24 dezembro 2018

FELIZ NATAL!!!!



"O presentear, em um primeiro momento, significa que nos “pré-ocupamos” com alguém, ao ponto de buscarmos algo que possa deixar esse alguém feliz."

 A rotina do dia-a-dia vivida ao longo do ano assume uma outra roupagem quando da proximidade das comemorações Natalinas.  Algumas emoções pertinentes a esse período tornam-se, de certo modo, coletivas. Ou seja, a grande maioria das pessoas veem-se envolvidas nas alegrias e esperanças que tangenciam esta época do ano.
Isso ocorre por várias razões, e para cada um há um motivo em especial. No entanto, podemos levar em conta alguns fatores para “especular” sobre o que ocorre com a maioria.
Heidegger, filósofo, afirma que nos apegamos à rotina para nos desvencilharmos da lembrança de sermos mortais. Isso ameniza nossa angústia sobre a certeza de um fim inevitável. No entanto, torna-se um problema quando nos envolvemos na rotina a tal ponto que nos iludimos sobre a certeza da “imortalidade” a qual é irreal.
Vivemos num momento social onde há uma grande ausência de significados. Isto é, na ânsia de nos envolvermos com a rotina que nos “acalma” em relação a nossa finitude, também nos permitimos envolver pela solicitação social do possuir.
Zygmunt Bauman, sociólogo, destaca vivermos um momento de praticamente total liquidez, especialmente das relações. O consumo de tudo, inclusive dos relacionamentos, nos leva a experimentar uma falta a qual não somos capazes de sanar.
Então, talvez a esperança e as emoções coletivas se manifestem de modo tão acentuado nessa época de festividades devido ao fato de o comprar ter um significado diferente do simples possuir. Pois, em sua maioria, representa a tentativa em agradar alguém.
O presentear, em um primeiro momento, significa que nos “pré-ocupamos” com alguém, ao ponto de buscarmos algo que possa deixar esse alguém feliz. Tal comportamento nos aproxima da essência de nossa existência a qual consiste em nos relacionarmos uns com os outros de modo pleno.
Então, um período em que somos levados a olharmos uns para os outros de uma maneira diferente do habitual, nos proporciona também o contato com emoções as quais passam despercebidas na rotina do dia-a-dia. E isso traz à tona esperança e emoções adormecidas que, por apresentarem-se de modo tão intenso, tornam-se quase coletivas.
Por isso, meu desejo para este Natal é que essas emoções, sentimentos e reflexões possam ser mais constantes e não apenas uma ocasião especial do dia do Natal. Para tanto, o olhar cuidadoso para todos com os quais convivemos (pessoas, animais, plantas e mesmo objetos) torna-se indispensável.

Feliz Natal!!!

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

07 dezembro 2018

ACENDENDO A LUZ DA MOTIVAÇÃO


“Ao reconhecermos nosso potencial também nos apoderamos da consciência de nossos limites e, desse modo, nos tornamos aptos a respeitá-los. ”

Atualmente a necessidade de motivação parece estar em pauta em praticamente todos os âmbitos de nossas relações, sejam elas relativas ao trabalho ou de ordem pessoal. É comum lamentações relacionadas ao desânimo e a falta de motivação para investimentos pessoais no que concerne nosso próprio desenvolvimento e na busca de algum objetivo.
Na ânsia da tão almejada motivação, muitas vezes, nos sujeitamos a experiências as quais nem sempre fazem sentido para nós. No entanto, nesse processo, incorremos no risco de buscarmos motivação de um modo no qual nossos reais desejos permanecem obscuros, inclusive para nós mesmos e, desse modo, a empreitada torna-se especialmente difícil e desprovida de nosso envolvimento emocional.
 O modo de nos relacionarmos nos dias atuais nos conduz a competitividade de uma maneira que resvalamos na busca do “impossível”. Nos submetemos a comportamentos que, em sua maioria, não condiz com nosso modo de ser. Isto é, desrespeitamos o limite de nossa própria capacidade.
Ao reconhecermos nosso potencial também nos apoderamos da consciência de nossos limites e, desse modo, nos tornamos aptos a respeitá-los. Assim, quando nos permitirmos comparações relativas à competitividade solicitada pela ordem social, poderemos proceder de um modo um pouco menos injusto para conosco.
Contudo, permanece uma questão: como nos motivar diante de tais solicitações? E, especialmente de alguns “impedimentos”, particularmente os relativos aos nossos limites pessoais?
Lamentavelmente ainda agimos de modo a satisfazer, primeiramente, as solicitações alheias relativas a questões nem sempre concernentes ao nosso desejo, e que, inclusive,  desrespeitam nosso real potencial. Então, nesse proceder, buscamos agir de acordo com o esperado e não de acordo com nossa capacidade. Nesse percurso, é comum buscarmos motivações no outro e não em nós.
Quando optarmos por agir dessa ou daquela maneira, fazendo escolhas embasados no que desejamos para nós independente do que o outro conquistou, haverá um risco bem menor de nos sentirmos frustrados. Assim, a empreitada não se tornará demasiado difícil e é bem provável que iniciemos conquistas pessoais que nos motivem a buscar cada vez mais tal sensação.
Sendo assim, ao cuidarmos de nos motivarmos por nós e não pelo que o outro é capaz de realizar, ou seja, almejarmos alcançar nosso próprio pódio e não aquele que o outro alcançou, nos possibilitaremos a oportunidade de experimentar realizações singulares e referentes ao nosso potencial. E, desse modo, a busca do objetivo torna-se algo pessoal e passível de nos motivar de um modo mais intenso e duradouro.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com


17 novembro 2018

EU ME AMO!!


"O amor próprio consiste em cuidarmos do nosso bem-estar de modo a nos realizarmos como seres existentes e com possibilidades."

