzir situações semelhantes. Mas, que nos permitam o desenvolvimento pessoal que permeia todas as áreas nas quais estamos envolvidos e que podem nos proporcionar satisfação e prazer.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

04 março 2016

DE QUEM É A DEFICIÊNCIA

Uma facilidade que possuímos é a tendência de amenizar aquilo que concerne a nós e de exacerbar o que concerne ao outro.


Numa mensagem enviada por e-mail havia uma pequena historieta: um marido leva a esposa ao médico para verificar sua surdez. Na consulta o doutor solicita ao esposo que faça um teste para averiguar o quão surda a esposa está. Ao anoitecer o marido coloca em prática seu teste e segue perguntando a ela o que teriam para o jantar. Faz a mesma pergunta três vezes aproximando-se dela cada vez mais e nada de resposta. Quando se encosta à esposa e pergunta pela quarta vez ela o informa que já seria a quarta vez que respondia que teriam frango. Ao final uma frase: Normalmente, na vida, pensamos que as deficiências são dos outros e não nossas.
Uma facilidade que possuímos é a tendência de amenizar aquilo que concerne a nós e de exacerbar o que concerne ao outro. Portanto, faz sentido a frase final da historieta acima. Porém, cabe a nós o exercício de refletir a respeito desse comportamento considerado normal e para o qual não disponibilizamos nosso tempo.
 É comum ouvirmos alguém lamentar-se do modo de agir de outro alguém para com ele. Mas será esse indivíduo capaz de notar que pode apresentar o mesmo comportamento em relação àquele de quem reclama? Raras vezes percebemos isso, mas ocorre com maior frequência do que gostaríamos.
Lamentamos quando alguém não nos procura para uma conversa. Porém não temos a iniciativa de procurá-lo também. Entretanto, sofremos. Então, temos o privilégio de lamentar e o outro não, pois nossa dor é maior. Até que ponto estamos acostumados a esse modo de agir, sem levarmos em conta os sentimentos do outro?
Nos nossos afazeres diários costumamos justificar nossa falta de atenção a “pequenos” detalhes. Mas, ainda assim, conseguimos sentir a falta de algo do qual fomos privados sem nos importarmos com a sua possível insignificância.
Se, ao contrário do que estamos habituados, decidirmos, em uma ocasião ou outra, agir de modo diferente, podemos iniciar um processo no qual os detalhes não serão tão “pequenos”. Então, eles assumirão a real importância que possuem. Deste modo, será possível a diminuição de oportunidades para nossas lamentações e experimentaremos sentimentos desconhecidos ou, quiçá, esquecidos.
Ao nos aproximarmos de um problema temos maiores chances de alcançar a solução dele. Porque é em nós mesmos onde temos acesso a um maior número de informações as quais podem ser verdadeiras. E, quando de posse dessas informações podemos ter decisões mais seguras e acertadas.
Em muitas ocasiões é possível observar que ao tomarmos uma atitude diferente daquela a qual estamos acostumados, no mínimo causamos uma surpresa, assim como nos surpreendemos quando alguém tem tal comportamento.
Então, ao assumirmos nossas deficiências como nossas e não do outro, somos capazes de cuidar delas de modo a transformá-las em oportunidades de acerto. E, assim, experimentarmos um maior número de ocasiões na qual sentiremos satisfação.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124