29 julho 2011

AMOR, JUSTIFICATIVAS E ILUSÕES


Em nome do amor, algumas vezes, cometemos atos insensatos ou mesmo sem avaliar a dimensão de suas consequências. Uma conhecida contou sobre sua experiência em tentar, de todos os modos, amenizar as dores de quem era próximo a ela. Disse ter sido repreendida por alguém que lhe destacou sobre os malefícios dessa atitude. Porque assim não permitia à essas pessoas viverem experiências que lhes permitissem algum aprendizado e desenvolvimento.
No entanto, não é fácil a atitude de ajudar o desenvolvimento de alguém querido sem tentar impedir uma possibilidade de dor. Em muitas ocasiões torna-se quase impossível assistir a essa pessoa sofrer as consequências daqueles atos que lhe proporcionaram sofrimento. Especialmente quando se tem alternativas para auxiliar a mitigar esse processo.
Atualmente, com as solicitações diárias as quais estamos submetidos, encontramos justificativas diversas para tal comportamento. Na pressa dos muitos afazeres sanamos nossa necessidade de encontrar uma causa para nosso modo de ser o qual “lesa” aquele a quem amamos. Em muitas ocasiões fechamos nossos olhos para tal realidade protelando também o lidar com suas consequências.
Muitas vezes não nos atentamos para o fato de esse modo de agir se relacionar com sentimentos dos quais nos pertencem, e que nos causam desconforto. Sentimentos relacionados às frustrações as quais somos expostos a todo o momento, principalmente devido ao fato de acreditarmos ser possível muito mais do que a nossa realidade permite.
Diante disso, a tentativa de impedir quem amamos de experimentarem frustrações torna-se uma tentação quase irresistível. Assim, buscamos formas de sanar nossas dores com nossas próprias decepções nos atos que, em nossa ilusão, são salvadores das dores alheias.
Talvez, o amor seja uma forma nobre de justificarmos nossos atos. Porém, uma análise mais detalhada de como amamos pode permitir que sejamos um pouco mais “úteis” àqueles que direcionamos tal sentimento.
Nesse caso, ao nos conhecermos e abrandarmos nossas dores nos tornamos mais plenos. E, então, em consequência, também mais aptos a “acompanhar” quem nos cerca e é depositário de nossos sentimentos de carinho e amor. Essa companhia se torna mais segura e capaz de ser provedora de experiências importantes para seu desenvolvimento pessoal.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

21 julho 2011

ANSIEDADE - CORRER OU FICAR?


A todo o momento somos “bombardeados” com opções as quais nem sempre somos capazes de desprezar. Então, experimentamos a famigerada ansiedade. O que fazer? É possível conseguir “tudo”? O que deixar de lado? Minha decisão foi a mais sábia? Essas, entre outras questões, permeiam nosso estado ansioso.
Heidegger, filósofo, afirma ser a ansiedade o sustentáculo de nosso movimento, que nos leva a não estagnação. E isso ocorre devido à ansiedade ou angústia nos levar a experimentarmos sensações que nos colocam em tal estado a ponto de sermos “obrigados” a fazer algo. Seja uma busca ou uma fuga.
O importante, nesses momentos, é termos conhecimento de fato de a ansiedade poder assumir dois polos: positivo ou negativo. Todavia, cabe a nós qual deles irá prevalecer. Ou seja, pode-se afirmar que a ansiedade se faz importante. Porém, somos nós quem iremos indicar qual valor ela terá em nossas decisões.
Há quem seja incapaz de lidar com tal sentimento. Irá, provavelmente, experimentar outras sensações aliadas à ansiedade, o medo. Então, o impulso em recuar diante de algo que nos altera as sensações é quase uma resposta reflexa. No entanto, se exercitarmos nossa capacidade em conter esse impulso de recuo, poderemos experimentar a possibilidade de utilizar a ansiedade, como sugere Heidegger, de modo a ser um combustível propulsor na busca de novas possibilidades.
Ao ampliarmos nosso rol de possibilidades exercitamos, segundo esse filósofo, nossa liberdade e podemos colocar em prática, como afirma Jean-Paul Sartre, o ápice dessa liberdade – a escolha, a qual todos somos “obrigados” a fazer a todo o momento em nosso dia-a-dia.
Podemos sempre afirmar não termos tido escolha. Dizer serem determinados eventos inevitáveis e decisivos no que ocorre conosco. Contudo, se dedicarmos bastante atenção, entenderemos termos opções em todas as ocasiões nas quais nos envolvemos.
Mas, assumir a posse dessas escolhas nos coloca em uma posição de “senhores” de nosso existir. E, nem sempre estamos aptos a assumir esse “posto” de modo consciente. Não obstante, não estarmos conscientes disso não significa não ser essa a nossa realidade.
J.K. Rowling, autora da série de livros Harry Potter, afirma na fala de um personagem serem nossas escolhas quem nos definem e não nossas aptidões. Ou seja, todos temos traços genéticos ou mesmo capacidades aprendidas. No entanto, nossas escolhas denotam aquilo realmente desejado por nós.
Mesmo quando não admitimos terem sido nossas decisões que nos colocou na situação atual de nossa existência, revelamos quem somos. Sendo assim, quando aceitarmos nossas escolhas como uma parte importante de nosso existir, tornaremos capaz a existência da possibilidade de minimizar as consequências negativas da ansiedade, como experimentada quando uma escolha surge em nosso caminho.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

