29 julho 2016

O QUÊ NOS AMEDRONTA?

Normalmente relacionamos a ansiedade a situações negativas. No entanto o valor que ela terá em nossa existência irá depender de como lidamos com ela.


Alguém me questionou sobre qual a razão de experimentar-se a ansiedade diante de uma competição, mesmo quando se está ciente da própria capacitação para o sucesso da empreitada. Seria o instinto de preservação a razão para tanto “medo” de errar ou perder? E, o que se quer preservar?
Normalmente relacionamos a ansiedade a situações negativas. No entanto o valor que ela terá em nossa existência irá depender de como lidamos com ela. Então, essa angústia que experimentamos pode tornar-se um auxílio para o sucesso quando nos encontramos em situações desafiadoras.
Raramente nos fazemos perguntas como: o que nos amedronta nessa situação? Do que temos medo? E, ainda mais raramente respondemos a essas questões. Afinal, podemos ter “medo” da resposta. No entanto, se não ponderarmos quais os verdadeiros sentimentos envolvidos nas sensações que experimentamos, não seremos capazes de compreender a razão de nos comportarmos de determinados modos.
Nesse caso, uma maneira para tentar minimizar ou tentar obter o controle sobre o grau nossa ansiedade é conhecê-la. Ao sabermos o que nos assusta diante das situações que se nos apresentam, poderemos avaliar a realidade ou não dessas razões e então lidarmos com elas de modo mais significativo e, por conseguinte, mais duradouro.
É de suma importância compreender os significados das diversas experiências vivenciadas diariamente por nós. Em nossa pressa nem sempre nos atentamos para esses significados, mas isso não representa serem de menor valor. Ao entendermos esses sentidos para nós, iremos depreender como amenizar seus impactos em nosso existir.
Então, consiste na busca constante do conhecimento próprio o refúgio para vivenciar as mais variadas experiências de modo mais seguro e proveitoso. Essa busca, entretanto, não representa um momento pontual em nosso viver, mas um constante movimento em prol de nosso desenvolvimento pessoal, e cabe a nós a decisão de sua continuidade.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

22 julho 2016

EM PAZ COM A ANSIEDADE

Heidegger, filósofo, afirma ser a angústia o sustentáculo de nosso movimento que nos leva a não estagnação.


A todo o momento somos “bombardeados” com opções as quais nem sempre somos capazes de desprezar. Então, experimentamos a famigerada ansiedade. O que fazer? É possível conseguir “tudo”? O que deixar de lado? Minha decisão foi a mais sábia? Essas, entre outras questões, permeiam nosso estado ansioso o qual nos leva a experimentar, em muitas ocasiões, a angústia.
Heidegger, filósofo, afirma ser a angústia o sustentáculo de nosso movimento que nos leva a não estagnação. E isso ocorre devido à ansiedade nos levar a experimentarmos sensações que nos colocam em tal estado a ponto de sermos “obrigados” a fazer algo. Seja uma busca ou uma fuga.
O importante, nesses momentos, é termos conhecimento de fato de a ansiedade poder assumir dois polos: positivo ou negativo. Todavia, cabe a nós qual deles irá prevalecer. Ou seja, pode-se afirmar, por esta ótica, que a ansiedade se faz importante. Porém, somos nós quem iremos indicar qual valor ela terá em nossas decisões.
Há quem seja incapaz de lidar com tal sentimento de modo satisfatório. Irá, provavelmente, experimentar outras sensações aliadas à ansiedade, como o medo. Então, o impulso em recuar diante de algo que nos altera as sensações é quase uma resposta reflexa. No entanto, se exercitarmos nossa capacidade em conter esse impulso de recuo, poderemos experimentar a possibilidade de utilizar a ansiedade, como sugere Heidegger, de modo a ser um combustível propulsor na busca de novas possibilidades.
Ao ampliarmos nosso rol de possibilidades exercitamos, segundo esse filósofo, nossa liberdade e podemos colocar em prática, como afirma Jean-Paul Sartre, o ápice dessa liberdade – a escolha, a qual todos somos “obrigados” a fazer a todo o momento em nosso dia-a-dia.
Podemos sempre afirmar não termos tido escolha. Dizer serem determinados eventos inevitáveis e decisivos no que ocorre conosco. Contudo, se dedicarmos bastante atenção, entenderemos termos opções em todas as ocasiões nas quais nos envolvemos.
Mas, assumir a posse dessas escolhas nos coloca em uma posição de “senhores” de nosso existir. E, nem sempre estamos aptos a assumir esse “posto” de modo consciente. Não obstante, não estarmos conscientes disso não significa não ser essa a nossa realidade.
J.K. Rowling, autora da série de livros Harry Potter, afirma na fala de um personagem serem nossas escolhas quem nos definem e não nossas aptidões. Ou seja, todos nós temos traços genéticos ou mesmo capacidades aprendidas. No entanto, nossas escolhas denotam aquilo realmente desejado por nós.
Mesmo quando não admitimos terem sido nossas decisões que nos colocou na situação atual de nossa existência, revelamos quem somos. Sendo assim, quando aceitarmos nossas escolhas como uma parte importante de nosso existir, tornaremos capaz a existência da possibilidade de minimizar as consequências negativas da ansiedade, como experimentada quando uma escolha surge em nosso caminho.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