O respeito e bem querer voltado a nós mesmos pode, algumas vezes, ser interpretado como egoísmo. Um sentimento deveras exacerbado em relação ao nosso bem-estar que nos faz colocar em prática um amor excessivo para conosco e desconsiderar, assim, os interesses alheios. O convívio social reprova essa prática.
No entanto, como em todos os aspectos, faz-se importante refletir a respeito dos extremos. Isto é, se voltarmos toda a nossa atenção e cuidado ao bem estar do outro, incorremos na possibilidade de expor um modo de ser o qual pode assumir uma imagem digna de admiração por um grande número de pessoas. Porém, também corremos o risco desconsiderarmos o cuidado para conosco.
O amor próprio consiste em cuidarmos do nosso bem-estar de modo a nos realizarmos como seres existentes e com possibilidades. Isso representa exercitarmos cuidados básicos com nossa saúde, aparência e emoções, mas, consiste também em respeitarmos nossos limites bem como nossas capacidades.
Os conclames atuais nos conduzem a comportamentos acelerados em relação ao nosso próprio ritmo. Somos “convidados” a agir de modo totalmente competente e nos sentirmos satisfeitos, embora nossos desejos permaneçam apenas no âmbito do planejamento ou relegados ao esquecimento.
Contudo, ao nos portamos dessa maneira iniciamos um processo no qual é possível exigirmos resultados sem estarmos totalmente habilitados. Desse modo, ficamos a mercê de lesionar nosso equilíbrio físico e psíquico, em benefício de algo que talvez nem ao menos compreendemos.
Em um ritmo “adequado” ao momento social atual, podemos deixar de lado questões importantes referentes às nossas necessidades e desejos. Então, permitirmos que o cuidado para conosco inicie com um ato nosso voltado para nosso bem-estar, pode, em um primeiro momento, conduzir a ideia de um ato egoísta.
Todavia, ao consentirmos nos amarmos de modo especial, atento e cuidadoso, também possibilitamos amenizar nossas dores e angústias. Desse modo, nos tornamos seres com possibilidades plenas de satisfação. Assim, usufruir dos prazeres em estar em boa companhia pode ter início no convívio com a pessoa que somos. Isto é, exercitarmos atitudes as quais permitam nos sentirmos confortáveis em nossa própria companhia.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

22 outubro 2018

CERTEZA DA INCERTEZA


"A todo o momento estamos sujeitos a diversos riscos. O risco de nos decepcionarmos, o de morrermos, ou seja, nossas certezas são, na verdade, repletas de “incertezas”."
 
Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, destaca que ferramentas de relacionamento como o Facebook, Twitter, entre outros, possibilitam o “contato” com outras pessoas sem a necessidade de iniciarmos uma conversa, da qual possa apresentar o risco de tornar-se “perigosa e indesejável”. Isso, porque o “contato” pode ser desfeito a qualquer momento, para isso apenas basta que o diálogo se encaminhe numa direção indesejada.
Da mesma forma, conforme afirma Bauman, no nosso mundo “líquido” e moderno somos ansiosos por relacionamentos duradouros, mas ao mesmo tempo queremos que eles sejam leves e frouxos, fáceis e sem frustrações. Ou seja, desejamos nossos sonhos, mas não queremos suas consequências possíveis, o que se pode chamar de contradição.
Em nosso processo de ansiar por algo pode ocorrer, em um número considerável de ocasiões, de relegarmos a um plano que cause menos desconforto a realidade conectada aos riscos em nos relacionarmos. Por isso, torna-se tentador e “seguro” os relacionamentos nos quais temos “total controle”, de modo a podermos nos desconectar a qualquer momento.
No entanto, um desejo um pouco mais rudimentar nos movimenta em direção ao outro. Isto é, buscamos de todas as formas possíveis nos relacionarmos com quem se apresenta ao nosso convívio. E desejamos que tais relações assumam papel duradouro oferecendo segurança. Porém, com as facilidades da atualidade moderna, apresenta-se na mesma proporção a possibilidade de nos colocarmos nessas relações de um modo distante e ilusoriamente seguro. Pois, com a “ilusão” do não se conectar de modo mais intenso também alimentamos a ideia de sermos capazes de não sentir e, por conseguinte, nos privarmos de qualquer sofrimento iminente.
A todo o momento estamos sujeitos a diversos riscos. O risco de nos decepcionarmos, o de morrermos, ou seja, nossas certezas são, na verdade, repletas de “incertezas”, pois podemos estar vivos ou não, nos contentarmos ou não. Mas, ainda assim, colocamos em prática nossa confiança no porvir e na “certeza” deste.
Martin Heidegger, filósofo, salienta vivermos sob o medo do porvir, e esse medo nos conduz a um modo de proteção o qual despreza a possibilidade do fim. Então, desse modo, nos tornamos confiantes e “tranquilos”. No entanto, é necessário nos lembrarmos de tais incertezas de tempos em tempos, para nos habilitarmos a permitir a presença dos riscos em nosso existir.
As relações não nos oferecem certezas, apenas possibilidades. Mas, somos indivíduos que necessitam delas para saciarmos nossa busca pela completude. Sendo assim, ao compreender as “contradições” envolvidas no existir, nos aproximamos da possibilidade de atingirmos realizações pessoais das quais nos permitam uma existência mais próxima da satisfação. Assim passamos a levar em conta que as contradições fazem parte do processo, de modo a nos impulsionar para a continuidade. 

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

17 setembro 2018

A VELOCIDADE DO IMEDIATISMO


Na rotina do dia-a-dia deixamos de lado a reflexão. Seja ela embasada em temas profundos ou superficiais, o refletir toma um tempo do qual nem sempre estamos propensos a disponibilizar.

 
Os conclames sociais atuais nos convidam a atitudes que apresentem resultados imediatos. Ou seja, qualquer “movimento” nosso só é constituído de valor efetivo se proporcionar rapidamente uma consequência e que ela seja satisfatória. No entanto, é comum não nos darmos conta de que resultados e consequências compõem um mesmo referencial.
Na rotina do dia-a-dia deixamos de lado a reflexão. Seja ela embasada em temas profundos ou superficiais, o refletir toma um tempo do qual nem sempre estamos propensos a disponibilizar. Permitimo-nos envolver em um ritmo no qual o tempo tornou-se escasso para realizações passíveis de representar uma lacuna em nossa existência. Isto é, não nos atentamos para o fato de que ao desdenharmos alguns traços integrantes de nosso modo de ser também influenciamos o modo como vamos ser e sentir de maneira geral e específica.
Clarissa Pinkila Estés, em seu livro “Mulheres que correm com os lobos” afirma termos deixado de lado nossa porção selvagem, isto é, um lado “animal” o qual todos nós compartilhamos. E, segundo a autora, ao dispormos de tal atitude comprometemos nossa capacidade para vivenciar de modo pleno as oportunidades de convívio e desenvolvimento pertinentes ao nosso existir.
Ao nos afastarmos de sensações peculiares e rotineiras também nos afastamos da possibilidade de reflexão. Quando nos envolvemos nos afazeres diários sem possibilitarmos a nós mesmos um momento de “prazer”, seja uma sensação, uma companhia agradável ou ainda, um repouso rápido; também nos privamos da oportunidade de estabelecermos um ritmo à nossa existência que possibilite experimentarmos, de modo pleno, as ocasiões em que somos convidados a nos relacionarmos das formas mais variadas.
Somos seres constituídos e que se desenvolve a partir dos nossos relacionamentos. Quando assumimos a decisão de nos permitirmos conviver sem atentar para as particularidades das relações, deixamos de lado a chance de desenvolvermos o que temos de primário e essencial – as sensações. E com tal comportamento podemos por em risco nossa integridade pessoal, intelectual e emocional.
Portanto, talvez constitua de relevante importância usufruirmos das oportunidades de refletir acerca do momento vivenciado, para nos possibilitarmos um número mais amplo de alternativas relacionadas às nossas escolhas. Para, desse modo, nos tornarmos habilitados a optar entre resultados imediatos ou consequências às quais temos capacidade para lidar de modo mais duradouro.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

28 agosto 2018

COM OS OLHOS BEM... FECHADOS


Na evolução de nosso desenvolvimento como seres habilitados a relacionar-se, participamos de um processo, geralmente imperceptível, o qual culmina em nossa capacidade de percepção de nós mesmos bem como do outro.

