27 dezembro 2016

A MAGIA DO OLHAR

"Passamos despercebidos por uma árvore recém florida, ou com suas folhas caídas ao chão formando um lindo e momentâneo tapete, momentâneo, pois, ao primeiro vento se desfaz."

Neste período do ano é muito comum uma retrospectiva dos momentos vividos durante todo o ano. Neste, em particular, tem ocorrido muitos lamentos e reflexões num sentido mais voltado para a depreciação. Busca-se a lembrança de bons momentos na tentativa de obscurecer os momentos considerados ruins para, assim, dirimir as dores que eles possam ter causado.
Há quem diga ser necessário mudarmos atitudes, conceitos, percepções, etc., no entanto, como proceder tal empreitada pode ser uma questão recorrente. Então, talvez uma reflexão a respeito da maneira como estamos conduzindo nossa existência possa ser uma forma de tentar alcançar tal objetivo.
Numa observação simples podemos notar que histórias envolvendo algum tipo de magia costuma alcançar certo sucesso desde épocas mais remotas. Basta voltarmos nossa atenção para os personagens Peter Pan e sua grande companheira a Fada Sininho, que ao adoecer gravemente é solicitado aos espectadores que manifestem um gesto, o aplauso, para comprovarem sua crença na existência da magia, de modo que ela possa se curar.
Então, podemos pensar... onde está a magia?  Como adicionar magia em nossa existência tão “real”? E a resposta para essas questões pode ser que tenha morada em nossa capacidade em acreditar. E, talvez seja necessário um gesto concreto para que a magia se apresente para nós.
Numa era onde diversas verdades, antes indubitáveis, são “destruídas” graças a pesquisas e desenvolvimentos, parece ser uma árdua tarefa a de acreditar em algo considerado “irreal”. Porém, pode ocorrer de não nos darmos conta de nossa participação diária nesse processo destrutivo.
Em meio a tantas solicitações de posturas assertivas e acertadas, podemos nos ver envolvidos em um pequeno mar de opções que podem nos atordoar e dificultar uma postura mais autêntica em relação ao nosso modo de perceber o viver.
Deixamos de lado comemorações simples como, por exemplo, a chegada das estações do ano. Passamos despercebidos por uma árvore recém florida, ou com suas folhas caídas ao chão formando um lindo e momentâneo tapete, momentâneo, pois, ao primeiro vento se desfaz. Nos presenteamos envoltos num apelo quase que estritamente comercial, ao invés de buscarmos a magia nesse processo, a qual pode necessitar de nossa capacidade de observação e aproximação junto ao outro.
Sendo assim, talvez a magia do olhar seja simplesmente a atitude de olharmos magicamente para as coisas rotineiras de nosso dia-a-dia. E percebermos que as relações que estabelecemos com elas depende, especialmente, de nós. E, ao mudarmos nossa atitude estaremos, por conseguinte, transformando, “magicamente”, nosso olhar.

QUE 2017 SEJA, ESPECIALMENTE, MÁGICO!!!

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124





18 dezembro 2016

ÀS COMPRAS!?!?!?!?!

Nos é tão óbvio o que é certo ou errado que nos parece um total disparate quando alguém não consegue alcançar uma conclusão semelhante à nossa.
 
Na época do ano em que nos encontramos algumas pessoas perguntam-se para que tanto frenesi em torno de compras, presentes, comidas, etc.  Outros questionam se há algum sentido em tal comemoração. Outros, ainda, querem saber qual a razão da reunião familiar, quando ao longo de um ano se esteve tão distante e desinteressado uns dos outros.
Não se pode perder do horizonte que sendo seres singulares, nossas razões e justificativas também o são. É comum a pergunta se algo está ou não correto. Julgamos a assertividade dos eventos por nossos parâmetros e nem sempre nos damos conta disso. Nos é tão óbvio o que é certo ou errado que nos parece um total disparate quando alguém não consegue alcançar uma conclusão semelhante à nossa.
Somos, certamente, seres históricos, isto é, existimos em um horizonte onde a história nos envolve. E do mesmo modo nós, inseridos que estamos nesse horizonte, a envolvemos também. Então, cada um de nós possuindo uma maneira singular de se relacionar com essa história, constrói, do mesmo modo, o seu próprio horizonte histórico.
Sendo assim, a resposta para tantas perguntas, questionamentos, críticas e defesas neste período, pode se assentar no fato de que há, para cada um em particular, um significado diferente, específico e individual. E, talvez, diante da necessidade de continuarmos vivendo na partilha do tempo e do espaço em que nos encontramos, possa se fazer necessário o exercício do respeito às individualidades.
Uma maneira de se colocar em prática esse exercício, pode consistir em tentarmos compreender nossas próprias razões e justificativas para nossas próprias respostas para essas perguntas. Pois ao iniciarmos uma reflexão a respeito de nós mesmos, inevitavelmente, estaremos refletindo sobre aqueles que coabitam o mesmo espaço e tempo que nós neste aqui e agora.
Desse modo, poderemos atinar o significado, para cada um em sua singularidade, do que representa essa época do ano, em que o frenesi se faz presente e, assim, algumas pessoas sentem-se mais ou menos excitadas, emotivas, animadas, desinteressadas, etc.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


12 dezembro 2016

CERTO OU ERRADO: QUEM SABE AO CERTO?

Talvez a certeza do que consiste o certo e o errado repouse no fato de buscarmos maneiras de conhecermos, o máximo possível, acerca das situações nas quais nos envolvemos.  