15 julho 2016

DIFERENÇAS

Quanto mais formos parecidos uns com os outros estaremos mais aptos a conviver melhor?


Em muitas ocasiões pode-se experimentar a sensação de estar “nadando contra a maré”. Isto é, a impressão de o mundo ir e um sentido e nós em outro totalmente diferente. Isso pode ocorrer por diversas razões como ser extravagante, ou diferente da maioria.
É comum ouvir alguém afirmar sentir-se incomodado ou mesmo prejudicado por agir diferente do que é comum. Devido a um comportamento ou sentimento diferente do praticado pela generalidade pode-se experimentar esse desconforto. Nessa ocasião é importante exercitar um conhecimento mais abrangente sobre si mesmo para não correr o risco de se perder dentre a maioria.
A cultura atual estabelece como importante sermos o mais igual possível. Possuir, inclusive, objetos semelhantes. Ou seja, quanto mais formos parecidos uns com os outros, estaremos mais aptos a conviver melhor. No entanto, somos diferentes em diversas particularidades. Então como nos sentir bem sendo iguais, e não diferentes?
Cada momento de nossa história de vida constrói o que somos atualmente. Toda a experiência passada constituiu nossa construção como o ser que somos hoje. Nesse caso, o passado foi importante nesse processo. Não é necessário, contudo, viver-se voltado para esse passado. O importante é a consciência de sua importância em nosso existir atual. 
Elizabeth Kübler-Ross em seu livro A Roda da Vida cita uma jovem judia a qual havia sobrevivido a um campo de concentração nazista. Ela discorre sobre a importância em se deixar o passado para trás para ter-se paz no presente. Entretanto sem esquecê-lo, apenas sem revivê-lo repetidamente para não alimentar sentimentos de ressentimento ou pesar.
Então, ao estarmos cientes da importância do passado em nossa história e de como essas experiências nos tornam singulares, é igualmente importante compreendermos serem nossas decisões e escolhas também singulares. Deste modo, o nadar contra a maré torna-se apenas a assunção de nossas particularidades as quais nos tornam especiais. E não um ato de afronta que ocasiona desconforto.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com


08 julho 2016

ESCOLHA CONSCIENTE SEMPRE?!

Ao usarmos nosso pré-julgamento deixamos de lado muitas opções, das quais poderíamos usufruir prazeres ignorados.