A todo o momento nos envolvemos em situações diversas. E sempre temos um modo peculiar de compreender cada uma delas. Esse modo de compreensão consiste em um mecanismo particular do qual somos capacitados e que desenvolvemos ao longo de nosso existir, e o aprimoramos com o convívio nas diversas relações estabelecidas ao longo desse trajeto.
Contudo, não é incomum estabelecermos um entendimento distorcido da “realidade” presente em cada momento vivenciado por nós. Essa distorção pode ocorrer devido a várias circunstâncias. No entanto a que parece ser a mais negligenciada, é o olhar disponibilizado para elas.
Na evolução de nosso desenvolvimento como seres habilitados a relacionar-se, participamos de um processo, geralmente imperceptível, o qual culmina em nossa capacidade de percepção de nós mesmos bem como do outro, com quem partilhamos os prazeres e dissabores dessa marcha.
Há muito se fala em inteligência e desinteligência. Muitas afirmações sobre as causas de uma ou outra apresentar-se de modo mais acentuado em uma ou outra pessoa também é muito discutido. No entanto, ao refletir-se a respeito de nossa capacidade de percepção do que se apresenta ao nosso “redor”, pode-se sugerir que a incapacidade em distinguir claramente as singularidades das situações diversas possibilita uma compreensão, no mínimo, errônea do que se apresenta para nós em determinado momento.  E, esse procedimento pode ser interpretado como uma limitação da capacidade de entendimento.
Ou seja, o olhar para os pormenores envolvidos nos processos aos quais estamos conectados, direciona nossa compreensão. Sendo assim, esse entendimento constitui-se em algo particular e privado. Porém, não isento de nos conduzir ao engano, que pode comprometer nossa razão e, assim, nossas decisões e atitudes.
Por isso, sempre que nos permitirmos a “abertura” de nosso olhar de modo a ampliar as perspectivas presentes em dado acontecimento, estaremos promovendo nosso desenvolvimento rumo ao próprio bem estar e crescimento pessoal. Então, cada ato nosso em prol de possibilitarmos a amplitude desse olhar, representa nosso empenho em função de nosso aprimoramento pessoal. E, esse proceder vai ao encontro da definição de liberdade oferecida pelo filósofo Heidegger, o qual afirma estar na amplitude do rol de nossas possibilidades a nossa condição de liberdade essencial.
Nesse caso, ao oferecermos a nós mesmos condições de auxílio no sentido de nos mantermos com os olhos bem... abertos, tornamos possível, por conseguinte, o exercício da liberdade almejada por todos nós.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

10 agosto 2018

APRISIONAMENTOS


Ao permitirmos que nossos “sonhos” sejam planejados, estes assumem contornos de realidade à medida em que direcionamos nossa energia para tal intento.


Há várias formas pelas quais podemos estar aprisionados. Nossa prisão pode constituir em um lugar onde estamos “confinados”, ou pode ocorrer de este “lugar” representar apenas uma condição emocional na qual nos encontramos.
Esta condição pode estar pautada em algum tipo de relacionamento estabelecido com alguém ou conosco. O importante é nos permitirmos voltar nossa atenção para tal fato e, deste modo, instituirmos maneiras pelas quais nos habilitamos a possibilitar a mudança de tal situação.
No entanto, uma mudança solicita de nós a conscientização de como estamos atualmente. Isto é, para sermos capazes de um movimento em uma direção diferente da habitual, precisamos nos posicionar de um modo a nos permitirmos o conhecimento acerca do que se apresenta com a possibilidade ou necessidade de mudar.
É comum inibirmos tal processo com justificativas variadas. E que, em sua maioria, constituem apenas em justificativas, as quais dissimulam nossas inseguranças e receios em relação à iniciativa necessária para encetarmos a trajetória rumo a um desenvolvimento, o qual nem sempre estamos propensos.
Contudo, ao nos rendermos às inseguranças experimentadas quando nos deparamos com a possibilidade do novo, procedemos como nossos próprios algozes e nos aprisionamos em situações as quais podem cercear nosso potencial.
Uma existência plena de realizações e satisfações não encontra contradições, quando lhe é disponibilizada situações que vislumbram uma condição para que a realize. Ou seja, ao permitirmos que nossos “sonhos” sejam planejados, estes assumem contornos de realidade à medida em que direcionamos nossa energia para tal intento. Desse modo, iniciamos um processo no qual as amarras que nos aprisionam começam a se desfazer.
Entretanto, para alcançarmos tal estado é necessário delimitarmos os limites com os quais nos deparamos e, ciente deles, exercitarmos a sua flexibilização. Para, assim, assumirmos o domínio sobre as adversidades com as quais somos levados a lidar diariamente e que nos conduzem a um modo de agir que pode nos “aprisionar”.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

27 julho 2018

CUIDANDO DE MIM


Talvez, em nosso processo de desenvolvimento da racionalidade, deixamos de lado nossos instintos, os quais nos possibilitam a proximidade com quem somos.

