26 setembro 2014

ROTINA

Uma informação, em certa ocasião, chamou a atenção: ao trafegar por uma estrada movimentada, percebeu-se que muitos motoristas enganavam-se com o guichê o qual deveriam comparecer com seu veículo para o pagamento da tarifa necessária para aquela região. Assim, aumentava-se o risco de acidentes substancialmente, ocasionado por paradas bruscas causadas pela desatenção do condutor com um veículo em alta velocidade. Uma questão então desponta: o que leva alguém a tal “distração” ao ponto de colocar a si próprio bem como a vida de outros em risco com tal comportamento?
O filosofo Heidegger afirma necessitarmos da rotina. Assim não nos atentamos para a certeza do fim. O fim de uma fase escolar, de um trabalho, de um relacionamento ou mesmo de uma vida. Porém, se o fim, assim como a rotina fazem parte de nosso existir, como conciliar ambos para não cairmos nos “automatismos” de comportamentos que nos podem ser prejudiciais e não nos darmos conta?
As solicitações diárias nos leva a agirmos de modo semelhante todos os dias. Fazemos, praticamente, as mesmas coisas nos mesmos horários com pequenas variações. Essa rotina nos proporciona segurança, como destaca o filósofo Heidegger, pois nos precavemos de surpresas. E mais, não necessitamos pensar no que estamos fazendo. Preservamos, desse modo, nossa energia a qual pode ser disponibilizada para outros interesses. Entretanto, com a rotina, incorremos no risco de agirmos de modo impensado.
Podemos justificar nossos comportamentos “automatizados” com as necessidades que temos. Porém, ao permitirmos o não olhar para questões que, por exemplo, nos emocionam; iniciamos uma trajetória rumo ao distanciamento do sentir. E podemos, então, adquirir modos de ser e agir que não são mais elaborados, mas apenas praticados.
Então, encontrar meios de nos “conectarmos” ao nosso sentir pode permitir um modo de proteção contra o automatismo que o dia-a-dia nos impulsiona, leva-nos a uma existência mais plena envolvendo a satisfação nos contatos que estabelecemos com quem nos cerca.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

19 setembro 2014

POBREZA

Há diversas teorizações a respeito de pobreza e do que consiste o ser pobre. Pode-se, sob um ponto de vista, afirmar ser pobre quem não possui bens materiais, ou ainda aquele que não possui qualidades “nobres”.  Tal avaliação dependerá do parâmetro de avaliação utilizado.
Podemos, contudo, voltar nossa atenção para o existir e buscarmos maneiras para compreender qual o “valor” de nossa existência.  Ou seja, vivemos de maneira “pobre ou afortunada”?
Ao focalizarmos nossa atenção em um único propósito incorremos no risco de reduzirmos a satisfação com nosso existir. Pois, voltamos nossa energia no intuito de alcançarmos o objetivo exclusivo traçado por nós.  Porém, ao agirmos dessa maneira, diminuímos nossas possibilidades de satisfação, pois ao depositarmos nossa atenção em um único foco, minimizamos nossas chances de experimentarmos a plenitude. Assim, poder-se-ia considerar tal existir como sendo “pobre”.
Ao nos permitirmos relacionamentos diversos, nos colocamos em uma posição na qual as oportunidades de decepção ficam dirimidas no volume. Isto é, se nos relacionarmos com diversas situações e pessoas, ao perdermos uma delas, no montante total a sensação de perda será minimizada pelas outras relações as quais temos. E, igualmente, aumentamos nossa chance de superarmos a dor da perda.
Se nosso círculo existencial é reduzido a uma única atividade com um número reduzido de pessoas, ao experimentarmos algum tipo de frustração em relação a alguém de nosso círculo ou à atividade exercida, será mais penoso superarmos a dor da frustração. No entanto, se nosso dia-a-dia é permeado de diversas atividades, a perda de uma delas irá, apenas, representar uma a menos.
Então, se desejarmos “enriquecer” nossa existência para focalizarmos na plenitude de nosso existir, é necessário ampliarmos nosso universo pessoal, de modo a elevarmos o número de oportunidades nas quais podemos alcançar o sucesso de nossos desejos, transformando, desse modo, a “pobreza” em “riqueza”.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

