28 setembro 2012

COMUNICAÇÃO


Para haver algum tipo de comunicação há a necessidade alguém de enviar uma mensagem para outro a receber. No entanto nem sempre nos preocupamos em averiguar se o que dissemos, isto é, se a mensagem enviada, foi compreendida como esperávamos.
Não podemos nos esquecer de que assim como o olhar, o ouvir envolve nossas experiências passadas no curso da interpretação. Ao olharmos para algo, está envolvido nesse processo tudo o que vivenciamos em nosso passado com a imagem em questão. Então, enxergamos, por exemplo, um tom de rosa ou azul diferente de qualquer outra pessoa, devido à nossa experiência com a referida cor.
Do mesmo modo ocorre com a nossa audição. Tudo o que vivenciamos anteriormente em nossa existência, permeia aquilo que ouvimos. Isto é, assim como no processo de ver, o ouvir envolve nossa experiência passada com o tema abordado. Ou seja, disponibilizamos nossa atenção de modo proporcional ao nosso interesse envolvido em alguma experiência anterior. Isso faz com que escutemos, isto é, interpretemos a mensagem de um modo particular e “único” para cada um.
Não é raro, após uma palestra, um grupo de pessoas conversarem e descobrirem não ter ouvido algo aqui e ali. Algumas vezes isso decorre de uma distração nossa, mas também ocorre devido ao “como” ouvimos a mensagem.
No entanto, não estamos habituados a “verificar” o que dissemos e, mais ainda, se o que ouvimos foi o que nosso interlocutor quis nos dizer. Desse modo, se faz importante exercitarmos um modo de conhecer como nossa mensagem atingiu seu alvo para que nossos contatos se tornem mais límpidos. Pois, nos acostumamos a lamentar os diversos mal entendidos diários em nosso contato com os outros. Mas, não nos propomos a checar qual a mensagem realmente recebida por aquele a quem abordamos ou mesmo a quem ouvimos.
A cada dia experimentamos possibilidades cada vez mais elaboradas para o contato com o outro. Redes sociais e meios tecnológicos facilitam a “proximidade”. Porém, se buscarmos um contato de qualidade para satisfazer nossa necessidade humana de relação, necessitaremos atentar para o modo como essa comunicação ocorre.
Se nos dispusermos a buscar maneiras de compreender como nos comunicamos, ou seja, como ouvimos e como dizemos o que desejamos, incorremos na possibilidade de aprimorarmos a qualidade de nossas relações. E, por consequência, estabelecermos relações com maior qualidade, possibilitando assim, a oportunidade de satisfazermos nossa necessidade de trocas.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

21 setembro 2012

ESCOLHAS POSSÍVEIS


Elisabeth Kübler-Ross em seu livro “A roda da vida”, afirma ser o livre-arbítrio um direito individual e intransferível. E, por isso, põe sobre nossos ombros a responsabilidade por fazer as melhores escolhas possíveis. No entanto, será que fazemos as melhores escolhas possíveis?
É comum quando experimentamos a decepção com algo, nos posicionarmos como vítimas das circunstâncias, e encontrarmos no mundo diversos agentes causadores de nosso sofrimento. Mas, se nos dispusermos a um olhar um pouco mais criterioso para nós mesmos, incorremos na possibilidade de compreendermos nosso envolvimento nas decisões culminantes de nossa atual condição.
Em um primeiro momento, ao nos depararmos com algum tipo de sofrimento nos sentimos como “apunhalados” pelo mundo e por todos que nele se encontram. Contudo, se permitirmos uma análise cuidadosa e isenta de pré-julgamentos, certamente, encontraremos diversos momentos nos quais nossas decisões foram imperativas para nos posicionar no ponto no qual nos encontramos. Isto é, nossas escolhas nos conduzem ao estado no qual nos encontramos no presente.
Quando envolvidos na dor buscamos, com frequência, os culpados por nosso dissabor. No entanto, ao assumirmos nossa condição de copartícipes da construção de nossa história, ou seja, admitirmos que nossas escolhas são feitas por nós, também assumimos a possibilidade de mudanças.
Contudo, é de suma importância considerar que ao fazer uma escolha relegamos ao menos uma alternativa. Então, com o exercício de ampliarmos o panorama das circunstâncias as quais vivenciamos, ele permite nossa capacitação de uma análise mais acurada das opções ao considerar os prós e contras nelas envolvidos.
Assim, cuidando de nossa atenção aos fatos e às opções, poderemos nos munir do arsenal o qual nos permita praticarmos as melhores escolhas possíveis. E, a partir daí, assumirmos com todas as regalias a posição de copartícipes da construção de nossa história. Para, desse modo, assumir o cuidado com nosso presente, valorizar nossa história passada e com o olhar para o futuro.
Desse modo, faremos uso de nosso livre arbítrio em prol de nosso bem estar e desenvolvimento. Permitiremos que o peso em nossos ombros seja, de algum modo, agradável. Pois, tal peso fará parte da bagagem que irá compor nosso existir.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