Um pequeno vídeo chamou a atenção de muitas pessoas há algum tempo. No breve documentário a imagem de um pequeno filhote de cachorro exercia seu processo de aprendizado em descer alguns degraus de uma escada, no que era assistido por alguém que registrava o acontecimento com sua câmera e ao mesmo tempo orientava outro animal, mais velho, a ajudar o filhote demonstrando como fazer.
Porém, um fato comovente consistiu em que ao final, quando o filhote oscilou entre um degrau e outro, o cachorro mais velho apresentou-se cuidadoso e de prontidão para “abocanhá-lo” (como fazem os animais para apanhar seus filhotes) caso ele não fosse capaz de manter seu equilíbrio ao descer os degraus. Isto é, permaneceu pronto a “cuidar” do pequeno em seu processo de aprendizado.
De modo semelhante ocorre com todos nós nos momentos em que algo novo se apresenta como oportunidade de aprendizado. No entanto, pode ocorrer de nos rendermos ao “medo” e inibirmos a possibilidade de experimentar esse algo novo.
No processo de desenvolvimento de nossa individualidade, podemos ser lavados a acreditar que a independência consiste no isolamento. Isto é, para nos sentirmos capazes e independentes precisamos, também, conseguirmos sozinhos realizar nossas empreitadas.
Porém, sendo seres constituídos de relações, tal pensamento pode ser contraditório. Ou seja, se há a necessidade do outro para nos afirmarmos como seres existentes, a ideia de precisarmos nos isolar para nos tornarmos plenos não apresenta sentido lógico.
Nesse processo no qual atentamos para as solicitações diárias de velocidade, agilidade, capacidade, entre outras, podemos deixar de cuidar uns dos outros e de nós mesmos. Cuidar no sentido instintivo e primitivo, como se apresentou no rápido vídeo no qual o animal “irracional” se manteve pronto a cuidar do outro caso fosse necessário.
Talvez, em nosso processo de desenvolvimento da racionalidade, deixamos de lado nossos instintos, os quais podem nos possibilitar a proximidade com quem somos. Ou seja, somos seres racionais, mas com instintos também. E, se não permitirmos o desenvolvimento desses instintos de modo pleno como exercitamos nossa racionalidade, é muito provável que sejamos capazes de caminhar em frente. Entretanto, talvez seja um caminhar de um modo mais dificultoso e lento.
Sendo assim, pode representar um grande passo à frente, um breve “retrocesso”, ao nos voltarmos para nossos sentimentos mais “primitivos” como o cuidado. Para, assim, nos habilitarmos a desenvolver de modo um pouco mais satisfatório toda a nossa plenitude como seres capazes de compartilhar pensamentos e sentimentos. Esse cuidado pode ter início no trato de nós mesmos, de nosso modo de sentir, pensar e agir e um conhecimento de nós mesmos mais acurado.


Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotnail.com

13 julho 2018

HABILIDADES PESSOAIS



Há pouco tempo a EJs (Empresas Juniores) do Brasil possuem uma lei federal que as “protegem” e a luta para a aprovação de tal lei não foi uma tarefa pouco árdua.

Ao pensar em habilidades pessoais, podemos, geralmente, direcionar nosso pensamento para questões que dizem respeito a habilidades com as quais fomos agraciados de algum modo. A partir daí podemos supor que somos determinados a ter certas habilidades, em contrapartida a outras tantas que constituem nossa capacidade. Isso poderia ocorrer em virtude de nossa genética, poder social entre outros.
No entanto, se considerarmos a filosofia de Heidegger, que enfatiza a indeterminação do ser, o pensamento anterior, considerando algum tipo de determinação das habilidades pessoais, constituiria o rol do absurdo. Para o filósofo nossas escolhas envolvidas em nosso existir diário é o que possibilita, ou não, a disponibilidade de opções que temos. Não havendo, assim, nada a priori que possa determinar quem ou “o que” seremos. Desse modo, nossas possibilidades estão diretamente relacionadas às nossas escolhas.
Há poucos dias foi possível ter contato com uma cerimônia de troca de gestão da diretoria do Núcleo UNESP de Empresas Juniores. Nesta ocasião houve a oportunidade de conhecer um pouco a respeito do que representa as Empresas Juniores em nosso país e no mundo. Infelizmente, essa não é uma informação corriqueira com a qual se tem contato com facilidade, pois, não constitui um assunto “atraente” nas redes sociais atuais.
Há pouco tempo a EJs (Empresas Juniores) do Brasil possuem uma lei federal que as “protegem” e a luta para a aprovação de tal lei não foi uma tarefa pouco árdua. A lei constitui uma conquista significativa para todos os envolvidos, sejam eles do passado, presente ou futuro.
É de conhecimento geral que o ensino público atual, desde o fundamental até os cursos de graduação superior encontram-se significativamente sucateados. Especialmente na graduação pode ocorrer uma precariedade de oportunidades de experiências práticas, fazendo com que os cursos direcionados a habilitar jovens a serem profissionais capacitados para subsistir de seu próprio trabalho, não os habilite para tal.
No entanto, um seleto grupo de alunos, professores, empresários e pessoas interessadas, se encontram envolvidas em um projeto que a teoria disponibilizada nas universidades e que, provavelmente, permaneceria apenas como conhecimento teórico, podem se tornar um exercício prático com o intuito de desenvolver diversos aspectos de um profissional.
Esses aspectos relacionam-se tanto ao empreendedorismo como gestão, administração e manutenção de empresas de diversos setores. Desse modo, esse número reduzido de alunos interessados transforma esse ensino, a priori sucateado, em um ensino que os preparam com um diferencial um tanto especial para o mercado de trabalho.
Então, espero que este texto, nos leve a refletir um pouco a respeito de nossas habilidades, especialmente aquelas que envolvem nosso empenho em conhecer pormenores a respeito da vida daqueles que se encontram perto de nós, como nossos filhos. E que se desenvolvem e nem sempre nos damos conta do quanto.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri (uma mãe orgulhosa)
Psicóloga CRP 06/95124


23 junho 2018

COMUNICAÇÃO


É de suma importância cuidar do modo como nos comunicamos, exercitar nossa capacidade de percepção do outro, e nos habilitarmos, assim, para colocarmos em prática a possibilidade de modificar o modo como dizemos o que pensamos.

Zygmunt Bauman, sociólogo, em seu livro “Globalização” discorre a respeito do individualismo. O autor salienta vivermos em um período no qual é comum voltarmo-nos aos nossos interesses de modo tão enfático a ponto de chegarmos a descartar a realidade do fato de que nos relacionamos em tempo integral.
Nesse processo, quando deixamos de considerar a importância dos relacionamentos, também relegamos ao esquecimento o exercício da busca da compreensão de nós mesmos em relação aos outros. E, assim, nos privamos do uso de uma das ferramentas essenciais para essa compreensão: a empatia.
Empatia é a tendência para sentir o que sentiria caso estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por outra pessoa. Isto é, nos colocarmos no lugar do outro e imaginarmos o que ele (ou ela) sentiria em uma situação específica. Ou seja, não consiste apenas em tentarmos “adivinhar” o que determinada pessoa faria em certa situação, mas nos imaginarmos “sendo ela” ao decidir sobre o ocorrido. Ao exercitarmos tal comportamento poderemos compreender o impacto de nossos atos e sentimentos naqueles com quem nos relacionamos diariamente.
Com essa prática podemos proporcionar a nós mesmos a chance de estarmos atentos de modo mais acurado a quem é o “alvo” de nossa atenção. Isto é, com quem nos relacionamos naquele momento. E, a partir de então nosso conhecimento acerca dos pormenores desse alguém se torna mais cristalino para nossa compreensão.
Muito mais vezes do que nos damos conta podemos não ser capazes de nos fazermos claros em relação ao que sentimos e pensamos, e então, a sensação de incompreensão manifesta-se. Ao longo de nosso existir podemos nos habituar a não falar do que sentimos. Contudo, esperamos que as pessoas ao nosso redor nos entendam.
Talvez esperamos ocorrer um tipo de “telepatia” na qual nossos pensamentos e sentimentos tornem-se explícitos. Mas, felizmente ou infelizmente, ainda não somos capazes de “ouvirmos” os pensamentos uns dos outros.
Então, é de suma importância cuidar do modo como nos comunicamos, exercitar nossa capacidade de percepção do outro, e nos habilitarmos, assim, para colocarmos em prática a possibilidade de modificar o modo como dizemos o que pensamos. Assim, poderemos ser melhores compreendidos em nossos sentimentos.
Quando a compreensão torna-se presente em nossos relacionamentos, ocorre, por conseguinte, de tornar-se mais definido os limiares entre eu e o outro. E, assim, torna-se mais produtivo o relacionar-se, de modo a usufruirmos o maior número de possibilidades disponíveis no processo de desenvolvimento, ao qual estamos submetidos.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