12 setembro 2014

ANGÚSTIA

Diante de alguma dificuldade é comum reagirmos no intuito de nos protegermos. Num primeiro momento somos capazes de relacionar uma imensa lista de motivos, dos quais culminaram nos fatos da maneira que foram dispostos e que nos causam algum tipo de sofrimento. Ou seja, encontramos razões variadas para nossas atitudes, as quais compreendemos não denotar nossa responsabilidade nas situações dolorosas que se apresentam para nós.
Contudo, há a necessidade de assumirmos as consequências por nossas escolhas, de modo a nos apoderarmos da possibilidade de solução de qualquer dificuldade que possamos experimentar. Quando nos posicionamos como vítimas as quais não tiveram participação nos fatos que culminaram em nossa dor, geramos, assim, um obstáculo deveras resistente para a solução do problema em questão.
É preciso compreender, porém, que em nosso primeiro impulso no intuito de salvaguardarmos nosso bem estar, podemos ser levados a comportamentos e reações das quais não se obtém o resultado desejado. Isto é, ao agirmos de acordo com nosso impulso de proteção e defesa, sem maiores considerações a respeito do assunto, podemos agir de modo insatisfatório ou, ao menos, infrutífero em relação ao resultado que esperávamos. O que pode ocasionar, na contramão de nosso desejo, uma piora da situação na qual estamos envolvidos.
Então, pode ser essencial buscarmos maneiras de amenizarmos nossa angústia quando no momento de dor. Pois, ao agirmos dessa maneira, permitimos a oportunidade de reflexão em relação a situação vivenciada e desse modo, nos aproximamos da possibilidade de alcançarmos o real motivo de nossa dor, bem como nosso percentual de responsabilidade no processo, o qual culminou na dificuldade atual.
O filósofo Jean-Paul Sartre salienta oscilarmos entre nossas escolhas e suas consequências.  Assim, se faz necessário considerarmos nossa parcela de responsabilidade relacionada à nossa história pessoal, para nos abastecermos da possibilidade de ampliar o número de possibilidades  que  nos cercam.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

05 setembro 2014

PERFEIÇÃO

Desde Platão convivemos com a ideia de um ideal perfeito: o mundo ideal. Isto é, um modelo o qual se almeja atingir. Este modelo oferece um molde ao qual seria necessário ajustar-se, para  privilegiar a possibilidade de alcançar a perfeição. Contudo, um pensamento como esse pode conduzir a atitudes extremas e decepções variadas.
Herdeiros de pensamento como esse, incorremos no risco de considerarmos de suma importância a busca da perfeição a qualquer custo. Não se pode esquecer que é possível termos sonhos, os quais necessitem de um grande esforço de nossa parte para que possam vir a tornar-se realidade. Porém, é preciso exercitar um olhar cuidadoso para o que é possível, minimizando, assim, as oportunidades de frustrações.
Nem sempre nos damos conta de que podemos desejar algo o qual não se encontre em concordância com a nossa realidade. Ou seja, obnubilados pelo desejo, podemos desconsiderar detalhes importantes no que concerne quem somos e o que nos é “ideal” e possível.
O mundo ideal de Platão pode transformar-se em “nosso” mundo ideal, tendo em vista que ao levarmos em conta nossos limites e capacidades, aproximamos a perfeição de nossa realidade, fazendo com que ela constitua um ideal possível para nós, de modo individual e não geral, o qual desconsidera nossas capacidades particulares.
Ao procedermos de maneira a nos conhecermos e assumirmos quem somos, podemos, munidos desse conhecimento, nos engajar em qualquer empreitada, pois, a consciência do que somos capazes, permite analisarmos o que desejamos e como agir para alcançar nossos  objetivos.
No entanto, é necessário um cuidado constante no que se refere a como somos e como estamos, pois nos desenvolvemos a todo o momento, e com isso, também mudamos quem somos e do que somos capazes.
Por isso, pode ser relevante exercitarmos o olhar para quem somos e como estamos, para, desse modo, ampliar nossas possibilidades, de maneira a habilitarmos nossa liberdade como sugere o filósofo Heidegger.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga – CRP 06/95124

E-mail – marciabcavalieri@hotmail.com