15 julho 2011

OLHAR - ESCOLHA CONSCIENTE. TALVEZ!


“... E quando se presta atenção espontânea e virgem de imposições, quando se presta atenção, a cara diz quase tudo”. Clarice Lispector destaca com essa frase o quanto é possível, se nos despirmos de nossos “pré-julgamentos”, analisarmos as situações de uma maneira mais isenta. Possibilitando um conhecer mais autêntico.
Contudo, tal proposta não constitui uma tarefa fácil. Nossas imposições estão permeadas por nossos valores. Estes foram construídos ao longo de nossa existência através das diversas experiências que vivenciamos. Mas, à medida que conseguimos exercitar um olhar menos comprometido com esses valores possibilitamos contatos diferenciados.
Ao usarnos nosso pré-julgamento deixamos de lado muitas opções das quais poderíamos usufruir prazeres ignorados. Porém, nos mantemos ligados àquilo que consideramos seguro e não nos permitimos riscos em empreitadas diferentes.
Ao conhecermos alguém, por exemplo, utilizamos essas ferramentas para nos proteger de possíveis surpresas desagradáveis. Entretanto, ao não nos surpreendermos também deixamos de experimentar possíveis prazeres. Ou seja, nos privamos da dor, mas também do gozo.
Costumamos fugir dessas situações e para minimizar as chances de sofrimento. Com isso nos protegemos e acreditamos encontrar uma vida mais segura e amena. Todavia, a amenidade também pode levar à mesmice. E, apesar de a rotina ser um modo de experimentarmos a segurança, ela também leva à monotonia da qual tantamos nos distanciar a todo o momento.
Lamentamos a rotina, a falta de oportunidades em experimentarmos sensações diferentes. Contudo, o que fazemos, na realidade, é fugir das dificuldades o máximo possível. Não obstante, fugimos também das chances de encontrarmos significados diferentes para ocasiões talvez semelhantes, o que nos levaria a sensações novas. E elas poderiam constituir o diferencial que buscamos para sentirmos “a vida correr nas veias”.
Desse modo, é importante nos conscientizarmos o máximo possível sobre nossos valores. Para entendermos o que nos leva a fazer certas escolhas e ter determinadas decisões. E, então, experimentarmos a liberdade de escolhermos com maior isenção dentre as possibilidades com as quais nos deparamos.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