06 junho 2018

OLHANDO INTIMAMENTE PARA MIM MESMO


Por vivermos em grupo necessitamos do feedback daqueles que convivem conosco. Entretanto, em qual momento esse feedback tornou-se mais importante do que nossa própria opinião a respeito de nós mesmos?

Nossa aparência nunca foi tão importante como atualmente. Quem, ao menos uma vez, não se preocupou com uns quilinhos a mais, ou a menos, uma roupa que não está a contento, ou um cabelo que não permanece como desejamos.
No passado esses fatores poderiam causar algum constrangimento. H oje, entretanto, temos ao nosso dispor um pequeno “arsenal” de opções: cremes, chapinhas, alisamentos definitivos, técnicas e produtos para deixar os cabelos mais ou menos encaracolados, sem contar as alternativas mais invasivas como cirurgias plásticas e métodos médicos para diminuição de gorduras localizadas, entre outros. Certamente algumas dessas alternativas podem oferecer riscos a longo ou curto prazo. Mas a questão é: o que nos incomoda tanto?
Em um extremo podemos encontrar pessoas situadas fora dos padrões atuais. Algumas dessas pessoas podem, inclusive, viver alguns dramas e sofrerem rotulações que são, no mínimo, indesejáveis e extremamente desagradáveis. Porém, rótulos não representam quem somos.
Quando começamos a dar maior importância aos rótulos do que a quem realmente somos? Muitas vezes nos preocupamos em demasia com a opinião das pessoas ao nosso redor. É óbvio que por vivermos em grupo o feedback daqueles que convivem conosco assume certa relevância. Entretanto, em qual momento esse feedback tornou-se mais importante do que nossa própria opinião a respeito de nós mesmos?
Em muitas ocasiões nos esquecemos que a primeira pessoa a precisar estar satisfeita com nosso ser somos nós. O importante é como nos sentimos em nossa própria companhia. Padrões sempre existiram. Contudo, algo parece diferente, hoje parece vivenciarmos a sensação de uma grande insatisfação com a imagem que refletimos.
Será que precisamos mudar como o mundo nos vê, ou como nos vemos? Podemos nos sentir extenuados ou tristes em insistir em alguma mudança a qual não alcançamos. Até que ponto, porém, precisamos mudar? E o mais importante: o que precisamos mudar? Pode acontecer de nos perdermos nessas questões e como, então, encontrar a resposta, se nem ao menos conseguimos identificar qual questão desejamos responder? Muitas vezes o que nos falta é um olhar mais íntimo para nosso ser.
Se temos o intuito de nos sentirmos bem, talvez a solução não esteja em um processo invasivo de uma cirurgia ou em um produto que nos dê uma aparência diferente. Pode ser que o caminho seja uma aproximação nossa para com nós mesmos, permitindo que ao nos conhecermos possamos desenvolver um sentimento profundo de admiração e prazer por quem somos, independente dos padrões sociais.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


25 maio 2018

A MAGIA DO OLHAR


“Passamos despercebidos por uma árvore recém florida, ou com suas folhas caídas ao chão formando um lindo e momentâneo tapete, momentâneo, pois, ao primeiro vento se desfaz. ”

 Há quem diga ser necessário mudarmos atitudes, conceitos, percepções, etc., no entanto, como proceder tal empreitada pode ser uma questão recorrente. Então, talvez uma reflexão a respeito da maneira como estamos conduzindo nossa existência possa ser uma forma de tentar alcançar tal objetivo.
Numa observação simples podemos notar que histórias envolvendo algum tipo de magia costuma alcançar certo sucesso desde épocas mais remotas. Basta voltarmos nossa atenção para os personagens Peter Pan e sua grande companheira a Fada Sininho, que ao adoecer gravemente é solicitado aos espectadores que manifestem um gesto, o aplauso, para comprovarem sua crença na existência da magia, de modo que ela possa se curar.
Então, podemos pensar... onde está a magia?  Como adicionar magia em nossa existência tão realística? E a resposta para essas questões pode ser que resida em nossa capacidade em acreditar. E, talvez seja necessário um gesto concreto para que a magia se apresente para nós.
Numa era onde diversas verdades, antes indubitáveis, são “destruídas” graças a pesquisas e desenvolvimentos, parece ser uma árdua tarefa a de acreditar em algo considerado “irreal”. Entretanto, pode ocorrer de não nos darmos conta de nossa participação diária nesse processo destrutivo.
Em meio a tantas solicitações de posturas assertivas, podemos nos ver envolvidos em um pequeno mar de opções que podem nos atordoar e dificultar uma postura mais autêntica em relação ao nosso modo de perceber o viver.
Deixamos de lado comemorações simples como, por exemplo, a chegada das estações do ano. Passamos despercebidos por uma árvore recém florida, ou com suas folhas caídas ao chão formando um lindo e momentâneo tapete, momentâneo, pois, ao primeiro vento se desfaz. Nos presenteamos envoltos num apelo quase que estritamente comercial, ao invés de buscarmos a “magia” nesse processo, que pode necessitar de nossa capacidade de observação e aproximação junto ao outro.
Sendo assim, talvez a magia do olhar seja simplesmente a atitude de olharmos magicamente para as coisas rotineiras de nosso dia-a-dia. E percebermos que as relações que estabelecemos com elas depende, especialmente, de nós. E, ao mudarmos nossa atitude estaremos, por conseguinte, transformando, “magicamente”, nosso olhar.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

10 maio 2018

SONHAR NOSSOS SONHOS


"Diversas razões podem ocorrer para termos nossos sonhos e planos realizados, mas nem sempre do modo como desejávamos".