“... E quando se presta atenção espontânea e virgem de imposições, quando se presta atenção, a cara diz quase tudo”. Clarice Lispector destaca com essa frase o quanto é possível, se nos despirmos de nossos “pré-julgamentos”, analisarmos as situações de uma maneira mais isenta. Possibilitando um conhecer mais autêntico.
Contudo, tal proposta não constitui uma tarefa fácil. Nossas imposições estão permeadas por nossos valores. Estes foram construídos ao longo de nossa existência através das diversas experiências que vivenciamos. Mas à medida que conseguimos exercitar um olhar menos comprometido com esses valores, possibilitamos contatos diferenciados.
Ao usarnos nosso pré-julgamento deixamos de lado muitas opções, das quais poderíamos usufruir prazeres ignorados. Porém, nos mantemos ligados àquilo que consideramos seguro e não nos permitimos riscos em empreitadas diferentes.
Ao conhecermos alguém, por exemplo, utilizamos essas ferramentas para nos proteger de possíveis surpresas desagradáveis. Entretanto, ao não nos surpreendermos também deixamos de experimentar possíveis prazeres. Ou seja, nos privamos da dor, mas também do gozo.
Costumamos fugir dessas situações para minimizar as chances de sofrimento. Com isso nos protegemos e acreditamos ser possivel experimentar uma vida mais segura e amena. Todavia, a amenidade também pode levar à mesmice. E, apesar de a rotina ser um modo de experimentarmos a segurança, ela também leva à monotonia da qual tantamos nos distanciar a todo o momento.
Lamentamos a rotina, a falta de oportunidades em experimentarmos sensações diferentes. Contudo, o que fazemos, na realidade, é fugir das dificuldades o máximo possível. Não obstante, fugimos também das chances de encontrarmos significados diferentes para ocasiões talvez semelhantes, o que nos levaria a sensações novas.  E elas poderiam constituir o diferencial que buscamos para sentirmos “a vida correr nas veias”.
Desse modo, é importante nos conscientizarmos o máximo possível sobre nossos valores. Para entendermos o que nos leva a fazer certas escolhas e ter determinadas decisões. E, então, experimentarmos a liberdade de escolhermos com maior isenção dentre as possibilidades com as quais nos deparamos.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

01 julho 2016

MINHA HISTÓRIA

Se somos o resultado das experiências passadas, nosso amanhã consistirá em uma pessoa diferente de quem somos hoje. Um movimento constante e inevitável, rumo ao desenvolvimento.


O passado que não se conhece é como uma caverna escura. A desvendaremos se tivermos algum interesse, mas como se interessar pelo que não é lembrado? Pelo simples fato de não lembrarmos significa que não pertence à nossa história?
Em muito mais ocasiões do que gostaríamos nosso passado pode ser motivo de sofrimentos ao ser relembrado. Por ter sido muito bom e não ser possível revivê-lo ou por ter sido desagradável e não querermos a lembrança, para não revivermos os sofrimentos escondidos em uma “caverna”. No entanto, ignorá-lo pode ser a base de consequências das quais se pode lamentar sem nem ao menos ter consciência do envolvimento dele.
O ser que somos hoje é o resultado das experiências vividas até então e, que de certo, não está pronto. Isto é, se somos o resultado das experiências passadas, nosso amanhã consistirá em uma pessoa diferente de quem somos hoje. Um movimento constante e inevitável, rumo ao desenvolvimento.
Então, se estamos sempre por fazer, é possível mudanças em todos os níveis dos quais aspiremos. A questão é: somos capazes de buscar conhecer nossa história para então construirmos, com maior autonomia, o que está por vir?
Ao buscarmos formas de aproximar nossa história de nossa realidade também faremos “contato” com nossos limites. Certamente, esses limites podem nos surpreender e até mesmo decepcionar. Porém, ao obtermos o conhecimento possuímos, também, a condição do possível. Ou seja, assumimos a posição de “proprietários” do que queremos para nós, nos tornamos melhores artífices nessa realização.
Desse modo, sempre ao ampliarmos nosso limiar de conhecimentos ampliamos, por consequência, nosso rol de possibilidades. E, como na análise de Heidegger, nos tornamos mais livres à medida que ampliamos nossas possibilidades, eis nossa oportunidade para sermos cada vez mais livre.
No entanto, é primordial ter-se em mente que a liberdade vem associada à satisfação, mas também interligada à responsabilidade. Sendo assim, ao alcançarmos tal liberdade estaremos também “tocando” em responsabilidades para as quais precisamos estar atentos e, então, não sermos surpreendidos com situações causadoras de dissabores.
É essencial ao buscar-se a liberdade lembrar-se também da responsabilidade. Pois, ao exercitarmos ambas conjuntamente, poderemos buscar conhecer o que se esconde em nossa caverna escura. E, ainda assim, contatando situações passadas pelas quais poderíamos nos sentir amedrontados sem um real motivo para isso. Encontrando, talvez, ao invés de um monstro horrendo, apenas uma bela criança jovial a espera de aconchego.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124