 Somos acostumados, desde um início bem remoto, a distinguir entre certo e errado. Vivemos como se houvesse apenas esses dois pontos extremos. No entanto, de que modo avaliar a nuance que envolve o entremeio deles? No que consiste o certo e o errado? Se levarmos em conta nossas necessidades certamente tais pontos oscilarão. Então surge a questão: o que é O certo e o que é O errado?
Convivemos enredados por situações e histórias das mais variadas. Somos seres os quais construímos nosso modo de ser embasados nas relações estabelecidas com quem compartilha nossos momentos. Então, o limiar entre o que é lícito ou não pode oscilar de acordo com o momento em que nos encontramos. Ou seja, o que hoje parece adequado, amanhã pode tornar-se totalmente inconveniente.
Ao considerarmos nossas necessidades podemos avaliar de modo mais complacente os “erros”. Isso ocorre porque somos levados a avaliar de modo menos rígido nossos “deslizes”. Pois somos abastecidos de informações pertinentes aos motivos envolvidos nas decisões tomadas. Por isso, faz-se importante o contato com as informações pertinentes ao ocorrido.
Então, ao considerar que nossa história permeia todas as nossas relações; como estabelecer um ponto fixo em relação ao que é certo ou errado? Não podemos nos esquecer de que, de acordo com o momento, determinada atitude pode oscilar entre esses extremos. Sendo assim, como nos orientar e estabelecer parâmetros “justos”?
Talvez o primordial consista em nos munirmos, o máximo possível, de informações a respeito das situações envolvidas. Ou seja, possibilitarmos a nós mesmos, o conhecimento acerca das razões e sentimentos envolvidos em determinado acontecimento. Pois, assim, poderemos nos tornar capacitados a proceder uma avaliação mais justa no que consiste nossas decisões e as dos outros.
Quando somos crianças somos orientados por nossos responsáveis.  Ao nos desenvolvermos um pouco mais, nos é permitido experimentar, para então darmos início ao conhecimento das consequências envolvidas em nossas atitudes. O ingresso na vida adulta subentende estarmos aptos a avaliar as consequências de nossas decisões de modo relativamente antecipado, para, então, sermos capazes de “prever” erros de modo a preveni-los.
Talvez a certeza do que consiste o certo e o errado repouse no fato de buscarmos maneiras de conhecermos, o máximo possível, acerca das situações nas quais nos envolvemos.  E, desse modo, possibilitarmos relativo distanciamento para a “amplitude” de nosso olhar poder ser ampliada. Permitindo, desse modo, que nosso conhecimento se torne menos restrito ocasionando a oportunidade de nos tornarmos mais flexíveis no que concernem nossas decisões e avaliações relativas a erros e acertos.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

04 dezembro 2016

PARA ALÉM DAS SOMBRAS


As sombras sob as quais nos dispomos, permitem a sensação de conforto e tranquilidade, mas também ofertam o comodismo e a inatividade.


O filósofo Heidegger afirma, em sua obra, necessitarmos da rotina cotidiana para a manutenção de nosso existir. Segundo ele a certeza do que irá ocorrer no dia seguinte nos permite crer em nossa imortalidade e afastar de nossas preocupações a possibilidade do fim, isto é, de morrermos.
Certamente a sensação de segurança experimentada em nosso dia-a-dia é sumamente importante para nos implicarmos em novos caminhos, confiantes na continuidade de nosso existir, e usufruir desses caminhos. Entretanto, em muitas ocasiões, nos escondemos por traz dessa “segurança” e deixamos a vida transpassar por nós.
Platão, em “O Mito da Caverna”, trata da necessidade de contatarmos a luz da verdade para nos livrarmos da prisão em que a escuridão nos mantém. Essa alegoria pode ser analisada de diversas maneiras, uma delas é a de que muitas vezes nos mantemos obscurecidos por medo e incerteza, e eles nos aprisionam em um modo de agir o qual nem sempre permite experimentarmos a plenitude de nossa existência.
As sombras sob as quais nos dispomos, permitem a sensação de conforto e tranquilidade, mas também ofertam o comodismo e a inatividade. Ou seja, ao usufruir as sensações de calmaria, possibilitamos também a oportunidade ao conformismo. E, podemos inclusive delegar a outros as justificativas e razões pelos nossos insucessos.
Uma forma de amenizarmos nossas dores é nos distanciarmos da responsabilidade por elas. Então, depositando no outro essa responsabilidade, seja esse outro alguém ou um evento, experimentamos o conforto de não estar em nós a possibilidade da mudança, ou seja, não somos nós quem podemos alterar o que culminou em nossa dor, mas esse outro.
Contudo, se nos mantivermos aconchegados a essa condição, também limitaremos nossas chances de enxergar além das sombras. E, submetidos à rotina, poderemos nos colocar em situação de perdas de oportunidades as quais não seremos capazes de ponderar.
Jostein Gaarder em O Mundo de Sofia finaliza sua estória convidando o leitor a estimular-se a despertar a curiosidade infantil um dia já experimentada. Para, assim, abrir-se às novas experiências, pois ao consentir a curiosidade, o indivíduo coloca-se em situação de explorar novas possibilidades também.
Então, seja a partir da luz da verdade sugerida por Platão, ou do despertar de uma “infantil” curiosidade como nos convida Gaarder, ao nos permitir conhecer o que permanece obscuro, também concedemos “espaço” para o novo. Tal empreitada pode iniciar-se pelo autoconhecimento, delimitando nossas sombras individuais para que possamos vê-las e, desse modo, identificarmos sua origem para nos apoderarmos da oportunidade de modificarmos o contorno delas.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124