Quando tem início nossa percepção de que sonhamos, iniciamos um processo no qual planejar, sonhar e realizar tornam-se possibilidades tangíveis. Contudo, junto a isso pode também nos ser apresentada pelo mundo a frustração.
A dinâmica de nossa vida atual nem sempre nos permite reflexões a respeito de nós mesmos. Como estamos? O que desejamos? Q que já realizamos? Enfim, em sua maioria, nos colocamos seguindo em frente sem muita atenção ou cuidado. No entanto, esse continuar pode intensificar os sentimentos de frustração os quais podemos, em algum momento, nos sentirmos incapazes de lidar com eles.
Diversas razões podem ocorrer para termos nossos sonhos e planos realizados, mas nem sempre do modo como desejávamos. Nesse momento, sentimentos de dor e o desejo de, em muitas ocasiões, desistir, podem se tornar demasiadamente atraentes. Porém, o próprio mundo que, em nossa compreensão nos frustrou, nos conclama a não desistir.
O filósofo Heidegger destaca que a rotina, muitas vezes, nos “salva”. Assim, somos “obrigados” a continuar. Nesse ínterim podemos deixar de lado o pensar sobre nós mesmos. Quem somos, o que desejamos, quais nossas capacidades e como modificá-las, ou mesmo como colocar em prática nossas habilidades.
 Se nos permitirmos aprofundar nosso pensamento a nosso respeito, de uma maneira inteiramente pessoal sobre o sentido de nosso existir, poderemos experimentar a compreensão sobre o significado de nossa própria vida. Ao nos disponibilizarmos a esse movimento em prol de nós mesmos, nos aproximamos da possibilidade de realização em oposição à possibilidade de frustração.
Em muitas ocasiões pode ser necessário rever planos e sonhos e remodelá-los. Mas, se não atentarmos para nossos pormenores e a respeito do significado de nossos desejos, iremos estabelecer uma relação delicada conosco e com nossa capacidade de proporcionarmos a nós mesmos um maior número de sonhos realizados.
Desse modo, sempre que nos movemos no sentido de compreendermos de modo mais apurado quem somos, nos posicionamos como alguém que possibilita, em maior intensidade, oportunidades diversas de nos realizarmos.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga – CRP 06/95124
E-mail – marciabcavalieri@hotmail.com

26 abril 2018

QUANTO TEMPO DURA O LUTO?


De alguma forma, todos nós sofremos perdas mais ou menos significantes e com as quais precisamos conviver.

O filme “PS: Eu te amo” trata de uma jovem esposa que vive o luto devido a perda do marido morto por uma doença incurável. Este, com a ajuda da sogra tenta ajudar a esposa, então enlutada, a retomar o gosto pela vida. Ele deixa para ela cartas para que sejam entregues em períodos planejados por ele enquanto tratava de sua doença terminal.
A jovem esposa consegue, com essa ajuda, retomar aos poucos o gosto pelo viver, buscando seguir à risca as orientações deixadas pelo marido. Porém, um dia, percebendo que está chegando ao final as correspondências, ela se aflige com a ideia de não ser capaz de continuar sua vida sem as orientações dele. Então, sua mãe, que era a portadora da tarefa de entregar tais cartas, revela à filha todo o plano do genro. Na conversa as duas falam de suas dores, pois sua mãe sofreu uma grande perda quando o esposo a abandona sem deixar notícias quando a filha ainda era criança.
Ela revela à filha que somente foi capaz de se restabelecer quando, ao sentir-se demasiado triste, começa a observar as pessoas ao seu redor. Ela, então, constata que de algum modo todos viveram alguma perda e sendo assim, todos são semelhantemente “quebrados”. Dessa forma, consegue reencontrar razões que justifiquem o buscar ser feliz novamente. Entendendo ser necessário fazê-lo, mesmo não estando “inteira”.
Do mesmo modo, podemos sentir que em determinados momentos somos os mais sofredores de todos. Contudo, não temos como saber quem carrega qual dor e em que proporção ela machuca mais ou menos. O importante é que de alguma forma, todos nós sofremos perdas, mais ou menos significantes, e com as quais precisamos conviver.
Então, seja encontrando apoio em recordações, em pessoas que tenham vivenciado dores ou perdas semelhantes, ou contanto com a ajuda de alguém, que pode ser um médico, um psicólogo ou mesmo um amigo, se faz pertinente buscarmos maneiras de nos sentirmos “fazendo parte de um grupo”. Mesmo que esse grupo seja o de “quebrados” como descreve a personagem do filme.
É importante ressaltar que nossas dores serão sempre mais importantes que a dor qualquer outro ser, pois somos nós a vivenciarmos ela. Porém, também se faz necessário compreendermos que elas não são estagnadas em sua proporção. Isto é, em algum momento seremos capazes de conviver com ela de modo sereno, mesmo que em outros momentos elas tornem-se quase insuportáveis novamente. O simples fato de oscilarem nos permitirão a “brecha” necessária para a continuidade de nosso existir. E, nesse fôlego que experimentamos, podemos ser capazes de vislumbrar o auxílio que necessitamos.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri  
CRP: 06/95124

20 abril 2018

SENTINDO AS ESCOLHAS


No transcorrer do crescimento e desenvolvimento pessoal, nem sempre nos atentamos para o fato de que o sentir é parte importante de todo o processo envolvido em nosso progresso.


A cada novo dia é possível afirmar estarmos adiante no que concerne o desenvolvimento intelectual de modo geral. Novas descobertas, novas formas de analisar, medir e “provar” diversos fatos e situações tornaram-se algo trivial em nosso dia-a-dia. Compartilhamos a satisfação com o progresso de nosso desenvolvimento como um todo. No entanto, em alguns momentos, podemos experimentar certa consternação em relação aos sentimentos.
Não é incomum presenciarmos, de modo mais próximo ao nosso convívio, ou não, alguém em pleno exercício do que parece ser uma batalha contra sensações e sintomas dos mais variados tipos. Com um olhar um pouco mais atento, podemos ser capazes de detectar, quase que em sua generalidade, algum traço de ansiedade, depressão ou medo subentendido nessas sensações e sintomas. Isto é, características facilmente localizadas nas diversas síndromes e transtornos muito comuns na atualidade.
Em uma breve reflexão podemos concluir viver num momento em que essas situações tornaram-se rotina e, sermos, desse modo, induzidos a crer que tal rotina representa algo o qual precisamos aprender a conviver, por tratar-se de um fato inevitável. Contudo, essa conclusão pode não significar a totalidade do processo. Se nos permitirmos um olhar um pouco mais cuidadoso, talvez possamos detectar uma carência no quesito sentimento.
No transcorrer do crescimento e desenvolvimento pessoal, nem sempre nos atentamos para o fato de que o sentir é parte importante de todo o processo envolvido em nosso progresso. Cuidamos de modo peculiar do aprimoramento de nossa intelectualidade, praticidade e racionalidade. E, em muitas ocasiões, relegamos a um plano demasiadamente secundário nossos sentimentos.
Porém, tal atitude não se manifesta de modo isento. Isto é, a escolha em não “cuidar” de nossos sentimentos apresenta consequências as quais podemos não levar em conta no momento em que decidimos não assumir riscos envolvidos nessas decisões.
Então, é de suma importância, vez ou outra, “olharmos” de modo consciente para nossas escolhas, porque elas constituem no processo de nossa liberdade. Mas, não podemos nos permitir descartar de modo “definitivo” que as consequências são inevitáveis. Mesmo quando optamos por não olhar para o que se apresenta a nós como algo gerador de algum desconforto de qualquer tipo.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

09 abril 2018

MORTES DIÁRIAS


Temos fases bem definidas em nosso processo de crescimento e no início de cada nova fase, a antiga precisa ser “enterrada”.