08 julho 2011

CAVERNA ESCURA


O passado que não se conhece é como uma caverna escura. A desvendaremos se tivermos algum interesse, mas como se interessar pelo que não é lembrado? Pelo simples fato de não lembrarmos significa que não pertence à nossa história?
Em muito mais ocasiões do que gostaríamos nosso passado pode ser motivo de sofrimentos ao ser relembrado. Por ter sido muito bom e não ser possível revivê-lo ou por ter sido desagradável e não querermos a lembrança para não reviver os sofrimentos escondidos em uma “caverna”. No entanto ignorá-lo pode ser a base de consequências das quais se pode lamentar sem nem ao menos ter consciência do envolvimento dele.
O ser que somos hoje é o resultado das experiências vividas até então e, que de certo, não está pronta. Isto é, se somos o resultado das experiências passadas, nosso amanhã consistirá em uma pessoa diferente de quem somos hoje. Um movimento constante e inevitável rumo ao desenvolvimento.
Então, se estamos sempre por fazer é possível mudanças em todos os níveis dos quais aspiremos. A questão é: somos capazes de buscar conhecer nossa história para então construirmos, com maior autonomia, o que está por vir?
Ao buscarmos formas de aproximar nossa história de nossa realidade também conheceremos nossos limites. Certamente esses limites podem nos surpreender e até mesmo decepcionar. Porém, ao termos o conhecimento possuímos também a condição do possível. Ou seja, assumimos a posição de “proprietários” do que queremos para nós, nos tornamos melhores artífices nessa realização.
Ou seja, sempre ao ampliarmos nosso limiar de conhecimentos ampliamos, por consequência, nosso rol de possibilidades. E, como na análise de Heidegger nos tornamos mais livres à medida que ampliamos nossas possibilidades, eis nossa oportunidade para sermos cada vez mais livre.
No entanto, é primordial ter-se em mente que a liberdade vem associada à satisfação, mas também interligada à responsabilidade. Sendo assim, ao alcançarmos tal liberdade estaremos também “tocando” em responsabilidades para as quais precisamos estar atentos e, então, não sermos surpreendidos com situações causadoras de dissabores.
É essencial ao buscar-se a liberdade lembrar-se também da responsabilidade. Pois, ao exercitarmos ambas em conjunto poderemos buscar conhecer o que se esconde em nossa caverna escura. E, ainda assim, contatando situações passadas pelas quais poderíamos nos sentir amedrontados sem um real motivo para isso. Encontrando, talvez, ao invés de um monstro horrendo, apenas uma bela criança jovial a espera de ser aconchegada.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

01 julho 2011

IMPOTÊNCIA - Recolhendo Cacos


Rubem Alves afirma ser importante, em alguns momentos, não “palpitarmos” sobre como um problema precisa ou pode ser resolvido. O essencial é nos mantermos por perto para recolher os “cacos” quando e se isso for possível. Entretanto, o “sangue-frio” necessário para tal atitude não compreende algo habitual.
Algumas pessoas costumam protelar seu envolvimento nos problemas que as cercam. Com essa atitude vivenciam a possibilidade de tudo resolver-se por si só. Certamente, poder-se-ia afirmar que esse comportamento se esbarra na sugestão de Rubem Alves. Contudo será possível generalizar e sempre agir desse modo?
Como discernir entre o momento no qual se deve observar e esperar e aquele no qual se deve intervir? Em uma mensagem nos meios de comunicação informatizados alguém sugere ser importante ter disposição diante das situações as quais podemos intervir, resignação frente àquelas as quais nada se pode fazer e, o mais importante, a capacidade de diferenciar uma da outra.
A sugestão de Rubem Alves não parece ser uma das atitudes mais corriqueiras. Envolve, na realidade, um processo dependente do exercício de identificar em quais momentos deve-se agir e em quais deve-se apenas observar e esperar.
Essa postura, entretanto, nos conduz; em mais ocasiões do que gostaríamos; a sentimentos de impotência ao observarmos a dor de alguém que nos é próximo. Muitas vezes essa dor é familiar por experiências vivenciadas de modo semelhante em nosso passado. Porém, é importante termos em mente que todos precisamos nos desenvolver. E para isso, na maioria das vezes, é necessário nos colocarmos a disposição e respeitando certa distância para que o crescimento do outro também ocorra.
O crescer um processo doloroso. Independente se o crescimento é físico ou emocional, a dor sempre estará presente. E no nosso modo de amar buscamos de todas as formas amenizar essas dores. Contudo, Rubem Alves, quem inspirou essa reflexão, deixa claro ser importante permitirmos o vivenciar da dor a quem queremos bem para possibilitar a eles uma experiência de maior valor.
Então, o exercício essencial e diário necessário para se habituar e amenizar o sentimento de impotência experimentado diversas vezes é: nos habilitarmos, cada vez mais, a compreender a dimensão da dor alheia e a importância que ela representa para o crescimento pessoal de todos os envolvidos no processo. Nos tornando, desse modo, como sugere Rubem Alves, aptos a recolher os cacos... se for possível.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br