14 setembro 2012

DOR


“A dor é temporária, desistir dura para sempre”. Esta afirmação é do famoso ciclista americano, Lance Armstrong, vencedor do Tour de France de 1999 a 2005 após restabelecer-se de um câncer.
Muitas vezes temos o impulso de acreditarmos em nossa incapacidade para suportar qualquer tipo de sofrimento. Seja ele relacionado a uma dor física ou emocional. Podemos, certamente, optarmos pelo desistir em lugar de buscarmos formas alternativas de lidarmos com o que nos aflige. Contudo, poderemos apenas substituir uma dor por outra: a da desistência.
No entanto, há maneiras de lidarmos com nossas dores de modo a tirarmos proveito dela.  Quando uma situação nos causa algum tipo de aflição podemos nos lamentar e nos penalizarmos com o que ocorreu. Ou, nos empenharmos na busca de alternativas para nos desenvolvermos a partir da oportunidade em questão.
Um adulto relatou sua experiência de ter tido esquecido, por todos que o conheciam na ocasião, a data de seu aniversário quando ainda jovem. Segundo ele, a dor experimentada foi muito intensa. Porém, ao final do dia compreendeu que as pessoas podem, em alguns momentos, verem-se tão envolvidas em seus próprios assuntos, que uma data especial para alguém pode permanecer despercebida para outro.
Isso não significa, entretanto, ausência de sentimento. Expressa, apenas, que podemos nos enredar em situações as quais nos levem a um envolvimento tal, de modo que até a lembrança de uma data importante pode tornar-se algo irrealizável.
Todavia, em uma experiência dessas poder-se-ia optar por um sofrimento contínuo a cada ano com a repetição da data e da lembrança do ocorrido. Não obstante, ao decidir-se por analisar de modo livre de sentimentos de ressentimento, a experiência em questão pode assumir o papel de algo construtivo e capaz de possibilitar algum desenvolvimento pessoal.
Há um termo: resiliência, muito em voga atualmente e que define esse tipo de comportamento, o de alguém que possui resistência ao choque. Isto é, capaz de sofrer algum tipo de contratempo e, apesar disso, reerguer-se diferente e fortalecido.
Então, como Lance Armstrong sugere, pode ocorrer de ao optarmos por não desistir da luta, alcançarmos algum tipo de dor lancinante. Mas, também incorremos no risco de experimentarmos sensações de vitória desconhecidas por nós, as quais podem nos oferecer oportunidades de conquistas impensadas anteriormente à experiência vivida. Sendo assim, buscar formas de conhecermos nosso potencial de resiliência torna-se um objetivo, ao menos, enriquecedor.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

07 setembro 2012

SORTE


O acesso facilitado a informações e imagens sobre o cotidiano alheio tornou-se um aliado, mas também uma possível fonte de frustração. Sempre é possível adquirir algum aprendizado com a experiência do outro, mas também se pode experimentar a dor do desejo não alcançado. Ou ainda, a inveja em relação ao outro.
Costuma-se comparar ganhos e perdas. No entanto, ao procedermos assim, podemos desconsiderar nossas capacidades de quando nos envolvemos na dor do considerado inalcançável.
Não é raro conhecermos quem tem facilidade para atingir suas metas e, em um primeiro momento, compreendemos, ou justificamos tais acontecimentos explicando-os através da sorte. Ou seja, delega-se a ela a responsabilidade de termos ou não sucesso em nossas empreitadas e, desse modo, eximimos a nossa responsabilidade.
No entanto uma das definições para a sorte é como sendo uma força determinante ou reguladora de tudo quanto ocorre, mas cuja causa se atribui ao acaso das circunstâncias ou a uma suposta predestinação. Será possível, então, que quem tem sucesso ou insucesso em suas buscas conta com apenas com a sorte e ponto final?
Fritjof Capra no livro “O ponto de mutação” afirma não existirem estruturas estáticas na natureza. Existe estabilidade, mas essa estabilidade é a do equilíbrio dinâmico. Ou seja, há um movimento constante em tudo o que circunda nosso existir. E, esse movimento tende a um equilíbrio, porém não estático e imóvel, mas dinâmico, isto é, em constante movimento.
Então, se considerarmos tal equilíbrio, o evento sorte parece não se adequar a esse processo. Sendo assim, pode estar em nossa inciativa e flexibilidade a capacidade para atingir ou não nossos objetivos.
Desse modo, o que classificamos como sendo sorte, pode constituir, apenas, em uma postura diante do universo, a qual permite ao nosso equilíbrio dinâmico ser atingido de modo mais hábil, quando nos dispomos a unir forças com essa “energia universal”.
Por isso, pode ocorrer de gerarmos grandes mudanças em nosso dia-a-dia, se nos dispusermos a conhecermos como nos movimentamos em prol do que desejamos e do que nos causa frustração. Para assim, direcionarmos com maior eficiência o fluxo de nossa energia e visar alcançarmos nossas metas.
Fala-se sobre lei do retorno, o que sobe desce, entre outros... No entanto, pode ocorrer de apenas estarmos envolvidos em uma energia em constante movimento a qual busca seu equilíbrio nesse movimento. E, sendo assim, cabe a nós compreender nossa posição nesse processo para nos tornarmos mais aptos ao nosso desenvolvimento pessoal.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124