Sempre ao ouvir-se a palavra morte, experimentamos algumas sensações. Afinal é difícil ser indiferente a ela. Podemos sentir medo, tristeza, desespero, satisfação ou alívio. Mas que tipo de morte é essa? O que é a morte? Morre-se somente quando uma vida finda ou há outros tipos de morte a se pensar?
Ao concluirmos algo com o qual havíamos nos comprometido e compararmos esse concluir com a morte, poderemos amenizar os efeitos que tal palavra tem sobre nós. E mais, teremos a oportunidade de dar início a um olhar diferente para tudo o que iniciamos e terminamos. Poderemos, assim, compreender de um modo diferente os diversos ciclos nos quais nos envolvemos.
No processo de se lidar com a perda de algo querido experimentamos muitos sentimentos. Porém, se exercitarmos a compreensão dessa perda como parte de um ciclo no qual estamos imersos, poderemos ser capazes de avaliar mais claramente o que está realmente ocorrendo.
Temos fases bem definidas em nosso processo de crescimento: infância, puberdade, juventude, vida adulta e velhice. Ao início de cada nova fase a antiga precisa ser “enterrada”. A criança precisa deixar de existir de maneira plena para o adolescente tomar forma. O adolescente precisa ocultar-se para o jovem assumir seu papel e fazer suas escolhas. O jovem tem necessidade de abandonar o palco para o adulto assumir suas responsabilidades e organizar sua vida de modo a ser capaz de desfrutar suas conquistas.
Da mesma forma nosso crescimento tem fases. Se procurarmos fazer uma analogia encontraremos em tudo o que fazemos um processo semelhante. Ao engendrarmos uma nova empreitada temos o momento de quando iniciamos contato com informações novas. Depois amadurecemos tais informações para elas tomarem forma e poderem assumir seu papel pleno diante daquilo que decidimos. Entretanto, ao deliberar por algo sempre deixamos para traz outra opção que, então, “morre”. Pois, ao fazermos uma escolha algo precisou ser renunciado.
Temos contato com a morte em diversos momentos em nosso dia-a-dia. Precisamos, desse modo, exercitar maneiras mais amenas para nesse processo, quando os sentimentos se apresentarem, serem aceitos. E, assim, poderem ser compreendidos e utilizados em prol de nossa aprendizagem para lidar com temas, a princípio, causadores de algum desconforto.
Ao buscar tal exercício poderemos nos munir de um verdadeiro arsenal para nos envolvermos com as mais diversas situações e nos sentirmos aptos a enfrentar os mais variados tipos de desafios.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com


31 março 2018

NÃO SEI!!


Há alguns anos perdemos a companhia da Mel. Naquela ocasião achei que nunca mais amaria outro cachorrinho como amei a Mel. Porém, veio a Malú e me “disse” que não era bem assim. Veio a Luna e me mostrou que sou capaz de amar MUITO. Então veio a ÍSIS. A minha cachorrinha. A dra. Bianca me avisou que ela seria danada, pois tinha seu espírito de líder de matilha.
Danada, feliz, levada, ativa... Passou a dormir conosco, eu e o papai Lauri. Teve seu probleminha com a perninha que cuidamos e tudo ficou bem. Precisei mudar meu hábito em passar meus cremes noturnos porque ela amava lambe-los e não lhe fazia bem. Tudo eu fazia para seu agrado e conforto. Como diziam a tia Camila e a tia Beatriz - eu a mimava demais.
Hoje, ela dormia encostada em minha perna no sofá após o almoço como fazíamos habitualmente.
De repente, ouço um pequeno grito, pois em seu tamanho minúsculo todos os seus barulhos eram baixinhos. Ela estica as patinhas e amolece todo o seu corpinho. Corremos à UTI. Mas já dentro do elevador em mosso prédio percebi que seu coraçãozinho já não mais batia.
A dor não passa e não sei o que fazer para amenizar. TUDO me lembra ela, sua alegria e carinho enchem meus olhos de lágrimas e meu coração de dor.
Sou adulta e sei que isso tudo irá diminuir. Mas hoje não acredito nisso. Só sinto dor e saudades e QUERO a ÍSIS de volta. Como uma criança rebelde, teimosa e ingênua quero minha ÍSIS de volta pra mim.
Minha crença me conforta e me diz que ela já está brincando e quase pronta para vir a outro lar e alegrar outro alguém.  Mas eu ainda só consigo chorar...
Que dor ÍSIS. Não sei como vou dormir sem você ao meu lado lambendo minhas mãos até eu quase pegar no sono.
Não sei como vou fazer minha maquiagem pela manhã sem ter você deitada no travesseiro me olhando.
Não sei como vou tomar meu café sem você com um brinquedinho na boca me esperando pra brincar.
Simplesmente não sei ÍSIS. Não sei!!!

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

22 março 2018

DES-CONSTRUINDO BARREIRAS


Estabelecer limites para as investidas daqueles com quem convivemos é de extrema importância.

Fiódor Dostoiévski, escritor russo, afirmou uma vez: “o sarcasmo é o ultimo refúgio das pessoas moderadas quando a intimidade de sua alma foi invadida”. Quantas vezes temos nossa “alma” invadida e como reagimos diante desse fato?
É comum usarmos as ferramentas disponíveis relacionadas ao nosso modo de ser: nossas defesas. No entanto, se não as conhecermos podemos nos encontrar em uma posição na qual limitamos nosso desenvolvimento. Ora podemos nos localizar em uma posição de prontidão o tempo todo, ora inibirmos possibilidades em acessar informações que poderiam oferecer chances de crescimento ímpares e que apenas se tornarão disponíveis se nos permitirmos o contato com elas.
Então, como proceder para não nos colocarmos a mercê das investidas diárias a que estamos sujeitos e, ainda nos permitirmos o contato em nosso dia-a-dia com as oportunidades disponíveis? Isto é, como avaliar as situações diversas de modo a minimizar os “danos” para nós mesmos e minimizar, assim, o uso de nossas defesas?
Estabelecer limites para as investidas daqueles com quem convivemos é de extrema importância. Porém, para exercemos tal “controle” é necessário conhecermos de antemão quais são nossos limites. Isto é, o que nos atinge de modo a nos prejudicar e o que nos atinge e entendemos como prejuízo, mas, no entanto, não constitui algo dessa monta.
Ao aventar tal possibilidade podemos, em um primeiro momento, afirmarmos ser uma tarefa permeada de inúmeras dificuldades, e tal afirmação não constitui uma inverdade. Então, podemos nos acomodar na condição em que nos encontramos atualmente e nos sentirmos bem com isso.
Entretanto, há os momentos quando nos sentimos, como destaca Dostoievski, invadidos de tal modo que nos defendemos. Contudo, ocorre muitas vezes de essa defesa não emergir do modo ou com a frequência que desejávamos. Nesse momento podemos experimentar desconfortos relacionados a nós mesmos. Desse desconforto, diversos sentimentos podem se fazer presentes e eles podem nos causar sensações que não gostaríamos de experimentar.
Sendo assim, se nos proporcionarmos a possibilidade de um conhecimento mais elaborado acerca de nossos sentimentos e as reações por eles desencadeados, exercitaremos um modo de conhecer também nossas defesas. E ampliaremos, desse modo, as chances de elas serem utilizadas mais adequadamente para visar nossos ganhos e, não prejuízos indesejados.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

07 março 2018

BAGAGEM PESSOAL


Ao conduzirmos nossa atenção aos momentos que nos levam a experimentar algum tipo de dor ou sofrimento, permitiremos a possibilidade de alcançar mais de um modo de compreensão desses momentos.

A psicóloga e escritora Lídia Rosenberg Aratangy em seu livro “Doces Venenos” afirma ser impossível acabar com a angústia e com a depressão. Segundo ela, esses sentimentos fazem parte da bagagem humana e são passagens obrigatórias no percurso de um desenvolvimento normal. Não são desvios da rota, mas parte de um trajeto. É uma das condições do estar vivo.
Essa afirmação da psicóloga pode levar a refletir sobre a importância de situações as quais nem sempre constituem algo agradável para nós. Mas, que assumem certo grau de importância em nosso existir, tanto quanto os momentos prazerosos.
Há ainda uma ideia a respeito do sofrimento, que o configura como sendo algo a ser evitado a todo custo. É óbvio não querermos experimentar dor de nenhuma ordem, especialmente a emocional. No entanto, se esses momentos fazem parte de um desenvolvimento necessário, então, talvez seja preciso modificar o modo como lidamos com essa condição da nossa trajetória rumo ao crescimento pessoal.
Ou seja, tratar a angústia e a depressão como simples malefícios a serem combatidos pode nos levar a perder oportunidades essenciais de desenvolvimento. No filme “Batman Begins” um personagem afirma que o motivo pelo qual “caímos” é para nos tornarmos aptos a nos levantar. Isto é, não desejamos “cair”, mas “caímos”. Então, se estamos sujeitos a tal possibilidade, importante se faz nosso movimento em prol de aprendermos a lidar com tal condição.
Contudo, ao conduzirmos nossa atenção aos momentos que nos levam a experimentar algum tipo de dor ou sofrimento, permitiremos a possibilidade de alcançar mais de um modo de compreensão desses momentos. E, poderemos nos orientar de modo a refletirmos a respeito do que nos angustia ou deprime.
Assim, nos capacitaremos a agir em prol de um conhecimento individual e exclusivo acerca de nós mesmos. Habilitar-nos-emos, desse modo, a gerirmos a trajetória do desenvolvimento pessoal ao qual somos convidados.
Portanto, sempre que nos colocamos em posição de permitir o contato com algo que possibilite nosso crescimento, ampliamos nossa compreensão acerca de nós mesmos. E, também, participamos de modo ativo de nossa capacitação para o suporte necessário para lidar de modo mais brando e amigável com a angústia e a depressão caso elas venham a participar de nossa “bagagem”.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

22 fevereiro 2018

EMPATIA - TROCANDO AS BOLAS


Ao nos preocuparmos excessivamente com nosso próprio bem estar, incorremos no risco de desenvolvermos um modo de ser o qual pode até negligenciar a existência do outro.


Nos ditames da contemporaneidade um dos pontos altos consiste na individualidade. Somos responsáveis por nossas escolhas e suas consequências e isso nos possibilita certa independência. Contudo, alguns “exageros” podem ocorrer e mesmo algo salutar, quando em quantidade imoderada, pode tornar-se letal.
Zygmunt Bauman, sociólogo, afirma vivenciarmos o que ele nomeia hiperindividualismo. Isto é, segundo o autor, alcançamos um ponto tal do individualismo que se houver um incêndio próximo a nós, mas ninguém de nossas relações estiver em risco, não nos perturbamos.
Na contrapartida do exagero que pode ocorrer quando do individualismo há a empatia, ou seja, nos habilitarmos a compreender a dor do outro buscando em nosso referencial histórico pessoal algo que nos aproxime dessa dor. Contudo, esse “habilidade” tem sido deixada de lado em benefício da preocupação em demasia consigo mesmo.
Ao nos preocuparmos excessivamente com nosso próprio bem estar, incorremos no risco de desenvolvermos um modo de ser o qual pode até negligenciar a existência do outro. Praticarmos uma forma de nos relacionar desconsiderando que aqueles que compartilham algum espaço conosco também possuem desejos e sentimentos tanto quanto nós mesmos.
Nesse caso, torna-se importante o exercício da empatia. Pois, ao possibilitar nos “deslocarmos” para o lugar do outro e tentarmos compreender o que ele sentiria em uma situação específica, pode-se dar início a um contato mais autêntico.  Algo um tanto “fora de moda” nos dias atuais.
Nosso modo de ser pode permear as lamúrias em relação às lesões que, de algum modo, podemos sofrer quando nos relacionamos. No entanto, se colocarmos em prática a empatia, pode ocorrer de nos surpreendermos em relação ao número de ocasiões em que causamos lesões sem nos darmos conta disso.
Por isso, ao optarmos em nos comportarmos diferente do rotineiro, isto é, voltarmos nossa preocupação não somente para o que concerne ao nosso bem estar, mas daqueles que convivem conosco também, corremos o risco de aprimorarmos nossas diversas relações. E, desse modo, experimentarmos a troca que todo relacionamento proporciona, mas da qual nos privamos quando voltamos, em demasia, nossa atenção para nós mesmos.
Nesse caso, ao exercitarmos nos “aproximar” do outro ao ponto de nos capacitarmos a compreender o que ele sente, especialmente através da empatia, podemos possibilitar a nós mesmos a oportunidade de relacionamentos mais satisfatórios e que nos complementem de modo a experimentarmos uma sensação de realização mais a contento.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmai.com